The Asylum For Wayward Victorian Girls escrita por Miss Kwon


Capítulo 4
Capítulo 3: Creepshow


Notas iniciais do capítulo

Desculpem-me pela demora da postagem do capítulo. "Creepshow" é uma das músicas da linda Kerli, significa show de horrores e logo vocês verão porque ele combina tanto com nosso querido Asylum para garotas vitorianas desobedientes.



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POV Emilie

 Fazia alguns minutos que eu havia sido direcionada para a cela que seria meu quarto, e pior: que eu dividiria com outra louca. Só espero que ela não tente me matar enquanto eu durmo, vai saber qual é o nível de loucura dela.

 O quarto era pequeno, só havia espaço suficiente para duas camas, um armário minúsculo no canto esquerdo com divisória, uma mesinha entre as camas e um lugar para colocar as malas vazias. Reparei as malas na cama da direita, que deviam ser da pessoa que ficaria ali comigo. Coloquei cuidadosamente minhas coisas aos pés da outra cama e me sentei nela, que provocou um rangido agudo. A cama devia ser muito velha, os lençóis tinham diversas manchas e um cheiro de mofo, o colchão era fino o bastante para que eu sentisse os ferros no meu corpo e parecia que um dos pés era menor que todos os outros. Essa cama vai quebrar, quer apostar quanto?

 Suspirando, me levantei e fui até o banheiro. Era terrivelmente fedido, havia água no chão e pude jurar que vi um rato passar pelo canto. Tinha só uma pia caindo aos pedaços, um vaso meio quebrado e um espelho rachado acima da pia. Estremeci e voltei ao quarto, tentando livrar meu nariz daquele cheiro. As paredes provavelmente um dia foram de um amarelo intenso, mas agora tudo era acinzentado e melancólico, com algumas lascas de pintura restantes.

 Me joguei na cama e esperei. Não tinha nada para fazer ali. Tudo que eu trouxera para lazer foram alguns livros de Shakespeare que eu estava sem vontade de ler agora, um caderninho e caneta, uma bolinha para ficar jogando no chão e um quebra-cabeça de 5000 peças, para momentos de tédio mortal. Ouvi um rangido grave e me sentei para ver uma loira entrando.

 Diferente dos outros internados, ela parecia-me bastante normal. Era muito pálida, como já era normal em Londres, alguns centímetros mais alta que eu, tinha olhos azuis puxados para um verde-água lindo, cabelo louro-branco liso que descia até a cintura, com pontas lilás. Vestia um longo vestido branco, com mangas bufantes e algumas rendas ao redor do pescoço. Tinha uma expressão triste, porém saudável, e traços incomuns na Inglaterra. Ficamos observando uma a outra por alguns segundos, suficientes para tirarmos conclusões, até que ela sorrisse e se aproximasse da outra cama.

 -Olá - cumprimentou casual. - Meu nome é Kerli Kõiv. Quem és tu? - Perguntou ela com uma expressão de curiosidade, mas não parecia muito interessada na resposta. Talvez tenha dito aquilo por simples educação, educação que eu apreciei sorrindo.

 -Emilie Autumn. - Balancei a cabeça de forma educada, como uma dama. - Você não é daqui, é, senhorita Kõiv?Notei um sotaque diferente em tua voz.

 -Oh, isso. - Ela abaixou a cabeça, corando. - Não me chame de senhorita, diga simplesmente Kerli, eu não mereço essa formalidade de uma dama nobre como ti. E sim, venho da Estônia. Passei alguns anos lá e adquiri este sotaque.

 -Como sabes que sou da nobreza? - Ela deduziu pelo meu nome? - E ok, se é assim que preferes, Kerli.

 -Obrigada. Sei porque tuas vestes são da realeza, e tu tens uma delicadeza que não é própria de uma camponesa ou artesã. Além de estar muito maquiada e o que trouxera para cá são utensílios nada baratos. - Concluiu com um aceno e afundou o rosto no travesseiro.

 -Sim.... Muito observadora, Kerli.

 -É - ela me olhou e fez uma careta, em seguida olhou o travesseiro, depois voltou para mim. Eu ri, entendendo que ela conhecera o cheiro do travesseiro.

 -Nada aqui é agradável. Eu já olhei tudo. Vamos morrer aqui. - Kerli assentiu e resmungou.

