A Ponte escrita por tati_surou


Capítulo 2
Capítulo 2




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De alguma forma, Taemin conseguiu suportar e até aprender a conviver com o que estava sentindo pelo resto das férias e do ano seguinte. Ele se convenceu de que era algo que ia acabar sumindo sozinho de dentro dele, já que também era uma coisa que, de qualquer forma, jamais aconteceria.

E acabou sumindo. Conforme o tempo passava, mais certo ele ficava de que o que ele tinha achado que sentia, era só uma ilusão porque Jinki era próximo demais dele.

Nas primeiras semanas de aula, ele sentia falta de Jinki o tempo todo. Na verdade, sempre fora assim, mas ele nunca havia se dado conta de quanta falta era.

Minho sabia que havia algo de errado com ele, e Taemin sabia que ele sabia. O que mais o surpreendeu, no entanto, foi que Minho acabou acertando no primeiro chute.

- O problema é aquele garoto? Jinki?

Eles estavam almoçando, no intervalo entre as aulas, e Taemin teve que fazer um grande esforço para não engasgar.

- O quê?

Minho estreitou os olhos.

- Você não me parece muito normal esses dias, Taeminnie.

- Tudo bem. Mas o que te faz pensar que tenha alguma coisa a ver com ele?

- Você voltou assim das férias, então deve ser alguma coisa que aconteceu nelas. E a única coisa que acontece nas suas férias, Taemin, é ele. – Minho disse, com cara de quem sabe das coisas.

Taemin rolou propositalmente os olhos.

- Você está enlouquecendo. Mais do que eu.

- Ele te fez alguma coisa? Vocês brigaram?

- Claro que não – ele respondeu, sinceramente. – Eu só... estou pensando em algumas coisas que ele me disse. Sobre eu querer dançar.

- O que ele disse?

Que quer me ver dançar. E eu meio que quero dançar pra ele.

- Que eu deveria ir atrás disso.

- Eu concordo.

- É. E eu estou pensando bastante sobre isso. Só. Não tem mais nada acontecendo.

- Tem certeza?

Taemin sentiu vontade de chorar de frustração. Primeiro porque ele queria conversar com alguém sobre o que realmente estava acontecendo, mas jamais faria isso, e segundo porque queria que todo mundo parasse de se preocupar com ele, pelo menos um pouco.

- Claro que tenho. E mesmo que fosse outra coisa, você não precisaria se preocupar de qualquer forma. Eu só vou vê-lo novamente daqui a um ano.

Minho pareceu dar-se por satisfeito, e Taemin se aliviou um pouco.

Naquele momento, ele sabia que tinha que dar um jeito de melhorar aquela situação, porque estava sendo difícil como o inferno ter que aguentar tudo aquilo.

Depois, porém, as coisas começaram a melhorar, conforme o tempo passava. Taemin começou a fazer aulas de dança, e descobriu que estava certo quanto a isso. Nada lhe dava mais prazer do que dançar. Era como se ele finalmente tivesse encontrado um lugar, algo que ele realmente gostava de fazer, e que daria tudo para continuar fazendo.

Sua mãe não gostou muito da ideia, claro. Desde quando ela gostava de alguma coisa, afinal? E as notas dele pioraram um pouco, embora depois ele tenha se esforçado para que elas melhorassem novamente.

Ainda falava com Jinki frequentemente pela internet, mas cada vez mais achava que havia sido pura loucura de sua parte achar que pudesse estar apaixonado por ele. Porque, acima de tudo, Jinki era um garoto. E garotos não se apaixonavam por garotos... Bem, ele sabia que sim, mas preferia fingir que não sabia.

Não contou para ele sobre as aulas de dança. Mencionou as brigas com seus pais por causa das notas, mas não o motivo delas. Queria fazer mais por Jinki do que simplesmente lhe contar. Ele queria que Jinki visse.

**********

Nas férias seguintes, no primeiro dia em que Jinki lhe encontrou na ponte, Taemin levava um rádio que funcionava com pilhas junto com ele.

- Porque você está com-

- Espera, Onew – Taemin disse, sorrindo. Ele o chamava de Onew, às vezes, embora não na maior parte do tempo. – Eu quero que você veja uma coisa.

