A Girl’s Choice

Noite de Surpresas

Depois de tudo o que se passou no escritório da diretora (e também nos arredores), eu fui para casa, já que eu só fui para o colégio para fazer a prova.

Encontrei com Neji no portão de saída, e ele me perguntou como havia sido a prova.

-Bem... –eu respondi, reticente.

Minha mente estava muito ocupada no momento com divagações para eu pensar em uma resposta melhor, ou em uma resposta decente. Neji pareceu esperar mais de mim, mas ele notou que eu estava completamente aérea, então desistiu de tentar continuar a conversa. Apenas se despediu de mim e me perguntou se eu precisava de companhia até em casa.

Eu queria muito aceitar, porque eu não tinha certeza se, do jeito que eu estava, eu seria capaz de atravessar uma rua direito. Mas eu recusei. Tê-lo perto de mim não me faria bem. A probabilidade de eu não segurar estas lágrimas que tentam irromper dos meus olhos até chegar em casa é muito maior com ele por perto.

Felizmente, consegui chegar em casa viva. Fui direto para o banheiro, para me enfiar de baixo d’água quente. Eu precisava muito disto. Ali, na segurança da minha casa, eu me permiti chorar.

Eu sabia que era uma coisa boba, imatura e irritante de se fazer, mas eu não pude evitar. Também não sei me explicar. Eu só me sentia...triste. Acho que eu sou mesmo muito egoísta. E muito hipócrita. Será que eu não poderia me pôr no lugar deles? Pensar em como eles devem estar se sentindo?

Eu fico imaginando como deve ter sido quando eles descobriram que os três gostavam de mim. Será que eles sentiram raiva um do outro? Acho que, se não fosse pelo plano mirabolante de Shino, seria bem capaz de eles terem desfeito um grande amizade por...mim...

Incrível como uma simples garota colegial detém tanta influência nas mãos. E imaginar que essa garota sou eu. Eu, aquela que nunca foi a melhor em nada, nem a pior (exceção seja feita à geometria); aquela a quem ninguém nunca deu muita atenção, por que dariam, de qualquer forma?

Um sorriso triste cruza meu rosto. Eu deveria estar tomando uma decisão, mas não, estou me auto-depreciando. Vou parar com isso, não leva a lugar algum. Pus meu roupão depois de me secar, sentei na minha cama e abracei meus joelhos, pensativa.

Sei que meu cabelo deve estar uma bagunça e que, se eu não penteá-lo agora, vão se formar nós impossíveis de tirar mais tarde. Mas e daí? Não faço a menor questão de me sentir bonita agora.

-Atchim! –ah, era só o que me faltava, ficar doente no dia do baile.

Vou secar meu cabelo antes que eu piore.

Passei o resto da tarde me distraindo com preparativos para o baile. Eu sei que talvez fosse mera futilidade, mas pelo menos isso me distraía e fazia algum bem ao meu auto-estima, depois de tudo o que eu pensei de mim mesma no banho.

Estou em uma outra fase (não sei por quantas eu já passei, mas isso é irrelevante). Vou encarar essa situação toda como algo bom, o fim de um período tempstuoso, e o início de um namoro (com quem quer que seja) que promete muito romantismo.

É...em situações como essa é melhor ser otimista, por mais que isso possa levar à criação de expectativas que mais tarde se transformaram em decepção. Droga, já estou eu de novo sendo pessimista.

-Pai? –quando desci para tomar um copo d’água encontrei meu pai na sala.

-Oi, filha. Foi tudo bem com a prova? –ele perguntou, mais sorridente que o normal.

-Foi. Mas o que você está fazendo em casa a essa hora? Tá tudo bem?

-Está sim. Eu só passei aqui para te entregar isto.

Ele estendia uma caixa com um laço vermelho de enfeite.

-O que é isso?

-Abra e vai descobrir.

