A Ponte escrita por tati_surou


Capítulo 3
Capítulo 3




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- Jinki... eu posso te fazer uma pergunta totalmente indiscreta? – Taemin perguntou.

Ela já tinha visto aquele lugar tantas vezes antes que parecia ter decorado cada centímetro. O riacho limpo, cheio de pedras cobertas de musgo. As árvores enormes, verdes e lindas, um pouco afastada da margem. As duas trilhas opostas que davam para as casas das famílias deles e a grama bem cuidada pelo avô de Jinki, no meio de todo aquele mato que crescia selvagem. A ponte, com seus entalhes em madeira e todo o charme que sempre tivera.

Todas essas coisas estavam impressas em sua mente, mas pareciam completamente diferentes à noite, com a luz da lua lá em cima, os iluminando como podia. Era realmente uma noite quente, embora o clima ali fosse agradável por causa do riacho.

E todas as coisas que ele queria perguntar, todas as duvidas que precisava tirar. Toda a confusão que havia em sua cabeça.

E, mesmo assim, Taemin sentia que eles nunca estiveram tão próximos antes. Mesmo com aquela preocupação que ele sabia que existia no fundo da mente de Jinki o tempo todo – ele estava vendo, não estava? – martelando, assustando.

- Faz – e mesmo assim, ele sorriu. Aquele sorriso típico dele, que mostrava todos os dentes e lhe escondia os olhos.

- Você e a Seohyun... Vocês já dormiram juntos? – ele conseguiu perguntar, por fim, tentando, com todas as forças que tinha, não corar. Não que Jinki fosse ver, de qualquer forma, porque a luz não era suficiente para isso.

Jinki parou de sorrir e olhou para ele, confuso.

-... Já. Por quê?

- Como é?

- Ah, Taemin... – ele disse, rolando os olhos.

- Não. Me escuta. Como você se sente quando... quando está com ela? É a melhor sensação do mundo?

Jinki hesitou.

- Por que você quer saber? – ele disse, e não parecia ofendido ou irritado. Parecia apenas confuso.

- No dia em que você me contou que vocês estavam namorando... nós estávamos conversando pela internet e eu... perguntei se você gostava mesmo dela – Taemin disse, sério. Aquilo não parara de lhe atormentar desde então, e agora mais do que nunca. Precisava saber. Precisava mesmo – Você nunca me respondeu.

- Eu não posso te responder.

- Por que não?

- Porque... – Jinki parou por alguns instantes, que pareceram anos. – Porque eu tenho me perguntado a mesma coisa há dois anos, e ainda não sei a resposta. Mas por que você quer saber?

Taemin olhou fundo nos olhos dele, a despeito da pouca claridade.

- Por que eu não acho que goste, Jinki. Eu não acho.

Jinki não contestou.

Eles ficaram um bom tempo sentados um do lado do outro, em silêncio, escutando o rio correr abaixo deles e ouvindo o barulho dos insetos noturnos que viviam entre as árvores. Taemin queria falar sobre o que vira, mas não sabia por onde começar.

E ele gostava tanto de Jinki. Não queria ir acusando-o de esconder coisas dele, ou de qualquer outra coisa. Não queria mais brigar com ele, e nem se achava no direito. Mas queria saber. Queria entender. Qualquer coisa.

- Eu vi você com aquele garoto, antes – ele conseguiu dizer, tão baixo que nem sabia se Jinki entenderia.

- Eu imaginei que tivesse visto – Jinki respondeu, após alguns instantes de silêncio. - Me desculpe, Taemin.

- Por que você acha que tem que pedir desculpas pra mim?

Ele não estava olhando para Jinki. Não conseguia.

- Por nunca ter te contado o que eu estava tentando fazer.

Taemin prendeu a respiração.

- O que você estava tentando fazer?

- Ter uma namorada e fingir pra mim mesmo que gosto disso. Eu quero dizer, ela é uma garota maravilhosa, e eu gosto mesmo dela, mas não... – Jinki suspirou – Não sei. Eu acho que gosto de garotos.

