Voleur Sinderella escrita por Pequena em Paranoia


Capítulo 7
Capítulo 7 - La chanson des voleurs


Notas iniciais do capítulo

Até que enfim cheguei ao final da grande noite! E está enorme esse capítulo, mas prometo que vão gostar. Ainda por cima por causa do "clima" que tem entre a Claire e o Charlie hahaha. Eu estava pensando em como seria terrível se tivesse juntado todos os três capítulos da grande noite. Ia ser um infeeeerno!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/168359/chapter/7

Ele andou rápido, tinha o passo apressado e nem sequer viu quando esbarrou em alguém. Ou em outra pessoa. Seus olhos caíram sobre um garçom que cumprimentava um velho homem corpulento de terno acinzentado de luxo, recebendo sua taça de espumante, a memória do loiro agiu no mesmo instante.

“Aquele é Devoir Perrault, o chefão.” pensou Charles passando logo por detrás da bandeja do garçom e tomando a taça como dela fosse beber. Nem Devoir, nem seus amigos que riam bêbados como porcos, nem mesmo garçom perceberam sua ação.

Não parou, quase correndo, e estendeu ainda mais suas pernas, passando direto pelo elevador e se dirigindo ao banheiro o mais rápido que pôde.

Com uma leve música típica de elevadores, lá estava a classe de um toalete. Tudo dourado e até mesmo os espelhos irradiavam beleza. Beleza essa que ele percebeu quando se viu sozinho no lugar, trancando a porta o quanto antes. Charles abriu seu terno e entre os muitos e numerosos acessórios que tinha, contando com agulhas e injeções, luvas de plástico, pó numa pequena caixinha, alicates, um microfone de contato muito pequeno e alta sensibilidade (como se fosse um estetoscópio em miniatura), um detector de RF e por último três anéis grandes. Com certa segurança ele retirou as luvas e tomou a taça em suas mãos.

A cena parecia de filmes de espionagem, mas ele transferiu o mais ligeiro que pode a digital do dono do Hotel para a luva de plástico, lavando a taça em seguida e saindo do toalete para que pudesse colocá-la numa bandeja de qualquer garçom que estivesse passando no momento.

Não perdeu seu tempo e foi direto para um dos elevadores como se nada quisesse.

– Marianne, ligue-me com o Lourette agora. – ele disse, esperando o elevador chegar.

Estou na escuta. – a voz de Rato disse nos fones.

– Vou entrar. Quero que siga meus passos.

Rato estava na frente de seu computador, rodeado de outras dezenas de monitores na sala de vigilância, enquanto o vigia jazia dormindo no canto do quarto amarrado por fitas adesivas, enquanto Wallace terminava de colocá-las. Ele via com nitidez a presença do amigo com seu computador conectado ao central.

– Relaxe, já estou dentro do sistema. – disse Rato com um sorriso no rosto.

Mesmo assim Charles fez com que nada visse ou ouvisse.

– Já tenho a digital, preciso apenas da senha de Devoir Perrault. Não esqueça de desativar as câmeras do último andar.

Não se preocupe, já desliguei no o 80º. O único problema é que parece não ter nenhuma conectada a própria suíte-casa dos chefões. Por que esse pessoal rico tem a péssima mania de guardar cofres em casa? Não confiam em bancos não? Haha.

– Para nossa sorte não. – riu-se Charles, entrando no elevador vazio. – Não esqueceu-se de programar os elevadores, não é?

O amigo não respondeu nada, mas o loiro conseguiu ouvir os barulhos constantes e rápidos do teclado velho e de teclas quase apagadas do notebook que ele tinha.

Oitenta andares, aquilo não poderia ser mais demorado. E não foi tanto assim.

De repente o elevador parou no 68º andar como se alguém o tivesse chamado, e não havia erro.

– O que está acontecendo? – ele disse antes que a porta se abrisse.

Não entendo, não era para nenhuma se abrir...