Eu peguei a caixa das mãos dele e a abri. Fiquei espantada ao ver que, dentro, havia um vestido de seda, da minha cor preferida, com detalhes em renda e alça de um ombro só.

-Obrigada, pai, mas não precisava, eu tenho do ano passado, lembra?

-Eu sei, querida. Mas eu vi esse na loja e pensei imediatamente em você.

Eu pus a caixa no sofá e abracei meu pai. Ele podia ser um pai ausente, mas, com certeza, ele me amava incondicionalmente.

-Agora vá se vestir, senão vai chegar atrasada. –ele disse, secando algumas lágrimas que escorriam do canto de seus olhos.

Peguei o vestido e subi as escadas de dois em dois degraus. Entrei no meu quarto e abri uma caixinha de jóias que ficava sempre no meu criado-mudo. Encarei o conjunto de colar e um par de brincos de diamante da minha mãe.

Ela o havia passado para mim assim como minha avó o havia passado para ela. Era um tradição das mulheres da minha família. Ela me disse que eu deveria usá-los apenas em ocasiões especiais. Eu ainda lembro do olhar que ela era capaz de sustentar, mesmo estando em uma cama de hospital.

Minha mãe foi uma mulher muito forte, queria eu poder ser assim também.

-Pronta? –meu pai perguntou, lá de baixo. Ele decidiu ficar para me dar uma carona até o colégio.

-Quase! –eu respondi.

Ai, meu cabelo é muito...problemático! Por isso eu normalmente o mantenho preso, apesar de achar que eu fico melhor de cabelo solto. Não consegui deixá-lo perfeito, mas acho que está aceitável.

-Estou pronta. –eu disse descendo as escadas.

Meu pai fez os típicos comentários de pai, e depois dirigiu até a escola. Quando chegamos, eu agradeci e saltei do carro.

Entrei no ginásio e me assustei. Estava tudo lotado de meninas em vestidos super elegantes e meninos de terno, na verdade, eu acho que só havia casais por ali.

Logo ouvi meu nome ser gritado em um dos cantos e encontrei um grupo de amigos. Entre eles estavam Hinata, Kiba, Temari e Shikamaru. Começamos a conversar e eu acabei me distraindo de tudo. Faz bastante tempo desde que não conversava com eles.

Mas logo eu senti que eu estava sobrando, por estar desacompanhada, e tive medo que algum deles perguntasse se eu tinha um par. O que eu responderia?

Não faço a menor idéia, por isso fui ao banheiro. No corredor, eu encontrei Naruto, que andava de um lado para o outro, parecendo altamente preocupado.

-Tenten! –ele gritou assim que me viu. –Você pode me fazer um grande favor? –ele parecia assustado.

-Claro.

-A Sakura-chan entrou no banheiro há quase meia hora chorando e não quis me dizer o que houve.

-Pode deixar, Naruto, eu falo com ela por você. –tentei tranqüilizá-lo com um sorriso.

A apreensão de Naruto de transferiu para mim, afinal, Sakura também é minha amiga.

Assim que entrei no banheiro, ouvi soluços abafados. Havia apenas um reservado sendo uilizado. Eu bati na porta.

-Sakura, está tudo bem?

-Tenten, é você? –ela perguntou, com uma voz rouca de tanto chorar.

-Sim, sou eu. O que..

-Vá embora!! –ela me interrompeu, gritando.

-Sakura, eu só quero te ajudar.

Ouvi a porta sendo destrancada e me deparei com uma Sakura completamente vermelha; olhos inchados, rosto enxarcado, maquiagem escorrendo. Uma imagem nada parecida com a Sakura à qual eu estava acostumada.

-É tudo culpa sua! –ela gritou.

-O que aconteceu?

Ela foi em direção a uma das pias e ficou me olhando através do espelho à frente.

-Eu ouvi o Sasuke-kun conversando com um amigo! Eu sei que vocês saíram em um encontro! Eu sei que ele está apaixonado por você!