Ele colocou o rádio sobre a ponte e o ligou.

No momento em que começou a movimentar o corpo no ritmo da coreografia que ele tinha ensaiado tão exaustivamente, acabou perdendo toda a vergonha que achou que sentiria. Ele já havia dançado para seus pais antes, e para Minho também, mas nada era tão importante quanto mostrar a Jinki. Ele dançou com tudo o que tinha aprendido e com tudo o que sabia por instinto. Por que era para ele.

Quando ele acabou, uns três minutos depois, mal teve tempo de abrir os olhos antes de sentir os braços de Jinki envolverem sua cintura e lhe abraçarem.

Taemin, levemente suado e bastante cansado, sentiu que perdia o controle que tinha sobre todos os seus membros. Se Jinki não estivesse ali para segurá-lo, ele provavelmente teria caído no chão. Mas, ao mesmo tempo, se Jinki não estivesse segurando-o, ele não iria quase cair.

Ele abraçou Jinki de volta pensando que aquilo não era justo, não era nada justo, porque a melhor sensação do mundo era tê-lo perto dessa forma... mas não devia ser. Não devia.

E antes que Taemin pudesse verdadeiramente enlouquecer com aquilo, Jinki o soltou.

- Taemin, isso foi incrível! Você é incrível.

Taemin não podia fazer outra coisa senão sorrir, querendo desesperadamente dizer “então me abraça de novo”, mas não podendo.

- Não sou, não – ele respondeu, tímido. – Eu não quis te dizer antes, mas eu andei tendo aulas o ano todo.

- Sério? – Jinki perguntou, sorrindo. – Bom, diga o que você quiser, mas Kibum faz aulas desde que eu o conheço, e ele não dança metade do que você dança.

Taemin se sentiu corar. Tinha quase certeza de que ele estava exagerando, mas não diminuía o orgulho que ele sentia de si mesmo no momento. E, de qualquer forma, ele ainda tinha outra coisa na cabeça.

- Jinki... – ele começou, hesitante. – Eu acho que... agora é a sua vez.

O outro o fitou com o cenho franzido.

- Minha vez...?

Taemin sorriu.

- No ano passado... você disse que, se eu te deixasse me ver dançar, você cantaria pra mim novamente. Lembra?

Jinki arregalou os olhos, mas depois sorriu.

- A-agora?

- É, agora!

E Jinki cantou, e ele achou que não fosse precisar de mais nada no mundo.

**********

Taemin não saberia dizer a data exata, depois, mas sabia que fora perto do Natal o dia em que Jinki lhe falou sobre Seohyun pela primeira vez. E não para dizer qualquer coisa sobre ela.

No momento em que Taemin leu “namorada” na tela de seu computador, o mundo parecia que caía. Jamais esteve tão grato na vida pela existência da internet. Por que mal conseguia esconder o desapontamento através da tela do computador. Em carne e osso, então, ele achou que poderia enlouquecer.

Taemin diz: Eu estou muito feliz por você, Jinki ^_^ Ela é bonita?

Onew diz: É, sim \\o/ é muito bonita.

Taemin diz: E você gosta mesmo dela?

Jinki demorou muito tempo para voltar a responder, depois dessa pergunta. Taemin remexeu-se na cadeira, esperou e esperou pela resposta, não se atrevendo a desviar o olho por um segundo sequer da tela do computador. Quando o mais velho voltou a lhe responder, entretanto, não era de maneira alguma a resposta pela qual ele estivera esperando.

Onew diz: Taeminnie, eu preciso sair agora, okay? Depois a gente continua conversando. Até mais.

Ele piscou e continuou olhando para a tela, sem saber direito o que fazer. Não se sentia muito bem. Também não era como se estivesse se sentindo mal, mas ainda assim.

Depois de muito tempo – pareciam ter sido horas – ele conseguiu sair do transe e desligar o computador. Levantou-se da cadeira, caminhou alguns passos pelo quarto e sentou-se na ponta da cama.

Era óbvio que Jinki devia ter uma namorada. Ele já estava com 18 anos, afinal. E também não era como se fosse a primeira garota da vida dele... Mas ele nunca chamara nenhuma das outras de “namorada”, tampouco... pelo menos não para Taemin.