O zum do movimento da porta foi rápido e a única e primeira visão que ele teve foi do corpo esbelto e do rosto descoberto de máscara de uma das últimas pessoas que desejava. Claire Perrault. Ela o olhou abrindo os belos olhos verdes como se tomasse um leve susto com sua presença, adentrando no elevador de forma bem lenta.

– Olá novamente, Adrien Filinto. – ela sorriu.

– Boa noite, senhorita Perrault. – respondeu num impulso, colocando-se de lado e mudando o mais rápido que podia para o 79º andar. – O que faz aqui se sua festa está repleta de convidados lá embaixo?

A moça sorriu – e se Charles não estivesse com a concentração tão fixa teria desvencilhado no mesmo instante.

– Acho que essa pergunta está além do seu poder. – disse Claire piscando levemente os olhos.

Ele não evitou e abafou rapidamente o riso.

– Oh, desculpe-me. Não foi minha intenção.

– Imaginei que não. – dizendo assim ela clicou no 80º andar.

E como num filme, do outro lado do corredor 68º andar, o corpo de Paul Wolfgang surgiu como se estivesse correndo, ele mirou o elevador ofegante antes que sua porta se fechasse de olhos saltados, berrando para os dois jovens:

– CLAIRE! Volte!

Ele estava sendo seguido por uma dúzia de fotógrafos e repórteres, o que fez com que o próprio Charles escondesse seu rosto extremamente rápido.

A porta, entretanto, se fechou e a moça deu um longo suspiro demorado como se estivesse aliviada. E estava, Charles não deixou de perceber, olhando para seu corpo mais relaxado de ombros curvados, recostada na parede do elevador.

Ele, de certa forma, cogitou falar algo por pura cordialidade, mas não o disse por ela lançar um olhar mais sério para sua presença.

– Está hospedado aqui? – ela disse calmamente – Digo, no... 79º andar?

– Não, eu apertei sem querer. – respondeu Charles – Meu quarto fica naquele onde a senhorita estava e me impediu de sair.

– Está falando sério? – ela riu como se estivesse ouvindo uma piada.

Charles ficou calado, não que estivesse amedrontado, mas ficou olhando para o rosto dela, a encarando de verdade.

– O que há de tão estranho? Não era você quem estava correndo do próprio noivo? – disse Charles, observando a telinha que mostrava os andares passarem. Estava no 73º.

– Como sabe que era meu noivo? – Claire engoliu a seco.

Desta vez quem riu foi ele.

– Da maneira como ele a olhou, como se fosse posse dele, as alianças em seus dedos e a rápida lembrança de sua amiga Allen comentando sobre isso. Ah, além do que a festa tem como propósito o noivado de vocês dois, não? – ele olhou para cima e viu que já tinha chegado ao 79º andar, esperando que a porta se abrisse lentamente – Bem, acho que está indo para sua suíte e que será encontrada por seu noivo, não quero presenciar algo assim, por isso estou me retirando.

Assim, ele estava fugindo. Sabia que o último andar era praticamente todo a casa em que Claire Perrault morava. Não seria a melhor das estratégias ele entrar em seu covil e roubá-lo com ela ao lado... Saiu sem mais nenhuma palavra pelo corredor do andar.

O único problema que ele não percebeu foi justamente que Claire interrompeu a porta de ser fechada. Abrindo-a e saindo logo atrás dele.

– Se vai me julgar e falar como se já soubesse da minha vida é melhor que conte a verdade também, Adrien. – ela praticamente berrou. – Se é que esse é seu nome de verdade.

Por um mero segundo ele se assustou, virando-se de imediato para vê-la com uma feição um pouco assustada logo que o próprio Charles segurou seu pulso com força.

– O que disse?

– O 68º andar foi completamente interrompido e não há hospedes ali. Ah, e gostaria de compartilhar comigo o motivo de usar luvas de plástico?

