A Girl’s Choice

Mudança de planos

Extravagância um pacote tão grande conter algo tão pequeno. Acho que as aparências enganam mesmo.

Abri o álbum, e, para a minha surpresa, já havia algumas fotos nele. Todas elas eram de uma linda cachoeira, provavelmente a única que temos por aqui, que fica no Vale o Fim (nome dramático, não?).

Eram ângulos magníficos...parecia até que eu estava lá...

Mas minha visita à cachoeira foi curta, logo já estavam batendo à minha porta de novo. Nem vou tentar imaginar quem é desta vez.

-Pronta para ir? –era Sasuke.

-Antes eu tenho que perguntar: aonde vamos exatamente? –depois de receber aquela encomenda não acho que ainda fôssemos ao cinema.

-Ao Vale do Fim. Não recebeu as fotos? –ele franziu o cenho em preocupação.

-Acabei de receber. –apontei para o chão, que estava coberto por bolinhas de isopor que, no meu entusiasmo, eu acabei por espalhar.

-Ahn, eu vou ter que trocar de roupa, porque...

-Tudo bem, eu espero. Aproveite e leve uma roupa de banho.

-Nós vamos...nadar?

-Sim, há algum problema?

-Não, não... –disse reticentemente, enquanto subia os primeiros degraus rumo o meu quarto.

-Pode ficar na sala se quiser. –lembrei de acrescentar quando já estava no segundo andar.

Entrei no meu quarto um pouco esbaforida. Não por ter corrido nem nada, mas por não fazer idéia da roupa que usar. Eu não costumava ter problemas com isso, porém agora é diferente. O pior de tudo era escolher a roupa de banho...

Biquíni ou maiô?

Biquíni ou maiô?

Biquíni ou maiô?

Biquíni ou maiô?

Biquíni ou maiô?

Ai meu Deus, estou ficando paranóica!

Já sei! Eu vou de biquíni, mas algo não muito provocante, ou promíscuo de mais. Tenho um perfeito: é branco, tem as alças mais largas e a parte de baixo parece mais um short. Suave, mas feminino.

Por cima vou pôr um short jeans, uma blusa de mangas curtas e calçar um par de tênis. Acho que isso é suficiente.

-Vamos? –perguntei, sorridente, a Sasuke, que estava sentado no sofá aparentemente muito entretido com as tábuas de madeira do chão.

-Vamos. –ele respondeu, desviando o olhar a mim.

-Ah, espere. –acabei de lembrar de um detalhe. –Vou pegar toalhas.

-Eu tenho duas no carro. –ele interveio.

Todo mundo por aqui tem carro?

-Todo mundo quem? –ele quis saber.

Opa, acho que falei em voz alta.

-Ah, você sabe... –tentei ser vaga.

-Não, eu não sei. Vamos, conte-me. –tive certeza de que ele estava se divertindo com a situação. Seu ar sedutor misturado ao meio sorriso fizeram aquele pedido parecer até algo impróprio para menores.

-Bom, é que... –como eu ia explicar isso a ele?

-Você saiu com Shino, não foi?

-C-Como? –oh, não, eu estava envergonhada e gaguejando.

-Não precisa se preocupar, ele já nos contou. –isso me lembrou de uma dúvida que me perturbava.

-Como vocês têm tanta troca de informações?

-Notamos que nós três tínhamos algo em comum: nós três a queremos como namorada. Logo, ao invés de acabarmos com a nossa amizade com rixas, decidimos deixar você escolher. Assim, compartilhamos tudo o que acontece de relevante quando encontramos você.

-Foi tudo idéia do Shino, não foi?

-Haha, é, foi sim.

Não me dei conta de que entramos no carro dele enquanto conversávamos. Ao contrário de Shino, Sasuke não possuía um carro esporte, ele tinha um quase monstertruck: uma pick-up bemostensiva.

-Desculpe a pergunta, mas...posso saber como estão os outros dois concorrentes? –ele perguntou-me após algum tempo de viagem.

-Pensei que vocês “compartilhavam tudo o que acontecia de relevante”..

-Bem, quase tudo. Algumas coisas nós omitimos. –ele se defendeu. –Mas eles estão conseguindo alguma coisa?

-Você não está realmente achando que eu vou responder, não é? –falei, meio zombeteira.

-Haha, na verdade, não. Mas sabe o que dizem: esperança é a última que morre. –ele retrucou, em um tom maroto.

-Por que quer tanto saber dos outros?

-Só achei que fosse melhor conhecer os inimigos, saber com quem eu estou lidando. –respondeu, desta vez um pouco mais sério.

Será que eles estão levando esta “competição” muito a sério?

-Há uma coisa que eu quero saber.

-Pergunte, então.

-Por que você me mandou aquele álbum?

-É só um jeito de dizer aonde estamos indo, e deixá-la entusiasmada com a idéia. Por quê? Você não gostou?

-Não é isso. Eu adorei, foi uma coisa muito romântica...

-Então qual é o problema?

-É só que...por que uma caixa tão grande?

Ele se entregou a uma risada leve e contagiante. Tão contagiante, que eu não pude resistir e também ri de mim mesma.

Sasuke parece até um anjo quando ri tão espontaneamente. É difícil se libertar de seu encanto.

-Eu gosto de surpreender as pessoas. –ele respondeu afinal. Aquilo me pegou de surpresa, achei que ele não fosse responder.

Saltamos do carro, que foi estacionado perto da entrada, e eu fiquei olhando para a queda d’água à minha frente. Aquelas fotos podem ser lindas, mas nada se compara a estar lá de verdade.

Deixamos nossas roupas na margem da baía, que se formava com a água que descia pela cachoeira. Eu não me senti inteiramente bem no meu biquíni com ele, apenas com sua bermuda, bem ali do lado.

Passei a olhar a direção oposta, para não me sentir tão envergonhada. Por estar de costas a ele não tenho certeza, mas acho que ele ficou me olhando por um bom tempo.

-Você não tem medo de altura, tem? –ele me perguntou.

-Eu espero que não. –respondi, sem tirar os olhos da água.

Nós subimos por uma encosta um pouco afastada do rio, mas que dava o melhor acesso ao topo. Não sou muito boa com escaladas nem coisas do tipo, então escorreguei algumas vezes. Na maioria das vezes, nada muito sério, mas teve uma hora em que eu pensei que fosse cair.

Meu pé tinha simplesmente deslizado e eu não tinha outro apoio. Não consegui me segurar em nada e já estava me imaginando rolando o barranco quando eu senti as mãos fortes de Sasuke me puxando para cima firmemente.

-Está tudo bem? –ele perguntou, seriamente consternado.

-Está, graças a você.

Ele não me soltou até chegarmos à terra plana, ou seja, onde ele tinha certeza de que eu não escorregaria de novo.

Andamos de volta para perto do rio e chegamos à beira. Ali, a água fazia a sua rápida descida até voltar a seguir calmamente na piscina natural que se formava lá embaixo.

Lá embaixo....

Não sofro de vertigem, mas não vou mentir. Era alto. Bem alto.

Mas eu não estava com medo, nem um pouco de medo. Eu senti outra coisa. Eu estava ansiosa para pular.

-É a sua primeira vez? –perguntou provocantemente Sasuke.

-Não, mas, se quiser, eu posso fingir que é. –não pude deixar de rebater.

Afastei-me alguns passos da beirada, corri para tomar impulso e me joguei ao ar com um salto...