Ele finalmente conseguiu bufar, exprimindo um pouco do que sentia, e deitou-se atravessado na cama. Não costumava pensar em Jinki daquele jeito. Ele estava tentando e estava conseguindo não pensar. Afinal, não era como se ele fosse... bem... gay. Ele gostava de garotas. E nunca sentiu... nenhum sentimento especial que ultrapassasse amizade comum por nenhum outro garoto além de Jinki.

Só sentia o que sentia por ele, porque eles sempre estiveram juntos. Mesmo quando Taemin não tinha mais ninguém. E eles se entendiam perfeitamente bem, e a relação deles era muito diferente do que qualquer sentimento de amizade que ele sentira por outra pessoa... era quase como se Jinki fosse realmente o irmão mais velho que ele sempre quisera ter. E ele nunca, jamais, cogitaria a ideia de falar para Jinki sobre o que ele achava que estivera sentindo... Mesmo por que ele estava enganado, não estava?

Não gostava de Jinki daquele jeito. Era uma utopia, um sentimento que não podia ser real. O que ele sentia quando aquela garota linda do último ano passava por ele e o provocava simplesmente porque sabia que podia fazer isso, era muito real. E o que ele sentira quando Jinki o abraçara aquele dia, nas férias, não.

“Mas e se ele quisesse? Eu jamais teria coragem de beijá-lo ou algo assim, mas e se ele fizesse isso? Eu ia dizer que não? Eu ia empurrá-lo e sair correndo?”, ele conseguiu se perguntar, antes da outra parte de sua mente lhe alertar que era ridículo pensar em perguntas como aquela.

E Taemin teve que discordar de si mesmo. Não era ridículo pensar nas perguntas. O pior era pensar nas respostas.

**********

Taemin não queria admitir para si mesmo, mas estava com medo dessa história de Jinki ter uma namorada.

Toda vez que o verão chegava, era difícil separá-los. Eles se veriam de qualquer forma, não importando outros compromissos ou condições climáticas. Eles fariam qualquer coisa, iriam para qualquer lugar – embora nenhum outro fosse como a ponte, obviamente – mas aproveitariam todo o momento que pudessem passar juntos.

Por causa de Seohyun, porém, talvez as coisas começassem a dar errado. Taemin sabia que ele viria de qualquer forma – Jinki dissera, afinal – mas não sabia as condições, e não quisera perguntar. Talvez Jinki não quisesse ficar dois meses longe dela e ficaria apenas alguns dias. Ou, então, talvez a levasse junto. Talvez ficasse, mas jamais desligaria o celular e não ia querer sair do quarto, para falar com ela pela internet. Talvez estivesse como um bobo apaixonado, sem parar de falar nela por um minuto sequer.

E, então, ele não saberia como agir. Qualquer uma dessas possibilidades era terrível.

Mas Jinki o surpreendeu mais uma vez. Ele sempre conseguia, afinal, e não precisava de muito.

Ele estava normal, quando veio. E veio para ficar, sim, os dois meses inteiros de férias. Taemin não conseguia sequer medir o tamanho de seu alívio.

Estavam deitados na ponte, uma tarde, e Taemin observava o céu escurecer. Sabia que choveria, mas não queria dizer nada sobre isso, porque então eles teriam que ir embora e ele não queria ir embora. As nuvens claras no céu azul foram aos poucos se transformando em uma nuvem cinzenta, mas Jinki não parecia notar.

Talvez estivesse pensando na namorada, mas não parecia estar. Ele quase não falava nela. Quando Taemin o perguntava sobre ela, ou sobre algo que tivesse a ver com ela, somente. Do contrário, era quase como se ela não existisse.

- Minho vai se formar daqui há um ano ou alguma coisa, não é? – Jinki perguntou, com voz sonolenta. Era um dia muito quente, e a chuva que cairia não deixaria de ser uma boa coisa.

- Sim – ele respondeu, se sentindo desconfortável.

- Como vai ser, então?

Jinki sabia que ele não se dava muito bem com seus colegas de classe. Ele tentava, estava tentando desde sempre, mas ainda não tinha conseguido. Não era mais como se ele fosse odiado por todo mundo – só por algumas pessoas -, mas também não tinha necessariamente amigos.