Seu sorrisinho maroto e satisfeito foi motivo de um riso do próprio Charles que soltou o braço dela imediatamente, deixando uma marca rosada de seus dedos. Em seguida, retirou as luvas e jogou-as no cesto de lixo.

– E o que está fazendo aqui? Já está começando a ficar inconveniente, sabe? – disse ele dando um sorriso de lado.

– Como você disse, ele estará me esperando e não estou querendo encontrar meu noivo numa hora dessas...

Meus parabéns, gênio. Agora a garota está no seu pé. – a voz de Rato ecoou no ouvido de Charlie.

– Estúpido, cale a boca. – murmurou o loiro.

– Estúpida? – a moça o cortou.

Charlie revirou os olhos e negou apenas balançando a cabeça.

Não demorou mais que dois segundos com os dois se olhando para que escutassem um barulho, na verdade, gritos vindos do elevador que já tinham fechado. Pelo, provavelmente, sexto sentido de ambos, eles tiveram a impressão de que fossem os repórteres. Lógico que não deixariam por menos nem sequer passar despercebida aquela saída triunfante de Claire.

Ela levou seus olhos arregalados aos dele, como se procurasse por alguma sugestão de “o que vamos fazer”. Ele nada disse, na verdade.

São os repórteres – disse Rato – saia já daí.

– São os repórteres. – repetiu Charles com um tom sereno, tentando manter a calma – É melhor sairmos daqui.

– Para isso que me serve uma chave mestra. – riu-se Claire, levantando a barra de seu vestido até sua coxa, mostrando sua meia-calça rendada e preta com um tipo de compartimento para um cartão cinzento. Assim chamado de “chave mestra”.

Claire foi até o primeiro quarto que viu no corredor e abriu sua porta com o passar rápido do cartão. Charles, entretanto não se moveu e ela ficou apenas olhando para seu olhar bobo detrás da máscara.

– Ah, entre logo! – berrou acenando com o braço.

A porta do elevador abriu ao mesmo tempo em que ele entrou enfim, ouvindo apenas o barulho dos amontoados de berros dos fotógrafos que nada encontraram senão um corredor vazio.

Antes tudo estava escuro, antes que Claire ligasse as luzes e visse um quarto luxuoso do Hotel Claire Les Nuages completamente arrumado para um próximo cliente que fosse. E, nossa, era enorme em todas as proporções, quase uma suíte presidencial. Charles não evitou rodar seus olhos por todos os cantos do cômodo do tamanho da piscina do casarão de sua madrasta.

Ao contrário dele, a moça entrou, retirando os sapatos dourados e os jogando em qualquer canto do carpete azul e quentinho do quarto, tateando em uma gaveta a procura do controle que regulava a temperatura.

– Se vai ficar fazendo essa cara eu te coloco para fora. – ela riu-se.

– Tenho certeza de que o fará. – respondeu sem desprender a atenção de cada detalhe do quarto luxuoso e ao mesmo tempo dando um tom irônico à própria fala.

Ela virou-se rapidamente para ele com um ar revoltoso.

– Você é muito convencido para quem está falando sempre besteiras, céus!

– Desculpe-me, senhorita, afinal é você quem foge e devo ter totais condolências para com a senhorita de cuja casa excedo das hospitalidades. – ele disse, entre os próprios risos. – Eu não mereço isso, não vindo de uma garota mimada como você...

– Agora usas de palavras mais belas e cordiais, senhor? – ela gargalhou, antes de fechar o cenho como uma criança emburrada – Não sou uma garota mimada, não que você, senhor de qualidades duvidosas que me conhece o suficiente para analisar apenas meu corpo, possa dizer.

– As qualidades que vê em mim não são mais do que aquelas que eu quero que veja. – o sorriso dele foi meio maroto, quase pretensioso.

– Pedante! – Claire quase berrou encarando a criança interior.

– Fátua. – respondeu o rapaz.

– Ufano!

– Pernóstica. – disse rapidamente – Quer mesmo ditar todo o dicionário relacionado a características superficiais? Tenho bem mais sinônimos em mente, se me permite.

