Hot Summer escrita por Brenda_Silva, vaneblass


Capítulo 14
Capítulo 13 - Ainda não acabou (Parte I)




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                              KYUHYUN'S POV
Primeiro show. Não que eu não tenha feito outros shows aqui. Mas foi aqui em que eu a conheci. Nesse palco, junto de suas amigas. Quanto tempo havia se passado mesmo desde o dia em que nos encontramos pela segunda vez? Aquele dia em que ela estava vestindo aquele avental de trabalho nada atraente, mas mesmo assim continuava linda. Aquele mês em que construímos sonhos, promessas e juras que acabaram se resumindo em uma carta que ela me deixou antes de partir. Aquela carta que eu li durante noites. Só oito meses haviam se passado desde tudo isso? Pareciam tantos mais! Parecia uma eternidade...
De repente senti raiva. Tristeza. E por fim, senti saudades. "Como ela foi capaz de fazer isso comigo, depois de ter jogado na minha cara várias vezes que não queria ser feita de idiota? O que de tão grave poderia ter acontecido? Eu ainda não entendo Carla. E sinceramente, acho que não te conheço mais. Mas infelizmente, possodizer com toda a certeza que eu ainda te amo. E isso é realmente uma droga...!"
Isso era o que passava pela minha cabeça antes de pisar naquele palco, onde tudo começou. Desde que havia recebido a notícia que teria de fazer um show lá, lembranças daquele verão vieram à tona. Logo agora que tinha conseguido seguir em frente.
- Vamos entrar daqui sete minutos - Leeteuk veio me avisar já que eu estava em um canto, separado dos meninos - Você está bem? - Definitivamente estava cansado dessa pergunta. Que merda, por que vocês tem que perguntar isso de cinco em cinco minutos?
Fiz que sim com a cabeça, mas não me aproximei deles. "Você está bem?", "Logo você supera", "Se precisar de alguma coisa, é só falar" Não droga! Eu não queria e nem precisava que ninguém fosse gentil comigo. É fácil falar pra quem está com a pessoa que ama do lado não é? Apesar de que...Eu tenho uma pessoa do meu lado agora. Tinha sido um tumulto na Coréia. Direito a entrevistas, trocas de anéis, fotos.. mas...Tinha certeza que jamais a amaria do que jeito que eu amava a Carla.

                                          CARLA'S POV
Pisar no Brasil, depois de todos esses anos fora, deveria ter sido no mínimo, emocionante. Mas não foi bem assim.
Ao chegar no aeroporto, não havia nada além de um táxi me esperando na saída, que me levou direto para o hospital que meu pai estava. Não demorou muito para chegar, e logo que o táxi parou em frente ao hospital, mandei um SMS para minha irmã que me falou em que andar e corredor que estavam.
Senti um mal-estar logo que pisei no hospital. A vontade de dar meia volta e sair correndo era imensa. Sentia que meu pai não estava bem, pois sabia que sua saúde era frágil, e ele não respeitava certas restrições como cigarro, bebida, comidas...Milhões de coisas passavam pela minha cabeça no momento em que subia as escadas. Mas à partir daí, não consegui mais assimilar nada ao meu redor. Quando vi minha família inteira chorando no corredor, na frente de um quarto, o desespero, medo e a sensação de perder o chão atingiram-me em cheio. Se não fosse minha irmã sair correndo ao meu encontro, talvez eu teria ficado lá parada, imóvel, tentando evitar o encontro e a notícia que acabaram comigo.
- Ele não está...- As lágrimas já escorriam e eu já não conseguia ver mais nada. Sentia-me fraca, e por um segundo pensei que fosse cair - Pelo amor de Deus, me diz que ele está bem!
- Temos tentar ser forte agora - Respondeu Cláudia, tentando me acalmar - Porque ele foi forte até o último segundo.
Nessa hora mamãe se aproximou, mal conseguindo andar. Parecia que ela tinha passado noites em branco; seus quase quarenta e oito anos, pareciam muitos mais. A abraçei o mais forte que consegui.
Apartir desse momento, as lembranças e o resto do mundo desapareceram e a única coisa que eu fiz foi chorar pelos meses que se seguiram.