- Eu não sei – ele respondeu, baixo.

- Se eu... – Jinki começou, mas então parou repentinamente. Taemin olhou para ele. Um vento fresco começou a soprar, livrando-o do calor.

- O quê?

- Se eu pelo menos pudesse ficar aqui o ano todo – ele terminou, enfim.

Taemin sorriu. Esse era Jinki, sempre fazendo-o pensar em coisas que não queria, e depois dizendo coisas que o faziam sentir-se bem novamente. Como se ele fosse alguém melhor do que realmente era, ou como se merecesse que Jinki fizesse tudo por ele.

- Eu vou ficar bem. Eu fiquei bem até agora, por pior que tenha sido. E as coisas estão melhorando, na escola.

- Eu não quero que você se sinta sozinho.

Taemin riu.

- Minho não vai morrer, hyung. Ele só... não vai mais me ver na escola. Isso não quer dizer que a gente vá cortar relações.

- É, você tem razão – Jinki sorriu, os olhos se reduzindo a dois riscos na face – É só que... muita coisa muda depois que a gente sai da escola.

Ele piscou e pensou em perguntar se ele tinha se desentendido com Kibum, ou Jonghyun, ou os dois, mas então sentiu o primeiro pingo de chuva cair em seu joelho.

- Hey, Taeminnie, está chovendo? – Jinki perguntou, olhando pro céu. Um segundo depois de ele fazer a pergunta, as gotas de chuva começaram a cair realmente, mais grossas e regulares. Um trovão soou ao longe.

- Eu acho que isso é chuva, o que você acha? – ele perguntou, rindo, e Jinki bateu no braço dele.

- Para de fazer piadas e vamos sair daqui – ele disse, alevantando-se enquanto a chuva aumentava.

- Hey, Onew! E se a gente só... ficasse na chuva?

Jinki pareceu considerar.

- E se a gente só... pegasse um resfriado? – ele respondeu.

- Ah, já estamos molhados de qualquer forma – e realmente estavam. Não muito, mas ficando mais molhados a cada momento.

E Jinki cedeu e eles realmente ficaram ali, correndo para lá e para cá, até que a chuva parasse. Então, ambos encharcados, foram para a casa do avô de Jinki, porque havia um caminho cimentado até lá e ficava muito mais perto do riacho que a casa dos pais de Taemin.

Quando chegaram, espalhando água por todos os lados, levaram uma bronca da mãe Jinki, como se ainda fossem crianças, e riram como há muito tempo Taemin não ria.

Foi quando ele notou que, com namorada ou sem namorada, Jinki ainda era a mesma pessoa, e que Seohyun jamais atrapalharia coisa nenhuma.

Porque Jinki era seu melhor amigo, simplesmente.

**********

No aniversário de 16 anos de Taemin, que era durante as férias de verão, Jinki lhe deu de presente um CD com gravações de músicas que ele mesmo havia cantado.

Taemin achou que nunca havia recebido um presente melhor antes. Algo que tivesse tanto significado.

- Eu estou com vergonha – Jinki admitiu, rindo, depois de Taemin ter lhe dito que ele havia ficado levemente corado ao lhe entregar o presente. – Eu nunca tinha feito isso pra ninguém antes.

- Nem para a sua namorada? – Taemin perguntou, rindo também.

Jinki olhou para o céu, e sorriu um pouco, embora fosse um sorriso diferente com o qual Taemin estava acostumado. Ele não sabia explicar. Talvez esse simplesmente fosse o modo com que Jinki sorria para ela.

- Na verdade, eu gravei uma cópia pra ela também... mas ainda não tive coragem de entregar.

- Você devia, ela vai gostar – Taemin respondeu, sério. Queria ficar feliz por Jinki. Realmente queria.

- Eu fiz várias cópias – o mais velho riu e finalmente voltou a olhar para ele. – Para Kibum e Jonghyun também... mas queria que você ouvisse primeiro.

Taemin sorriu para ele. Estavam deitados lado a lado, na ponte, aproveitando o sol do verão que batia ali.

- Por quê?