De repente, os dois escutaram apenas um TOC TOC vindo da porta. Alguém estava batendo, só podiam tê-los visto entrar, assim pensavam. Os dois se entreolharam e a primeira reação de Charles foi ir até a porta, desligando a luz, enquanto Claire o seguia, se abaixando em suas costas.

Charles abriu lentamente a porta, deixando espaço apenas para dois ou três dedos passaram e seu rosto coberto pela máscara, vendo um homem barbado com uma máquina fotográfica presa em seu pescoço por uma cordinha meio surpreso por tê-lo atendido.

– Em que posso ajudar? – disse Charle, friamente.

– Estou procurando por uma garota, senhor. – disse o homem barbado, estendendo seu olhar para dentro do quarto. – O senhor viu algo estranho por aqui?

– Não, não vi.

O homem sorriu, fazendo uma rápida reverencia e saindo correndo para o outro lado do corredor. Charles fechou o mais rápido que pôde a porta.

Charlie, sai logo desse lugar. O cara viu a Claire no reflexo do espelho e todos os repórteres estão de plantão do lado de fora da porta. Char—zz—saia—a—Charles—dd.

A transmissão tinha sido interrompida. O sangue subiu na cabeça do rapaz, como se estivesse nervoso por aquilo acontecer.

Bem, tinha que fazer o que fosse preciso o mais rápido possível, colocando a mão, lentamente na parte de dentro do terno e procurando por um de seus anéis que tinha prendido. E assim que pegou o anel foi interrompido por Claire pousando o rosto sobre seu ombro com delicadeza.

– Então, ele já foi?

A reação de Charles foi quase imediata, precisava sair dali naquele mesmo instante, por isso virou-se rapidamente com o anel em seu dedo apontado para fora como se fosse socar Claire justamente com ele.

O resultado foi trágico já que não sabia quão próximo ela estava nem mesmo que tinha reflexos um pouco rápidos, ou sequer da prateleira atrás de sua cabeça. Claire lançou o corpo para trás e bateu-se contra a prateleira, batendo em seguida na cabeça de Charles, fazendo com que os dois caíssem em seus próprios joelhos.

– Ai! – berrou Claire junto a Charles em uníssono.

O baque entre as cabeças foi tão grande que os dois começaram a massagear as testas quase involuntariamente.

– Está ficando louco?! – ela riu-se – No que estava pensando, seu idiota?!

– Louco não! – ele dizia ainda com a mão no rosto – Talvez surdo com a sua gritaria.

De repente ficaram em um silencio demorador de três segundos e caíram na gargalhada. O riso de Claire foi tão longo que o próprio Charles a ficou observando feliz, ela tinha um brilho diferente quando ria e não o ficava criticando.

Olhando por certos aspectos, a situação se convertera completamente com os dois sentados e rindo como se fossem verdadeiramente amigos. Ambos esqueceram que há pouco se xingavam como condenados, passando alguns instantes apenas rindo e sentindo os tombos se formarem em suas testas.

– Você fica bonita sorrindo... – disse Charles, ainda que sua intenção não fosse ser galanteador.

Claire revirou os olhos com meio sorriso no rosto e ao se levantar, estendeu-lhe a mão calmamente.

– É melhor sairmos daqui logo antes que nos peguem.

– Deveria ter pensado eu iam nos pegar antes de começar a gritar... – ironizou ele, segurando a mão da moça.

E quando ambos ficaram em pé, seus olhares se chocaram como duas ondas que se batem com força, se repelindo para todos os lados. Em situações como aquela os dois costumavam virar o rosto e a atenção, mas mantiveram o olhar cruzado. Parecia que estavam se desafiando, esperando que um dos dois abrisse e se virasse, que parassem de se encarar. Entretanto, ficaram em silencio por mais alguns instantes, antes que Claire se desligasse do transe e percebesse que seu corpo, pequeno em comparação ao de Charles, estivesse a míseros centímetros de encontro com o dele, virando o rosto e dando um leve passo para trás.

