Changed escrita por Shiroyuki


Capítulo 17
Capítulo 17 -Não adianta nada ficar pensando nisso


Notas iniciais do capítulo

Era tudo tão inocente, puro não existia maldade, não existia o lado de fora, não havia nada que trouxesse sofrimento para aquelas duas crianças.



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— Que merda você tá fazendo aí, Ikuto?!

Utau mal tinha chegado da escola, naquele início de noite, e deu de cara com o irmão mais velho pendurado na porta do seu quarto, fazendo sabe-se lá o que. Estava pronta para pular em cima dele e arrancá-lo dali, quando percebeu que ele estava retirando a sua porta, e carregando-a para fora. 

— Olha a boca suja, Utau-chan! Com quem anda aprendendo esse palavreado? – ele pronunciou despreocupadamente, como se não estivesse fazendo nada de mais. Estava pronto para deixá-la falando sozinha e dar as costas.

— Ei, parado aí! O que pensa que está fazendo??? – ela gritou de novo, barrando o caminho do mais velho. Ikuto parou no meio do corredor, segurando a porta como se fosse uma prancha de surf. Sorriu para ela, preparando-se para explicar algo simples a uma criança.

— Você acha mesmo que eu estou disposto a deixar você e esse pirralho dormindo no mesmo quarto sem nenhuma intervenção? – ele apontou para Kukai, que acabava de subir as escadas, e nem sabia o que estava acontecendo. – Eu não sou idiota, Utau-chan… e também, ouvi uns barulhos suspeitos no telhado ontem… Então, resolvi atuar no papel de irmão mais velho que me cabe, e zelar pela segurança dos mais novos…

— Idiota! Você acha mesmo que esse imbecil do Kukai pode fazer alguma coisa? – indignada, Utau apontou para o ruivo, que nesse momento ainda tentava entender o que havia acontecido com a porta, e se assustou com seu nome sendo citado tão de repente.

— É com a segurança dele que eu me preocupo… Você é o verdadeiro perigo aqui! - Ikuto balançou a cabeça, como se estivesse arrasado – Mas não importa, agora, vocês terão que conviver sem a porta, e sem nada a esconder. Boa sorte em trocar de roupa desse jeito…

— Ikuto!! Volta aqui e coloca esse troço de novo!! – ela berrou, mas o garoto já estava descendo as escadas, sem dar ouvidos a ela. Irritada, ela bateu o pé. Teria batido a porta do quarto, se ainda tivesse alguma. Como ele se atrevia?! Ela tinha sérias dúvidas se ele fazia isso por preocupação de fato, ou se era apenas diversão. Mas sendo uma ou a outra alternativa, ele ainda ia pagar por isso… algum dia.

— Não fique tão estressada, Utau… - segurando-a pelo ombro, Kukai a conduziu para dentro do quarto. Jogou a mochila no canto de sempre, e se jogou na sua cama, fazendo-a ranger perigosamente. – Não vale a pena pensar muito nisso, o Ikuto só vai achar mais divertido… e de qualquer forma, tenho certeza de que a mãe não vai deixar isso assim por muito tempo, você vai ver!

— Como você pode ficar tão despreocupado? – Utau sentou na outra cama, tirando os sapatos – Ele acabou de arrancar a nossa porta! Agora, qualquer um pode acabar nos ouvindo falar alguma coisa ou… -ela parou subitamente, corando furiosamente, sem coragem para terminar a frase.

— Ou o que? – Kukai sentou-se de súbito, com um rosto intrigado – O que você estava planejando fazer com o meu lindo corpo inocente…? – ele protegeu o peito com os braços, forjando uma expressão que pensava ser ingênua – Oh, que perigosa e devassa a minha Onee-chan é…! Que medo!

— Imbecil, eu estou falando sério!!! – ela jogou o sapato recém-tirado bem na cabeça dele, acertando em cheio – Eu estou dizendo, se alguém acaba nos vendo, assim como o Ikuto viu naquele dia…

— Nós só precisamos tomar cuidado, tá legal? E lembra, naquele dia tinha uma porta bem aqui, e isso não impediu o Ikuto de ver a gente, não é?

— B-bem, você não deixa de ter razão… - Utau titubeou, e deixando as meias que tirou de lado na cama, suspirou – Mas…

— Utau, é só nós ignorarmos o seu irmão devidamente, e ele logo cansa de brincar… eu acho… Enfim, eu já tenho muita experiência com esse tipo de coisa, sabe, meus irmãos viviam implicando comigo, de várias formas diferentes… - Kukai sorriu confiante, voltando a deitar na cama, com os braços apoiando a cabeça - Eles jogavam meus sapatos no telhado, escondiam as minhas bolas de futebol, colocavam meias vermelhas junto com as minhas roupas brancas na máquina de lavar… eu tive que usar cuecas cor-de-rosa durante uns dois anos depois daquilo… Bem, não há muito o que se possa fazer nesses casos. O que eu estou dizendo é… vamos apenas continuar desse jeito, sem se preocupar demais, está bem? Quem pensa muito acaba atraindo coisas ruins!