- Ah, não sei – Jinki disse, ainda parecendo ligeiramente envergonhado. – Eu tive a sensação de que deveria. De que você entenderia melhor do que qualquer outra pessoa o que... bem... o que eu cantei.

O mais novo ampliou o sorriso. Não sabia o que dizer. E lá no fundo, por pior que isso o fizesse sentir, estava um sentimento de vitória sobre SeoHyun. Afinal, já fazia mais de um ano que Jinki lhe contara sobre ela, mas ainda confiava mais nele.

Claro que Taemin achava estranho – Jinki mal falava sobre ela, e, mesmo namorando, continuava passando as férias inteiras ali, sem comentar qualquer desagrado da parte dela. Não que ele tivesse muita experiência com garotas pra poder julgar o comportamento deles, mas achava estranho mesmo assim.

Bem, que fosse. Ele tinha coisas mais importantes pra fazer do que avaliar o andamento do relacionamento de Jinki.

- Obrigado. Foi... o melhor presente que eu já ganhei de alguém.

- Ah, para!

- É sério! – ele respondeu.

E era sério. Nunca presente algum tivera tanto significado quanto o que ele tinha em mãos agora. Adorava ouvir Jinki cantar, e agora podia fazer isso na hora em que quisesse. Quando se sentisse sozinho. Quando estivesse triste. E quando estivesse feliz, também.

Er... se isso não se tornasse obsessivo demais.

- Ah, Jinki, lembrei de uma coisa... Minho me intimou a ir pra uma festa hoje à noite. Quer ir comigo?

Jinki olhou para ele com os olhos arregalados – bem, não exatamente arregalados, mas o mais perto disso o possível.

- Você está me chamando para sair? – Jinki soou indignado, e Taemin olhou para ele em pânico.

- Eu... não... é claro que não... quero dizer, não desse jeito... – enquanto ele se confundia com as palavras, Jinki riu.

- Ei, eu só estava brincando com você – ele respondeu, rindo. Taemin riu também, embora se sentisse o pior idiota do mundo. – De qualquer forma, eu não sei. Além de Minho, eu não conheço ninguém. E você pode querer ficar com seus amigos.

- Você é meu amigo também, é claro que eu-

- É, mas Seohyun não ia gostar que eu saísse.

- Você não precisa ficar com outra garota – Taemin disse, sério.

Jinki desviou os olhos para o céu e não respondeu. Taemin franziu o cenho.

- Quero dizer, se você quiser ficar com outra garota, eu não vou dizer pra ela. Pra começar eu nem a conheço – ele tentou consertar, desconfortável. Será que Jinki a traía?

Nada que não fosse merecido, ele pensou, antes de conseguir controlar. Depois ficou com pena da garota e com ódio de si mesmo. Não era culpa dela que... que... bem, que ele se sentisse daquele jeito.

- Eu não quero ficar com outra garota – ele acabou respondendo, e Taemin soltou lentamente o ar que nem havia se dado conta que estivera prendendo.

- Mas você acha que poderia? – Taemin se viu perguntando, antes que pudesse controlar.

Jinki respirou fundo.

- Pra ser sincero, eu não sei. Faz muito tempo que eu não saio sem ela – ele acabou confessando. E antes que Taemin pudesse perguntar todas as outras mil dúvidas que atravessavam sua cabeça no momento, Jinki se virou para ele, sorrindo. – Mas e você? Não tem nenhuma garota em especial, Taeminnie?

- Ah... – ele pensou em Sulli, a última garota que ele havia beijado. Especial? Não, definitivamente. – Não. Tem uma, na verdade, mas eu nem sei se ela vai pra festa.

- Você gosta dela? – Jinki perguntou, parecendo interessado.

- Ah, hyung! – Taemin respondeu, sorrindo. Dificilmente chamava Jinki de hyung, só quando se sentia envergonhado, ou na frente dos avós dele. - Não gosto dela, a gente só... anh... não sei.

Jinki riu.

- Eu queria ter 16 anos de novo – disse, olhando para o céu.

- Você fala como se fosse velho – Taemin disse, sorrindo.

Jinki desviou o olhar das nuvens para fitá-lo. – Eu me sinto velho, às vezes, quando eu olho pra você.