Seu coração pulou algumas batidas. Jamais pensou que Jinki... que ele... Ah, Deus, não devia estar pensando nisso. Não devia estar feliz por isso. Não devia achar que tinha uma chance agora, porque não era nada disso, não era tão simples assim.

– Jinki...

- Você me odeia?

Taemin suspirou.

- Pelo quê? Por você ter beijado outro garoto? Não, eu não odeio você – ele parou por um momento. – Por você ter escondido como se sentia de mim? Acho que sim. Um pouco.

- Me desculpe, Taemin.

- É que... – ele continuou, embora fosse difícil falar. – Tem muitas coisas que eu não estou entendendo.

- Se você quer saber a verdade, não estou me sentindo bem pelo que eu fiz. Quero dizer... na hora, não pareceu uma coisa tão ruim, mas então eu comecei a pensar e... cara... eu traí ela, e não importa se foi com um garoto ou não. Eu não devia ter feito isso. Eu nem ao menos deveria querer fazer isso. – Jinki passou aos mãos pelo rosto, bufando. – Eu devia só gostar dela. De verdade. E parar de... parar de sentir... Coisas erradas.

O mais novo engoliu em seco. Sabia como Jinki se sentia, mas não queria dizer para ele. Porque Jinki era o motivo pelo qual ele se sentia daquela forma. Então que direitos ele tinha de ficar chateado por não saber antes disso? Ele próprio não estava escondendo coisas de Jinki?

- Eu não quero julgar você, Onew. Continue com ela, se você acha que deve. Um dia você vai entender o que está sentindo, e você vai saber o que fazer. Mas não é certo beijar outras pessoas enquanto não se decide. Quando eu vi, eu achei... não sei... que você só estivesse com ela de fachada. Mas não é isso, não é? Porque você não faria isso.

Ele viu Jinki sorrir e sacudir a cabeça, pela luz do luar.

- Não, eu não faria. Eu achei que nós brigaríamos. Eu esqueci o motivo pelo qual você é o meu melhor amigo, Taemin, o motivo pelo qual eu volto aqui todo ano.

- Qual é o motivo? – ele perguntou, não muito certo de que queria saber.

- Você vê o melhor lado de mim, mesmo que não tenha lado bom nenhum. Você me faz sentir como se as coisas ruins que vem de mim pudessem ser menores. Você... me dá força e apoio quando eu acho que não tem ninguém que vá fazer isso.

Taemin arregalou os olhos e, apesar de tudo o que tinha acabado de acontecer, ele achou que nunca o que sentira por Jinki era forte como nesse momento, e nunca seria forte assim novamente. Porque ele havia acabado de descobrir que os motivos pelos quais Jinki gostava dele eram exatamente os mesmos motivos pelos quais ele gostava de Jinki.

**********

“Taemin, já estou aqui. Preciso mesmo falar com você. Será que você pode ir até a ponte? Onew.”

Foi como ele avisou que chegara, no ano seguinte. E Taemin sentiu-se logo tão feliz que nem ao menos se deu conta da urgência implícita na mensagem. Depois daquela noite na ponte, por mais difícil que parecesse ser no começo, eles voltaram ao normal um com o outro.

Provavelmente ficaram até mais próximos. Taemin entendeu que Jinki precisava que alguém soubesse da confusão que estava em sua cabeça. Que ele precisava de alguém com quem pudesse falar sobre aquilo, e que Taemin era a única pessoa... pelo menos ele achava que era, não podia saber com certeza.

Ele também queria falar. Queria dizer para Jinki como se sentia – como sempre sentira -, mas não conseguia fazer isso. Mal conseguia admitir para si mesmo o quanto gostava do outro, quanto mais para o próprio Jinki.

“É claro que sim. Estou saindo agora, te encontro lá”, foi o que ele respondeu.

**********

Estavam de novo deitados na ponte, conversando sobre coisas mal resolvidas. Sobre SeoHyun, principalmente, mas também sobre os amigos de Jinki. Taemin sabia que havia algo errado com ele. Alguma coisa que parecia fora do lugar.

