Changed escrita por Shiroyuki


Capítulo 25
Capítulo 25 - Nós temos todo o tempo do mundo para aprender…


Notas iniciais do capítulo

"Estava tudo dando errado, ela não queria discutir com ele dessa forma, queria apenas que eles fizessem as pazes, e tudo voltasse a ser como antes. Mas ela não podia evitar, quando começava a falar, tinha que ir até o fim"



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Ao longe, a festa do término no primeiro dia do Festival Cultura já havia chegado ao fim, e os estudantes, exaustos depois de um dia de trabalho intenso, estavam indo para casa. Alguns que ajudavam a recolher equipamentos do pátio, e os membros do comitê de organização ainda rondavam por ali, mas a maioria já havia mesmo ido para casa. Era noite, e embora ainda fosse cedo, o vento frio já começava a se tornar um pouco incômodo ainda mais para quem estivesse usando fantasias mais curtas, como a de Utau.

Logo depois que ela terminou de cantar no palco do Show de Talentos, Kukai foi correndo até ela, e era evidente que precisavam conversar. Ela pediu por um tempo, para colocar uma roupa que não mostrasse sua bunda cada vez que ela se inclinava, e talvez ordenar os pensamentos um pouco mais antes de realmente falar com ele. No caminho para o vestiário, muitos colegas de classe e outros alunos a interceptaram, querendo parabenizar pelo seu número. Ela evitou todos e seguiu direto em seu caminho.

Quando retornou, Kukai a esperava logo na saída do vestiário. Também havia trocado de roupas, e estava com as mãos no bolso, escorado na parede, parecendo pouco à vontade. Os dois caminharam juntos para fora da escola, e ele se ofereceu para carregar a mochila dela. Estava se mostrando delicado, e Utau entendia que a conversa que teriam seria séria agora.

Depois de um breve diálogo sem muita emoção de ambas as partes, eles decidiram ir até o restaurante familiar que ficava no centro, e era o único lugar da cidade que ficava aberto até tarde. A dona do restaurante já os conhecia, é claro, já que era amiga de Souko. Ela disponibilizou uma mesa perto da parede, de onde teriam vista da praça mal iluminada e quase vazia àquela hora. Utau achou que o lugar era um pouco sem privacidade, já que qualquer um que passasse pela rua os veria, mas a mulher estava sendo tão prestativa que ela não via como recusar. Ambos pediram o prato do dia como jantar, e então, quando ela se afastou com os pedidos, o silêncio incômodo voltou a reinar.

Kukai esfregou a mão do cabelo, bagunçando-o ainda mais. Olhou para o balcão do outro lado, para a única pessoa que estava ali além deles, um velho senhor que tomava café e resolvia um livro de cruzadinhas. Fitou a praça pela janela, acesa pela luz lúgubre dos postes, que piscavam a cada minuto. E enfim, seus olhos se voltaram para Utau. E ela estava olhando para ele. E ele sabia que não havia mais como adiar a conversa.

— Então… aquela música, você… fez ela? – ele indagou sem jeito. Era uma pergunta estúpida, e ele tinha consciência disso.

— Sim.

— Eu não sabia que você podia compor músicas… - ele continuou, amaldiçoando-se por não ser tão bom com as palavras quanto Ikuto, por exemplo. Por que se fosse, esse problema não teria nem tido início, para começar.

— Você não sabe muita coisa sobre mim – Utau foi evasiva. Ela sabia que não era exatamente isso o que deveria estar fazendo… parecia que estava tentando evitar Kukai! Quando o que queria era exatamente o oposto. Droga…se ela conseguisse ser honesta consigo mesma apenas por cinco minutos. – Talvez… talvez seja minha culpa que você não saiba muito sobre mim… eu… eu andei afastando você, sem nem dizer o motivo pelo qual estava fazendo isso, e foi injusto…

— Utau… - Kukai respirou fundo para fazer uma pergunta importante – Você… quer terminar tudo? É por isso que você esteve agindo estranha durante essas semanas, e tudo mais?

— O que? Não! É claro que não!