- Eu não gosto quando você fala desse jeito, Onew. Como se não pudesse me entender só porque sou mais novo.

Mas ele sabia qual era o problema por Jinki estar se sentindo daquele jeito. Ele entrara para a faculdade, e precisava arrumar um emprego. Seus pais não estavam em boa situação financeira, e ele se sentia como se devesse sair de casa.

- Você é quem coloca essas coisas na sua cabeça.

- Vamos pra festa, hoje. Eu não gosto muito de sair. Vou me sentir melhor, se você estiver lá.

Jinki suspirou e sorriu.

- Tudo bem, Taemin. Tudo bem.

E Taemin se pegaria mais de uma vez, após aquela noite, desejando que ele jamais tivesse concordado.

**********

Na metade da noite, enquanto Taemin conversava com uns colegas de aula, acabou perdendo Jinki de vista.

Também, pudera. O lugar estava lotado, escuro e barulhento. Ele estava irritado com aquilo tudo, mas Minho fizera questão que ele fosse (“Você não faz nada as férias inteiras, só fica pra lá e pra cá com aquele garoto! Leve-o junto, se quiser, mas vá! Você precisa sair um pouco, Taemin”, era o que ele havia dito), e ele resolvera ir.

De qualquer forma, enquanto Jinki estivesse ali ele se sentia bem.

Mal ele tinha tirado os olhos do mais velho, porém, ele desaparecera. Taemin conversou mais um pouco com os garotos e depois foi ao banheiro. Havia bebido um pouco e se sentia levemente tonto, outra coisa que, longe de deixá-lo “alegre” como deveria, estava o irritando. Jinki bebera muito mais do que ele, e parecia muito bem. Até sumir de vista, é claro.

Taemin entrou no único box que havia ali e sentou-se, querendo ficar sozinho e longe do barulho por um tempo. Passou alguns minutos ali, pensando em coisas aleatórias.

Sulli estava na festa, mas ele havia tentado evitá-la. Na verdade não queria deixar Jinki sozinho. E ele não tinha como saber que quem seria deixado sozinho era ele. Jinki, afinal, já tinha dezenove anos. Era uma pessoa alegre e sociável. Comprometido, claro, mas o que isso valia, afinal?

Ele bufou, irritado, lembrando da sensação que sentira quando Jinki chegara em sua casa para que eles fosse juntos até a festa. Nunca vira Jinki arrumado para coisa nenhuma, e sentiu um aperto no peito ao ver. Porque se deu conta de como ele era lindo.

Não gostava do que sentia. Aquilo era ruim e lhe fazia mal. Ia acabar estragando tudo se não desse um jeito naquilo, tinha certeza. Mas não sabia o que fazer.

Alevantou-se, preguiçosamente, e se encaminhou para fora do banheiro. Andou vagarosamente alguns passos pela festa, olhando em volta para ver se avistava algum conhecido – Jinki, ele queria Jinki -, sem sucesso.

Então, um fato estranho na paisagem lhe chamou a atenção. Há alguns metros de distância dele, num canto escuro onde quase não podia se ver nada – mas dava para ver, ou ele não teria visto – estavam dois garotos se beijando.

Primeiro, ele ficou intrigado. Já tinha pensado várias vezes se não seria gay pelo que sentia por Jinki, mas nunca havia visto assim, ao vivo... Sem tomar consciência do que fazia, com aquela música irritante ressoando sem parar em seus ouvidos e a bebida ainda fazendo sua cabeça girar um pouco, ele deu alguns passos na direção dos dois garotos, com dificuldade tanto para ver quanto para andar, por causa das pessoas que passavam de lá para cá, sem parar.

Uns três segundos após ter começado a tentar se movimentar, porém, ele parou novamente, o coração começando a bater tão forte no peito que parecia que ia sair de seu corpo. Porque ele conhecia aquela camiseta branca que o garoto que estava sendo prensado contra a parede usava. E o corte de cabelo. E... e...

Ele queria sair correndo dali, mas não conseguia sair do lugar. Ele estava vendo mal, não estava? Aquele não era Jinki, não podia ser! Porque Jinki tinha uma namorada, por que diabos ele estaria beijando outro garoto no meio de todo mundo?

