Dia Das Bruxas escrita por Guardian


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Charlotte-chan, essa foi a primeira fic com o Beyond que eu escrevi, então não sei se ficou muito boa. Mas eu fiz com todo o carinho e espero sinceramente que você goste :) (a boa intenção vale, certo?)
Feliz aniversário!!!! *-----*
Ps: narrado pelo L.



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 Estava tudo no mais absoluto silêncio. Parecia que até mesmo o vento havia cessado para acompanhar aquela total ausência de sons no momento que eu me aproximei daquele lugar.

 O que era isso? Filme de terror por acaso?

 Aproximei-me cauteloso da imensa casa senhorial, tentando não escorregar no chão úmido pela chuva que cessara há apenas alguns minutos, se transformando em uma fina garoa. O que será que BB queria me chamando até aqui? E o que mais me intriga: por que eu aceitei vir? Sem contar à Watari, sem deixar nenhum recado de onde estaria,sem sequer pensar nas consequências, eu vim encontrar um perigoso assassino. Desarmado e sozinho.

 Irresponsável, eu sei. Mas eu sinceramente não faço ideia do que me motivou a agir assim. De qualquer forma, agora é tarde demais para pensar sobre isso. Eu estou aqui e pronto.

 Puxei a pesada porta de entrada, ornamentada por detalhes já gastos pelo tempo, e adentrei na escura e fria mansão com o rangido da porta como trilha sonora.

 De alguma forma, dentro da casa estava ainda mais frio do que do lado de fora; eu ainda conseguia ver minha respiração condensar à minha frente, e minha única blusa branca não me impedia de estremecer.

Atravessei devagar o saguão de recepção, alcançando a sala de estar, repleta de móveis cobertos por lençóis que estavam longe de ser brancos. De lá fui, por uma porta lateral, até a cozinha. Queria verificar cada cômodo, olhar, analisar cada canto com cuidado. Em meio ao clima já naturalmente macabro da mansão, eu ficava cada vez mais apreensivo quanto ao que poderia encontrar aqui. Ainda mais sendo Beyond quem havia me chamado.

Em cima da bancada empoeirada, situada no meio da cozinha, havia um único pote. Um pote de geléia e nada mais. Abri armários, gavetas, e à excessão de alguns ratos, não havia mais nada por aqui.

 Voltei para a sala e... Tinha algo na lareira apagada. Já estava lá antes? Então eu não tinha reparado. 

 Agachei em frente à lareira, e a primeira coisa que eu notei foi que ela emanava um pouco de calor. Era como se... Ela tivesse acabado de ser apagada. Estiquei a mão, tomando cuidado para não encostar nas cinzas quentes, e peguei o objeto que lá estava.

 Uma boneca.

 Ela também estava quente, mas ao menos em um nível tolerável.

 Seu vestido vermelho, estilo vitoriano, estava bastante chemuscado, mas continuava lá; a não ser que desde o princípio ela não tivesse cabelo, todo ele foi consumido pelo fogo, deixando a parte arredondada de porcelana totalmente à mostra; e acima de um dos olhos verdes vidrados, do lado direito, havia uma grande rachadura.

 Talvez seja um tanto quanto vergonhoso o maior detetive do mundo admitir isso, mas eu sempre senti uma grande aversão por bonecas. Se me fizessem escolher entre ficar trancado com um louco psicótico ou com uma boneca, eu escolheria o louco psicótico. Irracional? Com certeza. Mas eu continuo sendo humano. 

 E além do mais, existem pessoas que não gostam de palhaços, não existem? Então qual o problema se eu não gosto de bonecas?

 Mas enfim.

 Depositei a boneca de volta na lareira e levantei, indo até a larga escadaria situada no centro do saguão. Os degraus rangiam e o som ecoava por todo o ambiente, e a cada segundo minha apreensão crescia mais e mais. 

 Tinha algo nos andares superiores. Definitivamente tinha algo lá, e não era algo bom. Era mais o meu senso comum do que a minha intuição falando aqui.

 Aquela casa era enorme, e se eu realmente fosse verificar cômodo por cômodo, provavelmente iria amanhecer antes de eu conseguir terminar. Mas mesmo assim eu iria verificar tudo até encontrar "algo".

 E não demorou muito para isso.

 No quinto quarto que eu abri a porta para olhar dentro, tinha o "algo" que eu temia. 

 Uma pessoa.

 Um corpo.

 Entrei e me aproximei do homem jogado de qualquer jeito no canto empoeirado do quarto. Não havia mais nada lá, apenas o homem.

 Mas ele estava... Seco.

 Quero dizer, ele não tinha virado uma múmia, se essa foi a primeira associação feita com "seco", mas... Não tinha sangue. Nem uma gota sequer. Estava totalmente limpo, e à exceção do fundo corte em sua garganta que permanecia ligeiramente avermelhado, manchado, não havia qualquer outro indício de sangue ali.

