Vento no Litoral escrita por Janine Moraes, Lady B


Capítulo 2
Capítulo 2 - Mais uma vez....


Notas iniciais do capítulo

Sempre que estou indo postar o capítulo, o Nyah dá erro.
Fiquei muito feliz com a receptividade de vocês. Parecem empolgadas e cheias de expectativas. Estou até com medo de decepcioná-las. =( kk
Espero que gostem desse capítulo, nele a Malu relembra um pouco, sabe...



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Senti o ar faltar, congelando no meu lugar. Pensando nas possibilidades. Eu não poderia. Não poderia voltar.

– O que me diz?

– Voltar? Senhor... Terminei a faculdade há apenas...

– Um ano. Sim, eu sei. E se destacou imensamente pelo que me consta. E além do mais tem pulso firme e um pouco da histeria que se precisa pra se colocar uma equipe desse porte na linha. Precisamos de alguém que lhes dê instrução e foco. E ainda é na cidade que você já morou, pode ajudar sua equipe a se situar e até mesmo ajudar em outras áreas. Mas seu foco principal é o Planetário.

– Senhor, eu... – disse hesitante.

– Não está mesmo pensando na possibilidade de recusar, está? – ele pareceu adivinhar meus pensamentos, pois mordi o lábio. – Querida... Nunca achará uma chance como essa. O seu salário será praticamente triplicado e ainda ficará perto da sua família. Não é um trabalho pesado, lidará com pessoas, que foi pra isso que você estudou. Só precisará de empenho e competência.

– Eu sei, senhor. – disse, vencida. Não poderia recusar esse emprego. E além do mais nada me dizia que ele ainda trabalhava no Planetário. Eu tinha que me livrar dos meus fantasmas, era uma boa oportunidade.

– Perfeito. Você viaja em duas semanas. Tempo o suficiente para arrumar suas coisas e preparar tudo. A propósito, já está dispensada do seu trabalho. – ele mexia nos trabalhos enquanto falava, levantando os olhos de vez em quando para mim. –Começa o seu novo daqui a duas semanas, onde já tem hora agendada com o coordenador do Planetário. Gabriel Gasques. É só isso, senhorita. Venha na minha sala novamente antes da viagem. Boa sorte.

Então, ele simplesmente abaixou a cabeça de volta aos papéis. Sério e concentrado. Fiquei alguns segundos com as pernas pesadas feito chumbo, prostrada na cadeira. Me recompus quando ele me olhou questionador. Agradeci em uma voz tremida:

Obrigada. – saí da sala tremula e nem pude retribuir o sorriso de Marisa. Lembranças há muito adormecidas, com muito custo e esforço, tomavam minha mente. Lembranças que eu demorei demais a fingir que esqueci. Lembranças dolorosas que eu daria tudo pra apagar.


~ ~ ~

5 anos atrás.


(...)

O quarto girava de leve, enquanto as possíveis possibilidades passavam pela minha cabeça. Tentei me concentrar no rosto apreensivo de minha irmã mais velha a minha frente. Cecília estava pálida, os olhos com olheiras e a aparência doentia. Eu não conseguia me fixar direito. Apertei o lençol com força, sentindo meus ouvidos ouvirem o som enquanto a sua boca se mexia.

Sim, Igor é o pai do meu bebê. – estanquei, o sangue fugindo do meu rosto. Milhões de coisas passando pela minha cabeça, datas, palavras, nossas conversas, nossos momentos, nossos toques na noite passada e pensar em Igor dividindo tudo isso com Cecília... Era absolutamente errado. Isso martelou em minha cabeça com uma intensidade assustadora. Respirei fundo, me controlando. Os sons sumindo vagarosamente. Então, não havia nada.

– Não sabia que tinham ido tão longe. – eu disse, a voz fria.

– Eu... Eu sempre... Eu queria, e eu tentei de tudo. Até conseguir. Eu o amava... Mas... Eu... Não queria. Eu juro. – ela gaguejava, gesticulando. Seus olhos estavam injetados e vermelhos, mas não senti pena. Só conseguia pensar que ela o teve antes de mim, que ela tinha um filho dele, que eu estava o perdendo de novo!

– Quanto tempo? – apontei com o queixo para sua barriga.

– Desde que terminamos. Uns três meses? – ela me olhava, esperando uma reação minha. Fiquei em silêncio, mordendo o lábio. Ficamos olhando uma para a outra naquele silêncio sepulcral por minutos, ou horas. Não sei. Até meu telefone tocar. Não precisei olhar o visor para saber quem era. As lágrimas já rolavam. O telefone tocou novamente e eu desliguei. Disse, sem olhar para Ceci:

– Quando vai contar?

