Encrenca Shaolin escrita por Metal_Will


Capítulo 34
Capítulo 34




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Capítulo 34 - Nada menos tranquilo que um dia no parque

 - Finalmente...um pouco de paz! - exclamou Lien, espreguiçando-se e comemorando a ausência de Astolfo.

- Deixa disso. Ele é bem gente boa - André tentou defender.

- Você que é bonzinho demais - retrucou a chinesinha - Vamos aproveitar para voltar e passear no pedalinho. Agora sim um passeio de verdade.

- Não gostou do túnel mal-assombrado?

- Não era você que tava com medo?

- Não era bem medo, só...estranhamento.

- Foi ideia do Astolfo. Esquece isso e vamos fazer nosso passeio romântico, heim?

 Lien pega nas mãos de André que ainda não se acostumou com essa vida a dois (bem, na verdade ele nunca teve muito tempo de aproveitar momentos a sós com a namorada).

- Err...não vai pegar nada a gente voltar por esse caminho? - perguntou o rapaz.

- Por quê?

- Iiih...olha só, esses dois resolveram aproveitar o escurinho - disse um garoto que andava em um dos pedalinhos junto da namorada.

- N-Não. A gente só se perdeu no túnel mal-assombrado. É um acidente! - tentou corrigir André.

- Aham.Sei - disse a garota do pedalinho sarcasticamente.

- É, tem razão. Não pega bem - disse Lien, depois que os dois passaram - Mas voltar pela casa mal-assombrada também vai ser um saco.

- O que vamos fazer então?

- Vamos voltar por aqui mesmo e explicar a situação, ué? O pessoal do parque vai entender - disse a chinesinha, já tomando dianteira para retornar à entrada do túnel dos pedalinhos. André a acompanhava, até eles chegarem numa parte meio larga, aliás, bem larga para os pedalinhos. Uma pequena mureta grudada na parede era a única passagem pela qual nosso desaventurado casal poderia passar.

- Vai ser difícil passar por aqui. Não é melhor chamar alguém? - perguntou André.

- Isso é moleza pra qualquer um que pratique artes marciais - disse ela - O estilo shaolin do norte da família Wong não serve só para lutar. Também nos ajuda a manter o equilíbrio.

- Equilíbrio, é?

- É sossegado. Só preciso andar com cuidado pela mureta que..

 Seria sossegado se Astolfo não tivesse retornado justamente nessa hora.

- Pessoal! Esqueci de avisar!

 Foi o suficiente para Lien, mesmo sendo uma especialista em artes marciais, perder o equilíbrio e cair na água (a passagem era estreita mesmo).

- Aaaaah! - gritou ela - Olha o que você fez!

- Ops...foi mal. 

- Astolfo? De onde você veio? - perguntou André.

- Eu só vim pedir para vocês darem um sinal, tipo um assobio para eu me preparar para tirar a foto quando vocês saírem. Achei que seria melhor.

- Não podia simplesmente tirar a foto quando a gente saísse? Qual a dificuldade nisso? - reclamou Lien, reforçando, toda ensopada.

- Não sou um bom fotógrafo...preciso me preparar bastante.

- Nunca pensei que ia dizer isso...mas o Alex faz falta nessas horas - disse a chinesinha, ainda dentro da água.

- Nunca pensei que fosse assustar tanto ela - disse Astolfo - Tava de guarda baixa, heim,  Lien?

- Em vez de falar bobagem, porque não me ajudam a sair daqui? - pediu a chinesinha, mas se os garotos tivessem agido um pouco antes, mais constrangimentos poderiam ser evitados.

- O que foi? - disse um dos funcionários do parque - Ouvi uma confusão aqui dentro.

- A nossa amiga caiu na água - falou Astolfo.

- O quê? Não sabe que é proibido nadar no rio do pedalinho? - bronqueou o funcionário.

- Foi um acidente! - argumentou Lien - Estávamos voltando do túnel mal-assombrado e...

- Do túnel mal-assombrado? E como vieram parar aqui? Estavam fazendo algo indevido, não é? Motivo suficiente para acionar as autoridades do parque e...

- Não, não, é um mau entendido! - disse André - Nos perdemos no túnel do terror e viemos parar aqui. Só estávamos tentando voltar.