 -Estou muito cansada, vou me vestir e depois irei dormir, caso não se importe. - Ela se levantou e indicou o banheiro com o braço fino.

 -Vá em frente. - Arrumei minha cama e troquei minhas vestes por pijamas confortáveis antes que Kerli saísse do banheiro. Ela saiu com uma careta e se jogou na cama.

 -Que lugar horrível é este. - Comentou. - Sem querer ser mal-educada, mas o que fizeste para vir para cá?

 -Ouvi vozes e tive convulsões. Coisas complicadas e desagradáveis. E você?

 -Eu perdi minha irmã há dez anos.

 -Sinto muito.

 -Eu também. Eu entrei em depressão por saudade dela e algum tempo atrás eu a vi.

 -Nossa. Talvez esteja mesmo cansada. Boa noite, Kerli. - Apaguei a luz e me enrolei nas cobertas finas.

 -Boa noite, Emilie.

Na manhã seguinte

 Acordei com frio e com um grito que não pude distinguir. Minha visão estava bem embaçada e os gritos eram de mulher, não de Kerli, era minha única certeza. Aos poucos recobrei a consciência e vi o estado alerta de minha colega de quarto. Ela parecia estar tão assustada com a voz quanto eu.

-Levantem, seus preguiçosos! Sete da manhã, hora de acordar! Vão tomar seus remédios e o café da manhã. AGORA! - Os gritos me fizeram estremecer e gemer ao lembrar que continuava presa naquele inferno.

 Me levantei, peguei minhas coisas e fui ao banheiro fazer minha higiene matinal. Saí com um vestido verde-esmeralda de seda até o joelho, com uma meia-calça grossa listrada e sapatilhas de boneca. Vi Kerli com olheiras fundas e uma cara bem amassada, mas já vestida e parecendo mais acordada que eu.

 -Alguém teve uma noite ruim. - Comentei tentando quebrar a tensão enquanto íamos para a porta, que havia sido destrancada.

 -Eu tenho uma vida ruim. É diferente. - Falou cansada.

 O corredor estava repleto de gente com expressões doentias, vozes arrastadas psicóticas e camisas de força. Me desviando de todas as loucas, fui até uma mulher vestida de branco. Era nova, mas iria ficar velha logo de estresse, e ela parecia bastante irritada.

 -És surda, garota? - Disse rude antes que eu abrisse minha boca. - Vá pegar as roupas do uniforme e vá tomar o café da manhã. Leve a bonequinha de luxo contigo. - Disse com nojo ao apontar Kerli.

 Antes que recebesse outra patada, puxei o braço da loira até uma mulher com cicatrizes horrendas no rosto que segurava pacotes de roupas brancas. Nem abrimos a boca para pedir algo e ela jogou um pacote em cada uma.

 -Vistam-se. - Ordenou.

 Segui a pequena boneca até os banheiros, onde segurei a porta para ela se trocar e depois foi minha vez. As roupas eram largas, mofadas e finas demais para o inverno londrino, mas não estávamos em posição de discussão.

 Estremecendo, caminhei por entre os internados até o refeitório, onde tive de me servir com um purê de batata que mais parecia massa vomitada do que comida de verdade. Achar uma mesa foi ainda mais complicado, já que tinha gente brigando por ali e dançando nas mesas. Assim que encontrei um assento para nós duas (que por sinal rangou assim que nos sentamos e parecia que iria quebrar assim que respirássemos), comecei a comer em silêncio, quase cuspindo de volta no prato. Eu não esperava comida boa nesse manicômio, mas algo simplesmente comestível. Aquilo nem parecia ter sido feito no mundo humano, de tão ruim que era.

 Kerli fazia uma careta a cada colherada, mas aguentou comer mais do que eu.

 -Eles querem que a gente vomite no chão? - Perguntou indignada. E eu acho que palavras realmente tem poder, porque logo que Kõiv terminou a frase, uma mulher com aparência de presidiária cuspiu tudo no meio do corredor, nos pés de algumas doidas. A faxineira, com certeza furiosa, jogou o esfregão em cima da sujeira e gritou:

 -Eu não aguento mais nenhuma de vocês!!!!!Vou chamá-lo para resolver isto. - E saiu.

