Capítulo 172 - Jilié, O Cão de Guarda

Todos olhavam com certo receio para o novo inimigo que aparecera diante dos garotos. Como já dito, tinha a aparência de um lobisomem e Kéfera foi a primeira a notar isso.

– Nossa...que dentes grandes você tem - disse a loirinha.

– Ei, essa fala não rendeu coisa boa da última vez - comentou Alex.

Jilié, o homem bestial diante deles, deu alguns passos a frente, mostrando seus dentes com cada vez mais ferocidade. Apesar disso, ele ainda conseguia se comunicar de forma razoável.

– Não pensem que sairão vivos daqui - disse ele - Ninguém que invada uma base que eu protejo...sai vivo.

– Pela joia no seu pescoço..posso dizer que é o portador do pingente do Cão, não é? - disse Amanda, já preparada para uma batalha que viria.

– Exato - respondeu ele - Sou um dos doze portadores do zodíaco...e um dos níveis mais altos, diga-se de passagem.

– Ele não parece estar para brincadeira - comentou Álvaro.

– Heh! Que seja...nós também não estamos - disse Astolfo.

– Ei, precisamos mesmo lutar? - perguntou André.

– Como? - estranhou Jilié.

– Tudo que queremos é conversar com Chibang para que desista de seus planos. Não é necessário arriscar nossas vidas em lutas desnecessárias.

André era o tipo de pessoa que sempre preferia a paz. Infelizmente, para ele, seus inimigos tinham uma filosofia de vida nada semelhante. A sede de sangue de Jilié não desapareceria tão facilmente.

– Desnecessárias? Vocês são os inimigos mortais de nossa equipe! São os primeiros de nossa lista de vítimas.

– Mas.. - André insistia. Jilié também.

– Se querem conversar com a mestra Chibang precisarão chegar até ela - falou Jilié, fazendo um sinal com o polegar que apontava para dentro da base - Ela está no último andar de nossa base.

– O último chefe no último andar...clichê até nisso - comentou Alex.

– Mas para chegar até lá, terão que passar por mim...aliás, mesmo que não tentem passar por mim, eu vou até vocês...e rasgarei a carne de um por um.

– Tsc - André se colocou em guarda. Jilié riu.

– Você...garoto - disse ele, apontando para André - Consigo sentir o medo em você.

– O quê?

– Eu consigo farejar o medo, como todo bom cão de guarda. Sua ansiedade está evidente!

– Eu..eu..

– Por que está nervoso, André? - reclamou Amanda.

– Mas eu só..

– Ainda está sem fé, mesmo depois de todo o seu treinamento? - perguntou a boxeadora - Se valorize! Você é extremamente forte!

– É que...só queria que tivesse outro jeito. Temos mesmo motivo para luta?

Acontece que André não estava sentindo uma necessidade forte para lutar. Está certo que Chibang não facilitaria as coisas, mas ele sentia que aquela ocasião poderia ser ultrapassada pacificamente. Ao menos, era o que ele pensava.

– Não adianta, André - falou Lien, em um tom bastante sério - Não vai adiantar apenas conversar com eles.

– Exatamente - concordou Jilié, se aproximando cada vez mais - Devia ouvir a garota. Eliminar vocês é tudo que precisamos para recuperar os doze pingentes.

– O que vão fazer quando tiverem todos os pingentes? - perguntou Kéfera.

– É o ingrediente básico para iniciarmos o ritual do antigo feiticeiro.

– Espere...quando diz antigo feiticeiro...está falando do criador dos pingentes? - falou Amanda, lembrando-se da história que Ningjing contou para eles sobre a origem dos pingentes - Esse homem já está morto há muito tempo, não?

– Ele sim, mas não seu poder - respondeu Jilié - Se a mestra Chibang tomar esse poder, ninguém poderá detê-la. No momento, vocês são nosso único obstáculo.

Naquele instante, por alguma razão, Lien se sentiu meio tonta. Algo invadiu suas lembranças de modo arrebatador.

– Ai.

