Charmed escrita por Bella P


Capítulo 2
Capítulo 1




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Capítulo 1

 

 

Ryuichi

 

Sabe aquela sensação de que alguma mudança drástica está prestes a acontecer em sua vida, mas você não sabe o que é fica aguardando ansiosamente por isto, e ao mesmo tempo temendo o que “isto” possa ser? Pois então, eu estava com esta sensação desde o meu encontro com a Sra. Mihara, há uma semana, no enterro da minha avó. E a mesma parecia não querer me largar de jeito nenhum enquanto eu perambulava pela velha casa do subúrbio de Kyoto, onde cresci, relembrando momentos da minha infância entre móveis antigos e peças de decoração. Algumas caixas estavam empilhadas ao lado da porta de entrada, com a maioria contendo os pertences mais queridos da minha avó, coisas que não iriam à venda como o resto do imóvel.

Embora o lugar contivesse boas memórias para mim, ainda sim de nada me valia e eu achava melhor passar adiante, oferecer para uma boa família para que a mesma construísse novas memórias entre aquelas paredes. Fiquei contemplando a quietude do lugar, parado no meio da sala de estar por alguns momentos, até que meus devaneios foram interrompidos pelo toque do meu celular.

— Sakuma. - foi a palavra de cumprimento que dei a pessoa do outro lado da linha.

— Ryuichi. - a voz familiar de Tohma chegou aos meus ouvidos. - Sei que você queria um tempo para se despedir, mas acredito que está na hora de desapegar, não? - era incrível como Tohma parecia saber o que eu estava pensando ou sentindo, porque ele sempre intervia nos momentos em que eu mais precisava dele, como agora em que estava ficando nostálgico além da conta.

— Onde está a sua consideração velho amigo? Não me dará nem tempo de sentir a dor da perda?

— Ryuichi... - quase pude vê-lo rolando os olhos do outro lado da linha. - a Sra. Sakuma, que os céus a tenham, já estava idosa, e ambos sabíamos que faltava pouco para a hora dela chegar. Você mesmo disse que estava preparado para a perda, que ela o tinha ensinado a lidar com a perda. E por quanto tempo você acha que vou conseguir manter os repórteres longe de você? - ah, tinha que haver uma razão para tanta pressa.

— Você é Tohma Seguchi! O que são simples repórteres ávidos por uma boa fofoca?

— Demônios, isso que eles são! - ri. Tohma sabia ser dramático quando queria ser, acho que era toda a influência de Mika sobre a sua pessoa. Não a conhecia muito bem, embora conhecesse Seguchi desde moleque, e pude ter estado no casamento deles, mas a Sra. Seguchi, na verdade Uesugi já que ela nunca adotou oficialmente o sobrenome do meu amigo, ainda era um mistério para mim.

— Eu já estou indo, não tenha um ataque por minha causa. - brinquei, desligando o telefone antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa e dando uma última olhada ao meu redor fui até as caixas empilhadas perto da porta, pegando as primeiras e indo com elas até o meu carro, as colocando no porta malas. Minutos depois retornei à casa, pegando as últimas caixas e trancando a porta atrás de mim, voltando ao carro e as arrumando no bagageiro. Quando consegui encaixar a última dentro do porta malas já abarrotado, surpreendi-me ao ver um vulto cair da mesma no chão.

Meu olhar prontamente foi até o velho caderno com capa negra de couro e páginas amareladas sobre o asfalto e eu sorri levemente. Eu lembrava daquele caderno, embora nunca tenha tocado no mesmo, mas creio que era o diário da minha avó. O local que ela desabafava e mantinha os seus segredos. Com o sorriso ainda no rosto, recolhi o mesmo, folheando as suas páginas mas, à medida que eu percorria os meus olhos sobre as mesmas meu sorriso morria e as minhas sobrancelhas ficavam ainda mais franzidas.

O que havia nas velhas folhas não eram os pensamentos da minha avó, embora fosse a letra dela, mas sim poemas e rimas que não faziam sentido e estavam longes de serem românticos ou de profundidade literária. Isto até que cheguei a primeira página do livreto, onde havia desenhado um dragão chinês cujo focinho quase mordia a ponta da cauda e dentro do círculo que ele formava havia uma inscrição.

Que o poder dos antigos se ergam e cruzem os céus desta noite jaz. - comecei a ler, tentando decifrar aquela rima. Nunca soube que a minha avó tinha talento para poesia, embora ela sempre brincasse que o meu dom como compositor fosse algo de família. - E venham a mim, convoco a ti, venham a mim e fixem-se aqui. - o vento sibilou assim que eu disse a última letra, fazendo os pelos dos meus braços se arrepiarem e adicionando um ar macabro a situação. Por um momento pensei ter ouvido um sussurro na brisa, mas ignorei em prol de jogar o livro dentro da caixa ao qual pertencia e fechar o porta malas em um estalo. Acho que Tohma estava certo, estava na hora de eu voltar a minha vida.