— Ah, que bom… - Kukai soltou o ar, aliviado – Por que eu também não quero terminar tudo… - ele fitou Utau com aqueles olhos verdes, pelos quais ela havia se apaixonado, e que ainda eram tão simples e sinceros. E eles ainda eram capazes de fazê-la se derreter inteira por dentro. – Eu pensei que você tivesse se cansado de mim…

—Eu não me cansaria de você Kukai, e esse é o ponto… mesmo que eu saiba que estamos errados em mentir para os nossos pais, e que isso… deveria parar antes que seja tarde demais… bem, eu não consigo! – ela parecia indignada com sua precária situação de tola apaixonada, mas Kukai tentava não se sentir muito presunçoso por isso – Nadeshiko tentou me ajudar, ela disse que se eu tinha algum problema, o melhor a fazer era ser sincera… e eu tentei fazer isso, mas… você sabe, eu não sou boa em falar… eu fico estressada, grito com você, e nada dá certo…

— Eu sei… - ele murmurou, mas ao ver o olhar severo de Utau, calou-se em um instante.

— Então, eu tive uma ideia… um pouco maluca, é verdade, mas parece ter dado certo. Eu decidi escrever uma música… uma música, sobre você, e sobre o que você significa para mim, Kukai…

Ele pareceu espantado por um segundo, e então seu rosto coloriu-se de uma maneira pouco usual.

— Então, aquela música era mesmo…

— Para você, sim, era… - Utau assentiu, juntando as mãos sobre a mesa nervosamente. Não teve tempo de ouvir a resposta de Kukai, pois os seus pedidos haviam chegado, e os dois se calaram enquanto a garçonete os servia.

— Tudo aquilo que você cantou… - Kukai ficou remexendo no prato até a atendente se afastar, e então fitou Utau, embaraçado – É o que você pensa sobre mim…?

— Sim… - Utau corou, e virou o rosto. Kukai não deveria escolher aquela hora para fazer uma cara tão fofa, era covardia. Ela esticou um pouco a mão, verificando se ninguém estava olhando para eles antes, e segurou a mão de Kukai por cima da mesa. Baixou os olhos, constrangida, mas fez um esforço para fitá-lo – Você é… o meu raio de sol…

Kukai queria beijá-la agora, queria muito! Mas eles tinham que ter escolhido um lugar público para conversar, péssima escolha, péssima. Utau parecia querer morrer depois de ter dito algo tão vergonhoso, e recolheu a mão, concentrando-se na sopa que estava à sua frente. Eles levaram alguns minutos comendo um pouco, e Kukai formulava mentalmente mais uma questão.

— Utau… Eu entendo que nós temos muitas dificuldades no nosso relacionamento, e elas provavelmente não vão ter um fim tão cedo, mas… por que você começou a agir estranho, assim, de uma hora para a outra? Nós não tínhamos brigado, nem nada… mas você parou de falar comigo de repente… Foi… alguma coisa que eu fiz?

Utau remexeu com a colher na sopa, o olhar um tanto perdido, antes de enfim erguê-lo na direção do garoto, hesitante. Ela sabia que teria que tocar nesse assunto de uma vez por todas, mas ainda tinha insegurança, embora não soubesse dizer o motivo por sentir-se assim. Antes que Kukai dissesse mais alguma coisa, ela resolveu se pronunciar.

— Eu… fiquei esquisita com você nesses últimos dias porque… porque eu vi aquela caloura se declarando pra você! Foi por isso! Eu ouvi o que ela disse para você, e fiquei com raiva! De você, dela… de mim mesma… então não consegui mais te encarar, com todos esses pensamentos horríveis que passavam pela minha cabeça…

Kukai ofegou, surpreso. Teve que forçar um pouco a memória para recordar esse incidente, e se sentiu culpado imediatamente por não ter conversado sobre isso com Utau. Tantos problemas poderiam ter sido evitados se ele apenas falasse com ela… No entanto, ele havia julgado essa ocasião como sendo tão sem importância que nem mesmo pensou que deveria contar.

— Eu rejeitei ela, Utau! Eu não quero nenhuma outra garota, eu gosto de você! – ele afirmou rapidamente. Teve o impulso de segurar a mão dela, mas estava longe demais no momento.

— Eu sei disso, mas… a maneira como você falou com ela…

— Eu só não quis ser mal-educado! Sabe, você vive dizendo que eu sou rude e impulsivo, o tempo todo, eu estou tentando ser alguém mais… mais educado… para você…

— Não tem necessidade de ser tão delicado com esse tipo de garota, sabia? Além do mais, ela falou mal de mim e você nem me defendeu!

— Ela disse o quê? Eu nem lembro mais, Utau, não tem a menor importância! – Kukai exasperou-se. Ele não lembrava de ter feito nada de errado. Não havia rejeitado a garota apropriadamente? O que mais ele podia ter dito?