Havia virado rotina eu acordar no meio da noite, aos prantos durantes os três primeiros meses. Depois desse tempo eu simplesmente acordava, sem sono e sentindo um completo vazio dentro do peito. E todas as vezes que isso acontecia eu acendia o abajur e pegava uma caixinha, cheia de fotos das férias e ficava olhando até pegar no sono de novo. Sonhando acordada para ser mais exata. Como será que poderia ter sido minha vida se nada disso tivesse acontecido? Será que eu estaria feliz? Se eu tivesse atendido o celular antes, será que poderia ter visto papai pela última vez? Será que um dia, Kyuhyun e as meninas iriam me perdoar?
- No que está pensando Carla? - perguntou Cláudia durante uma noite. Já fazia algum tempo que eu estava acordada e foi só então que eu percebi que ela me observava.
- Há quanto tempo está ai me olhando? - Perguntei, colocando as fotos disfarçadamente de volta na caixinha.
- Há quatro meses, todas as noites - Sorriu de lado e levantou-se de sua cama, caminhando até a minha  - Será que...Não seria melhor você desabafar? Sinto que isso não tem nada haver com o papai.
- Tem tudo haver com o papai - Suspirei - Se eu tivesse atendido o celular antes, eu teria tido a chance de vê-lo pela última vez. Eu nunca vou me perdoar por isso, nunca.
- Não se culpe assim irmã. Não ajuda em nada - Ela sentou-se ao meu lado e colocou a mão sob meus ombros - Mas eu...Eu acho que o motivo de você não ter atendido o celular está dentro dessa caixa de fotos, não é?
Cláudia sabia que eu nunca havia namorado sério. Desde a época do colegial ela sempre fez mais sucesso entre a turma que eu. Ela era popular, mesmo entre o pessoal da minha sala. Ao invés de eu protege-la, era totalmente ao contrário: ela era quem me protegia das brincadeiras de mal gosto e das comparações que faziam entre nós.
- Você conheceu um rapaz não foi?
- É tão óbvio assim? - Falei, vendo Kyuhyun em meus pensamentos. Como será que ele estaria agora?
- Digamos que sim. Qual era o nome dele? Eu quero saber! - Sorriu, dando um tapinha em meus ombros.
- Cho Kyuhyun. Ele é coreano, se é isso que ia perguntar - Respondi quando percebi quando ela fez menção de perguntar da onde ele era.
- Uau, coreba? Deixa eu ver a foto! O que ele faz?
- Cantor - Tirei as fotos da caixinha e entreguei para ela que começou as olhar atentamente, reparando em todos os detalhes.
- Você não falou mais com ele?
- Não tenho coragem. Eu fiz uma coisa horrível...As meninas e eu estavam indo para a Coréia junto com eles sabe? - Quando eu falei isso, Claudia levantou os olhos para me fitar - Eu ia contar quando tivesse chegado lá, iria ser uma surpresa. Estava tudo certo, e elas estavam tão felizes! E eu sabia que se contasse alguma coisa disso para elas, com certeza elas largariam tudo para vir comigo, e isso não podia acontecer. Então eu decidi vir sozinha, escondida.
- Não acredito que fez isso Carla, sério. Ainda tem o telefone deles ou delas? Você precisa explicar o que aconteceu.
- Não sei...Estou pensando em retomar minha vida aqui Clau. Já se passaram meses. Acho melhor eu ficar por aqui mesmo, e outra...Você e a mamãe precisam de mim mais do que nunca.
Cláudia largou as fotos, chegou perto e mim e me abraçou forte quando percebeu que eu estava prestes a chorar.
- Precisamos. Mas acima de tudo, precisamos ver você feliz.
Feliz. Felicidade. Por onde será que andava a minha?

Mas se você acredita em destino, com certeza irá dizer que o que aconteceu na semana seguinte a essa conversa que eu tive com Cláudia foi uma obra totalmente armada pelo destino. Com vários indícios durante o dia.
Havia acabado de acordar em uma manhã pouco ensolarada de abril. Cláudia já havia ido trabalhar e mamãe estava cuidando de umas plantas no quintal de casa. Tomei banho e corri para  a cozinha, já que estava super atrasada para as aulas de japonês que eu dava para alunos que estavam interessados em fazer intercâmbio no Japão. Todos entre seus dezesseis e dezoito anos.
Meu café já estava na mesa e quando mamãe percebeu que eu havia acordado, sentou-se comigo à mesa.
- Dormiu bem?
- Sim! Tão bem que estou atrasada! - Peguei um pedaço de pão que estava na mesa e corri para pegar o material da aula que daria - Preciso ir mãe.
- Só vai comer isso? Vai passar fome.
- Quando eu chegar eu como mãe, não vai dar tempo - Dei um beijo nela e fui direto para a escola que não ficava muito longe de casa. 