-Sakura, eu...sinto muito. –eu disse calmamente, ainda sustentando o olhar de ódio que ela me lançava.

-Como você, de todas as pessoas, pôde fazer isso comigo? –Sakura abandonara a raiva, mas abraçava o ressentimento.

-Sinto muito. –repeti, inutilmente.

Ficamos em silêncio depois. Ela molhou o rosto duas vezes, e isso melhorou sua imagem, ao passo que livrou-a completamente da maquiagem e da vermelhidão.

-Sakura, -eu comecei –eu sei que você gostava do Sasuke, mas, entenda, por favor, ele nunca sentiu o mesmo por você.

-Humpf. Você quer dizer que eu devo deixá-lo para você, não é?

-Não. –eu disse secamente. –Eu quero dizer que talvez seja melhor você dar mais atenção ao cara que está te esperando no corredor, enquanto morre de preocupação por causa de você.

-Naruto, ele...

-Ele realmente gosta de você. E está na hora de você dar valor a isso, ao invés de ficar correndo atrás de algo impossível.

Eu já havia dito tudo o que podia, então fui em direção à porta de saída. Foi quando a voz de Sakura me fez parar.

-Obrigada. –ela disse.

-Para isso servem os amigos. –eu respondi, feliz que ela tenha entendido.

Quando encontrei Naruto do lado de fora, eu o tranqüilizei dizendo que já estava tudo bem e que ela logo estaria saindo. Também encontrei a Ino no caminho e pedi que ela ajudasse Sakura. Ela precisaria de ajuda para refazer toda a maquiagem. E quem melhor que Ino?

Senti uma paz de espírito bem-vinda depois de ter acertado tudo com a Sakura, ela era minha amiga, e nenhum garoto no mundo atrapalharia isso! Será que foi assim que Shino, Neji e Sasuke se sentiram? Provavelmente. Bem, eu espero que sim, eu me sentiria horrível se destruísse a amizade deles. Que bom que os três são gênios e encontraram uma solução.

Pensar neles me fez lembrar que eu não vi nenhum deles até agora. Sasuke já deve estar aqui, pelo que a Sakura disse. O problema é: onde? Ele não deve estar no meio de toda essa gente, talvez esteja na perto da piscina. É, acho que é isso.

Agora, Neji deve estar na biblioteca, e Shino...não faço idéia. Ele é o tipo de pessoa que não se encontra, ele é o tipo de pessoa que vai até você. Mas, se eu fosse procurá-lo, começaria por uma sala de aula, o lugar mais improvável de se encontrar alguém durante um baile.

Mas qual dos três era o caminho certo a seguir? Essa era a pergunta que me assombrou o tempo todo.

-Tenten? –uma voz vinda de trás de mim me fez sobressaltar. Era ele.

Vejo agora que não há caminho certo a se seguir. Nem tampouco caminho errado. Só há o caminho do coração. E este não é escolhido racionalmente, então, não importa o quanto eu reflita, meu coração não irá mudar sua escolha.

E entendo que meu coração escolheu aquele cujo simples timbre tira-me a sanidade. Cujo simples olhar basta para hipnotizar-me. E cuja presença deixa-me sem fala.

E assim, muda, eu me virei.

-Tenten, você está..

Eu não esperei que ele terminasse a frase que começara. Dei três apressados passos em sua direção e o envolvi em um abraço. Ele apenas correspondeu.

Esperei até que meu coração encontrasse seu ritmo. Depois desencostei minha cabeça dele e esbocei um sorriso de alívio. Tudo ficava mais claro depois de mirar aqueles olhos cinza-claro que funcionavam como faróis para mim, guiando–me através do desconhecido quando eu me sentia perdida.

Eu olhei para o céu estrelado acima de nós. As estrelas pareciam ter um brilho mais vivo, mais real, mais concreto.

-Lindo, não é? –eu lhe perguntei.