Por pouco Charles não voltava a ser criança e gritava “Consegui! Eu venci!”. Ainda sim, deu um passo para trás como ela.

– Posso te fazer uma pergunta pessoal? – ele murmurou, desta vez sério.

– Mal vejo seu rosto, mas quer me fazer uma pergunta pessoal – ela sibilou sorrindo – essa é uma situação interessante. Vamos, pergunte.

– Por que uma moça como você, bela, rica e jovem está noiva de um homem que é quase dez anos mais velho...?

Ela parou, como anteriormente, desviando o olhar para todas as direções. E quando voltou-o percebeu que Charles continuava fixo nela.

– Ah, sabe como são essas coisas. Parece meio que uma idéia medieval casar porque os pais mandam, mas... Enfim, não acho que devo lhe responder dessa maneira, é uma história longa mesmo.

– Acordo que seu pai fez. – riu-se Charles – Deixe me adivinhar o quê ele lhe propôs? – ela apenas assentiu com a cabeça – Dinheiro não acho que seja, casando ou não você continuaria rica. O amor do papai eu também duvido. Foi obrigada ou realmente ama seu noivo é algo quase impossível para você. O quê, afinal, você ganha com isso?

Pesadamente Claire soltou um suspiro, levantando-se e tateando a parede a procura do interruptor. Acompanhando-a, o loiro se levantou e segurou levemente sua mão como quem segura um pássaro pequeno.

– Ele ofereceu minha liberdade.

Segurou lentamente na maçaneta e quando a girou de maneira lenta, Charlie foi mais rápido e a puxou para perto de seu corpo, empurrando ao mesmo tempo a porta.

Seus olhos se cruzaram novamente, mas agora estavam incrivelmente próximos e perdiam completamente a expressão, ambos ficando com as bocas pouco abertas e a respiração quase falha e dificultada. Charles não era o tipo do homem que se aproveitava de qualquer brecha, sequer Claire deixava abri uma. Aquele era o momento em que seus corpos estavam praticamente encostados um ao outro e seus rostos próximos para que se beijassem.

– Por que me puxou? – ela interrompeu o segundo tenso.

– Havia alguém que você não queria ver do outro lado do corredor. – ele respondeu friamente sem mexer os olhos ou qualquer músculo além do rosto.

Silencio. Claire já estava incomodada com a cena inerte por demorados instantes de observação intensa de um olhar para o outro. Ele sequer ameaçou falar algo.

– Não sei se é meu orgulho que me fere – ela sibilou com a voz quase sem sair – ou a sua mão segurando meu pulso, mas eu não tenho vontade de sair daqui.

O loiro sorriu, pondo a boca ao lado do ouvido dela, ao mesmo tempo em que esta fechava os olhos, e sussurrou:

– Ao final de tudo você não é apenas uma rocha insensível, é, jovem Claire? – deu um risinho baixo e abafado.

Os olhos dela abriram rapidamente e se depararam com os dele, azuis e penetrantes como se flechas prateadas lhe perfurassem os olhos, ela estava sendo ofuscada apenas pelo olhar do mascarado a sua frente. A mão de Charles soltou levemente o pulso da moça e enlaçou com delicadeza sua cintura, em seguida colocando firmeza, tocando as costas desnudas por seu vestido.

Claire sentiu um conforto ao toque das mãos dele, sentia-se quase segura com os quadris encaixados. Ela levou sua mão ao rosto dele, tocando de leve sua máscara, queria retirá-la e dar uma boa olhada no rosto dele. Entretanto Charles segurou sua mão com a outra, não a que envolvia a garota, beijando-lhe a palma sem tirar os olhos dos dela. Acabou por se entregar ao desejo momentâneo, opção desastrosa já que esquecera estar noiva. Charlie aproximou o rosto do dela e tocou-lhe os lábios serenamente. Um beijo quase insignificante, mas ao mesmo tempo desgarrado de pura fixação. Do puro o desejo se fez. Ela apertou sua nuca e ele a cintura dela, sofrendo arranhões no pescoço. Estavam entre rasgos e beijos se apertando, aproveitando que não eram vistos, esquecendo pudor ou o que fosse.