- Você sente falta deles, não sente? – Taemin perguntou. Sabia que Jinki entenderia de quem ele estava falando, mesmo que não dissesse os nomes. – Quando você não pode mais... vê-los com a frequência que queria ver.

- Sim – Jinki respondeu, olhando para o céu.

Kibum e Jonghyun haviam ido juntos para a faculdade. Eles saíram da cidade onde moravam e foram morar juntos em Seoul. E não que Jinki não estivesse feliz por eles – Taemin tinha certeza de que estava – ele só... se sentia sozinho a maior parte do tempo. Taemin sentia vontade de perguntar que papel a namorada dele tinha nessa história, mas sempre acabava resolvendo que era melhor ficar calado.

Falar nela nunca lhe fizera bem nenhum, afinal. E já fazia tempo que eles estavam juntos. Ela devia importar, só que de um jeito diferente que os amigos dele importavam. Taemin entendia isso, mas ainda ficava desejando que Jinki parasse de soar tão melancólico – não ali, com ele, mas nas conversas que eles tinham durante o ano.

- Por que... você não se muda também?

Jinki olhou para ele.

- Eu tenho que falar sobre isso com você.

- Comigo?

- É... mas acho que não agora.

Taemin mordeu o lábio inferior, sentindo-se inquieto. De alguma forma ele sentia que esse poderia ser o problema.

- Fala, Jinki. – ele pediu.

- Deixa isso pra lá... eu acabei de chegar, de qualquer forma.

- Você vai ficar aqui? – ele perguntou, apreensivo. – Os dois meses, eu quero dizer.

Jinki sorriu.

- Acho que sim. Por que você está perguntando?

- Por que você não traz a Seohyun, um dia desses? – ele se viu pedindo, antes de conseguir refletir sobre a merda que estava fazendo. – Pra conhecer os seus avós, pra que eu a conheça...

Jinki franziu o cenho.

- Você quer que eu faça isso?

Não.

- Você é quem devia querer fazer, eu acho. Quero dizer, faz tanto tempo que vocês estão juntos... ela não reclama, quando você vem pra cá?

- Não... quero dizer, um pouco – o que provavelmente queria dizer que ela reclamava, sim, mas Jinki não queria dizer para não magoá-lo. – Mas ela tem que entender.

Taemin riu.

- Se eu fosse ela, acho que eu ia achar que você tem outra, aqui.

Jinki olhou para os olhos dele, rindo.

- Só se a outra for você.

Taemin trocou o riso por um sorriso constrangido, o coração de repente parecendo bater tão forte no peito que saltaria para fora. Não sabia se Jinki esperava soar daquela maneira, mas definitivamente não precisava continuar olhando para ele e sorrindo, não é? Quer dizer, se ele ainda quisesse ter um amigo são.

Eles ficaram algum tempo se olhando, entre o constrangimento e o divertimento, e Taemin sentiu que havia alguma coisa entre eles. Não era a primeira vez que sentia isso, mas de alguma forma isso o fez se sentir bem, embora nervoso.

- Jinki, você está enlouquecendo – ele respondeu, rindo um pouco.

O mais velho riu também e passou as mãos pelo rosto. – É, acho que eu estou mesmo.

- Se você ainda acha que não gosta dela, por que continua com ela? – Taemin perguntou, antes que pudesse se controlar. Bem, Jinki não havia dito que ainda não sabia se gostava dela ou não, mas sempre houveram várias coisas entre eles que não eram ditas, e que eles sabiam mesmo assim.

Jinki ficou sério e demorou muito tempo para responder, dessa vez. Tanto que Taemin nem mais achou que ele responderia. Mas não importava, na verdade. Haviam coisas muito mais importantes que aquela resposta. Como simplesmente olhar Jinki deitado ali, olhando para o céu e com aquela expressão no rosto que Taemin sabia que dizia que ele estava pesando no que dizer e lutando contra os próprios pensamentos.

Sem aviso prévio, porém, Jinki voltou a olhar para ele e ergueu uma das mãos até o rosto de Taemin, afastando uma mecha do cabelo dele, que no momento estava comprido demais, da frente do rosto.

