Naquela fria tarde de inverno, Snape não esperava por nada diferente, e seguia sua rotina sem grandes expectativas, envolvido em seu trabalho, cercado apenas de livros, ingredientes, e um caldeirão borbulhante. Sentia-se confortável assim, pois amava o aroma das paredes de pedra e a penumbra profunda que o ambiente apresentava. As masmorras de Slytherin eram seu segundo lar, eram como um útero, onde ele cresceu e desenvolveu suas habilidades naturais  e apesar da solidão e dos longos períodos longe de casa, sem o carinho de uma boa família, Severus tornou-se um homem forte, determinado e de caráter corajoso.

Envolvido em seus pensamentos, o mestre sentia prazer, ao imaginar o desafio que imporia a seus alunos na próxima semana. Preparou exercícios bem complicados para as turmas de quinto e sexto ano, que seriam um tormento para os lentos e para os preguiçosos. Snape costumava ministrar suas aulas com dados, que não constavam somente do livro didático; grande parte das informações era baseada em seus próprios experimentos. O valor de suas lições era inestimável, mas nem todos os alunos enxergavam esse fato como uma oportunidade, preferindo reclamar e ir direto aos dados básicos contidos em livros velhos e poeirentos. De uma forma ou de outra, suas aulas não eram nada fáceis, mas ao mesmo tempo eram uma sinuosa escalada para o conhecimento, servindo somente a quem se interessasse de fato pela arte de enfeitiçar.

Exatamente às quinze horas, uma coruja cinzenta de imensos olhos amarelos, entrou voando para entregar-lhe uma correspondência. No envelope branco, selado com cera vermelha, estava a marca da letra M ladeada por dragões e uma serpente, brasão que ele reconheceu imediatamente. Snape levantou-se, e de um viveiro de vidro, retirou um camundongo branco, que foi ofertado à coruja como um prêmio por seu serviço. Depois de saciada, a ave permaneceu imóvel e silenciosa, esperando para levar a resposta, até o seu verdadeiro senhor.

Com a carta em mãos, sentou-se na borda de sua mesa de trabalho e enfim, descobriu do que se tratava a mensagem: acabara de receber um convite para uma festa, marcada para os próximos quinze dias. Sua presença seria esperada exatamente numa sexta-feira, às vinte e uma horas, em 13 de novembro; gostando ou não, ele deveria ir, pois o convite vinha de um amigo de longa Lucius Malfoy.

Desde jovem, ele nunca foi muito interessando em festas; quase sempre, sentia-se deslocado ao ver tão explicitamente, a felicidade em outras pessoas. Sabia dançar bem, e apreciava música clássica tocada em harpa, violino ou piano, porém, nada era suficiente, para libertá-lo de uma postura rígida, formada por tantos anos de autocontrole. Com a decisão tomada, preparou a resposta positiva e despachou-a junto com a coruja.

Após jantar no grande salão, Snape informou à Dumbledore sobre o convite, e como ocorria todos os anos, o diretor incentivou-o a comparecer, pois desse evento, talvez surgissem notícias sobre novos planos de Voldemort. Por sorte, no dia seguinte à festa, Severus não teria aulas para ministrar pela manhã, podendo permanecer até tarde na mansão, com os olhos e ouvidos bem abertos, afinal de contas, ele era um espião e membro da Ordem da Phoenix.

—Essa festa pode ser muito proveitosa para nós, Severus! Com sua astúcia, tente descobrir algum detalhe e sonde algo novo que possamos transmitir rapidamente à ODF! —disse o diretor.

—Sim, com certeza farei isso, pois depois de algumas taças de vinho dos elfos, Lucius sempre acaba empolgado, e exagera ao ponto de deixar escapar segredos na biblioteca. —disse Snape.

Enquanto os dias passavam, ele ouviu as insistentes lamentações de Draco, por não ser liberado de um dia inteiro de aulas, a fim de comemorar o aniversário do pai. Lucius tentava de todas as maneiras usar de influência, para conseguir que o filho faltasse aula, mas nunca obteve sucesso em suas argumentações com Dumbledore.

Finalmente, em treze de novembro, e faltando apenas uma hora para o início da festa, Snape já estava pronto para deixar Hogwarts. Utilizou a charrete da escola para chegar até os portões, e de lá, desaparatou com destino a Wiltshire.