Como um raio, a lembrança de Wolfgang veio à mente de Claire que arregalou os olhos de uma vez e pôs o rosto para trás.

“É agora.” Pensou Charles.

– Desculpe-me, não deveria ter feito isso... – ela disse, tirando a mão do pescoço dele e passando sobre a própria testa. – Eu tenho que sair daqui, tenho que correr e...

Sua voz foi interrompida quando finalmente ele triunfou em sua ação para se libertar. O anel que Charles levava consigo tinha um tipo de agulha que injetava um sonífero fortíssimo e instantâneo que sempre levava consigo em suas ações, assim como ele tio Wallace e Rato utilizavam do mesmo empecilho.

Dessa forma, atacou o ombro de Claire, colocando o sonífero em sua corrente sanguínea e fazendo com que desmaiasse no mesmo instante, mantendo a expressão angelical e bela para a qual ele mantinha o olhar fixo.

E bem na hora, o relógio começava a alarmar. 23h40m. Já tinha passado mais do que da hora.

Não poderia sair de maneira alguma, tanto que correu para a sacada que tinha na suíte, olhando do topo do edifício para cima e para baixo, a fim de encontrar alguma maneira de subir sem que fosse notado. E a princípio nada havia senão um precipício gigante de quase 80º andares. Olhou para cima e para os lados, havia um cabo de ferro enorme que dava para a sacada do andar acima, talvez aquela fosse a única maneira de subir.

– Rato! Rato, consegue me escutar?! – Charlie gritava ao léu. Entretanto não teve nenhum sinal de resposta.

“Droga, isso está mais suicida do que poderia imaginar...” ele pensou, olhando para trás e vendo o corpo desmaiado de Claire. Infelizmente tinha de deixá-la, ainda que estivesse com o peito caloroso por causa do beijo, como se fosse uma menininha inexperiente.

Era aquela a hora. Abriu novamente seu smoking, tirando um gancho de ferro. Era, na verdade, um gancho com uma corda também de ferro que se ligava a outro gancho, tinha a finalidade de usar aquilo para segurar uma coisa em outra, não de apoiá-lo e segurá-lo quando se via subindo uma corda enferrujada. Colocou-o envolta de sua cintura e começou a escalar o andar do prédio. Era apenas um andar, que mal podia acontecer?

Em sete longos passos, lutando contra a gravidade de seu peso, o ferro em suas mãos e etc... Charlie pôs os pés para dentro da suíte máster do Hotel, o lar de Claire. Havia uma cortina fina, marfim, e nela Charles se escondeu, passando o olhar pelo lugar. Era, certamente, o quarto da moça. Tinha um carpete vermelho e uma cama maior que o quartinho em que ele mesmo dormia. Não havia ninguém e as luzes estavam apagadas.

Charles?! Consegue me ouvir? – berrou Rato através do auto-falante.

– Estou sozinho agora, pode falar. – respondeu – O que aconteceu? Que interferência foi aquela?

Não tenho idéia. Onde está você? Não te vi saindo! Só faltam três minutos para a segurança abrir.

Isso já não é mais problema. Estou dentro do quarto de Claire Perrault, onde posso encontrar o diamante? – disse Charles andando até a porta com um ar mais aliviado.

Haha, não acredito. Bem, procure pela biblioteca, na quarta prateleira de livros procure por um livro vermelho com o título costurado no couro da capa em fios d’ouro.

A casa em que ela vivia era do tamanho do andar, senão maior por estar na cobertura e ter cada detalhe magnífico. A biblioteca ficava bem ao fundo, o último quarto de um largo e extenso corredor. Quando ele entrou viu uma enorme quantidade de livros quase assustadora espalhada pelo chão, por cima de uma escrivaninha e amontoados nos cantos das paredes.