— Você não se lembra de ter dito pra ela “que tal começar como amigos?” – Utau fez um precária imitação da voz de Kukai que o fazia parecer muito idiota – Você fez ela ter esperanças, tonto! E ela acha que você não tem namorada! É claro que vai continuar correndo atrás de você em toda oportunidade!

— Mas… eu não sabia o que dizer! – Kukai tentava desesperadamente justificar-se. Não queria brigar com Utau, não queria terminar com ela. Droga, deveria existir um manual de instruções para esse tido de situação, tentar pensar no que fazer sozinho era quase impossível! – O que você quer que eu faça, Utau? Eu juro que faço tudo o que você quiser! Só não me trate assim, eu realmente não sei o que fiz de errado!

Utau suspirou, provando um pouco da sopa que já estava fria, mas ainda era saborosa. Estava tudo dando errado, ela não queria discutir com ele dessa forma, queria apenas que eles fizessem as pazes, e tudo voltasse a ser como antes. Mas ela não podia evitar, quando começava a falar, tinha que ir até o fim. Kukai estava se esforçando para entendê-la, também, e ela sabia que ele faria de tudo por ela. Ela só precisava ser sincera.

— Se… ou melhor, quando uma situação como essa acontecer… - Utau ergueu os orbes violáceos, pensando bem antes de falar – Você pode dizer que tem uma namorada. Diga que ela mora em outra cidade. E que é muito ciumenta! Invente qualquer coisa. Mas não dê esperança para essas garotas. É cruel com elas também, sabia?

— Então… se era só isso… bem, nós estamos bem de novo? – ele arriscou, sorrindo. Utau não resistia a esse sorriso, e tudo o que mais queria era poder vê-lo durante todos os dias. O sorriso que iluminava o seu mundo. Seu Sol… só seu.

— Eu sei que exagero as vezes, Kukai… - ela suspirou. Deixou que ele segurasse sua mão, dessa vez – Mas… nossa relação não é a mais comum do mundo, e todas essas complicações… me deixam insegura! Eu te amo, droga. Eu sei que deveria confiar mais em você… mas sou ciumenta, não consigo evitar. E essas garotas todas… mais o fato de que eu não posso afastar todas elas e dizer que você é meu namorado, só faz tudo isso ser pior. Sinto muito…

— Está tudo bem… - Kukai bagunçou os cabelos perto da nuca, sorrindo. Afagava a mão de Utau lentamente, e ela certificou-se de que ninguém poderia vê-los daquele ângulo - Na verdade, eu gosto quando você tem ciúmes de mim também, sabe… E eu também amo você… - ele sussurrou com a voz mais baixa, e ainda risonha. Utau corou furiosamente ao reparar na declaração que havia feito sem nem perceber.

— M-melhor comer logo, baka! – ela bufou, afastando a mão da dele, e se concentrando no seu prato de comida – Temos que ir para casa…

— Ok! – ele começou a comer o mais rápido que podia, agora sim, sentindo que tudo estava bem. Ao menos por enquanto.



~



O segundo dia do Festival da escola Seiyo estava indo a todo vapor. Na sala do nono ano, Amu, Rima, Nagihiko e Tadase serviam seus clientes com entusiasmo. Tsukasa havia vindo fazer uma visita ao sobrinho, e tomava chá calmamente em uma das mesas. Ikuto e Chiharu não haviam aparecido naquele dia, já que ele tinha que trabalhar e Chiharu não saia muito de casa, ainda mais sozinha, então Emiri vagava sozinha pelas salas, no seu vestido de Julieta, até que em certa hora a garota que fazia a personagem principal pediu um tempo de folga, e ela teve que atuar.

Já na sala do primeiro ano, um pequeno problema acontecia Utau havia saído para o intervalo, mas Kukai havia ido com ela, e não havia ninguém que pudesse ficar na bilheteria. Nadeshiko já estava quase desesperada, quando Yaya e Kairi apareceram para uma visita, e ela se ofereceu para ajudar, salvando o dia. Mas afinal, onde é que aqueles dois haviam ido parar, juntos?

No final do corredor do terceiro andar, havia uma pequena sala que era usada como depósito para o clube de artes. Não era um lugar grande, e ainda estava repleto de telas inacabadas, tintas, pincéis, esculturas e materiais de outros anos, mas não havia possibilidade de alguém atrapalhá-los ali.

Desde a noite anterior, quando enfim se reconciliaram, Kukai e Utau não tiveram um único momento a sós. No caminho de volta para casa, encontraram Ikuto, que havia levado Emiri, sabe-se lá porque, para casa. E depois disso, Souko queria saber tudo sobre o festival e o que aconteceu, então, depois de horas contando tudo a ela, é claro que tudo o que queriam era tomar banho e ir para cama – ou no caso de Kukai, o futon na sala.

