Changed escrita por Shiroyuki


Capítulo 18
Capítulo 18 - Quem é essa?


Notas iniciais do capítulo

"Acho que ele ainda é perigoso. Devíamos arrumar uma maneira de deixa-lo distraído com outra coisa, assim ele parava de nos incomodar..."



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A inesperada viagem do casal Souma pegou Utau de surpresa.


Uma prima distante havia sofrido um acidente de carro, e não havia mais ninguém na família disposta a cuidar dela no hospital. Dessa forma, Tohru tirou uma licença para acompanhar Souko até Sapporo, onde a família dela vivia, para tratar desse assunto. Utau não conhecia essa tal prima, e assim, tudo o que ela podia sentir agora era uma grande expectativa. Ficaria sozinha em casa durante o fim de semana inteiro com Kukai, sem a possibilidade de seus pais os verem juntos! Isso poderia ser perfeito, se não fosse por um pequeno detalhe: Ikuto.

É claro que ele fez questão de ficar ao redor deles durante o tempo todo. Utau não tinha paz nem para dormir mais, pois aquele desocupado insistia em ficar perambulando pelo corredor durante a noite, espiando descaradamente pela porta arrancada para verificar se ela estava mesmo dormindo como devia. Utau estava mais impaciente durante esse curto período do que por todo o mês que passou escondendo seu romance com Kukai dos seus pais. Ikuto podia ser um mestre em acabar com a paciência das pessoas quando queria.

Porém, mesmo com essa vigilância constante e infundada de Ikuto, Utau e Kukai estavam conseguindo ter um bom tempo juntos. Sem o peso da culpa por seus pais estarem em casa, Utau se permitia ser um pouquinho mais descuidada, e aproveitava cada pequeno momento que tinha para dividir com Kukai, sem se preocupar com mais nada.



No sábado, depois de ter extravasado o seu estresse acumulado visitando Tadase por algum tempinho, Utau voltou para casa, com um saco de pães doce e um filme alugado. Ela não fazia ideia de que filme seria, já que a recomendação era de Ikuto, mas provavelmente seria algum suspense ou ação, e passar algum tempo dessa forma não poderia ser uma má ideia. Logo que chamou os meninos e eles se instalaram na frente da tv com cobertores e pipocas, ela colocou o DVD e se jogou sobre os braços de Kukai, sem se importar nem um pouquinho. Queria fazer isso ha tanto tempo que a presença incômoda de Ikuto nem era mais notada. Aconchegou-se à Kukai, enquanto o filme começava, e ele, tão nervoso pela presença de Ikuto e pelo ato inesperado de Utau, nem conseguia se mexer.



— O q-que você está fazendo…? – ele gaguejou, aflito.

— O Ikuto já sabe tudo mesmo, então, qual o problema? – ela replicou, determinada – Agora, sshhh, o filme tá começando…

Com Utau assim tão perto, é óbvio que Kukai não sabia nem mesmo do que se tratava o filme. Ah… ela tinha um cheiro realmente bom… e ainda, ele podia sentir com precisão cada parte do corpo dela pressionado contra o seu. Será que ela sabia o que ele estava pensando agora? Era melhor não… apesar de tudo, a loira parecia estar apreciando o momento. Ikuto, por outro lado, mal deitara-se no outro sofá, já estava dormindo a sono alto, quase babando na almofada. Kukai engoliu em seco, ao sentir as mãos de Utau subindo para abraça-lo pela cintura. Ele nem se atrevia a abraça-la de volta.

— Você acha que ele está dormindo mesmo? – Utau sussurrou, desconfiada. Kukai movimentou minimamente a cabeça, para observar o garoto adormecido.

— Não sei… e se ele estiver fingindo para nos pegar em… alguma situação embaraçosa… - Kukai tremeu.

— A gente nunca sabe o que ele tá pensando… - Utau suspirou, deitando o rosto no peito de Kukai e suspirando – Acho que ele ainda é perigoso. Devíamos arrumar uma maneira de deixa-lo distraído com outra coisa, assim ele parava de nos incomodar…

— Ei, você está revelando seus planos na frente do inimigo! – Kukai repreendeu, ainda temeroso de que Ikuto estivesse ouvindo tudo o que falavam.

— E se nós arrumássemos um emprego pra ele? – sem se importar, Utau sugeriu.

— Emprego? – Kukai era da opinião de que Ikuto não os deixaria em paz apenas por algo assim – Não seria melhor se ele arrumasse… uma namorada?

— O que? Claro que não! – Utau quase gritou, afastando-se subitamente de Kukai – Ikuto não vai arrumar uma namorada!

— Você vai acordar ele! – o garoto falou rápido, com medo do fim que aquela conversa podia ter – E… por que não? Olha, o Ikuto tem jeito de que já teve muitas namoradas, aliás, se nós arrumássemos uma pra ele aqui, não seria difícil…

— Ele realmente pode ter andado com várias garotas por aí, mas nunca teve uma namorada de verdade – Utau resumiu com segurança.

