Lua De Sangue escrita por JhesyAckles


Capítulo 12
Capítulo 12




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Eu aceitei a morte de minha mãe, mas ainda não estava conformada. 

Quando se tem a eternidade a morte parece algo fora da realidade, mas ela, infelizmente, ainda existe. Não que eu estivesse totalmente recuperada ou curada da dor de perde-la, mas eu precisava ser forte, por mim e por meu pai, agora mais do que nunca eu percebia o quanto ele era importante na minha vida. 

A sede de vingança o havia dominado por inteiro, e eu não o culpava nem o condenava de maneira alguma porque eu sentia o mesmo, talvez isso fosse um dos motivos pelos quais eu não sucumbia em meio aquela tempestade de dor que me atingia. 

Em uma noite eu ouvi Marcus conversando com Lucas, os dias passavam e ainda assim ele não saia de perto, estava sempre proximo.

- Tem certeza disso Marcus? - eu o ouvi perguntar a Marcus.

- Tenho. Depois do confronto Lana assumirá meu lugar. - ele dizia com firmeza. 

- Mas ainda falta algum tempo para isso e...

- Não importa! - Marcus o interrompeu. - Eu não quero continuar e acho que Lana já está pronta para isso, além do mas agora ela tem você, sei que vai ajuda-la no que ela precisar.

- Disso não tenha duvidas, mas, Marcus, ela ainda está muito abalada com a morte da mãe, ela não demonstra mas sei que está.

- Sei disso, Lana está tentando ser forte e não demonstrar fraqueza, sempre a admirei por isso, ela não se deixa derrubar pelos golpes que leva da vida, e sei que ela vai saber lidar com isso. 

- Mas, Marcus...

- Lucas, eu simplesmente não aguento mais! Já é a segunda vez que isso me acontece, posso não ser humano mas ainda não perdi a capacidade de ter sentimentos, entenda isso. 

Lucas não respondeu.

- Eu sei que Lana é capaz disso. 

- Pode ter certeza que sim. - eu disse descendo as escadas e me juntando a eles. - Eu quero fazer isso, agora mais do que nunca. 

- Lana, tem certeza? - Lucas me olhou. 

- Nunca tive tanta certeza de alguma coisa como tenho agora. - Marcus deu um pequeno sorriso. - E eu vou querer participar da luta.

- Vai ser perigoso. - Marcus disse com uma certa preocupação na voz. 

- Não importa. - eu disse com convicção. - Eu devo isso a ela. - Marcus assentiu. - Quando vai ser o ataque?

- Na primeira lua nova do proximo mês, isso nos dará tempo para planejar os detalhes, queremos pega-los quando estiverem na forma humana, assim teremos uma vantagem sobre eles. - Marcus explicou.

- E qual é o plano inicial? - eu perguntei. 

- Por agora não temos muito, mas o objetivo é matar quantos forem possiveis. - Marcus dizia com odio no olhar. - E o principal, matar o assassino. 

Eu apenas assenti.

Aquelas palavras me atingiram fazendo um choque percorrer minha espinha. 

Eu queria aquilo é claro que queria, minha maior vontade era vinga-la, disso eu não tinha nenhuma duvida, o unico problema era quem seria atingido com aquela sede de vingança. 

Por mais que eu quisesse ter o desejo de acabar com sua vida assim como ele fizera com minha mãe, ainda havia uma parte irracional dentro de mim que não acreditava que ele seria o assassino, e essa parte queria protege-lo, essa era a parte que ainda o amava, essa era a parte que eu deveria destruir... 

Havia uma voz em minha cabeça dizendo que ele era culpado e havia uma outra que gritava que ele era inocente.

Eu não sabia em qual acreditar.

Os dias já não passavam, se arrastavam... Já havia pouco mais de um mês que eu não o via e a falta que ele me fazia parecia que iria me sufocar. 

Conforme o tempo passava eu tinha mais necessidade de me alimentar, o que antes poderia ser até semanal agora se tornara um habito diario. Lucas não entendia bem o porque disso e para ser sincera nem eu, devia ser por causa da ansiedade ou sei la... O problema é que assim eu acabaria ficando enorme, sim, vampiros também podem engordar, não somos como estatuas, mudanças também ocorrem em nosso corpo.