– Lien! O que foi? - perguntou André, apoiando a namorada com todo o cuidado em seus braços - Está se sentindo bem?

– Não...é que...não tem nada a ver, mas...lembrei de um sonho muito estranho que tive dias atrás...

Na noite anterior à chegada de Ming, Lien havia sonhado com um estranho homem maligno em uma noite chuvosa. O pesadelo havia chocado a garota, mas ela não imaginava que iria marcá-la tanto a ponto de uma simples lembrança abalar seu corpo.

– Já estão tão fracos assim? Que lástima.. - Jilié deu mais um passo - Ouçam, eu não devia, mas serei bonzinho.

– Como? - resmungou Amanda.

– Mais um - disse ele, mostrando seu dedo indicador direito - Mais um passo e irei atacá-las. Só que quando fizer isso, será sem um pingo de piedade. Se vocês ainda querem uma vantagem, sugiro que corram agora. Vão viver um pouco mais se eu caçar vocês ao invés de apenas matá-los aqui.

– Ele está muito confiante - comentou Álvaro.

– Demais. Precisamos de um plano para...ei!

Antes que Amanda terminasse de falar, Astolfo saltou na frente de Jilié, dando-lhe um grande soco no rosto. Foi surpreendente até para o lobisomem diante deles.

– Deixa de marra, cachorrão - falou ele - Acha que a gente vai ter medinho de você? Estamos muito mais fortes agora!

Todos ficaram surpresos.

– O quê? Como...conseguiu me atacar assim, maldito? - ralhou Jilié - Eu devia ter farejado seu ataque.

– Sinal de que fiquei mais rápido, não é? - falou Astolfo.

– Eu ainda não estava nervoso, mas agora - Jilié uivou alto. O som era assustador o suficiente para deixar muita gente desequilibrada.

– Ai...ai..- Alex parecia em choque com a fúria do inimigo.

– Não tá passando nem uma agulha aí, né? - comentou Lien.

– Mas ainda tô filmando... - ele tentou balbuciar.

– Tsc. Espero que a gente consiga protegê-lo..

– Vou rasgar todos vocês a dentadas! - disse Jilié, deixando sua baba escorrer.

– Vocês podem ir - falou Astolfo - Eu cuido dele.

– Não, pode deixar. Eu luto - disse Kéfera, tão animada quanto.

– Não, pode deixar comigo - respondeu Astolfo.

– Que seja. Lutem os dois. Nós já estamos indo - falou Amanda, tomando a dianteira.

– O quê? Mas os dois sozinhos vão...

A boxeadora olhou seriamente para o garoto.

– Confie no treinamento deles. Se os dois não derem conta de um único membro da Meyou Zidan, então não são os mais apropriados para ficar aqui.

André olhou para Lien e a sintonia entre os dois foi imediata.

– Está certo. Vamos nessa! - André pegou Alex pelos braços (já que era o mais indefeso do local) e partiu na direção da porta. Jilié ainda estava na frente deles.

– Acham mesmo que deixarei vocês passarem? Eu..

Mas Kéfera lançou uma espécie de bola de fogo que mandou Jilié para longe. Como? Sim, isso mesmo. Ao que parece, ela conseguiu controlar seu próprio ki de maneira extraordinária. Não era nada que proporcionasse mais do que algumas leves queimaduras (isso se o golpe atingisse em cheio. A chama desaparecia praticamente na mesma hora que tocasse alguém), mas mesmo assim foi o bastante para afastar Jilié da entrada.

– Agora entendo o que a Ningjing disse sobre meu ki ser quente - falou Kéfera, confiante.

O resto da turma aproveitou a brecha para adentrar na base. Jilié se levantou com a fúria em seus olhos.

– Confesso...isso me surpreendeu - disse ele - Mas também me deixou furioso!

Kéfera e Astolfo se colocaram em guarda.

– Matarei vocês e aqueles garotos logo depois. Preparem-se!

Kéfera e Astolfo estavam prontos para sentir a ira do cão da Meyou Zidan.