Taemin continuou tentando se lembrar de respirar, embora doesse fazer qualquer coisa que não fosse só olhar para Jinki e esquecer que haviam outras coisas no mundo.

- Eu posso dizer qualquer coisa pra você, não posso?

- É claro que sim.

Mas Jinki não disse nada. Ele só se aproximou mais e mais de Taemin. E ele sabia o que o mais velho queria fazer. Sabia que ele queria lhe beijar, e não faria nada para impedir. Ele jamais faria.

Quando estava mais perto do que jamais estivera, quando os olhos arregalados que olhavam um dentro do outro estavam prestes a se fechar, e quando os lábios deles estavam realmente quase se tocando, Jinki parou.

E Taemin se encheu de medo e frustração, porque não podia se mover na direção de Jinki por aqueles milímetros que faltavam. Precisava que Jinki fizesse aquilo. Porque ele era covarde e porque não queria ter que conviver com a culpa caso desse errado, depois.

- Não – Jinki sussurrou e virou o rosto para frente novamente.

Taemin sentou-se bruscamente na ponte, irritado. E confuso. Confuso acima de tudo. Porque não havia o que negar. Eles dois sabiam o que quase tinha acontecido ali.

- Você sabe que eu queria, não sabe? – Taemin perguntou, baixinho. Mas ele não olhava para Jinki. Ele olhava para o rio e as árvores além dele. Não que estivesse realmente enxergando qualquer coisa. – Não sabe, Jinki?

- Taemin...

O mais novo virou-se para ele, magoado. Jamais esperou que Jinki quisesse... jamais achou que algum dia aquilo realmente pudesse dar certo... Mas também não queria nada assim.

- Por quê? Jinki, por quê? – ele perguntou, com os olhos ainda arregalados de surpresa. Não entendia. Não tinha como entender.

- Porque isso não é certo. Nós não... Eu não posso fazer isso com você. Tem uma coisa que eu prec-

- Isso é ridículo! – ele explodiu, finalmente. Alevantou-se de uma vez de onde estava sentado, o coração batendo com tanta força no peito que ele achou que acabaria pulando para fora. Não acreditava que estava confrontando Jinki sobre aquilo. Não acreditava no que estava acontecendo. – Qual é o problema, você não quer?

Jinki ficou um longo tempo olhando para ele, com um ar confuso estampado no rosto. Então ele se alevantou também, e andou alguns passos até ele.

- Eu sinto muito, Taemin – Jinki disse, baixo, e passou uma mão pelo contorno do rosto dele. Taemin queria se afastar, mas não conseguia. Seu corpo estava totalmente tenso e não parecia que queria obedecê-lo.

- Pelo quê? – ele perguntou, no mesmo tom. Ainda tentava entender, quando outra coisa lhe passou pela cabeça. Ele arregalou ainda mais os olhos para Jinki, sentindo uma espécie de soluço subir por sua garganta. – É por que eu só tenho estúpidos dezessete anos? É por isso?

Jinki suspirou e deu um passo para trás. Taemin nunca se sentira tão sem chão quanto naquela hora. Nem quando percebeu que gostava de Jinki, ou quando o vira beijando outro garoto.

- Eu vou pra casa, Taemin. Não quero que a gente fale sobre isso agora.

- Mas você tem que me dizer! – ele gritou, o lábio tremendo. – Jinki! Eu gosto de você. Eu não sei o que você está tentando fazer, mas-

- Me ver nunca fez bem pra você – o maior respondeu, olhando para o chão.

- Isso não é verdade.

- É, sim. Pergunte pra sua mãe. Pergunte pro Minho. Todos eles-

- EU NÃO DOU A MÍNIMA PRA O QUE ELES VÃO DIZER! – ele explodiu, em grande parte porque sabia que Jinki tinha razão.

- Taemin, para.

- Parar? – ele pediu, indignado. – Como assim, parar? Não é de hoje que eu me sinto desse jeito. Eu sei disso desde que eu tinha 13 anos! Talvez antes disso! E eu-

- Eu vou pra casa.

