A chuva caía pesadamente nos meus ombros. Maldita cidade!
As minhas botas chapinhavam pelas poças, fazendo um alegre e irritante “Splash! Splash!”.
Ridículo! Completamente ridículo! Quem seria o deus maligno que permitia que chovesse no meio de Agosto? E porque raios insistia eu em fazer-me passar por mortal?
Odeio Londres...
Tive de caminhar à chuva por mais uns quarteirões até que encontrei quem procurava.
Ao avistá-la no fundo da rua tive de mudar a minha aparência. A minha altura diminuiu, os meus traços fortes tornaram-se doces e infantis e a minha voz tornou-se andrógina. A inocente aparência de um menino de oito anos.
- Porque choras? – Perguntei-lhe, embora já soubesse a resposta.
A pequena menina loira virou-se para mim, exibindo os seus belos olhos castanhos vermelhos de tanto chorar.
- A minha roseira morreu, não aguentou o frio... Sonhava com as suas rosas... – E voltou a chorar.
- Eu sei... – Disse, tocando no seu ombro. – De que cor seriam as rosas?
- Brancas. Belas rosas brancas como a neve...
Eu sorri-lhe. Abria a minha mão esquerda em frente aos seus olhos. Nela surgiu uma enorme e bela rosa branca.
- Assim? – Perguntei-lhe.
Os seus olhos arregalaram-se de surpresa.
- Como é que fizeste isso?
- É a magia dos sonhos.
Pus a rosa frágil nas suas mãozinha e virei-lhe as costas.
No momento em que descia a rua, de volta à cidade, parou de chover.
Sorri mais uma vez.
É isso que gosto nos sonhos das crianças. É fácil torná-los realidades.
Assim que acordasse iria ver a sua roseira. E sim, a roseira morta e gelada teria uma bela rosa branca.