— Não? Que estranho… por que, não? Ele nunca gostou de uma garota? – Kukai indagou, curioso, esquecendo-se até do temor que sentia por Ikuto estar escutando o que eles diziam.

— Bem, eu não sei se ele gostou ou não de alguém – ela admitiu – Mas… eu nunca deixei que ele tivesse uma namorada.

— Nunca… deixou?

— Eu não deixava as garotas se aproximarem dele, entendeu?? – ela perdeu a paciência – Não quero que qualquer uma venha assim, entrando na nossa família! Eu fazia com ele a mesma coisa que fiz com você quando chegamos aqui… - ela afirmou, ainda que a contragosto.

— Utau, você tem ciúmes do Ikuto! – Kukai exclamou como se isso fosse uma grande revelação. – Você é realmente possessiva, não é? Não sei por que… mas isso me incomoda um pouco… - ele coçou o rosto, contrariado, olhando para o outro lado.

— Ei, não é a mesma coisa! E-eu… eu só não quero que ele namore ninguém… ainda… Não estou preparada psicologicamente para isso, eu acho… - ela tentou se explicar – M-mas… você…

— Eu o quê?

— Nada. Fica quieto e olha para o filme! – ela voltou a se agarrar ao braço de Kukai aconchegando-se a ele, com um semblante irritado. Kukai não disse mais nada, embora sua mente ainda estivesse confusa. E Ikuto, adormecido no sofá ao lado, deixou escapar um sorriso de canto matreiro e preocupante, que ninguém foi capaz de ver.



~





O sábado e o domingo passaram rápido, mas não havia sinal do retorno dos pais dos garotos. Tendo que comer a comida de Utau todos os dias, os dois garotos não viam a hora de que Souko voltasse logo, mas é claro que nenhum tinha coragem suficiente para dizer isso na cara da irmã.



Já era hora da educação física na escola, e depois de ter se alimentado somente com o obento que Utau fez questão de fazer, que se resumia em arroz e um tomate pequeno, Kukai mal conseguia acompanhar o resto do time dos garotos, que agora jogava futebol. Por outro lado, ela se sentia mais energética do que nunca – já que ganhava comida das amigas, Nadeshiko era uma ótima cozinheira – e jogava basquete com as outras meninas.

— Ei, Naddy… você não vai jogar? – depois de correr como uma maluca de um lado para o outro, é claro que Utau cansaria. Ela sentou ao lado de Nadeshiko, que estava sentada em um canto do ginásio, e aproveitou para tomar água.

— Eu prefiro não jogar… sabe, como são todas mais velhas, mais altas e maiores do que eu… não sei se eu deveria… - ela não terminou a frase, abraçando os próprios joelhos e baixando os olhos. Utau pensou por alguns instantes, em alguma maneira de convencê-la.

— Se você continuar se escondendo desse jeito, nunca vai conseguir o respeito delas mesmo. Não que o respeito delas valha alguma coisa, afinal… - ela divagou apontando para um canto onde uma das suas colegas chorava por causa de uma unha quebrada – Vamos, Nadeshiko, mostrar pra elas como se joga! – sem esperar por resposta, Utau segurou a garota pela mão, e a arrastou para o meio da quadra.

Assim que a bola veio para o lado dela, Utau a jogou para Nadeshiko, sorrindo para encorajá-la. Ela hesitou por um momento, fitando a bola como se estivesse tomando uma decisão importante, e então, repentinamente, respirou fundo e começou a correr. Voando pela quadra com os cabelos balançando atrás da cabeça, e picando a bola ao mesmo tempo com controle absoluto sobre suas mãos, Nadeshiko chegou até a cesta do time adversário, e com um pulo gracioso e preciso, quase um passo de dança ensaiado, ela fez o ponto.

Apenas quando aterrissou de volta ao chão, ofegante, é que ela percebeu os olhares inquisidores e absolutamente chocados de todas ao seu redor, inclusive Utau, que piscava atônita sem conseguir raciocinar direito. Ninguém conseguia dizer nada.

— O que foi isso, Nadeshiko? – Utau foi a primeira a se recuperar, e correu até a garota – Você devia ter falado que jogava como uma profissional!

— E-eu… eu não… - ela voltou a olhar para o chão da quadra, evitando os olhares quase perfuradores que as veteranas enviavam para ela.

— Você aprendeu a jogar assim na Inglaterra?

— Não, na verdade… na verdade eu não jogo direito desde que fui para lá… - Nadeshiko admitiu – Eu só brincava assim com o meu irmão…

— Hm, entendo… - Utau sorriu então, percebendo o nervosismo ainda mais forte de Nadeshiko – Talvez você seja ainda melhor do que ele!

— Ah… não, definitivamente não…

— Ei, as duas vão parar de fofocar aí e voltar para o jogo? – a maior das garotas dali, que fazia parte do time da escola, e que havia sido uma das únicas a não esboçar qualquer reação ao feito de Nadeshiko, grasnou.

— Já estou indo… - Utau preparou-se para retornar, e Nadeshiko em seu encalço, quando a bola veio de boa vontade rolando até elas.

