Anne Bergerac: As Portas Da Contradição escrita por Ana Barbieri


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora... COntinuem lendo!kkk...



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Capítulo 11

 Fui obrigada a voltar para o meu quarto, para deixar Holmes pensar sobre o que era melhor para o caso. De qualquer forma eu acredito que iremos hoje até a mansão dos Stanpleton resolver tudo, afinal, a esta altura ele já deve ter imagino que estamos atrás dele... não acredito que Craiven tenha mesmo se arrependido e creio que foi avisar seu comparsa. Tudo está tão confuso neste caso, porque será que ele quer me matar? O que ele ganharia com a minha morte? Por que alguém simplesmente não aparece e responde as minhas perguntas?

        _ Anne. – Watson estava batendo na minha porta. Pelo menos ele é educado e não entra como se fosse o primeiro ministro.

        _ Entra. – parecia que o meu quarto era uma toca de algum predador, pela maneira cuidadosa com a qual entrou. Ele parecia nervoso, como se quisesse me perguntar alguma coisa. Céus aconteceu alguma coisa? – O que foi John? Você parece preocupado.

        _ Anne você sabe que eu... tenho estado apaixonado por Mary Morstan, não sabe?

        _ Acho que toda Londres sabe – ri. – Mas ora Watson, onde pretende chegar? Você deu a ela aquelas pérolas, claro que eu esperava logo um pedido de casamento.

        _ Eu pretendo pedi-la em casamento. Contudo, existe um problema...

        _ Problema?! Não vejo problema algum. Ela o ama, você a ama, eu gosto dela que é uma moça excelente e bem educada. Que problema haveria de ter esta união? – ele me olhou como se a resposta fosse óbvia. Mas não é.

        _ Conversei com Holmes há pouco sobre pedi-la em casamento e ele me pareceu um tanto desgostoso do assunto. Acho que ele não gostaria que eu deixasse Baker Street. – muito bem, agora Sherlock Holmes foi longe demais. Impedir um casal de se casar para atender aos seus caprichos egoístas... Isso é desumano. Não pode acontecer.

        _ E daí? John assim você me faz pensar que não pensa por conta própria! Deixar de se casar com a mulher que ama, por causa do Holmes?! Ridículo! Se o fizer, saiba que nunca mais falarei com você. Juro que nunca encontrará mulher melhor do que Mary Morstan para você. E se perder a amizade daquele machista egoísta, tanto faz, quem sofrerá será ele. Saiba que ainda seremos amigos, mas, por favor, case-se com Mary.

        _ Eu também sofreria se perde-se a amizade dele. Mas, seria menos doloroso se eu soubesse que haverá alguém em Baker Street com ele, minha querida Anne.

        _ Por que vocês dois acham que se me chamarem assim conseguirão tudo o que querem? Enfim, claro que ficarei em Baker Street. Não tenho para onde ir não é mesmo? Contudo, a menos que eu esteja errada, não interpretei direito o que você quis dizer. – ele sorriu. É parece que eu acertei de novo... e não vou gostar de ouvir o resto.

        _ Não vou repetir minhas suspeitas quanto a vocês dois, mas prometa-me que se ele tentar declarar-se para você... aceitará. – ora, desde quando eu sou obrigada a amar Sherlock Holmes?

        _ Por que eu deveria? – perguntei cruzando os braços.

        _ Você o ama Anne. Ao menos se preocupa com ele demais para uma amiga. Tenho certeza de que é recíproco e eu adoraria ver acontecer.  Formariam um lindo e... briguento casal. – e saiu do meu quarto sem me dizer mais nada.

        Pelo misericordioso Deus! Será que estão todos em um complô contra mim?! Quero dizer, Sherlock Holmes é o tipo de ser humano que é incapaz de demonstrar qualquer tipo de sentimento. O amor, por exemplo, é o que ele mais abomina em toda sua existência, então como ele poderia me amar? É totalmente ilógico e ele não aprova qualquer coisa que não envolva lógica. E não é como se eu gostasse dele, como se o amasse, porque eu não amo. O que me importa se a casa sempre parece ficar vazia e triste quando ele sai para resolver um caso? O que me importa se de uns tempos para cá Edgar Allan Poe não é mais o meu detetive favorito? O que me importa se quando ele fica nervoso comigo, é fantástico saber que ele não vai parar de falar em mim durante horas? O que me importa se quando o abracei... fiquei me sentindo estranha quando ele me soltou? O que me importa se a primeira música que eu compus no violino era sobre ele? O que me importa se o olhar dele em mim quando estava de vestido de festa era tão brilhante? O que me importa se eu adorei duelar com ele aquela noite e que adoro discutir com ele dia após dia? O QUE ME IMPORTA?