— M-mas… eu não consigo parar de me preocupar com isso… - Utau cruzou os braços, fechando os olhos – Você sabe, eu ainda estou com aquela história da Nadeshiko e do Tadase na cabeça, e vendo o quanto eles sofrem por esse tal “amor proibido” do qual a gente nem sabe nada direito, eu lembro que… b-bem nossa situação não é muito melhor do que a deles, nee? Eu te contei, sobre o outro dia em que eu fui até lá… Eu só queria saber o que aconteceu com eles naquela época… e ajudar, de alguma forma…

— Ah, Utau! Viu, é disso que eu estou sempre falando! Você pensa demais nas coisas, o tempo todo! – ele se indignou, erguendo o corpo – Olha só… você tem que relaxar de vez em quando… Nós não fizemos nada de errado, certo?

— Hm… certo… - ela retorquiu em voz baixa, olhando de relance para Kukai. Ele se ergueu, sentando ao lado dela, e segurou sua mão. O coração dela bateu forte, contra sua vontade, ao ver o sorriso brilhante que ele mostrava.

— Então! – ele se inclinou, depositando nos lábios dela um singelo selinho, tão rápido que ela mal sentiu. Sorriu, ao se afastar, e Utau corou furiosamente, ainda mais descompensada depois disso – Se tomarmos cuidado, nada vai acontecer… mas não adianta nada ficar pensando nisso, entendeu?

— Entendi… m-mas você nunca pensa em nada, e nunca toma cuidado, eu tenho eu fazer isso por nós dois! – ela reclamou, puxando a mão que Kukai ainda segurava.

— Continue tomando conta de mim, Onee-chan! – Kukai riu, e segurou o rosto de Utau, pressionando seus lábios contra os dela mais uma vez. Abraçou-a, e Utau se debateu, fechando os olhos com força. E se alguém aparecesse? Esse garoto irresponsável, nunca pensava em nada! Segundos depois, ele se afastou, com um sorriso matreiro de criança que sabe que fez o que não devia. – Algum dia nós vamos poder sair de verdade, e fazer isso em público, você já pensou nisso?

— Em público não, idiota!!! – ela gritou, afastando-o com um empurrão nem um pouco convincente. Kukai riu, daquele jeito contido que ela achava lindo, e coçou o rosto com um dedo. Idiota, tentando atacar as fraquezas dela.

— Kukai-chan! Utau! – a voz de Souko os sobressaltou, vinda do andar de baixo – Venham jantar.

-

— Fujisaki-san, você não vai subir? – de cima da casa na árvore, o pequeno loiro chamava pela amiga. Eles tinham pouco mais de oito anos. Tadase ainda corria de calças curtas pela grama, atrás do cachorro. Nadeshiko ainda brincava de bonecas, e girava seu vestido branco como uma bailarina em meio às flores.

Era tudo tão inocente, puro… não existia maldade, não existia o lado de fora, não havia nada que trouxesse sofrimento para aquelas duas crianças. Tadase tinha seus joelhos ralados, por tropeçar ao correr… Nadeshiko tinha o rabo de cavalo curto, e não se importava quando ele ficava todo bagunçado, de tanto brincar. Era tudo simples, e tão feliz…

A garota começou a subir a escada de madeira, até o alto da base secreta. Sentou-se na pequena “varanda” ao redor da casinha, com as pernas balançando para fora, e sorriu docemente para Tadase, inclinando a cabeça.

— Do que vamos brincar? – indagou  - Que tal de piratas… ou então de…

— Aqui, para você… - Tadase a interrompeu, com o rosto inteiramente vermelho, estendendo uma pequena flor branca, retirada de algum lugar da pequena floresta que havia ao redor da mansão Fujisaki. Nadeshiko ofegou, surpreendida.

— É muito bonita, Hotori-kun… - ela aceitou o presente, e Tadase estremeceu quando a mão dela roçou na dele, ao pegar a flor – Mas… por que?

— E-eu gosto muito de você, Fujisaki-san! Muito mesmo! – ele disse, abrindo os braços para ilustrar. Seu rosto ainda estava rubro, mas ele se esforçava para falar – Você é muito bonita…

— O-o-obrigada… - ela escondeu o rosto, envergonhada – E-eu também gosto de você, Hotori-kun… você é meu amigo.

