A Girl’s Choice

Barreira

Na verdade, estava mais para um apressado grudar de lábios. Eu nem conseguia manter meus olhos fechados, e não havia clima de romance algum no ar. Eu até acho que estava sendo um pouco bruta demais com Neji, forçando seus lábios contra os meus. Mas, pelo menos, isso o impedia de olhar para trás.

Só que Neji estava levando aquilo a sério. E eu não podia culpá-lo por isso, afinal, fui eu quem o tinha agarrado sem mais nem menos.

Ele mantinha uma mão na minha cabeça e outra nas minhas costas. Eu tirei as minhas mãos do rosto dele lentamente e as pus no seu peito, forçando-o um pouco para trás. E disse:

-Acho melhor pararmos. –antes que as coisas fugam (mais) ao controle.

Ele não disse nada, apenas continuou com a boca entreaberta por um segundo, depois fechou-a e olhou-me com uma expressão de “como você quiser”.

Antes que ele voltasse a se virar para o “caminho dos perigos”, eu o guiei pela mão pelo caminho contrário, que também levava à saída, só que era mais comprido.

-Você tem razão. –ele disse, após algum tempo.

-Sobre o que? –perguntei, concentrada demais em me certificar de que Shino não nos veria para lembrar das muitas coisas sem sentido que eu dissera.

-Está mesmo muito quente.

Foi nessa hora que eu quase tropecei, mas, felizmente, consegui manter meu equilíbrio e não precisei que ninguém me ajudasse. Senti meu rosto esquentar e tentei com todas as forças fingir que ele não tinha dito nada. Obviamente, eu não consegui.

Mas, graças a Deus, no caminho de volta nós conversamos sobre várias coisas sem importância, ou seja, nada que me faria ir de encontro ao chão.

Quando já estávamos na soleira da porta de casa, ele me fez uma pergunta intimidadora:

-Você comentou alguma coisa para a Hinata de mim?

-Como assim? –realmente não sabia do que ele estava falando.

-É que...você perguntou alguma coisa para ela da nossa família? –Neji parecia meio encabulado e ao mesmo tempo firme.

-Não. –eu disse, com a voz baixa. –Eu notei que era um problema só seu e não quis interferir nem ficar fazendo perguntas para qualquer um que não fosse você.

Ele sorriu e disse, em um tom profundo.

-Obrigado.

Neji inclinou-se na minha direção, parecia que ele iria me beijar. E eu sabia que, se eu recusasse, ele iria estranhar, por isso, não fiz nada além de fechar os olhos.

Mas, para a minha surpresa, ele passou direto pelos meus lábios e me deu um afetuoso beijo na bochecha.

Eu ainda estava espantada, mas agradecida quando me virei para entrar em casa.

-Acho que vamos ter de passar o dia inteiro juntos amanhã. –ele disse, com um sorriso meio bobo nos lábios.

Fiquei ainda mais surpresa e volvi o corpo para olhar nos olhos dele.

-O-O que?

-Sua prova de geometria não é na terça?

Ai, meu Deus! Ele tem razão! Eu tinha esquecido por completo desse pequeno grande detalhe.

-Tinha até esquecido. –eu disse em tom derrotado.

-Não se preocupe. Eu farei tudo o que eu puder para te ajudar. –Neji estava sério.

-Obrigada. –eu estava completamente encabulada, mas, ainda assim, tive clareza de mente suficiente para me controlar.

Ficamos nos olhando por um certo tempo, não sei exatamente quanto, e depois eu me virei novamente e entrei em casa.

Subi as escadas, passei pelo corredor e entrei no meu quarto sem prestar nenhuma atenção ao meu redor. Se eu não morasse ali, nem ao menos saberia dizer a cor das paredes. Também não sei se passei pelo meu pai ou não.

Tudo o que eu sei é que eu estou feliz. Não. Mais do que apenas feliz. Eu me sinto...segura. Sei que é uma coisa idiota, mas, naquele momento, eu achei que nada pudesse me fazer mal, nem mesmo uma prova final de geometria. Eu me sentia capaz de fazer qualquer coisa, contanto que Neji estivesse ali para me ajudar. E saber que ele realmente estaria ali, não importa o que acontecesse, deixou-me segura, em paz comigo mesma e com tudo à minha volta.

-Eu não acredito nisso! –eu gritei com o máximo de ira que eu pude.

-Calma, Tenten.

-Como assim calma, Sakura?! Você não faz idéia do que isso significa!

E ela não fazia mesmo. Isso porque eu não havia contado.

-Então talvez você possa me explicar, Tenten! –ah, ótimo, agora ela entrou na fase de se sentir mal apreciada como amiga.

Eu apenas suspirei.

É claro que eu adoraria contar para ela que o fato de terem impedido que os alunos que ficaram em prova final participassem do baile de final de ano simplesmente arruinava a minha vida.

Não só pelo fato de eu realmente querer muito ir a esse baile, mas também porque, se eu não aparecer, os três garotos que esperam que eu escolha um deles para namorar irão achar que eu não fui porque sou covarde.

Mas, claro, eu apenas suspirei, como se a falta de oxigênio no cérebro estivesse causando toda essa desordem mental.

Na verdade, eu acho que falta oxigênio é no cérebro desses professores. E coordenadores, claro, porque sempre que uma decisão tão controversa como essa é tomada, eles ficam brincando de passar a culpa de um para o outro.

Uma hora foi a coordenação que decidiu. Depois, foram os professores que deram a última palavra e concordaram. E então é a diretoria que é a culpada por ter tido essa idéia. E que idéia mais besta! Até parece que, por fazer isso, eles vão ganhar fama de colégio bom por terem uma punição aos que não passam direto.