           A penteadeira me pareceu o lugar mais apropriado para me jogar e tentar esquecer essas perguntas que não param de me sufocar. Nunca me fitei por tanto tempo no espelho, sempre achei que seria narcisismo me admirar nele, mas agora não terá problema, creio. Sempre fui bastante parecida com minha mãe que possuía os cabelos castanhos e delicadamente encaracolados. Uma pele branca e cristalina sem nenhuma mancha, o rosto fino, mas não ossudo, o que era uma grande benção já que a família de meu pai tinha o rosto ossudo. Falando assim parece que a parte paterna de minha família não possuía nada que me fascinasse. Na verdade tinha e era o que mais eu admirava em mim. Os meus olhos.

           Uma vez quando eu era pequena, me disseram que os olhos eram a janela da alma. Contudo, quando olhavam para os meus olhos, diziam que eram como dois corredores profundos e escuros sem saída, onde quem ousasse entrar, não sairia com facilidade. Eles eram diferentes dos outros olhos castanhos que haviam por aí, ficavam escuros durante o dia e claros durante a noite, iguais aos de meu pai. Lembro-me que quando conheci Holmes ele ficou me fitando por longos minutos, com certeza tentando me estudar a primeira vista. Contudo foi necessário um ano para consegui-lo. Um ano de brigas, de empecilhos, mas também de risadas e sorrisos... Céus! Não posso acreditar... Eu... me apaixonei mesmo por ele.

            _ Anne estamos indo... está tudo bem? – ótimo, que hora mais oportuna para ele aparecer. Justamente quando descubro que esse homem que me deixa fora do sério, que me enlouquece e que ri de mim às vezes, é o primeiro homem que captura minha verdadeira afeição... INFERNO!

            _ Sim, está. Por que não estaria? Eu não pareço estar bem? Estou ótima! – lindo Anne, ninguém percebeu que você está nervosa.

            _ Está lacrimosa. Aconteceu alguma coisa? – não é uma boa hora para tentar ser gentil comigo, está bem?

            _ Não, é só que... Bem, descobri quem foi o assassino de meu pai e não sei como vou olhar nos olhos dele agora. Não tenho vergonha em admitir que... estou com medo. – que fique bem claro que eu não tenho medo de nada! Este momento de desespero que pediu esta mentira! Eu não tenho medo de nada!

            _ Se fizer o mesmo que aquele dia no beco, ele não terá nenhuma chance. – sério, não é um bom momento para ele tentar ser legal comigo. – Anne tem uma coisa que eu estou querendo lhe dar, já faz algum tempo... – Será mesmo? Ele vai se declarar para mim?

            _ Ah, mas acredite, já não ficarei mais tão surpresa com isso... Watson não para de me encher e saiba que agora raciocinando bem, eu até acho uma ideia fantástica.

            _ Watson contou para você? Mas ele jurou que não pretendia tomar partido nisso. Disse que o assunto estava mais relacionado a mim do que a ele.

            _ Acredite em mim, ele tomou sim.

           _ Bem, também não me surpreende você ter aprovado a ideia. Sempre pensei que seria o momento mais feliz da sua vida.

           _ Então você nem foi modesto o suficiente para pensar que talvez eu recusasse? Não esperava menos de você Sherlock. – o momento mais feliz da minha vida. É, talvez.

           _ Por que haveria de recusar? Achei que sempre quisesse ter sua própria pistola. – o que? Uma pistola? É sobre isso que estávamos falando? Ele não estava se declarando para mim? É eu mereci. Sou uma tola por pensar que Sherlock Holmes me ame. Uma grande tola.

           _ É... eu sempre quis. Deixar de pegar a sua emprestada e poder usar uma só minha.

           _ E garanto que esta você manejará com orgulho. – ele me mostrou uma caixa entalhada em madeira, de onde tirou uma pistola de cabo curto e dois canos, com o símbolo da família Bergerac. Na verdade, esta era...

           _ A pistola de papai. Mas onde conseguiu? Eu pensei que tivessem roubado.

           _ Na noite em que veio me visitar e pediu-me para que cuida-se de você, seu pai me entregou esta pistola e me fez prometer que só entregaria a você quando julgasse que estivesse pronta para usá-la. Afinal...

           _ Ela possui compartimento para quatro balas. Quatro tiros certeiros, mais precisamente na cabeça da vitima. Apenas um disparo e eu poderia acabar com a vida de alguém em segundos, afinal eu sou uma ótima atiradora.

           _ Exatamente. – ele sorriu para mim e estendeu a pistola. – Posso confiar em você?

           _ Tanto quanto confia no Watson. – ele me entregou a pistola. Não sei se estou chorando porque jurava que a esta altura estaria noiva do homem que eu amo ou porque este foi o presente mais precioso que já ganhei pelo nome de meu pai. – Muito esperto de sua parte não ter me entregado antes. Eu poderia ter usado para facilitar a sua viagem até o rio Tâmisa.

          _ Eu jamais facilitaria as coisas para você senhorita Bergerac. – ri e corri para abraçá-lo. Ele por sua vez, me censurou com o olhar, como quem diz que esta não é à hora certa para abraços fraternais. – Vamos indo. Não quero fazê-la esperar nem mais um minuto para usar esta pistola. – e eu não gostaria de esperar para passar mais um excitante momento ao seu lado senhor Sherlock Holmes, por mais doloroso que ele possa ser agora.


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