Era uma escola de linguas e eu havia sido contratada há cinco meses para um curso com duração de sete meses. Minha irmã havia conseguido a vaga para mim. Trabalhava na escola durante os cinco dias da semana, e nas quartas, quintas e sextas trabalhava em um café em um shopping. Tinha em minha mente que poderia conseguir um emprego muito melhor do que eu fazia, mas não tinha muito ânimo. Tudo o que ganhava dava para minha mãe, que devolvia quase tudo o que eu lhe emprestava. Dizia que eu precisava sair, viver, mas eu também não tinha vontade. Não tinha muitos amigos, e os que tinha, estavam milhas distantes.
Já haviam se passado mais de sete meses desde que eu estava no Brasil e desde então não tive mais notícias de nenhum deles na Coréia. E eu não tinha coragem para ligar ou escrever uma carta de desculpas.
Posso dizer que durante os primeiros meses, felizmente foi impossível pensar em Kyuhyun. A dor da perda do meu pai foi muito maior. Porém depois dos meses de luto, pude sentir a dor. A dor da perda de Kyuhyun e dos meus amigos, o que era pior.

Olhei o relógio antes de entrar na sala de aula; estava no horário. Respirei fundo e abri a porta. Os alunos estavam ouvindo música e gelei dos pés a cabeça quando os ouvi - tentando- cantar Sorry Sorry. Por pouco, não derrubei todo o material que segurava no chão.
- Gosta de Super Junior professora? É uma banda coreana, faz o maior sucesso na Ásia!- Yuji, o que parecia estar comandando a rodinha perguntou.
- É...Bem...Vamos começar a aula de hoje? Tem bastante coisa para passar e eu quero terminar hoje, não quero perder tempo - Desconversei. Eles me olharam não entendo absolutamente nada do porquê daquela resposta, já que eu costumava ser mais como uma aluna do que uma professora. Eles foram para suas mesas em silêncio e eu agradeci por estar em uma sala com orientais. O professor manda, eles obedecem. Sem porquês. Respeito total.
A aula tinha duração de duas horas mais ou menos. Fazia a introdução da aula, um pouco de leitura, interpretação de texto e explicação da gramática. Como japonês é uma lingua complicada, precisava dos alunos totalmente concentrados na aula. Mas depois de ouvir uma música de Kyu depois de todos esses meses, quem estava com a cabeça nos ares era eu. Desatenta e perdida, parendo uma criança. E para meu desespero os alunos haviam percebido, mas não falaram nada. A voz de Kyuhyun ficava ecoando em minha cabeça a cada palavra ou algo que eu escrevia na lousa. Ficava olhando o relógio de cinco em cinco minutos, torcendo para o final da aula que demorou para acabar.
- Você está bem professora? - Ana, uma mestiça pequenina dos olhos claros, perguntou quando todos já haviam saido da sala. Parecia preocupada e para contornar a situação sorri para ela.
- Não está sendo um bom dia sabe? Perdoe-me, não tem nada haver com vocês. Obrigada pela preocupação Ana. Ajuda bastante.
Ela retribuiu o sorriso e caminhou até a porta, onde parou.
- Ganbatte ne sensei! (Esforçe-se professora!)
Acenei para ela e logo depois segui em direção a minha casa. Finalmente.
Ao abrir a porta, senti o cheiro de macarronada que minha mãe tinha feito para o almoço. É incrível né? Mães parecem sentir quando um filho não está bem. E com pequenas coisas conseguem nos fazer sorrir e esquecer os problemas.
- Preparei especialmente para você - Ela disse, no fogão, enquanto mexia o molho.
- Obrigada mamãe, bem que eu precisava. Precisa de ajuda?
- Sim filha. Veja as correspondências para mim? Tudo o que for propaganda jogue fora. Estão em cima da mesa - Ela apontou.
- Claro.
Fui até a mesa e me sentei, pegando aquele monte de cartas e folhetos juntos em um montinho. Propaganda de casa. Lixo. "Deseja aprender inglês em um mês? Lixo. "Como anda a sua saúde?" Lixo. No final, apenas duas cartas sobraram. Uma para Cláudia e a outra era para mim. Coréia do Sul. Well. Meu coração acelerou de tal forma que parecia que iria sair do peito. O ar faltou e meus pés começaram a formigar. Naquela carta podia ter algo que mudaria minha vida para melhor, para sempre. Ou então acabaria com ela de vez, pensei. Meu futuro estaria ali. Não, não...O que eu faço? Leio a carta e acabo de vez com essa agonia que dura há meses?
- Já terminou de ver as cartas filha? Já vou colocar no prato para você.
- Ok mãe. Já volto, vou colocar minhas coisas no quarto - Levantei da mesa, jogando as propagandas no lixo.
- Não demore então.
Joguei minhas coisas em cima da cama e olhei fixamente a carta. Aquilo tinha que esperar, embora não pudesse esperar mais. Minha ansiedade era grande, mas aquilo mudaria meu dia de uma forma ou de outra. Então coloquei a carta dentro da caixinha de fotos que guardava todas as minhas lembranças do verão. Depois do almoço aquela agonia acabaria. 


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