 Eu senti raiva.

 BB me chamou, e eu vim. Vim sabendo o que poderia encontrar, e ainda assim senti raiva ao visualizar aquele corpo.

 Minha vontade foi de gritar por aquele que me chamara, gritar e exigir que se mostrasse, percorrer rapidamente toda a casa até o encontrar, mas me segurei. Algo me dizia que ainda tinha mais, e se eu fosse com pressa, poderia acabar deixando algo passar.

 E novamente, eu estava certo.

 Havia mais.

 Três mais, na verdade.

 Mais um neste andar e os outros dois no andar superior.

 E todos eles exatamente no mesmo estado que o primeiro. Jogados de qualquer jeito e secos.

 Eu não sabia quem eram aquelas pessoas, não sabia se foram boas em vida, se eram religiosos bondosos ou bêbados violentos, mas o que eles foram em vida e o que fizeram não possuía a mínima importância. Porque agora não passavam de cadáveres. Pálidos, frios, sem sangue e descartados em um canto sujo de uma casa abandonada.

 - BEYOND!! - não consegui mais segurar o grito de raiva e indignação que ocupava e preenchia minha garganta. E o pior, era que essa raiva e indignação era dirigida mais a mim do que à B. Eu o tinha deixado escapar da última vez. Eu o deixei livre, e agora essas pessoas estavam mortas. 

 Por minha culpa.

 Eu não era tão sensível a ponto de me martirizar até a morte por conta disso, mas eu sabia e sentia que a culpa era minha. E essa era uma sensação nem um pouco agradável.

 Mas a próxima porta que eu abri continha algo ainda pior.

 ...

 Eu não... Sei se consigo descrever aquilo.

 Vermelho. Sangue. Por todo o lado.

 Chão, paredes, tudo repleto daquele líquido viscoso.

 E desenhos. Eu não consegui identificar metade daqueles desenhos, mas eu tenho certeza de que havia pelo menos uma abóbora de sorriso macabro e um rosto sorrindo feito em um círculo quase perfeito.

 Abóbora? 

 - Beyond... - a visão desta foi tão chocante, que eu nem mesmo consegui juntar fôlego suficiente para formular um grito. 

 Meus olhos estavam levemente arregalados e meu estômago revirava com o cheiro de ferrugem.

 Fechei a porta antes que realmente passasse mal com aquilo.

 ...

 O que... Que som é esse?... Parece ser... Piano?

 ...

 Für Elise, eu tenho certeza.

 - B... - cerrei os dentes antes de começar a seguir a melodia.

 Ela foi se tornando cada vez mais clara, mais próxima, até que... Cessou.

 Quando eu alcancei o último andar. O sótão.

 Abri a porta sem hesitar, e ao contrário de todas as outras da casa, ela não rangeu. 

 Eu conseguia ver apenas duas coisas lá dentro. Um piano de cauda, situado exatamente no meio do sótão, e um pote em cima dele. 

 Um pote de geléia de morango, igual ao que estava na cozinha. Ou quase igual, já que esta estava cheio até a metade ainda. 

 Mas nenhum sinal de Beyond.

 - Gostou da minha surpresa? - uma voz rouca falou de repente atrás de mim, próximo ao meu ouvido.

 Virei-me abruptamente, e encarei sobressaltado o homem de aparência tão similar à minha.

 - Surpresa? Surpresa?! O que você fez àquelas pessoas foi... - a potência de minha voz voltou de uma vez só, mas B não me deixou terminar, tapando a minha boca com a sua própria.

 Gosto de geléia de morango. Um sabor tão inibriante que tornava pensar, reagir, tarefas bem mais difíceis do que deveriam ser. Tudo o que eu conseuia era corresponder.

 Ah! Verdade...

 Era por isso que eu o havia deixado escapar da última vez. Era por isso que eu tinha aceitado vir sozinho aqui esta noite. Porque eu me lembrava dos seus braços que apertavam forte a minha cintura, de seus lábios viciantes nos meus, de seu cheiro particular. Eu me lembrava. E agora sentia tudo isso de novo.

 - Feliz aniversário, detetive - ele falou ainda muito próximo, esticando os lábios em um sorriso.

 Ani... Era o meu aniversário?

 ...

 Era o meu aniversário!... Agora aqueles desenhos faziam sentido. Era Halloween.

 - Eu tenho que te prender... - aquilo saiu quase como um sussurro, sem fôlego disponível para nada além disso.

 - Tente - ele falou de volta, me derrubando no chão, ainda envolto em seus braços e com a boca na minha.

 Quem eu iria enganar? Ele iria escapar novamente. Porque novamente, eu provaria ser apenas um fraco humano.

 E no momento, ser um fraco humano não me parecia ser uma alcunha tão ruim assim. Pelo contrário.


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Notas finais do capítulo

E então? Te deixou um pouquinho feliz pelo menos? ó.ò



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