- É verdade que o túnel do terror fica do lado, mas...custava ligar para as autoridades do parque? Temos telefones de emergência em todas as placas da parede!

- Bem, não sei se daria sinal aqui dentro - falou André.

- O meu celular não era à prova d'água e agora que não vai mais dar sinal nenhum! - reclamou Lien.

- E você? Até quando vai ficar aí nadando? Queremos que o pedalinho seja ativado de novo! - reclamou o funcionário.

- Se algum cavalheiro me ajudar a sair - reclamou a mocinha. André estendeu a mão para puxar a namorada que não estava com uma cara nada satisfeita.

- Você tá ensopada - comentou Astolfo.

- Por culpa de quem, né? - cutucou ela.

- Bem, acho que temos algumas roupas de reserva na administração do parque. Vem comigo - disse o funcionário, embora ainda estivesse nervoso com nossos amigos. Eles seguem pela saída do túnel, onde Lien tornou-se o principal alvo de comentários.

- Nossa, ela caiu na água? - comentou um.

- Tem que ser muito desastrada pra acontecer isso - disse outro.

- Ela deveria treinar mais o equilíbrio. Ouvi dizer que artes marciais são boas pra isso! - falou outro.

"E ainda passo vergonha. Droga", pensou a chinesinha, praticamente fazendo a roupa secar só com o calor da raiva. André e Astolfo saíram logo em seguida.

- Chato pagar esse mico, heim? - falou Astolfo.

- Pois é - concordou André.

- Mãe! Mãe! - apontou uma garotinha  - Aqueles dois moços saíram do túnel dos namorados. Eles tão namorando?

- Sara! Não aponte para os outros - mas sendo a mãe bastante conservadora, preferiu afastar a filha do local.

- Ah, acontece - disse Astolfo.

- Vamos sair logo daqui - falou André, puxando Astolfo e tentando não perder Lien de vista. Ela tentava não olhar para os lados, mas não se estressar com a situação era difícil.

- Acho melhor tentarmos um brinquedo mais tranquilo agora - falou Astolfo.

- Que mané brinquedo! - retrucou Lien - Vou trocar de roupa e cair fora. André, você me espera.

- Ah, sim, tem uma praça de alimentação ali. A gente se vê lá! - disse o namorado, tentando ao máximo manter o bom humor que Lien já perdera faz tempo. Depois que Lien entrou para se trocar, André e Astolfo encontraram uma mesa e sentaram-se para conversar.

- E os treinos, André? - perguntou Astolfo.

- Vão bem. Acho que estou melhorando.

- Também tô melhorando bastante. Ainda não desisti de aprender kung-fu. Quando chegar na faixa preta de karatê, pode me aguardar. Hehe!

- Vai demorar um pouco, não?

- Nada. Do jeito que estou indo, meu sensei disse que posso conseguir evoluir na arte em tempo record.

- Incrível. Você é mesmo talentoso.

 Infelizmente, a conversa dos dois acabou sendo interrompida por uma confusão que chamou a atenção do local inteiro.

- Não, Adriane, você não pode terminar comigo - gritava algum namorado no meio da sala.

- Já chega, Saulo. Você é grudento demais! E ainda me levou para passear num pedalinho que nem tá mais funcionando.

- Não tenho culpa se uma menina tentou se matar se jogando na água.

"Ela não tentou se matar", pensou André.

- Nosso relacionamento é impossível. Desculpa, vou embora!

- Espera! Eu não vou deixar! - ele segurou no braço dela com força.

- Me solta. Deixa eu ir.

- Nunca. Você vai continuar sendo minha, querendo ou não.

- Não é melhor a gente dar um jeito? - disse Astolfo, olhando para André com um ar confiante.

- A-A gente? Mas em briga de casal é melhor não se meter, não acha?

- O cara já tá machucando a menina. Isso já é covardia. Eu vou lá!

- Astolfo, espera! - mas mesmo com André chamando, lá estava o corajoso Astolfo comprando a briga.

- Ei, cara, vai deixar em mina em paz ou não? - disse ele, já chegando com toda a banca.

- Não se mete, cara. Isso aqui é entre mim e ela.

- Mas se for pra covardia, aí eu vou comprar a briga. E meu amigo André aqui também tá comigo!