— Ah... Finalmente! - pulei de susto ao ouvir a voz atrás de mim e virei-me somente para ver um homem trajando um longo sobretudo negro sobre vestes igualmente negras sorrir de maneira macabra para mim, o que tornava a sua figura ainda mais tenebrosa já que o rosto possuía horríveis cicatrizes que faziam os olhos avermelhados se destacarem ainda mais. - Presumo que a velha tenha morrido. - ele deu um passo à frente e eu recuei outro. - Trinta anos foi o que eu esperei e agora terei a minha vingança. - arregalei os olhos quando o vi erguer a mão com a palma virada para cima e fazer surgir na mesma uma bola de fogo. - Está na hora de o último do Clã dos Dragões partir. - não esperei que ele me indicasse o que fosse fazer com aquele fogo que havia aparecido do nada, apenas reagi por instinto e virei sobre os pés, pronto para sair dali o mais rápido possível. Entretanto, a minha fuga foi interrompida quando a bola de fogo passou zunindo perto da minha cabeça e estourou na porta aberta do meu carro, me fazendo desistir daquela rota de fuga.

Dei um pulo para trás, mais do que assustado, mas completamente em pânico se o meu coração aos pulos e ecoando em meus ouvidos fosse alguma indicação e um grito ficou entalado em minha garganta quando o sujeito surgiu em um piscar de olhos na minha frente e fez aparecer uma longa e ameaçadora faca em sua outra mão.

— Olha... - minha voz pareceu finalmente funcionar, embora tenha saído vergonhosamente esganiçada. - não sei qual era o seu problema com a minha avó, mas creio que violência não é a solução. - ele gargalhou, uma risada macabra e que fez meu sangue congelar nas veias e eu tive a certeza de que o meu argumento não funcionou quando ele girou a faca entre os dedos e em um gesto rápido me segurou pelo pescoço, começando a bloquear a passagem de ar para os meus pulmões.

— Adeus... Ryuichi. - o sussurro em tom prazeroso perto do meu ouvido me deu vontade de chorar. A minha avó tinha me preparado para a morte dela, mas eu não estava preparado para a minha e como reação instintiva fechei os olhos para não ver o pior.

— Ei! - alguém gritou atrás de nós e eu rezei que para que quem quer que fosse, saísse correndo dali. E eu sei que era um pensamento estúpido, pois estava prestes a ser assassinado e queria era ser salvo, não morto, mas não queria que isto acontecesse as custas da vida de outra pessoa. - É o Ryuichi Sakuma que você está atacando idiota. - e então o aperto na minha garganta sumiu, mas um zumbido surgiu em meus ouvidos pois quando isto aconteceu foi porque algo pareceu explodir perto da minha cabeça.

Caí feito um peso morto no asfalto e abri os olhos lacrimosos para ver que o sujeito das cicatrizes agora rosnava para alguém e tinha um ferimento feio no ombro. Uma sombra pousou sobre a minha pessoa e ergui os olhos para ver um rapaz, adolescente se o uniforme de colegial fosse alguma indicação, erguendo as mãos em um gesto brusco e as sacudindo na direção do meu atacante. Mas antes que algo acontecesse o mesmo sumiu em um piscar, entretanto o vaso decorativo da varanda da minha avó pareceu não ter sorte, pois o mesmo desfez-se em um estouro que espalhou barro, terra e planta para todos os lados, inclusive sobre o meu carro.

— Você errou. - uma voz mal humorada disse e eu me virei para ver um homem de camisa social entreaberta, calça de linho e chinelos aproximar-se do adolescente. Um homem que eu reconheci, para o meu completo espanto, como sendo Eiri Yuki, cunhado de Tohma e namorado de Shuichi, meu amigo e rival no ramo da música.

— Cala a boca! - o adolescente resmungou, indo até os restos mortais do que um dia foi um vaso e recolhendo algo do chão e eu senti vontade de vomitar quando vi que era um pedaço de pele ensanguentado. - Ao menos temos uma pista agora.

— Ei. - dei um pulo no lugar quando alguém ajoelhou-se ao meu lado e arregalei mais uma vez os olhos quando vi que era Mika, esposa de Tohma, a mesma na qual eu havia pensado mais cedo. - Você está bem? - ela segurou em meu braço, me puxando e me ajudando a levantar e eu me deixei levar, completamente zonzo com tudo o que estava acontecendo e entendendo cada vez menos aquela situação.

— O quê... Quem, como, o quê? - balbuciei e o adolescente que aparentemente tinha me salvado, sabe-se lá como, riu

— Nossa, você é mais bonito ao vivo do que na TV.

— Tatsuha! - Mika repreendeu o garoto que agora parecia ter um nome.

— O quê? Só estou dizendo a verdade. - em outros tempos me sentiria lisonjeado, mas a minha cabeça ainda estava rodando com tudo o que aconteceu.

— Acho que Ryuichi não precisa do seu fanatismo neste momento. - okay, para mim já chega! Com um gesto brusco me soltei de Mika, afastando um passo. Até onde me lembro, a mesma, assim como Eiri, moravam em Tóquio e não me recordo de ambos estarem passando alguma temporada em Kyoto. E o garoto, Tatsuya, Tetsuha, o que fosse, ele tinha explodido um vaso com um gesto de mãos. E terceiro, de onde aquele cara tinha surgido, de onde eles tinham surgido?

— Acho que ele vai desmaiar. - Eiri soltou em um gracejo e acho que ele não estava longe da verdade pois o mundo começou a rodar a minha volta e eu comecei a sentir a minha cabeça mais leve e antes que pudesse perceber veio a escuridão.


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