Terceira prateleira, livro vermelho com letras douradas. Charles achou o livro e chegou até a sorrir quando o viu.

– Cinderella, de Charles Perrault. – ele disse com um rápido risinho. – Irônico, não?

Se você quer dizer pelo fato de ser o Ladrão Sinderella, sim, é irônico. – gargalho Rato – A passagem se abre com esse livro, não sei como...

Primeiramente, ele o retirou, esperando que uma passagem secreta se abrisse. Não foi o que aconteceu. Ficou apenas olhando para a capa do livro feita de couro com as letras costuradas. Era belo. Charlie colocou o livro no lugar e pensou rapidamente. Havia um fio em seu topo, onde prendia as folhas, que estava meio solto. Rapidamente o puxou. Entretanto, não estava ali para segurar as folhas do livro. Quero dizer, as folhas não estavam costuradas como deveriam...

– Acho que encontrei...

Com um leve empurrão a lateral do livro caiu. Havia em lugar um teclado de números, visivelmente estava pedindo a senha.

– Qual a senha? – perguntou para Rato.

Tente 1990.

Errado.

8909.

Errado uma vez. Erraram a segunda e a terceira tentativa após esta. Foram ao todo 10.

– Se vai chutar me avise o quanto antes. – disse Charles revirando os olhos realmente incomodado.

Estou fazendo o meu máximo, sugira um número melhor.

Em que ano foram publicados Os Contos da Mamãe Gansa?

Deixe-me ver... 1697. Mas por que está me perguntando isso? Não está achando que essa é a senha, está?

Ele digitou 1697 e sentiu apenas que o painel vibrar sozinho. De repente o chão vibrou um pouco e a passagem se abriu como se todas as prateleiras entrassem por detrás umas das outras. E assim, uma enorme porta redonda de ferro revelou-se, apenas esperando para ser aberta.

– Eu consegui. – sibilou Charles quase maravilhado.

O que? Como assim a senha era 1697? Não está falando sério está? Existem10000 combinações possíveis!

9999, para ser exato... Já posso abrir?

São 23h50m. Você tem dez minutos para pegar o diamante e sair daí. Eu e tio Wallace apagamos as filmagens e estamos saindo da sala de comando nesse minuto.

A porta de metal se abriu lentamente para a felicidade de Charles que praticamente avançou sobre o cofre com uma felicidade incrível. O único problema foi...

O cofre estava vazio.

– O cofre está vazio. – murmurou Charles perplexo.

Como assim vazio?!

– Está COMPLETAMENTE vazio. – ele disse, tateando as paredes e olhando de cima a baixo a câmara completamente revestida de metal com poucas luzes a sua volta. – Me ligue com Marianne agora. AGORA!

De repente, escutou o barulho de uma porta se fechar. Alguém estava entrando ali, tinha que escapar o mais rápido possível.

Era Cloud Perrault que entrava cambaleando em seus próprios pés pela sala, tomando um longo gole de sua bebida e caindo duro no sofá. Parecia ter adormecido àquela altura. Charlie andou o mais silencioso que pôde, não tinha como sair da mesma maneira que entrara, iria pela porta da frente daquela maneira.

Como assim estava vazio? – a voz de Marianne se fazia em seus ouvidos – Será que esvaziaram o cofre antes? Não há explicações para isso!

– Ou retiraram o diamante ou alguém o roubou antes de nós. – ele murmurou, escondido detrás da parede para que Cloud não percebesse sua presença. – Estou saindo agora. Quero a van nos fundos do Hotel em sete minutos.

Charlie pegou outro anel. Cada anel só era capaz de pegar uma pessoa, logo estava usando seu segundo. Quando foi na direção de Cloud para pegá-lo, parou no mesmo instante em que o viu roncando estirado nas almofadas do sofá, bêbado como um porco.