Em momento algum Lucas me deixava sozinha, e eu de certa forma até ficava grata por isso ainda não estava em condições de passar muito tempo sozinha, precisava de algo ou alguém que me distraisse, só havia um problema, por mais que eu quisesse a presença dele eu queria ir sozinha porque havia um desejo que há pouco havia surgido em mim... mas ele ia sempre pacientemente me acompanhar nas caçadas mesmo que não se alimentasse, ele não sentia a mesma necessidade que eu, ele apenas me observava seca-los.

Era temporada de caça, o que me dava uma vantagem, a floresta estaria cheia. 

Mas em uma noite foi diferente, Marcus requisitou a presença de Lucas em uma reunião e eu tive de ir caçar sozinha, o que me deu uma enorme vontade de agradecer a Marcus, por mais que eu quisesse sua presença havia algo que eu precisava experimentar... 

Caçar sozinha.

Algo inédito em muito tempo, mas finalmente, sozinha eu poderia realizar uma vontade que há muito me tomava. 

O que estava acontecendo, eu realmente não sabia dizer.

Simplesmente o sangue já não parecia me ser suficiente, já não parecia me satisfazer por si só, e eu desejava não só o sangue como a carne crua de minhas vitimas, isso nunca tinha acontecido antes comigo.

Eu achei isso muito estranho, não contei nada a Lucas, não queria assusta-lo, mas confesso que era dificil segurar essa vontade na frente dele... 

Enfim a oportunidade de uma caçada solitaria surgiu, e corri a procurar uma trilha, o que não foi dificil devido ao grande moviemento que estava aquela floresta, logo encontrei um caçador, ele estava escondido atras de alguns arbustos com a rifle apontado para um cervo, ele não teve se quer tempo de terminar de conferir sua pontaria e eu já estava correndo com ele até um lugar mais sossegado, fui até proximo ao lago onde animais não costumavam ir a essa hora, o que significaria que caçadores não seriam atraidos pra lá. 

Coloquei-o no chão ainda acordado, mas logo resolvi o problema e ele já não estava mais conciente, me abaixei até ele e inalei seu cheiro, cheiro de sangue fresco. 

Meu corpo ansiava por aquilo muito mais do que já tinha ansiado antes. 

Encostei meus labios em seu pescoço e o mordi, seu sangue veio até minha boca e eu comecei a suga-lo, mas logo aquela vontade de algo a mais me tomou, eu não queria só seu sangue, eu queria mais, eu queria sua carne. 

Depois de beber boa parte do liquido eu não aguentei e arranquei-lhe um bom pedaço de carne em seu braço, aquela carne crua e sangrenta estava em minha boca, era uma sensação e um sabor totalmente novo, eu mastiguei com vontade e engoli. 

Há muitos anos eu não sabia o que era comer algo sólido e eu gostei de relembrar como era a sensação. 

O sangue jorrou de onde eu havia arrancado o pedaço, eu deveria ter atingido uma veia, então deixei que ele jorrasse pra mim antes de arrancar outro pedaço em seu braço e novamente. 

Eu podia sentir aquela comida sólida e saborosa descendo por minha garganta junto com aquele liquido delicioso. 

Eu senti prazer naquilo. 

Eu desejava comer aquilo. 

O porque ainda me era desconhecido, mas a vontade estava ali, era real e estava sendo feita e eu estava adorando e saboreando cada pedaço novo de carne que arrancava do corpo já sem vida daquele rapaz.

Eu não conseguia descrever o que estava sentindo.

Terminei de me alimentar e me levantei, quando o olhei haviam enormes buracos em toda extensão de seu corpo, em alguns lugares era possivel ver seus ossos muito brancos.

Eu o observava vendo o que tinha feito, seus ferimentos estavam limpos, não sangravam, eu o havia secado tomando cuidado para não desperdiçar nenhuma gota.

Eu nunca tinha me sentido tão cheia e tão satisfeita, havia muito eu não saia de uma caçada me sentindo totalmente alimentada. 

Me levantei e comecei a limpar os restos de sangue que haviam em meu rosto com a manga da blusa enquanto ainda olhava o corpo tentando entender o que havia me feito fazer aquilo.

Então aconteceu algo que eu não esperava.

- Pensei que vampiros só se alimentassem de sangue. - eu o ouvi dizer as minhas costas. - não sabia que carne humana fazia parte do cardapio. 

