Capítulo 70 - O direito de ser menininha

 Nossos amigos ainda estavam um tanto quanto surpresos com o novo visual de Amanda. A presidente do grupo disciplinar do colégio continuava a se aproximar. Tudo indicava que era ela mesmo.

- A-Amanda? É você mesmo? - perguntou Lien.

- Hã? Olá...sim...sou eu? Por quê? - disse ela, de certa forma, meio sem-graça.

- Ah, desculpa, é que...nunca imaginei você de vestido. Hehe.

 Amanda corou mais ainda.

- E-Eu sabia que não era uma boa ideia vir pra cá assim! - ralhou ela - Não sei onde estava com a cabeça quando decidi colocar vestido!

- Não diga isso, ficou bom em você - falou Lien - É que...é meio diferente. Não ficou bom, gente?

- Bem...- Alex falaria alguma coisa, mas Astolfo, que ainda estava por perto, cortou o fotógrafo enquanto devorava um pacote de salgadinhos de bacon que ele havia trazido.

- Ah, tá ótimo! - dizia ele, enquanto comia (embora falar de boca cheia não fosse nenhum bom exemplo) - Essas estampas de borboleta combinam bem. Acho que nunca falei, mas tenho uma tia que é costureira e entende pra caramba dessas coisas de moda...na verdade, por causa disso, minha prima, a filha dela, tava até a fim de cursar moda, se bem que ela tá em dúvida se cursa moda ou direito, sabe como é, né? Às vezes a gente escolhe mais pelo retorno financeiro do que pelo gosto, mas se for ver pelo gosto...

- Por falar em moda - disse Amanda, cortando na mesma hora - Onde está o estande da minha sala?

- Acho que daquele lado - falou Alex.

- Eu vou lá - disse a garota - Vou fazer logo meu desfile de calças unissex.

 E ela partiu para o seu destino, de forma decidida. André gostou da atitude.

- Ela parece bem confiante - disse ele.

- Hmm...não sei, não - falou Lien - Acho que ele colocou vestido justamente para as meninas da sala dela mudarem de ideia e fazê-la desfilar com ele.

- É?

- Ah, André, todas as meninas prezam por um lado mais delicado - falou Lien.

- Ela também? - Alex apontou para um estande de disputa de queda de braço. E Kéfera parecia estar ganhando todas.

- Não é a Kéfera?

- Parece que a sala dela resolveu investir em um entretenimento diferenciado, né? - comentou André.

- Vamos lá, ver - falou Lien.

 O casal se aproximou da amiga, cumprimentando-a. A loirinha parecia estar bem feliz.

- Oi, gente - disse ela - Minha sala resolveu fazer um estande sobre os teste de força da história da humanidade, mas acabaram me usando de atração principal. Hihi.

- É...percebemos - disse Lien.

- Testes de força, é? - comentou André - Parece interessante.

- Acho que só escolheram isso para se aproveitar da força da Kéfera, não é? - falou Lien.

- Ah, mas é divertido. Se tem a ver com disputa de força, sempre é divertido. Quem conseguir ganhar de mim leva um vale-refeição para usar na feira cultural - falou ela - Mas até agora ninguém conseguiu. 

- Opa, eu quero tentar! Se é vale-refeição o prêmio, então eu tô dentro! - falou Astolfo, que ainda seguia o grupo - É só sentar?

- Sente-se aí - disse Kéfera, sorrindo - É só ganhar de mim que o vale é seu!

 Astolfo parecia confiante, mas Kéfera estava mais ainda. A disputa começou. E a força dos dois parecia bem equilibrado. Quando Kéfera parecia começar a derrubar Astolfo, ele se recuperava e começava a levar vantagem sobre a garota. Quando Astolfo começava a ganhar, era Kéfera que se recuperava. Isso começou a demorar.

- Err...já passaram uns bons cinco minutos, não? - reparou André.

- Pois é...gente, nós vamos dar uma volta, tá? Depois vocês contam quem ganhou.

- Tá! - responderam os dois, sem tirar os olhos da disputa.

 Lien e André aproveitaram o tempo para visitar outros estandes. Os alunos estavam de parabéns por apresentarem vários temas interessantes.

- Nossa. Tem muita coisa legal. Aqueles ali até fizeram um foguete em miniatura - disse Lien.

- Original - disse André - É bom variar um pouco da ideia de fazer um vulcão em miniatura.

- Ah, Lien Wong! Primo da Lien Wong! Vocês por aqui? - Álvaro, o tenista marcial preferido da escola, acenou para o casal de um estande próximo.

- Nós não somos primos e...ah, deixa pra lá - falou Lien - O que foi?

- Gostaria de convidá-los para ver meu projeto de ciências para a feira cultura - falou ele.

- Seu projeto de ciências? É alguma coisa a ver com tênis?