- Esse cara de pamonha? - disse o encrenqueiro, olhando bem para André.

- Também não precisa humilhar.

- Pode não parecer, mas ele é um excelente lutador de kung-fu. Não é, André?

- Ei, tô em treinamento ainda.

- Mas já manda muito vagabundo pra lona. Quero ver você encarar o André!

- Astolfo! O que está fazendo? - André praticamente implorava com os olhos.

- Ah, então é esse cara que vai levar porrada, né?

- Astolfo... - André ainda tentava explicar.

- Mostra pra ele, André! - Astolfo continuava a jogar André para cima do delinquente que, por sua vez, estava plenamente confiante da vitória.

- Eu é que vou encher essa cara de sopapo. Já fiz boxe por uns dois anos.

- Saulo! Vai mesmo socar ele assim na covardia?! - reclamou a namorada. Parece que ele estava falando a verdade.

- Não foge não que meu assunto é com você! - disse o rapaz - Mas só depois de eu encher esse mané de porrada!

"Droga! Onde o Astolfo foi me meter e..", pensou André, mas seus instintos foram tão rápidos que ele se esquivou facilmente do soco que Saulo iria dar com vontade.

- Hã? - estranhou o encrenqueiro.

- Aí, André, começou bem! - elogiou Astolfo.

- Ora, seu.

 O delinquente voltava a socar e André continuava a desviar.

- Para de fugir!

- Só estou me esquivando - falou André.

- Na próxima eu não vou facilitar!

 Mas André se desviou facilmente de novo.

"O que está havendo?", pensou André, "Ele se diz um boxeador, mas os ataques dele são tão lentos que é a maior molexa desviar. Será que..."

 No próximo ataque do encrenqueiro, André bloqueia o punho dele e lança um ataque com a palma das mãos seguido de uma cotovelada. Um dos golpes mais básicos do estilo shaolin Wong.

- Aaaah! - gritou o delinquente - Ora, seu...agora a coisa vai ficar feia pra você!

 Saulo voltou a atacar, mas André não só se desvia como lança uma sequência rápida de golpes. O suficiente para gerar aplausos da plateia.

- Uau! O cara luta bem! - disse um.

- Muito bom mesmo! - falou outro.

- Heh! Falei que ele era forte? - concluiu Astolfo.

"É isso!", pensou André, "Treinei tanto com o Mestre Wong e a Lien que os ataques de outras pessoas parecem mais lentos. O treinamento especial do mestre tem mesmo valido a pena!"

- Muito bem, André! - falou Astolfo - Você ajudou a garota!

- Você está bem? - perguntou André para a menina, mas a reação dela foi meio inesperada.

- Seu bruto! - a garota empurrou André para o lado e correu para os braços do namorado - Amor, desculpa. Não aguentei ver você apanhando daquele brutamontes. Agora sei que você não é grudento, só sensível...

- É cada uma que me aparece - falou Astolfo - No fim, elas sempre preferem os caras errados.

- Espero que a Lien seja diferente - disse André.

- Falando nela, será que já se trocou?

 Sim. O problema é que a única roupa extra era de um funcionário do parque e era muito grande para ela.

- Era a única que tinha - disse Lien, chegando diante de vários olhares curiosos com aquelas mangas enormes.

- Ah, você fica bonita de qualquer jeito - falou André.

- Até parece! Agora que eu não fico aqui mais nem um minuto.

- Bom, apesar dos pesares, gostei de passar o dia com vocês - falou Astolfo - A gente podia marcar mais vezes.

- Quem sabe - disse André.

- É..quem sabe. Só Deus sabe - falou Lien - Vambora, André. Eles deixaram em devolver a roupa outro dia. 

- Ah, sim - Astolfo gritou antes do casal sair - Lembra de contar o que aconteceu com aquela garota hoje, André!

 Lien olhou estranho para André.

- Que garota?

- Aparentemente eu salvei uma garota - falou André.

- Salvou? Como assim? O que você queria com ela? Aliás, o que você e o Astolfo ficaram fazendo na praça de alimentação, heim? É só eu sair um pouco que já entra mulher no meio!

"Acho que isso ainda rende até de noite" , pensou André. Bem, parece que nossos pombinhos vão precisar de uma outra oportunidade no futuro para um encontro de verdade.


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