Um suspiro de alívio pôs-se de pé novamente, mantendo a calma.

Agora só teria que andar calmamente até o elevador e sair daquele inferno o mais rápido possível...

– Quem é você? – um murmúrio veio em seus ouvidos assim que abriu a porta do apartamento. Ele virou-se e deparou com Cloud fazendo uma feição assustada, levantando-se com certa dificuldade.

– Estava perdido e acabei vindo parar aqui por engano... – Charles respondeu com um sorriso.

A cabeça de Cloud doía tanto que nem se dava ao trabalho direito de pensar, ficou apenas massageando a testa com dores fortes. Charlie virou-se novamente para a porta e quase saltou num susto. Claire Perrault estava bem a sua frente com um olhar sonolento e pesado.

– O que está fazendo aqui? – ela disse, mordendo os lábios. Charles não fez sequer um movimento, podiam até perceber que estava um pouco assustado com a situação. E quando Claire arrastou o olhar para dentro do apartamento viu ao fim do corredor a porta da biblioteca aberta. Nada mais passou em sua mente senão o roubo do diamante. – Cloud, chame a segurança!

– O que? – falou arrastado.

– Chame a segurança agora! – ela berrou desta vez, caindo sobre suas próprias pernas. E assim, Charles saltou os olhos e quase pulou com cima dela. Claire ainda tentou segurar seu braço, e segurou sua mão, mas deixou-o escapar pela fraqueza de seu corpo.

A saída do último andar era uma escadaria rápida pela qual o loiro praticamente voou. Havia ao seu fim uma porta grande rústica e bem envernizada que ele empurrou de uma vez sem perceber que batera em alguém. Já eram 23h54m. Meia noite era seu prazo final e poderia ser pego.

– Olha por onde anda! – berrou a voz de quem bateu – Claire? O que houve?!

Por uma rápida curiosidade ele olhou, era Wolfgang que corria para dentro do apartamento atrás da noiva.

Quando se virou novamente esbarrou em uma terceira pessoa. Uma moça mascarada que caiu no mesmo instante com um rápido grito. E percebeu se levantando pela gola de sua blusa com um rapaz praticamente da sua altura.

– O que pensa que está fazendo?! – rosnou o homem.

– Saia do meu caminho! – berrou Charles, socando a boca do estômago do homem que o deteve, deixando que caísse. Entretanto sua mão desceu sobre o rosto de Charlie, arrancando sua máscara rapidamente.

Um desastre. Estava sem máscara e alguém o viu. O rapaz deu uma rápida olhada em seu rosto de olhos arregalados antes que saísse correndo como um louco na direção do elevador.

O 80º andar era um corredor, não um andar comercial. Havia um enorme salão com alguns lustres de vidro e carpete vermelho, além de quadros de pinturas e afrescos nas paredes em marfim. De um lado a porta para o apartamento, do outro havia o elevador. Quando finalmente chegou nele e achou que estaria no mínimo salvo ao seu fechar, escutou uma sirene enormemente alta. O alarme que Claire clamava para Cloud.

O elevador emperrou. Não tinha como sair dali. A única maneira era ir embora da mesma maneira que chegara. Foi até a primeira janela do corredor do 80º andar que viu e pegou seu cabo, amarrando-o em volta de sua cintura novamente.

“Vou queimar minhas mãos se descer muito rápido”. E antes que pudesse escorregar retirou um quadro da parede, tirando a tela e segurando como se fosse uma luva contra o cabo.

Deslizou como um suicida.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Charlie e suas tendências meio suicidas hahaha. Ele é um amor D: realmente espero que tenham gostado, deu um bom trabalho esse capítulo.
Nossa nossa, estou animada *-* quero falar logo sobre o cara que viu o rosto do Charlie e sobre o que vai acontecer em seguida! o/ o/ o/ cenas dos próximos capítulos haha.
La chanson des voleurs é uma música de Carole Laure :D



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Voleur Sinderella" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.