Não tentes fazer conversa, pois todos aqui temos lugares escuros e vazios onde nos escondermos. É desconcertante o amor que nos separa, a tragédia que nos une pendurados no limite. Não sei se sei saber fingir que acredito que não sei de nada que vejo. Sei que há vazio, porque eu já o vi. Tu sabes que queres fugir e eu sei que não quero que fiques, ele sabe que queres fugir, mas finge que acredita que queremos que fiques. Ele gostava de poder fugir, mas apesar de tudo fica. Porque existe um amor que nos separa. Porque existe tudo o que não devia existir e eu já nem sei onde meter as mãos. Olha, somos gotinhas penduradas, prontas a cair, separadas, a ser puxadas cautelosamente, minuciosamente, por uma força da terra, tão invisível que existe. Mas não caímos, permanecemos nessa incerteza oca e não caímos. Sou eu, és tu, somos nós, à espera. Temos o relógio dos sentimentos ligado e o tempo não passa. Sou um sorriso forçado, és um obrigado longínquo, somos um olhar disfarçado. Quero voltar para o meu sítio escuro e vazio, quero um volto já que não se concretize, quero um pedido de desculpas do universo. Mas eu sou o meu sítio escuro e vazio e o já chega sempre cedo demais e o universo não tem voz. Hoje sou o que aconteceu ontem, amanhã serei o que o universo quiser. Porém o quero pertence ao hoje e é hoje que eu quero, é hoje que eu quero o que quero, porque amanhã serei alheia ao hoje que existe neste segundo e à desilusão que sinto. Não faz mal ser vazia, se sou vazia hoje. Talvez amanhã não seja tão vazia, talvez amanhã saiba saber fingir que acredito que não sei de nada que vejo. Talvez amanhã saiba saber fingir que me importo em fingir. Talvez amanhã não precise de fingir.
..............................
Sei sentir de um ponto de equilíbrio de onde não caio, apenas levito.