E durante todo aquele dia, desde a manhã, eles não tiveram nenhuma possibilidade de descanso. Sendo assim, na primeira oportunidade, Utau não pensou duas vezes e arrastou Kukai escada acima, procurando atentamente por qualquer lugar onde não seriam encontrados.

Naquele espaço abafado, com o cheiro não muito agradável de tinta velha, gesso, e poeira misturados, os dois se acomodaram sobre uma manta de tecido que estava jogada de qualquer jeito, e enfim, suspiraram, aliviados. Kukai jogou a máscara de Jason para o lado. Aquele tempo longe um do outro, mais as horas que tiveram que se conter por estar perto de outras pessoas ou em público, isso era absolutamente exaustivo. Ela bom poder respirar aliviados, sem medo ou culpa por estarem juntos outra vez.

Utau inclinou-se acima de Kukai, enlaçando-o pelo pescoço, e aproximou suas testas, sem nunca quebrar o contato visual. Kukai engoliu em seco, surpreso pela atitude rápida dela.

— Eu senti sua falta, Kukai… - e ele entendia o que ela queria dizer com isso. Apesar de morarem na mesma casa e viverem praticamente todas as horas do dia ao lado um do outro, ele também morria de saudades de estar com Utau.

— É só você não se afastar de mim de novo… - ele murmurou, acariciando o rosto dela delicadamente – Escrever uma música para cada vez que nós brigarmos vai demorar demais, sem contar que é difícil. Da próxima vez, venha falar diretamente comigo…

— Idiota. Se fosse simples assim… eu não sou muito boa em falar com as pessoas, sabe? – ela rosnou, escondendo o rosto no espaço do ombro dele. Kukai riu, afagando os cabelos loiros amarrados em duas marias-chiquinhas altas.

— Eu também não sou bom com palavras, Utau… - ele admitiu, afastando o rosto dela para poder encará-la diretamente – Por isso… acho que nós temos que aprender sobre isso juntos, não é?

Utau encarou os orbes verdes que tanto amava, percebendo que apesar de ainda ser infantil e bobo as vezes, Kukai era bastante maduro também, e sabia exatamente o que dizer para acalmá-la. Ela ainda sentia seu coração apertado, mas não era por medo ou por incerteza… era simplesmente por que o amava, e queria demonstrar isso de todas as maneiras possíveis. Inclinou o rosto, tocando seus lábios com os dele em um toque demorado.

— Nós temos todo o tempo do mundo para aprender… - ela suspirou, e abraçou-o com força, encerrando a distância pouca que os separava mais uma vez. Sentiu as mãos de Kukai percorrerem sua cintura, por cima do vestido desconfortável, e relaxou nos braços dele. Permitiu que ele aprofundasse o beijo, agarrando-se aos cabelos curtos e arrepiados dele com ambas as mãos, pressionando-o contra a parede. Sua respiração entrecortada ficou difícil, mas ela não conseguia se afastar. Queria tanto estar com Kukai, apenas isso não era suficiente, nunca seria.

— Ah…!

Repentinamente, a luz bateu em seus olhos fechados, e Utau se afastou dele, ofegante. A porta estava aberta, e uma figura completamente chocada os encarava, sem acreditar no que via. Kukai e Utau se levantaram correndo, e enquanto o observador parecia completamente perdido, ela tentava pensar em alguma saída plausível para aquela situação. Mas não havia nenhuma. Segurou a mão de Kukai com força, e respirou fundo, encarando a pessoa à sua frente com determinação.

Depois de tudo, ela não deixaria que nada mais os separasse. Nem que para isso… tivessem que dizer a verdade, de uma vez por todas. Embora… as consequências poderiam ser muito graves. Talvez mais do que ela supunha.




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Notas finais do capítulo

Yoo minna-san~ passando para deixar mais um capítulo para vocês da fic~ provavelmente o último antes do fim das férias ç-ç ah, passou tão rápido!!! Quero voltar no tempo e ficar presa eternamente no ciclo de férias infinito quem nem em Suzumiya Haruhi .-.

Bem, espero que tenham gostado da reconciliação desses dois bakas~~ bem, eles nem mesmo puderam fazer as pazes direito,e já tem outro problema para lidar... alguma suspeita de quem foi que pegou os dois, e o que vai fazer?? Aceito apostas~! Vamos ver se alguém acerta...


Até a próxima~ o/