Capítulo três

Brendon, sussurou baixinho.

Resmungou algo ao não vê-lo esboçar reação, se movendo na poltrona, desconfortável. Bebeu um pouco do que restava do copo de cappuccino fumegante, retirando o Ray-Ban de lentes escuras e estreitando os olhos para enxergar a tela da televisão, voltando os olhos para o celular que apoiava no braço da cadeira.  

Descartou a possibilidade de Urie dar um passo no palco naquela noite. A confirmação havia sido feita nas últimas semanas, sua pele estava pálida, - em um tom de porcelana -, enquanto o corpo parecia se perder nas roupas largas que costumava vestir em eventos informais. Seus hábitos ruins tinham se atenuado, - as garrafas de whisky consumidas durante o show, as carteiras de cigarros nos bolsos -, aquilo tudo o levaria ao fim prematuro. E Spencer não queria aquilo. Simplesmente, porque Ryan e Jon não suportariam o ver se matando lentamente. Vezes incontáveis nas quais o hálito de alcóol era evidente nas palavras de Urie, e Ross o amparava. 

- B. - Chamou, o fazendo acordar. - Está bem?

- Enjoado. - Respondeu, sem se mover. 

- Você não pode fazer o show esta noite. - Afirmou. - Sua febre só aumentou nas últimas horas. 

Arqueou as sobracelhas. 

- Eu sei, eu sei... - Disse, irritado.  Ele tinha razão.

Como sempre. Desde o maldito dia em que Ryan e Jon os deixaram, e Spencer disse o quanto ambos se arrependeriam. Apesar de parecer o mais alheio aos fatos, Smith era observador, e sabia mais do que deveria todo o tempo. Talvez, aquilo que o fizera se aproximar de Brendon, que era o romântico incorrigível, sem ao menos saber como. Spencer o fazia ver os detalhes por uma nova perspectiva.

Moveu-se no sofá estreito da sala de embarque, massagendo as têmporas na vã tentativa de fazer com que dor passase. Não via a hora de subir ao palco e dizer o quanto lamentava pela turnê ter terminado, quando na verdade, atravessaria a porta do camarim com um sorriso largo nos lábios. 

Depois das palavras de Smith, Urie se calou, - porque não havia nenhum argumento aceitável que o fizesse iniciar um diálogo lógico -, durante o longo vôo até Salt Lake. 

Então, lembrou-se de um passado distante.

Eram pouco mais de três da manhã. A mansão estava lotada, não era possível se mover pelo local sem esbarrar em um desconhecido ou pisar em um copo descartável vazio.

Acenou para Ryan que estava no outro extremo da sala de estar conturbada de Wentz. Depois de tropeçar em alguns pés e móveis, provavelmente, fora do local que pertenciam, (afinal, porque diabos um pato de borracha estaria ali?), conseguiu sentar-se no balcão da cozinha ao lado de Ryan.

- Está se divertindo? - Ross lhe perguntou, falando mais alto que a música, rindo em seguida. 

Revirou os olhos.

- Vamos dar o fora daqui. - Respondeu, apontando a escada em espiral que dava para o andar de cima. 

Desviando de uma garrafa vazia e outra, logo estavam no corredor principal, cercados de portas fechadas. Sequer queriam imaginar o que se encontrava por detrás delas, mas do mesma forma, a curiosidade pipocava dentro de Urie.

Colocou a mão sobre a maçaneta de uma das portas, com a intenção de a abrir em seguida.

- Quem está aqui? - Desafiou, divertido. - Aposto que são o Pete e a garota ruiva.

- Espere. - Ryan disse. - Cadê o Spencer? 

Brendon gargalhou.

- Spencer? - Perguntou. - Sério, dude? Só me pergunto o que o pervertido do Walker está fazendo agora. 

- Provavelmente, fazendo algo mais divertido do que nós. - Rebateu, o fazendo sorrir. - Abra a maldita porta.

O fez. Justamente, quem procuravam estavam bem ali, á sua frente. Spencer de lábios inchados, e roupas amassadas, e Jon com o zíper de seu jeans abaixado, ofegando, - ambos a poucos passos da cama de Pete. 

- R-Ryan? Brendon? - Jon disse. 

Smith havia corado violentamente, enquanto tentava abotoar a camisa que vestia e torná-la apresentável. Walker, no entanto, permaneceu estático, em choque por ter sido interrompido.

- Que droga de festa é essa? - Ryan gritou.

- Calma, RyRo. - Brendon disse, sem esconder o sorriso de malícia do rosto. - Eles tem o direito de se divertir. - Voltou a fitar os dois. - Sabia que por trás desse rostinho angelical, tinha algo a mais, Spency. Jon, seu pervertido! - Fechou a porta, sem explicações.  

Gargalharam em uníssimo. 

- Ok, ok... - Limpou as lágrimas, antes de prosseguir. - Próxima porta. 

Surpreendentemente o cômodo ao lado estava vazio, por menor que fosse. Era apenas o local onde a empregada guardava as vassouras e produtos de limpeza, tinha uma lâmpada mau colocada e uma prateleira perto da mesma. Com certeza, era o pior local da casa. 

- Brendon! - Alguém gritou, em passos firmes em direção á escada.

Puxou Ryan pela gola da camisa, o fazendo entrar no armário da governanta com ele, os fechando ali.

- Você está louco ou...? - Tentou argumentar.

- Eu batizei o ponche de frutas há dez minutos atrás. Pete vai me matar!

- O quê? - Quase gritou novamente.

- Yeap. - Confirmou. - Roubei uma garrafa de absinto da dispensa da cozinha com ajuda do William.  

Ross bufou. Ótimo, era exatamente o tipo de diversão que estava procurando naquele, caótico, fim de noite. Inspirou com dificuldade. Odiava lugares pequenos, principalmente agora. Estariam com os corpos colados, se não fosse pela pequena distância que insistia em manter.  

- RyRo. - Chamou. - Está se sentindo bem? 

Negou. 

Quebrou os centímetros que os separava, aproximando-se de Ryan. Segurou seu rosto entre as mãos, o fitando. Seu coração estava descompassado, as mãos formigando, com as maçãs do rosto em brasa, abaixou o rosto vendo os próprios sapatos. 

- Estou melhor. - Ryan disse, ofegando um pouquinho. O encarou. 

- Está? - Perguntou, pouco antes de pressionar os lábios contra os dele.