— Eeeeii, loiraaa~ - uma voz aguda e nada discreta ecoou no ginásio de esportes – Joga a bola de volta… - Utau abaixou-se para pegar a bola, e já ia devolvê-la, quando ouviu, vindo da mesma garota de marias-chiquinhas que pedira pela bola – Que ridícula, aquela Fujisaki acha que pode se mostrar daquele jeito… - ela continuava a conversar com as amigas enquanto isso. Utau ouviu ainda – Hehe, essa loira aguada, vai ser minha futura cunhada…

Sem pensar duas vezes, com uma veia latejando na testa, Utau colocou toda a sua força naquela única jogada. A bola saiu como um míssil, e acertou em cheio a cara da garota que ria como uma hiena com as amigas. Ela apenas caiu para trás, sem nem ter visto o que a acertara.

— Souma-san! – Nadeshiko quase gritou, alarmada. Só então Utau percebeu o que havia feito.

— Souma! – a voz da treinadora se sobrepôs a todos os murmúrios e conversinhas que se alastravam como fogo – Já para a diretoria!!!!




Naquele dia, Utau pegou uma detenção. Teria sido uma suspensão, se a garota em questão já não estivesse com uma ficha mais suja do que a roupa de treino do Kukai em dia de chuva, de modo que a diretora achou por bem aliviar o lado de Utau. Ela havia se estressado, afinal, era algo normal. Como teve que ficar até depois do horário, já estava anoitecendo quando ela finalmente saiu da escola, deserta e silenciosa. Kukai tinha ido há tempos, e todos os outros também.




Pela primeira vez desde a mudança, Utau estava voltando para casa sozinha. Que estranho… em Tokio, ela ia e voltava para a escola de metrô, sem ninguém para acompanha-la. A viagem inteira durava em torno de meia hora, na ida, e mais de 50 minutos na volta. Utau tinha apenas os seus fones de ouvido como aliados nessa jornada diária, e não sentia falta de ter alguém para conversar durante o percurso, nem nada assim.

E agora, depois de quase um ano… ela havia se esquecido completamente da sensação de ter que retornar para casa sozinha, sem o falatório sem fim de Yaya, os comentários sarcásticos de Rima, ou as eternas indecisões de Amu. Ou sem as tentativas de Tadase de manter a ordem. Até mesmo sem a voz branda e calma de Nadeshiko, que começara a andar com elas recentemente. E, acima de tudo, sem as risadas escandalosas e as piadas sem graça de Kukai. Ela não sabia mais como era estar solitária, como era sentar-se em um banco e olhar a paisagem, sem ninguém ao seu lado para comentar qualquer idiotice que acontecesse.

— Eu me tornei uma pessoa estranha… - ela riu, feliz com a conclusão. A partir de agora, nunca mais teria que andar sozinha…




Chegando em casa, percebeu o carro de Tohru na garagem. Eles já haviam chegado! Utau já estava mentalmente planejando uma desculpa para chegar tão tarde, e entrou cautelosamente, tirando os sapatos na entrada, e deixando a mochila de lado. Sua mãe ficaria furiosa se soubesse sobre a detenção! Será que Kukai já havia contado? Ele não sabia mentir afinal, ainda mais para Souko!




— M-mãe, eu sei que me atrasei, mas…

— Ah, Utau, finalmente! - o semblante de Souko não era de raiva, ou de repreensão, mas de pura e simples atenção. Ela parecia cuidadosa, ao falar. – Você se lembra da Chiharu-chan, não é?

— Quem é essa? – ela olhou ao redor, de Kukai para Ikuto, de pé atrás do sofá, até Tohru, sentado na poltrona mais próxima dela. Só então Utau percebeu, sentada sobre o sofá, uma garota.

Ela se levantou, para curvar-se e cumprimenta-la apropriadamente. De pé, não devia medir mais do que 1,45. Tinha cabelos loiros e bagunçados, cortados na altura do queixo, e duas presilhas azuis prendiam a franja espessa de um lado. Os olhos eram de uma cor única de ciano, que lembrava o céu sem nuvens, embora nesse momento, parecessem inexpressivos e sem vida. As roupas da garota pareciam meio desleixadas. Um casaco azul-escuro, grande demais no corpo magro, uma camiseta escura, calções jeans, e meia-calça roxa por baixo, com tênis de cano alto desamarrados e sujos. Ela estava com curativos na bochecha e na testa, e sua mão esquerda estava enfaixada.

— Hoshina Chiharu – ela disse com voz baixa, olhando rapidamente para Utau, e voltou a sentar-se. Utau enfim percebeu que ela era a prima que havia sofrido o acidente, mas não entendia o motivo pelo qual ela estava ali, quando sua mãe voltou a pronunciar-se.

— A Chiharu-chan vai morar conosco de agora em diante…







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Notas finais do capítulo

Yoo, minna-san!

Personagem nova e original, estou doida pra saber o que vocês acham dela...
Aqui está a imagem que serviu de inspiração para a Chiharu...

http://www.zerochan.net/130991


Entãaaao~era isso~

espero reviews o/

Até o próximo...~