— N-não, você não entendeu! – Tadase replicou, nervoso – O jeito que eu gosto de você, não é igual ao Fujisaki-kun ou a outra pessoa! Não é gostar como um amigo só… é aquele gostar de quando a gente quer se casar com a outra pessoa!

— O q-que? – Nadeshiko ergueu os olhos, atônita. Seu coração acelerou tão rápido como ela nunca havia sentido antes, e ela sentia que ele ia sair pela sua boca a qualquer segundo.

— Q-quando nós crescermos… você quer se casar comigo, Fujisaki-san? – Tadase fez um esforço a mais, para olhar a garotinha nos olhos.

— Casar… você diz, como minha mãe e meu pai? – Nadeshiko considerou seriamente a proposta, enquanto Tadase esperava ansiosamente pela resposta – E-eu acho que… eu q-quero sim… por que assim, nós não iremos nos separar nunca, não é? E eu não quero ter que ficar longe do Hotori-kun! – ela disse, com um sorriso. Tadase assentiu, um pouco feliz com isso – Mas… por que as pessoas casam?

— Ah, é uma coisa que você tem que fazer quando é adulto, não é? – Tadase argumentou – Acho que é uma maneira de nunca ficar sozinho… - ele pensou por um momento. Enquanto estivesse com Nadeshiko, ele nunca estaria sozinho. Então, não precisaria de mais nada. Era por isso que ele queria casar com ela, e qualquer outra pessoa não serviria. – Mas…  E como nós fazemos para casar? – ele preocupou-se de repente.

— Acho que é como nos filmes… - Nadeshiko respondeu, simplesmente, olhando para seus pés que se balançavam no ar.

Lentamente, ele deslizou a mão pela madeira, até encontrar a mão dela repousada ali, ainda segurando a flor branca. Tocou-a de leve nos dedos, sem coragem para olhar para ela agora. A mão era macia e cálida, e ela não retirou dali, quando o sentiu tocá-la.

Tadase a fitou, de canto, com o rosto corado. O sol poente refletia nos cabelos escuros dela… e também nos seus olhos dourados, que estava brilhantes e surpresos agora. Ela parecia com algo feito de porcelana… ou como uma fada… Tadase tinha certeza de que nunca havia visto nada tão lindo antes…

Nadeshiko também o espiou de soslaio, e corou quando notou o olhar de Tadase nela. Arquejou, tímida, e não conseguiu desviar o olhar novamente. Seu coração batia rápido. A mão de Tadase era tão gentil. E os olhos dele… eram tão lindos! Inconscientemente, ela se aproximou. Tadase também chegou mais perto. O que ele ia fazer?

Rapidamente, Tadase fechou os olhos. Ela não entendeu. E então, ele se aproximou ainda mais, e de repente, ela sentiu algo pressionando levemente seus lábios. Não era ruim. Foi tão rápido que Nadeshiko nem teve tempo de entender o que acontecia. Tadase logo se afastou, fitando-a com semblante assustado. Ele também não parecia entender o que havia feito.

E, subitamente, uma voz irritada acordou-os de seu pequeno sonho.

— O que está fazendo com a minha filha, garoto?!

Nadeshiko acordou, assustada. Sentou na cama, tentando se situar. Sua mente girava, confusa, e ela ainda sentia a pressão leve e gentil em seus lábios, como naquele sonho. Em um ato impensado, levou os dedos até lá, fechando os olhos úmidos. Aquela recordação voltava sempre, quase todas as noites. E, sempre que sonhava com isso, Nadeshiko acordava com o coração pesado.

Aquela era a lembrança mais linda que Nadeshiko tinha consigo. E mesmo que por causa disso, teve que ser mandada para o outro lado do mundo… aquele ínfimo momento de felicidade nunca iria ser arrancado do seu coração. Ela não abriria mão dessa recordação, por nada.

— Hotori-kun… - ela murmurou, e sentiu algo agitar-se apenas em dizer o nome dele em voz alta. Ela sentia tanta falta dele…

Desde que Nagihiko os viu conversando juntos, ela e Tadase nunca mais tiveram a oportunidade de se ver. Mesmo na escola, Nagihiko a vigiava de perto e nunca baixava a guarda, e quando ela não estava na aula, estava com ele. Até uma conversa informal, desejando bom dia ou algo assim, estava completamente vetada.

Se arrumando sem muito entusiasmo, ela enfim saiu para a escola com o irmão. Ainda queria arrumar uma maneira de conversar com Tadase, mas nada passava pela sua cabeça. Estava tão distraída em seus pensamentos que nem prestava atenção no caminho, e teria sido atropelada em um momento, se Nagihiko não tivesse a segurado pelo braço a tempo.