 -Quem ela foi chamar? - Perguntei limpando a boca e afastando a bandeja.

 -Não tenho ideia, mas estou com um mal pressentimento.

**

 Duas horas depois do incidente no refeitório, algumas pessoas.... desapareceram. Não sei como alguém consegue a proeza de sumir num hospício, mas um grupo grande conseguiu. E eu ouvi gritos. Não como os da mulher nos acordando. Eram gritos de dor, de desespero. Isso me deixou em completa agonia.

 Até agora só tive a capacidade de conversar com Kerli e ela comigo, mas as mal encaradas daqui não parecem se importar. Estão ocupadas demais conversando com pessoas que não existem para se importar.

 Era de tarde, talvez três horas, e estávamos aproveitando o sol fraco que saiu após a tempestade de minutos atrás. Encostei-me no ombro de Kõiv e tentei dormir para compensar o cansaço que sentia. Foi quando eu ouvi.

 "Brincando de novo, Emilie?"

 De primeira, resolvi ignorar, mas a voz estava muito persistente hoje.

 "Quer brincar de pega-pega? Você corre e eu te pego. Acho que não. Está nervosa hoje? Talvez ninguém te dê atenção por me ouvir agora, já que nem de longe você é o pior caso. Acertei? É claro que sim." E veio a dor de cabeça.

 Era lacinante, eu me contorci no banco, gritei, esperneei, tinha espasmos e senti vários mãos tentando me manter quieta. Todas me olharam e eu fechei os olhos, berrando ainda mais alto quando senti algo se quebrar na minha mente.

-Emilie, o que você está fazendo?

-Estou chorando!Me deixe em paz!

 -Emilie, ele me machucou.

 -Me machuca também! Ou você é egoísta demais para ver isso?

 -De um jeito diferente... Foi entre as minhas... Ele me pediu para não contar.

 -E você é obediente.

 -Eu preciso de ajuda, Emilie. Me ajude a escapar. Me salve.

 -Não posso nem salvar a mim mesma, como te salvaria?

 -Me perdoe.

 -Digo o mesmo.

 Foi como uma lembrança muito antiga, este diálogo berrou nos meus ouvidos. E eu ouvi risadas infantis. Foi bizarro. E vi coisas. Nada estava claro, apenas trechos macabros de algo que nem sei se acontecer.

  E parou.

 Todas me olhavam com expressões de curiosidade, Kerli me olhava com pânico. Logo, entendi o porquê.

 -Escute aqui, sua vadia. - Fui agarrada pela gola da blusa por uma mulher duas vezes maior que eu. - Para desse escândalo. Você estragou o nosso dia!

 -Me... desculpe? Ah, me desculpe mesmo. Eu tenho que aprender a prever quando terei uma crise psicótica. - Há momentos onde não é muito recomendável ser irônica. Esse é um desses momentos. E eu fui.

 A mulher me deu um soco, que me virou tanto a ponto de machucar meu pescoço. Meu queixo estrou em dormência de tão ferido que ficou.

 -BASTA! - Gritou alguém. Fui derrubada no chão e uma mulher de terninho nos puxou pelo braço. - Quero a ruiva, a grandalhona, a baixinha e a loira na minha sala em cinco minutos.

 Ameaçou e foi embora. Massageando o queixo, prestei atenção: a ruivinha sou eu, a grandalhona a que me socou, a baixinha era amiga da grandalhona e a loirinha... Kerli?Até você?

 Fomos até a sala da mulher e ela nos deu passagem para as cadeiras. Comparado ao resto do Asylum, a sala dela pertencia à realeza.

 -Eu não tenho escolha. - Disse assim que nos acomodamos. - As mandarei para John.

 -Quem?

 -Os casos mais graves ou problemáticos, ou simples esquentadinhas como vocês eu mando ao John. E é para lá que vocês vão. Vocês mexeram com a pessoa errada, meninas. Sejam mais que bem-vindas ao show de horrores. Vai começar em poucos instantes.

  E com essa frase, eu soube que logo estaria no inferno.


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Notas finais do capítulo

Se tiver algum erro, desculpem, tá sem beta. Se saiu corrido demais, desculpem também :3 eu escrevi correndo sem salvar em lugar nenhum. LOL. Reviews?



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