- Por que será que eu às vezes tenho a impressão de que você tem uma certa obsessão por ele? – ele ouviu, diretamente no seu ouvido.

Reconheceu a voz. Era Minho. E também tinha certeza de quem ele estava falando, embora não pudesse afirmar que Minho estava olhando para o mesmo lugar que ele estava, porque ainda não conseguira desviar os olhos de Jinki.

- Não faço a menor ideia – ele respondeu, frio, como se outra pessoa estivesse dizendo aquilo por ele.

- Você não me disse que ele era gay. – Minho disse, embora não soasse como se estivesse chateado ou indignado. Um pouco surpreso, talvez.

- Eu não sabia – Taemin falou, ainda se sentindo como se fosse só um ouvinte daquela conversa, enquanto sua mente estava em outro lugar. Lá, com Jinki. Com o garoto que o prensava contra a parede, com o garoto que o beijava... Taemin não o reconheceu, mas devia, não devia?

- Faz alguma diferença, ele ser?

Faz. Faz toda a diferença do mundo.

- Não. Eu acho.

- Você está bem? - o mais alto perguntou.

Ele finalmente desviou o olhar de Jinki e olhou para Minho. Sentiu alívio por ele estar realmente parecendo preocupado com ele, e não tendo um ataque porque Taemin tinha um amigo do qual ele nunca gostara realmente, e agora esse amigo estava beijando outro garoto no meio de todo mundo.

- Claro – ele tentou sorrir – Eu acho que bebi um pouco demais, só isso.

- Você quer que eu te leve para casa?

Taemin franziu o cenho. Não precisava ser levado para casa, mas não se achava em condições de discutir, no momento. Sem conseguir se conter, olhou novamente para onde Jinki estava, com o outro garoto, bem a tempo de ver que eles se separavam.

Olhou para o garoto que estivera com Jinki. Era muito bonito, mas não o conhecia.

- Você sabe quem ele é? – perguntou para Minho. – O garoto com Jinki?

- Não. Mas posso tentar descobrir, se você quiser.

O mais novo mordeu o canto do lábio. Jinki parecia estar procurando por alguém, provavelmente por ele mesmo, e acabaria o achando. E quando achasse, Taemin não sabia o que faria. Não queria falar sobre aquilo que acabara de ver, mas precisava falar. Talvez não ali, embora. Não era o momento.

- Não, esquece. Não faz mesmo diferença – ele acabou respondendo, e se assustou com o ressentimento que ouviu em sua própria voz.

O problema, ele sabia, não era o fato de Jinki ser gay ou não ser. Trair a namorada ou não trair. E nem qualquer outra coisa. O problema é que ele não esperava por aquilo. Achava que conhecia Jinki melhor do que qualquer pessoa, do mesmo modo como Jinki o conhecia... mas estava errado. E não sabia como lidar com aquilo.

Procurou Jinki com o olhar novamente, e viu que o mais velho já o localizara e vinha em sua direção.

- Taemin, adivinha quem vem aí? – Minho perguntou, sorrindo, embora estivesse olhando para o lado oposto ao que Jinki estava.

- Minho, se você puder não comentar nada-

- Taemin! – ele ouviu um grito feliz e feminino atrás de si.

Virou-se para trás em péssima hora, porque era Sulli. Teve vontade de se atirar no chão e começar a espernear como um bebê. Por que será que todas as coisas ruins teimam em acontecer ao mesmo tempo?

- Ah, oi – ele se forçou a dizer – Eu não tinha visto voc-

Mas não conseguiu terminar a frase direito, porque a garota passou os braços pelo pescoço dele e o beijou, sem nem avisar antes o que pretendia fazer.

Primeiro ele pensou em empurrá-la para longe e sair correndo triunfalmente. Provavelmente deveria ter feito isso, porém, mas então a irritação tomou conta dele e a beijou de volta. Não tinha nada a perder, de qualquer forma. E era uma ótima desculpa para não ter que encarar Jinki – pelo menos por enquanto.