– Pra ele? – ela arregalou os olhos, nervosa.

– Claro. E pra nossa mãe, eu acho...

– Não! Eu não posso. – Vi o medo nos olhos dela, assim como seu desespero. Mas não me comovi; sequer me importei. Estava catatônica.

– Uma hora ou outra alguém vai reparar.

– Você acha que o Igor vai... Assumir?

– Vai. – Sorri irônica, eu nem precisava pensar muito para saber disso, o conhecia suficientemente bem.

– Mas ele esqueceu tudo.

– Ele lembrou, lembrou tudo. – E mesmo assim não me contara que dormira com a minha irmã. Tudo bem que era antes que ficássemos juntos, mas... Não impedia que me doesse. Que me arrasasse.

– Tudo?

– Sim, incluindo você. – Incluindo eu. Incluindo nós. Tudo, tudo... – Ele vai assumir. Afinal de contas, ele é o Igor.

– Eu sinto muito, Malu.

– Ter ficado grávida? Perder sua juventude? Sei que lamenta isso.

– Não queria estragar você e Igor. E-Eu sinto muito, gostaria de fazer alguma coisa e... – as lágrimas caiam dos seus olhos sem esforço e eu lutava contra o bolo em minha garganta. – Eu não sei o que fazer. Meu Deus, o que eu faço?

– Já disse, conte a eles. Fim.

– Fim? Não é fácil assim...

– Pra mim é. Essa história não é minha.

– Como?

– Pensando bem, a história é minha também. A história é de quem se ferra. E no final sou sempre eu. Fico sem o cara que amo, perco minha família por conta de mudanças, sem contar o melhor amigo. Eu devia ter percebido, desde a primeira briga, desde o primeiro beijo... Que Igor e eu não éramos pra ficar juntos. Quanta coisa eu teria poupado. Quanta lágrima. Quanto sofrimento. E tudo porque fui burra. Porque deixei os dados rolarem. Arranjei mais e mais motivos pra me apaixonar. E mesmo cheia de motivos, cheio de tapas na cara não pude desistir... – olhei para Ceci, tentando entender tudo aquilo. Sentindo-me quase como explodir. As palavras dirigidas mais a mim do que a ela. – De que adianta amar uma pessoa, me diz? Se no final você só vai sofrer e se acabar? Porque vou amar alguém que no final irei perder? Qual a graça de amar, afinal de contas? Amar é só um caminho mais rápido pra morte eterna de nós mesmos. Porque eu estou morta! Me sinto morta. Que merda! Quando parece que tudo vai dar certo... Tudo acaba. É o fim entende? Essa história não é mais minha. É sua e de Igor. De como vocês vão lidar com isso.

Comecei a chorar, encarando minha lógica rápida. Não dava pra evitar os erros, o passado, e agora as consequências dele. Não era mais sobre mim e Igor. Eu seria uma mera expectadora da batalha dele e de Ceci. Não foi necessário pensar muito nisso, bater a cabeça, insistir nisso e errar pra saber que tudo estava acabado. Tinha acabado quando demos o beijo de despedida e dissemos eu te amo um pro outro. Bem ali acabou.

– M-Me desculpa. – Cecília caiu no choro junto comigo. Me abracei, colocando a cabeça entre os joelhos. Chorando tudo novamente, deixando minha fachada de forte para trás. Senti meu rosto ser lavado pelas lágrimas e os soluços me sacudirem. Porque doía tanto? E eu ainda nem havia o visto. O encarado. E doía, doía demais.

Para pior a situação minha mãe entrou no quarto. E ao ver nós duas chorando convulsivamente daquela forma, entrou em histeria. Corri para o meu banheiro, me trancando lá. Peguei meu robe e apertei contra o rosto e o ouvido. Chorando e esperando. Não foi necessário esperar muito. Eu podia ouvir os gritos da minha mãe, então provavelmente Ceci já contara a ela. Eu não sabia o que fazer. Na verdade, sabia. Só que isso me exasperava. Fiquei no chão gelado, ouvindo os gritos até a porta do meu quarto ser fechada com estrondo e os gritos diminuírem. Me levantei com dificuldade e joguei uma água gelada no rosto. Dando de cara com um reflexo e me amaldiçoei por sentir auto-piedade. Assim como estava, me joguei na cama e adormeci. Não sem antes ver o tanto de ligações perdidas de Igor. Não antes de tomar consciência de que o fim há muito havia chegado. Novamente.



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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem ^^