Capítulo seis

Reaplicou a camada expessa de batom vermelho nos lábios, com um pequeno espelho na palma de sua mão, guardou os objetos em sua bolsa. Durante o período em que Urie havia sido internado e submetido a exames, Sarah se responsabilizou por ele. Então, assim que fora comunicada alta ao paciente a recepcionista lhe entregou um maço de papéis com termos impressos para que ela assinasse. Brendon estava ausente devido aos últimos shows da turnê, assim o apartamento estava ocupado por Sarah apenas. Todo aquele espaço da sala parecia desnecessário, menos quando oferecia um jantar ou uma comemoração, - quando se sentia sozinha, saia dali ou convidava Z Berg para lhe fazer companhia.

Sentou-se à mesa, enquanto rubricava a assinatura passando os olhos pelas palavras, até que algo lhe chamou atenção: a lista de visitas. 

"Spencer Smith

Ryan Ross"

Sentiu o sangue subir-lhe diretamente no rosto.

(...)

Acenou discretamente, com a mão na altura de seu peito para que ele o visse. Jon sorriu, caminhando em direção à mesa que Spencer ocupava. 

A turnê havia terminado. O último show tinha sido na noite anterior, se ver livre do estresse crescente das exigências, vinha com a sensação de alívio completamente dominante. Mas, sua noite de sono fora péssima por tamanha ansiedade em reecontrar Walker, e agora a cena era surreal. 

Estava exatamente do jeito que imaginava, camisa xadrez, calças jeans claras, tênis All-star e barba por fazer, - óbvio -, nenhum de seus sonhos haviam alcançado tamanha perfeição. (Nota da autora: Spencer apaixonado é o que há)

Puxou uma das cadeiras e sentou-se de frente à ele, o fitando, admirado. Spencer não evitou sorrir, quando viu Jon coçar a nuca visívelmente envergonhado. 

- Não sei o que dizer... - Disse, colocando as mãos sobre a mesa com as palmas viradas para cima. - Mas, eu senti sua falta.

- Também senti sua falta. - Smith respondeu, traçando as linhas de uma de suas mãos com o dedo indicador. - Como estão as coisas? 

Jon suspirou, tristonho. 

- Bem. - Entrelaçou os dedos nos de Spencer, atraíndo alguns olhares, mas não se importou. - O novo álbum está sendo finalizado... Ryan o promoveu no Twitter. Mas, continua sendo constrangedor desde o Young, acho que nunca seremos os mesmos. - Baixou o olhar para o chão. 

- Podemos não ser os mesmos, mas ainda tudo isso será parte de nós. - Sorriu, o fazendo imitar o gesto. - Ei, você vai voltar para Vegas hoje ou...? 

- Ou...? - O encorajou. 

Sentiu as maçãs do rosto corarem e riu, estava a um passo de o convidar para dormir com ele naquela noite.  - Quer passar a noite comigo? - Disse. 

Walker mordeu os lábios, em seguida, riu o mais baixo que pôde. Havia sido um convite inesperado da parte de Smith, e não o recusaria. Assentiu lentamente, gargalhando.

- Desculpe, é que foi tão... Estranho ouvir isso de você. Estou começando a acreditar que não te conheço.

- Tem muitas coisas que você não sabe de mim. - Sorriu, coberto de malícia.

(...)

Desfez o nó da gravata borboleta, delizando o colete pelos ombros a colocando dobrada sobre uma cadeira da mesa de jantar, com uma das mãos envolvendo a alça de um malão de couro que tinha uma pequena muda de roupas que trouxera das viagens, - grande parte delas tinham sido descartadas, ou então esquecidas nos guarda-roupas dos hotéis que dormiu.

Fechou a porta do apartamento, não dirigiu o olhar para a noiva mesmo notando sua presença desde que pisou no local.

Sarah estava sentada no sofá, com os pés perto da margem, e a coluna ereta, os dedos envoltos em uma taça de vinho tinto que tinha sido consumido até a metade. Também manteu o silêncio apesar de tudo, mas teve os olhos fixos em Urie. 

- O que George disse no hospital? - Disse, em um tom estridente.  Dirigiu os olhos à Sarah depois de um suspiro, girando o corpo tendo uma visão periférica do ambiente.

Passou os dedos entre os cabelos, suspirando em seguida. 

- Ross apenas me fez uma visita. - Respondeu.

Pressionou o objeto de cristal entre os dedos o ouvindo trincar, e uma pequena rachadura surgiu na borda da taça. Bastava um pouco mais de pressão e o líquido derramaria no chão junto com os cacos de vidro, - e assim o fez. 

- Pensa que sou estúpida ao ponto de não ver o que ele quer de você? - Levantou-se de repente caminhando em passos firmes ao quarto.

Brendon a seguiu, deixando a bagagem em um canto qualquer próximo a porta. 

Sarah abriu uma das portas do closet, jogando pilhas de roupas, - sapatos, paletós, blazers, gravatas, camisas -, na cama, - todas elas perteciam à Brendon. Se colocou ao lado do closet, a vendo transitar e repetir a ação múltiplas vezes, só a parou quando a viu retirar o anel de noivado na pilha de roupas. 

- O que pensa que está fazendo? - A pegou pelos ombros, mantendo contato visual. 

- Me solte! - Se livrou das mãos de Urie. - O que você pensou quando fez isso comigo? - Gritou, estérica. - Esse tempo que ignorei as indiretas, aqueles telefonemas que escondia de mim... Todos sabem que você o ama mais do que a mim. - Lágrimas. 

Não conseguiria se conter por muito tempo, sabia disso. Mas, continuou ali, em pé parado à frente dela, com o sangue fervendo de raiva. 

- Isso não é verdade. - Mentiu, aumentando o tom de voz. 

- Então porque o trata com se tivesse dormido com ele!? - Rebateu.

- E se o fiz, qual é o problema? - Gritou. 

Foi o suficiente para que a Sarah chocasse o dorso de sua mão contra o rosto de Brendon. Quando caiu em si, colocou as mãos sobre a boca, em choque.

- M-me desculpe. - Murmurou. - E-eu não queria...

A deixou para trás, ouvindo suas inúmeras desculpas. Pegou as chaves do bolso do colete, - a chave do carro e do apartamento -, e pegou seu bolsão de couro abrindo a porta.

- Aonde você vai? - Sarah disse. - Brendon! - A fitou. - Olhe para mim, olhe para mim. - Envolveu a face dele em suas mãos. - Não vá, por favor... - Soluçou. 

- Deveria ter pensado antes de dizer tudo isso. - Se afastou e bateu a porta.