Foi nesse mesmo ritmo desmotivado que ela chegou à sua sala de aula, e como aquele se mostrava mais do que nunca um daqueles dias em que não devia ter saído da cama, havia uma garota sentada em cima da sua classe, conversando com outras duas.

— Ano… com licença… - ela pediu, com voz calma e contida. – Esse lugar é meu…

— O que?? – a garota, que era baixinha e com cara inchada, olhos pequenos e cabelo tingido de castanho, colocou a mão no ouvido desdenhosamente, como se não tivesse ouvido direito – Eu não consigo entender, você fala muito baixo! Vamos lá, diga mais alto!! – ela gargalhou logo depois, e as outras duas fizeram coro.

— Esse lugar, onde você está…

— Ah! É um bom lugar não é???  - ela praticamente gritou, rindo como uma hiena – O que você quer?

— Eu quero sentar… - ela baixou o rosto, escondendo-o sob a franja.

— E qual a palavrinha mágica, Ojou-sama???

— A palavra mágica é “tira essa bunda gorda daí!” – Utau, que até esse momento assistia tudo em silêncio, resolveu se impor. Nadeshiko ergueu os olhos, surpresa e admirada. – Yamada-chan! Todos nós sabemos que você tem dificuldade para entender essas coisas, mas mesmo o seus pseudo-neurônios podem entender isso, ou eu estou errada? Você prefere que eu a ajude a sair daí? – ela segurou os pés da mesa e começou a chacoalhá-la, até que a garota chamada Yamada desse um pulo, acompanhado de um gritinho forçado.

— Sua doida, eu podia ter caído! Certo, eu só estava brincando um pouco com a novata! Ela é mais nova que a gente afinal, tem que saber como funciona tudo por aqui… - ela bradou, embora sua confiança estivesse seriamente abalada – Mas parece que a Ojou-sama precisa de uma guarda-costas não é? Bom, tanto faz… - dando as costas, ela foi para seu próprio lugar, no fundo da sala.

—Obrigada, Souma-san… - Nadeshiko murmurou, sorrindo timidamente, assim que ela sumiu – N-não precisava ter feito tanto…

— Claro que precisava! – Utau se aproximou, enquanto Nadeshiko se acomodava em sua carteira, e apoiou-se ali, sorrindo cordialmente – Como somos constantemente incomodadas por essas garotas, temos que nos unir, certo? Sem falar que nós duas temos irmãos… hm… populares, entre elas. Logo elas vão começar a importuná-la por causa disso, como fizeram comigo. – ela falou, como uma especialista – E.. bem, as vezes eu acho que não é só isso que temos em comum. Acho que posso dizer que gosto de você, ou algo assim… então, você quer almoçar comigo e com as kouhais depois, como naquele dia?

— O-obrigada, eu adoraria! Ah… - ela pareceu se recordar de algo – A-acho que não posso…

— O Tadase não vai estar lá – Utau disse rapidamente. Nesse exato momento o professor entrou na sala, então ela teve que se afastar. Piscou rapidamente, de uma maneira que até parecia Kukai, antes de voltar para o seu lugar. Nadeshiko corou imediatamente. Será que ela sabia de alguma coisa?

A aula praticamente voou naquela manhã, enquanto o professor discursava sobre o shogunato Tokugawa na Era Edo, ou qualquer coisa assim que seria esquecida cinco minutos depois por aquelas mentes jovens e impacientes. Assim que o sinal do intervalo soou, Utau sorriu para Nadeshiko, andando até a frente da sua classe, e esperou que ela a acompanhasse até fora da sala.

As suas colegas não conseguiam disfarçar o choque de vê-las juntas, enquanto os garotos aproveitariam que as duas iam saindo para começar a falar delas de uma maneira nem um pouco educada, ou seria melhor dizer, indecente. Mas Kukai apenas encarou Utau com incredulidade, e até um pouco de nervosismo. Certamente pensava que ela estaria planejando fazer um interrogatório maluco sobre o que havia ouvido no outro dia, e deixaria a garota Fujisaki tão traumatizada que ela desejaria fugir de volta para a Europa.

Ignorando com maestria os olhares especulativos, Utau seguiu com Nadeshiko pelas escadas, até chegarem ao telhado, e Yaya, Rima e Amu já fez estavam lá, esperando-as.

— Ah, Naddy, você veio mesmo! Que bom, a Yaya adora conversar com você, sabia? Nee, foi você que fez seu almoço de novo? A Yaya pode ver? Você sabe fazer salsichas em formato de polvo…? E doces, você sabe fazer doces? Tipo, aqueles da Europa, você sabe, não sabe?