Não saberia dizer mais tarde quanto tempo passou com Sulli, mas deve ter sido em torno de uns quinze minutos. Não foram quinze minutos felizes, certamente. Não conseguia parar de pensar em Jinki. Ouvia as vozes dele e de Minho conversando, atrás de si, mas não conseguia entender o que diziam.

Também não queria olhar, portanto só beijava a garota e quando ela tentava dizer alguma coisa ou respirar direito ele simplesmente a beijava novamente. Não que ela não estivesse gostando, de qualquer forma.

Anos depois, Minho o cutucou levemente no ombro. Ele se separou de Sulli e decidiu que era melhor encarar o problema de frente. Despediu-se da garota, que foi embora feliz, e virou-se para Minho e Jinki, que estavam ali parados, esperando por ele.

Minho ainda parecia levemente preocupado, e Jinki bebia alguma coisa olhando para o outro lado do salão. A música do lugar o irritava mais do que nunca. Ele geralmente amava música – era sempre uma oportunidade de dançar, afinal – mas naquela noite ele nunca quis tanto estar sozinho e em silêncio.

Olhou alguns segundos para o teto, e então voltou o olhar para Jinki. O mais velho girou o rosto nessa hora também, e seus olhos se encontraram. Jinki deve ter notado algo estranho em seu rosto, mas sorriu como se nada tivesse acontecido.

Ele olhou para Minho, então, que apenas deu de ombros, como se entendesse sua confusão. Mas ele não entendia, não realmente. Ninguém entendia.

- Ela é muito bonita, Taeminnie – Jinki disse, sorrindo. Era o mesmo sorriso de sempre, cordial e aberto, mas naquela hora ele sentiu a vontade mais forte do mundo de bater em Jinki, bater até saciar a raiva imensa que ele sentia, bater até fazer com que ele parasse de simplesmente sorrir e lhe desse alguma explicação.

- É, sim, mas é um pouco irritante – ele começou a dizer, novamente se surpreendendo com o tom normal de sua voz.

- Bastante irritante, você quer dizer – Minho disse, rindo.

Taemin riu um pouco, nervosamente.

- É. Jinki... Eu acho que vou pra casa, okay? – ele pediu, olhando novamente para o mais velho. De novo a impressão de como ele estava bonito o assaltou. Aquilo não era justo. Ele preferia jamais ter visto o que vira. Preferia não saber.

- Claro! Eu vou com você.

- Não. Pode ficar, se você quiser aproveitar a festa.

Jinki sorriu. Taemin percebeu que a raiva por ele estava passando, embora ele ainda se sentisse extremamente chateado.

- Eu vim pra te acompanhar, lembra? O que você quer que eu faça, aqui sozinho?

Se agarre com outro cara de novo?, ele pensou. E, pela cara de Minho, sabia que ele estava pensando a mesma coisa.

- Tudo bem. – ele olhou novamente para Minho. – Você vai ficar?

- Sim – ele respondeu, sorrindo. – Quero ver se acho a Yuri por aí.

Taemin sorriu sinceramente. Estava grato pelo modo com que Minho havia agido naquela situação. Por mais amigos que eles fossem, jamais esperou que Minho fosse o entender e respeitar o que ele sentia tão bem.

- Okay, boa sorte. Até mais.

- Até. – Minho disse, andando para longe deles.

Assim que ficaram a sós, Taemin sentiu como se existisse um muro o separando de Jinki, não importando o fato de que o outro estava perto o suficiente para seus ombros tocarem um no outro.

Queria dizer alguma coisa, mas não sabia por onde começar. Queria chorar, gritar, brigar e qualquer coisa. Queria que ele uma explicação. Queria ouvir.

E, então, ele repentinamente teve uma ideia. Olhou no relógio, com alguma dificuldade por causa da escuridão da boate. Eram duas da manhã. Lá fora, a noite era uma perfeita noite quente de verão.

- Onew... – ele disse relutante, olhando para Jinki – Ainda é cedo... Vamos para a ponte?

Jinki piscou algumas vezes. Naquela hora, Taemin se deu conta de que Jinki sabia que ele tinha visto. Estava tentando camuflar isso de alguma maneira, mas ele sabia.

- Você quer...

- A gente nunca foi lá de noite. Vamos?

Então Jinki sorriu.

- É claro.


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