-É só que...eu queria muito ir... –eu não estou mentindo, só estou omitindo. É diferente.

-Sakura-chan! –pelo berro eu não tive dúvidas, era o Naruto.

-Ah, oi, Naruto.

Notei que eu tinha sobrado, então simplesmente fui procurar outro lugar para passar o recreio. Estava andando distraidamente quando eu fui surpreendida por uma voz às minhas costas:

-Olá, Tenten. –Shino realmente gostava de provocar arrepios em mim.

Mas o jeito como ele sussurrou meu nome bem perto do meu ouvido não me deixou tão afetada quanto da primeira vez. Talvez porque eu já estivesse transtornada com toda aquela questão de eu não poder ir ao baile.

-Ah, oi, Shino. –eu disse, sem emoção, ao me virar para ele.

-Aconteceu alguma coisa? –ele franziu o cenho.

-Não vou poder ir ao Baile de Formatura. –por que mentir?

-Por causa daquela história toda de quem ficou em prova final, não é?

Eu apenas confirmei com a cabeça em resposta.

Ele ficou alguns segundos em silêncio, como se estivesse pensando seriamente sobre algum assunto. Talvez ele quisesse saber a minha decisão naquele exato instante.

-Não se preocupe com isso. –ele disse com um semblante sério e depois me deixou sozinha novamente.

Não sei o que ele pretende, mas, com certeza, suas palavras não me deixaram calma. Além do mais, o que ele poderia fazer? Nem mesmo se ele roubasse o diário do professor de geometria meu problema seria resolvido, porque Ebizu-sensei sabe que eu sou a única na sala em prova final na matéria dele.

Não tive ânimo para mais nada o resto do dia. Nem ao menos ter passado a tarde inteira, e uma parte da noite, estudando com Neji me fez sentir melhor. Acho que parte disso se deve ao fato de que nós estávamos realmente concentrados, então não houve nenhum romance nem qualquer “provocação” que me fizesse perder o equilíbrio (por mais que eu estivesse sentada).

Neji havia dito que eu certamente conseguiria passar. Mas eu tenho as minhas dúvidas em relação à minha própria capacidade. Eu sei que, por mais que eu saiba a matéria de trás para frente, eu fico nervosa na hora e acabo errando bobeira. Muita bobeira.

Mas, tenho que admitir, sem a ajuda dele seria simplesmente impossível passar. Tenho muito o que agradecer ao gênio Hyuuga. A paciência dele comigo foi realmente extraordinária. Sei que, mesmo para alguém do meu ano, ensinar-me geometria é estressante, então para alguém do nível dele deve ser insuportável. Mas, mesmo assim, ele não apenas suportou tudo como também me fez entender a matéria.

Neji é melhor do que eu pensava...

Ai. Meu. Deus.

Eu estava na minha sala terminando a tão temida prova de geometria quando ouvimos (Ebizu-sensei, que estava na sala comigo, e eu) gritos ritmados vindos da sala da diretora. Quando eu entrei aquela maldita folha de papel para o professor, saí da sala quase correndo e fui em direção aos gritos.

O corredor estava lotado de alunos com cara de revoltados, gritando algo como:

-Liberem os alunos! Liberem os alunos!

Fui me expremendo por entre todas aquelas pessoas e, quanto mais eu chegava perto do foco da rebelião, mais forte ficava a gritaria. Alguns coordenadores tentavam controlar os alunos, mas era simplesmente impossível para eles.

A porta da sala da Tsunade-sama estava aberta e pude ver que Shino, Neji e Sasuke estavam lá dentro, lado a lado, encarando a diretora. Shino era o que mais falava, ou discutia, e todos carregavam um ar ultrajado.

Até que todos pararam por um instante, e Tsunade-sama suspirou derrotada. Os três sorriram aliviados e deixaram a sala da diretora. Quando deram a notícia aos alunos que os esperavam do lado de fora, os corredores se encheram de urros de alegria em comemoração.

Eu ainda lutava contra a correnteza daquela mar de gente, tentando chegar mais perto dos três. Não sei exatamente o que iria fazer quando os alcançasse, mas eu só queria dizer obrigada.

Infelizmente, eles se locomoviam bem mais rápido do que eu, já que eles utilizaram um caminho alternativo, menos cheio. O mais perto que consegui chegar foi o suficiente para eu esticar a minha mão e tentar segurar o braço de Sasuke, que caminhava atrás de Shino e Neji. Não pude fazê-lo, mas consegui encostar nele, o que o fez se virar para trás.

Quando ele notou que era eu, esboçou um sorriso vencedor.

-Eu queria...

-Não precisa agradecer. –ele me interrompeu.

-Preciso sim, se não fosse por vocês, eu...

-Na verdade, o que fizemos foi mais por nós do que por você, sem ofensa. –Shino apareceu de algum lugar de trás de Sasuke. Neji também estava parado à minha frente.

Olhar para os três assim é... desconcertante.

-Perderíamos muito mais do que você se você não fosse ao baile. –o Hyuuga continuou.

Eu não conseguia falar nada, tinha medo de dizer algo que eles estranhassem, então simplesmente mantive o silêncio. Também fiquei envergonhada, mas isso não passou ao meu rosto, felizmente. Eu tive um pouco de medo de que Neji tivesse contado aos outros dois que eu o tinha beijado, porque era óbvio o jeito como eu escapava de fazer o mesmo com Shino ou Sasuke.

-Então nos vemos mais tarde. –Sasuke se despediu pelos três, que continuaram seu caminho.

À noite terei de fazer a coisa mais impossível com a qual já me deparei. Não me julgo pronta, mas, ironicamente, sobre isso eu não tenho escolha.

Sei que, até a noite, será um inferno.

Meu próprio inferno psicológico.