— Ei, Yaya, deixa elas chegarem primeiro – Amu ralhou com a garota, rindo sem graça. Utau percebeu que ela ajeitou sua postura assim que viu Nadeshiko chegar.

— Eu trouxe okonomiyaki de novo, quer trocar? – Rima ofereceu, fitando Utau com visível inexpressividade.

— Certo… eu tenho… - ela abriu a caixa de bento, fitando-a com atenção – tamago-yaki e alguma coisa que talvez seja carne, talvez não…

— Serve. Mas você tem que me dar o seu chá. – Rima disse, já pegando a garrafinha que estava na não de Utau, e as duas trocaram almoços.

Enquanto isso, Nadeshiko as fitava com notável admiração, quase emocionada. Nunca havia presenciado nada parecido antes. Durante o tempo que em morou na cidade, não tinha amigos além de Tadase e do seu irmão, e quando esteve na Europa, não conseguira fazer amizade com nenhuma das garotas de lá. Esse tipo de informalidade ainda era algo novo para ela.

— E você, Nadeshiko-chan, o que trouxe? – Utau sorriu para ela.

— Ah… apenas alguns legumes, e camarão frito… E-eu não tive muito tempo hoje de manhã… - ela respondeu, incerta. Embaraçada, acabou lembrando-se do seu sonho, o motivo pelo qual acordara sem nenhuma vontade de fazer o que fosse.

— Waa… Fujisaki-san come tão pouco… - Amu exclamou, surpresa, fazendo-a esquecer rapidamente do sonho.

— Vai ver por isso ela é tão magra, e você não… - Rima alfinetou. Nadeshiko se assustou, querendo negar tudo aquilo de uma vez. Esse tipo de comentário sempre fazia outras garotas se tornarem hostis, e ela não queria que Amu, nem nenhuma das meninas a odiassem. Mas, ao contrário do que pensou, Amu riu alto do comentário de Rima.

— E você, Rima-chan, devia parar de comer o omelete da Utau e começar a trazer leite para o almoço! Talvez assim você cresça um pouco! – ela arqueou uma sobrancelha, sentindo que ganhara a discussão. Rima virou o rosto para o lado, bufando, e Utau e Yaya riram também. Nadeshiko abafou uma risada com a mão. Aquilo era tão inesperado! Mas também, a deixava com um sentimento estranho, de felicidade, em seu peito. Algo que ela não era capaz de sentir há muito tempo…

— Ah, vocês não vão acreditar! Sabem o que o Ikuto fez agora?? – Utau disse, agitando os hashis no ar, de uma maneira que podia ser considerada rude.

— O que ele fez, conta para a Yaya! – ela agitou os braços, animada.

— Ele roubou a porta do meu quarto! Simplesmente foi lá, e arrancou de lá! Sem nenhum motivo!

— Wooow, que estraaanho!

As garotas riram, comentando e falando todas ao mesmo tempo. Em meio aquela confusão, Nadeshiko se sentiu livre para falar também, embora não tão eloquentemente quanto Yaya ou mesmo Amu, mas ainda, sentindo-se muito bem por fazer isso. Ah! Ela havia conseguido fazer amigas! Ainda sem saber direito o que isso significava, e com o coração leve… aquela era uma sensação boa…

— Eu disse que ela ficaria bem, Fujisaki-kun… - de dentro da porta que dava acesso ao telhado, alguém sussurrou. Era Tadase, e ele estava encoberto pela sombra da porta, junto com Nagihiko. Nenhuma das meninas os notara, e obviamente, eles estavam ali para observar Nadeshiko dali.

— É… você tinha razão… Eu me preocupei à toa, pelo jeito… - ele suspirou –  Vamos, eu quero comprar alguma coisa para tomar. – fechando os olhos, Nagihiko colocou as mãos no bolso e foi descendo as escadas. Tadase o seguiu. Não sem antes dar uma última olhada, a tempo de ver o rosto sorridente de Nadeshiko, e mesmo de longe, isso fez o seu coração se agitar, um pouco dolorosamente. Bem, talvez nem tudo estivesse bem agora, mas… poderia ficar. Não poderia?


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Notas finais do capítulo

Yoo~ minna-san!

Particularmente, eu adorei esse capítulo... ele não era planejado, mas eu precisava mostrar um pouco dessa aproximação da Nadeshiko com as outras antes do que estava planejando... enfimm! o que acharam? Eu realmente me dou melhor com improvisos do que pensando nas coisas apropriadamente, eu acho -.-'

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