Vivo na Alemanha oriental com minha irmã há alguns anos, enquanto meus pais e meu irmãozinho de 2 anos na parte ocidental. Tudo o que pensava era de um jeito de fugir para o lado capitalista e finalmente voltar para a cada dos meus pais. Eu e Julia, minha irmã, morávamos com uma amiga de minha mãe e eu era muito grata por isso. Tínhamos comida, roupa e um pouco de liberdade que nos restava. Sarah Fritzwald, a amiga de minha mãe era uma mulher peculiar. Nunca me chamava por Anne, meu apelido, mas sim por Annelise Schwarz. E ela insistia ser chamada de Frau Fritzwald.

A casa em que vivíamos era pequena e eu dividia a cama com minha irmã. Me sentia responsável, pois sentia que precisava protegê-la dos socialistas. Ela não merecia aquela tamanha falta de liberdade, nem ser separada dos pais em sua plena adolescência. Ela nem sequer havia dado o primeiro beijo, e eu não permitiria que fosse com qualquer um. As vezes era difícil agüentar as crises de adolescência dela. E eu já estava chegando aos meus dezoito anos. E não pensava em homens, mas sim em jeitos de chegar à minha família e jeitos de fugir. Já sabia que não era mais uma adolescente, uma vez que aquela situação havia me feito crescer e encarar que eu era a responsável por minha Julia e passá-la para o lado ocidental de qualquer jeito.

Toda noite, quando Julia dormia, eu acabava caindo em lagrimas. Estar longe da minha família com a minha irmã era culpa minha. Eu a arrastei para o lado oriental e nunca me perdoaria por isso. Esse inferno já fazia 2 anos, era como se eu estivesse morrendo, algo estivesse me corroendo por dentro a cada respiração que eu dava.

Com esse desespero de fugir, de certo modo eu tinha inspiração para escrever. Historias de ficção. Escrevia mais terror, suspense, policial e tudo menos romance, isso já não me importava mais, e no momento, estava no meio de um suspense.

Tinha ódio dos soldados alemães, eles eram mais um obstáculo para chegar a minha família, e por isso tinha raiva deles. Eles matavam qualquer pessoa que tentasse passar do maldito muro. Já tinha me prometido que faria o que fosse preciso para passar minha irmã para o outro lado. Mesmo que isso custasse minha vida. Morrer era mais uma opção que para mim, era viável naquele inferno, mas precisava cuidar da minha irmã, ela era a minha prioridade, só tinha medo dela passar a vida toda separada dos pais, mas eu tinha certeza que o nosso povo alemão não deixaria. Sabia que nós faríamos algo sobre isso. A Alemanha era nossa e ninguém tinha o direito de nos separar por um muro. Tinha muitas pessoas separadas de sua família e talvez, um grupo de rebeldes se formasse nesse momento para derrubar o muro. O futuro era incerto, mas ao mesmo tempo, era certo.