- Não.

Mas Jinki não deu muito crédito às súplicas que ele fazia e começou a voltar pelo caminho em que viera. Taemin queria correr até ele e segurá-lo para que não fosse, mas ainda se sentia preso ao chão. As coisas eram mesmo assim. Ele podia ter deixado aquilo quieto e tudo voltaria ao normal, mas ele tentara ser sincero com Jinki pela primeira vez e dera tudo errado. Era sua culpa.

- Jinki, você vai voltar amanhã, não vai? – ele perguntou. Em vão, porque Jinki não respondeu. – Volta aqui! Onew!

Só que ele continuou, e Taemin não sentiu como se pudesse fazer alguma coisa além de deixá-lo ir.

**********

Taemin passou toda a tarde do dia seguinte esperando por Jinki na ponte, mas ele não apareceu.

Ligou incansavelmente para o celular dele, mandou mil mensagens, e nada.

Ele não sabia o que fazer. Não havia nada que já não tivesse tentado. Até com a avó de Jinki ele tinha falado, mas ela dissera que ele mal havia dado as caras o dia todo, e que nem sabia onde ele estava.

Bem, pelo menos ele ainda estava ali, a não ser que tivesse ido embora sem se despedir da própria avó, e Taemin não achava que ele faria isso.

Foi até a ponte nos dois dias seguintes também, mas Jinki novamente não apareceu.

Após muito esforço, ele conseguiu parar de se culpar, pelo menos um pouco, pelo que tinha acontecido. Admitiu para si mesmo – embora, lá no fundo, continuava achando que só pensava dessa maneira para evitar fazer alguma besteira – que isso ia acabar acontecendo, mais cedo ou mais tarde. Porque uma hora ele ia ter que dizer para Jinki que realmente gostava dele, que estava apaixonado por ele.

Mesmo assim, porém, ele estava desesperado, e com mais medo do que jamais estivera antes. Não queria que Jinki simplesmente fosse embora da sua vida de uma hora pra outra e sem nem ao menos se despedir, mas era o que parecia estar acontecendo.

No quarto dia Taemin desistiu.

Ir até a ponte e ficar esperando por ele, por mais tentador que parecesse, só o deixava pior. Se Jinki quisesse falar com ele, ligaria antes. Não ficaria com ódio dele somente porque ele não tinha passado o resto da vida naquela ponte idiota, esperando-o.

Bem, pelo menos achava que não.

No quinto dia, enquanto Taemin tentava fingir para si mesmo que nem se importava mais, Jinki finalmente deu notícias.

**********

- Eu passei vários dias aqui, te esperando. Você não apareceu – Taemin disse, sem cumprimentá-lo, quando chegou. Jinki desviou o rosto do dele por alguns segundos, e depois o encarou.

- Eu preciso te dizer uma coisa.

Taemin suspirou. Sentia-se cansado, chateado e perdido.

- Eu só espero que não seja uma idiotice tão grande quanto as últimas coisas que você vem dizendo, ou quem vai virar as costas e ir embora daqui vai ser eu. – Mas sabia que jamais faria isso, no fundo.

- Me desculpe – ele disse, simplesmente.

- Era isso? – Taemin perguntou, fitando o rio.

- Sim.

Ele olhou para Jinki.

- O que você fez nos últimos quatro dias? – perguntou, seco. Esperou alguns momentos para que ele respondesse, mas como Jinki não deu sinal de que pretendia dizer alguma coisa, continuou: - Porque eu posso te dizer o que eu fiz, e acho que você sabe. Vim até aqui e esperei por você. Te liguei umas mil vezes, fui até a casa dos seus avós, te mandei mais umas mil mensagens e mais uns mil e-mails, só que nenhuma dessas coisas parece ter sido o suficiente pra você pelo menos se dignar a me dizer se eu ainda ia te ver de novo. E, sabe, eu achei que eu não ia.

- Eu nunca faria isso.

Taemin bufou, mas seu lábio tremia.