- Não, não, eu já fiz uma demonstração de máquinas lançadoras de bolas de tênis em várias outras feiras. Dessa vez, resolvi fazer algo diferente.

- Mesmo? O que é? - perguntou André, realmente interessado.

- Isso! Um vulcão artificial em miniatura! Basta usar uma reação com bicarbonato e vinagre para simular a lava e...

- Vambora, André - disse Lien, que sentia uma gotinha escorrer por sua cabeça assim como André.

- Mas...é uma ideia tão original! - reclamou Álvaro.

 Os dois continuaram andando pela feira até retornarem ao estande de Alex, que não parecia ter muitos visitantes.

- E aí? Já voltaram? - perguntou ele, enquanto jogava no celular.

- Seu estande não tem muitas visitas, né? - reparou Lien.

- É...as pessoas não entendem muito da arte da fotografia - disse ele.

- Arte, é? Aquilo ali não é a foto de uma garota tomando banho de sol numa piscina? - reparou Lien.

- Err...eu queria demonstrar a concretude do espírito de relaxamento, paz e tranquilidade - disse Alex - É que vocês não entendem de arte.

- Sei - balbuciou a chinesinha.

- Ei, quando será que a Amanda vai desfilar? - perguntou André.

- É verdade, vamos lá ver - disse Lien.

- Ah, eu também vou - disse Alex - Tá sem movimento aqui mesmo.

- Quer ver a Amanda?

- É. Deve ser engraçado.

- Você não presta mesmo - ralhou Lien. Seja como for, os três chegaram bem na hora do desfile de Amanda. As garotas responsáveis pelo estande pareciam empolgadas e, bem naquela hora, iriam apresentar a líder do grupo disciplinar.

- E nossa próxima candidata é...Amanda Viena!

 Todos aplaudiram e a garota surgiu com as calças da coleção.

- Ela usa um modelo unissex de calça jeans que ficam bem em qualquer pessoa.

- É...até que ficou bem nela - comentou Alex.

 Amanda estava bem travada para andar (como de se esperar de alguém sem experiência com desfiles), mas foi até o fim da mini-passarela. Todos aplaudiram, para ruborização da garota. Ela estava tão tímida que voltou correndo para o outro lado das cortinas.

- Err...nossa modelo é meio tímida - disse uma das anunciantes - Mas ela é linda, não acham?

- Pena que ela ficou envergonhada - disse Lien.

- Mas a roupa ficou bem nela - comentou André.

 Amanda trocou de roupa com uma velocidade impressionante  e saiu imediatamente da cortina, louca para se livrar daquela situação e, nessa hora, todos aplaudiram.

- Ué? Ainda não anunciamos a outra candidata - reparou uma das meninas que organizavam o desfile, até se dar conta que o público estava aplaudindo Amanda. Eles pareciam ter gostado do vestido dela.

- Que linda - comentou uma das pessoas que assistia o desfile.

- Ela não conseguia imaginar ela de vestido - comento outro, que era aluno da escola - Mas ficou muito bem

 Amanda ficou mais encabulada ainda, mas acenou timidamente para o público, tentando escapar da situação o mais rápido possível. Ela finalmente se juntou ao grupo de Lien, que a cumprimentou mais ainda.

- Você parece fazer bastante sucesso, heim, Amanda? - comentou Lien.

- Ai, detesto essas coisas! - disse ela-  Não devia mesmo ter vindo de vestido. Tsc.

- Ah, deixa de frescura - retrucou Alex.

- O que disse? - Amanda ficou brava, mas Alex complementou sua frase.

- Você...fica muito bonita de vestido - disse ele, com o rosto meio vermelho. Na verdade, esse comentário também deixou Amanda meio ruborizada.

- Eu...eu...preciso circular - disse ela, querendo mudar logo de assunto - O pessoal do grupo disciplinar sempre precisa estar atento. Nunca se sabe o que pode acontecer. Até mais!

- Será que vão respeitar uma líder disciplinar de vestido? - perguntou André.

- Relaxa. Tá tudo bem tranquilo. Duvido que ela precise encarar alguém hoje - comentou Lien - No máximo, o atentado ao pudor das fotos do Alex.

- Ei, eu ouvi isso, heim? - falou ele.

 E assim a feira cultura da escola terminou de forma tranquila e calma para todos. Principalmente para Amanda, que pode mostrar seu lado mais menininha. Bem, talvez não tenha terminado ainda para duas pessoas.

- Ah, pelo amor...vocês estão aí há quase uma hora! Não dá pra considerar empate? - comentou uma das pessoas que assistia a queda de braço entre Kéfera e Astolfo.

- Nada disso - falou Kéfera - Eu não me rendo!

- E eu menos...não ligo de ficar aqui o dia todo - falou Astolfo.

 É...o colégio Sol Nascente é composto de pessoas bem persistentes.