- Há muitas coisas que você não sabe. - eu falei tentando manter a voz estavel enquanto me virava de frente para ele.

- Notei isso - ele disse pulando da arvore na qual estava sentado. 

- Há quanto tempo está ai? - eu perguntei sem emoção.

- Algum tempo. - ele parou a alguns metros de mim. - vi você salvando a vida daquele animal que este ai estava caçando e a segui. - ele deu de ombros. - Não quis interromper o seu jantar e fiquei observando. - ele falava de uma maneira estranha. 

- Bem, o show já acabou. Pode ir embora! - eu tentava colocar raiva e odio a minha voz, mas não estava tendo muito sucesso nisso.

- Não sem algumas respostas. Temos que conversar, não acha? - eu nunca o vira daquela maneira. 

- Sim, Daniel, eu acho que devemos conversar. Mas você acha mesmo que esse seja o momento? - eu queria fugir, não estava preparada para aquilo, ainda não.

A verdade é que eu preferia passar o resto da eternidade sendo corroida e ao mesmo tempo confortada pela duvida do que ter a certeza de que ele era culpado. Por outro lado queria saber, eu ainda não havia feito nada, nada, por não ter certeza... Mas se ele me confirmasse, se as palavras saissem da boca dele, eu o mataria.

- Lana... - ele disse dando alguns passos em minha direção. 

- Não. - eu fechei os olhos e voltei a abri-los. - Não se aproxime. - ele parou. 

- Lana... Acho que eu mereço algumas respostas... eu mereço uma explicação.

- Você merece respostas? VOCÊ MERECE UMA EXPLICAÇÃO? - quando percebi já estava gritando e com lágrimas brotando em meus olhos. - NÃO, DANIEL, EU ACHO QUE QUEM DEVERIA ESTAR FALANDO ISSO SERIA EU, NÃO?

- Não! Você que desapareceu! Você que me deixou que nem um idiota esperando, esperando suas ligações e quando me atende eu descubro que você está com aquele idiota - ele falava com muita raiva na voz. - E depois ele toma o telefone da sua mão e... - ele me olhou com um olhar confuso. - eu não entendi o que ele quis dizer com aquilo.

- Qual parte você não entendeu? 

- Todas. É mesmo verdade? Vocês estão juntos? 

- Estamos. - eu consegui deixar minha voz fria.  - Algum problema nisso?

- É serio que você ainda pergunta?  Enfim, - ele respirou fundo. - Não vou discutir isso, você fez sua escolha, não foi?  E se o escolheu é porque nunca me disse a verdade, fui apenas um brinquedo na sua mão, não foi isso que ele disse? - eu podia sentir a revolta em sua voz, mas não podia me deixar enganar. 

- Não tenho porque responder isso, mas só para que saiba, nenhuma palavra do que eu te disse foi mentira.

- Imaginei. Outra coisa que ele disse sobre sua mãe... 

- O que tem ela? - eu disse entre dentes.

- Não o que tem ela, o que ele disse sobre ela. Que história é essa?

- Esperava que você me esclarescesse isso. Mas vejo que não vai. - Eu trinquei os dentes. Ouvi-lo falando dela não era fácil, era como se ele me desse um tapa. - Acontece que ela foi assassinada, mas isso você já deve saber!

Ele ficou calado. 

- Sim... Eu sabia, soube no dia em que aconteceu, mas queria que você me dissesse...

- Dificil não saber quando se é o responsavel, não? - eu agora não precisava forçar, a raiva estava em mim.  - Eu vi tudo.

- O que? Reponsavel? Você está querendo dizer que... 

- Você entendeu muito bem o que eu quero dizer Daniel, agora você me responda uma coisa... - eu engoli em seco. - preciso ouvir isso de você.  Foi você quem a matou?

- Eu não vou te responder isso. - ele disse muito sério. 

- Então você nega? - eu disse com uma certa esperança. 

- Também não. - ele disse me olhando de cima. - Não nego.

Eu apenas o olhava, a raiva fazia com que lágrima surgissem novamente em meus olhos.

- Quem deveria saber a resposta seria você.  Se acredita que sou culpado, então que assim seja. - ele disse depois se virou e saiu correndo me deixando ali, parada e sozinha.

As lagrimas brotavam em meus olhos e eu me senti tonta então cai de joelhos ainda olhava para o lugar onde ele havia desaparecido. 


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