- Eu também nunca achei que você fosse me deixar plantado aqui esperando por você, mas você deixou. Se eu tivesse um pouco só de amor próprio, eu não teria vindo. Mas acho que eu gosto muito mais de você do que do que eu gosto de mim.

- Eu gosto de você também. Eu sempre gostei.

Alguma coisa afundou dentro de Taemin, lá no fundo. Ele sempre quisera escutar isso. Sempre.

- Você pode ir mesmo embora, se for pra continuar aqui dizendo coisas que você sabe que só vão me deixar mal – ele disse, com um nó na garganta. – Durante esses anos todos... você nem imagina como tem sido...

- É claro que eu-

- Então pare de tentar fazer com que eu ache que não pode dar certo! – ele continuou, com a voz um pouco mais alta do que pretendia que saísse.

- Você vai estragar a sua vida por minha causa! – Jinki respondeu, erguendo o volume da própria voz.

- BEM E VOCÊ ACHA QUE ALGUM DIA ALGUÉM ME PERGUNTOU SE EU QUERIA GOSTAR DE VOCÊ OU NÃO?

- Eu sei como você se sente, mas, Tae, isso vai ser tão difícil...

- O QUE VOCÊ QUER QUE EU FAÇA? – ele gritou, com toda a força de seus pulmões, os olhos úmidos ainda fitando Jinki.

O mais velho ficou totalmente paralisado por alguns segundos, olhando para ele. Tinha no rosto a mesma expressão assustada que Taemin sabia que deveria estar em seu rosto também.

E então, sem dizer mais nada, Jinki o puxou pelo pulso e o abraçou.

E, de repente, Taemin sabia que estava no lugar certo, porque aquele era o perfume de Jinki, os braços dele, o cabelo, a pele, e seu rosto contra o ombro dele, os olhos tentando permanecer secos... E antes que se desse conta do que estava fazendo, ele inclinou a cabeça para trás e beijou Jinki na boca.

O beijo foi meio desajeitado no começo, errático e cheio de dentes se chocando, mas então ele subiu as mãos até o cabelo de Jinki e eles acertaram-se quase que automaticamente ao ritmo um do outro.

Taemin não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Nem pensava direito, só agia. Aquele era o melhor beijo da vida dele, porque nunca ninguém teve tanta importância, e nunca ele quisera outra coisa tão desesperadamente e por tanto tempo quanto queria beijar Jinki.

Pareceu durar horas, mesmo quando eles paravam por alguns segundos para tomar ar e, então, se beijavam novamente. Taemin não queria que acabasse, porque quando eles se separassem ele teria que encarar a realidade. E ele tinha medo dela.

Eventualmente eles tiveram que parar o beijo, porque ambos realmente precisavam de ar. Jinki só o puxou ainda mais para perto e o abraçou, do mesmo jeito que fizera antes do beijo. E Taemin fechou os olhos e deixou o rosto descansar no ombro dele, respirando fundo.

Ele nunca mais queria sair dali. Nunca mais.

- Jinki... – ele sussurrou baixinho, ainda tentando recuperar as forças. Não era fácil, porém. Ele provavelmente cairia, se não estivesse se apoiando no mais velho.

- Hm? – ele disse, incentivando-o a continuar.

Taemin conseguia sentir as batidas de seu coração, quase dolorosas contra o peito dele. Ou talvez fossem as de Jinki também, ele já não sabia dizer.

- Vai... vai ficar tudo bem, agora?

Jinki suspirou, passando de leve uma das mãos pelas costas dele, causando arrepios. Demorou para responder, e essa demora deixava Taemin com cada vez mais medo. Embora não fosse muito fácil sentir medo do lugar onde estava. O lugar mais bonito do mundo, com a pessoa que ele mais gostava.

- Sim – ele acabou respondendo. – Vai ficar tudo bem.

E quando Taemin virou o rosto para fitá-lo e viu que Jinki sorria, mais do que tudo no mundo ele acreditou que ia, sim, ficar tudo bem.


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Notas finais do capítulo

N/A: Não deu pra postar ontem, então resolvi postar as duas últimas partes hoje...
Espero que tenham gostado da fic ^^
Annyeong \o/