-Maravilhosa. –Neji também admirava. Porém não era o para o céu que ele olhava, era para mim.

-Vamos entrar? –eu convidei. Agora que eu estava com ele não havia mais motivo para não ficar perto dos meus colegas.

Ele respondeu apenas com um aceno de cabeça e envolveu-me com um de seus braços. Ter o calor do corpo dele junto ao meu foi a melhor experiência que eu já tive. A brisa fria da noite não era nada comparada ao calor que ele emanava.

-O QUE?!

Não é possível, não pode estar acontecendo, eu não mereço isso, diz que isso é um pesadelo, por favor!

-Sinto muito, Tenten. Mas você terá de fazer as aulas de verão se quiser passar em geometria.

Eu sou uma anta, eu sou uma besta, eu sou a pessoa mais retardada do mundo!

Mesmo depois de toda a ajuda de Neji eu ainda não consigo passar nessa matéria dos infernos. E agora eu vou ter de passar as minhas férias estudando. Maravilha.

-E então, Tenten? –Shino me perguntou cheio de expectativa, quando eu entrei no pequeno parquinho da escola. Antes de eu me aproximar, ele estivera conversando com Neji e Sasuke.

Eu fico feliz que, mesmo depois de eu ter escolhido Neji, eles não tenham desfeito a amizade que tinham com o Hyuuga. E ainda criaram um forte laço comigo.

Lembro-me que, naquela noite, quando eu entrei no ginásio acompanhada de Neji, ambos foram ao nosso encontro e apenas congratularam-no. Não que eu esperasse uma gritaria ou até mesmo uma briga, mas eles foram completamente educados. Eu senti até orgulho da atitude deles.

Eles passaram o resto da noite agindo como se fossem amigos de longa data, e não era falsidade. Bom, eles eram realmente amigos do Neji há muito tempo, mas eles falavam comigo como se eu os conhecesse desde o jardim de infância. E, estranhamente, tudo aquilo pareceu certo. Como se nós realmente fôssemos amigos há muitos anos.

Claro que depois eles nos deixaram sozinhos, e foi quando eu me arrependi de não ter prestado a devida atenção quando eu beijei Neji pela primeira vez. Deus, como ele beija bem! E, cada vez que nos beijávamos, eu reconhecia um gosto diferente. Às vezes hortelã, outras vezes algo mais doce.

E essa característica quase me fez perder a cabeça. Sorte que Neji tembém é uma pessoa extremamente controlada, senão eu realmente não sei o que eu poderia ter feito no calor do momento.

-Eu não passei. –eu respondi, derrotada.

Neji me abraçou por trás e me deu um beijo no pescoço. Isso provocou em mim apenas um sorriso de resignação. Seus beijos não eram a mesma coisa se eu não pudesse sentir o gosto deles.

-Se quiser ajuda, estarei aqui. –ofereceu-se Neji.

-Não, obrigada. -eu disse, rindo. –Fazer Ibiki-sensei me ensinar a matéria toda será a minha vingança.

Começamos a rir bobamente. Eu me senti bem estando ali, ao contrário do que eu imaginaria. Ter aqueles três perto de mim sempre me fez sentir assim. Eu notei que eu amo cada um deles, mas de formas diferentes.

Neji eu amo como namorado e, quem sabe, um dia, marido. Shino era meu irmão, que ajuda nas horas de dificuldade, apoia incondicionalmente. E Sasuke era como meu melhor amigo ou um primo. Alguém que, não importa que a distância ou o tempo nos separem, sempre estará aqui para quando eu voltar.

Decidi que eu não precisava quebrar meu coração em três partes. Decidi que os três podiam caber dentro dele.

Decidi que fazer aquela escolha foi a melhor coisa que eu fiz, pois eu não perdera dois garotos e ganhara um, eu perdera três pretendentes, mas ganhara dois grandes amigos e um amor para a vida inteira.