Aira Snape - A Comensal escrita por Ma Argilero


Capítulo 41
Sou a morte


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo *chora* Mas a boa notícia é que tem um especial e o epílogo.



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Não nasci para viver entre frascos e caldeirões. Estava preparando um corante para as novas balas que pintavam o rosto da pessoa, tentando medir com precisão a quantidade suficiente. Era a décima vez que utilizava uma medida a mais, mas sempre ou se incinerava ou derretia o caldeirão.

Coloquei vinte por cento a mais que a última vez na esperança de que funcionasse. O líquido azul (que era a massa da bala) ficou preto. Não era bom sinal. Afastei-me esperando uma explosão, mas ela não se mostrou instável. Estava na hora de descartar o corante feito de escamas de dragão entre outras coisas.

Retirei meus óculos protetores, deixando-os sobre um balcão onde ficavam meus livros e Poções. Fred desceu, trazendo meu café. Eu esquecia completamente de todas as refeições. Era Fred quem as lembrava para mim. Ele tratava de não me deixar morrer de inanação.

– Sem sucesso? – concordei com a cabeça enquanto mastigava uma torrada. Não estava me dando bem com algumas poções.

Retirei o resto e folga e fiquei vagando pela loja, vendo como eles a organizavam. Se meu pai me visse teria um ataque cardíaco. Ele não quereria me ver como vendedora de artigos. Snape esperava mais de mim. Eu também, porém teria de esperar um pouco mais.

Fred tinha insistido para sairmos. Estava me estressando e aceitei felizmente. Ele disse que era um jantar modesto sem todas as regalias de nosso último jantar, onde vestimos roupas de gala. Mas mesmo assim me atrevi a usar uma roupa que marcasse minhas curvas. Era uma versão menos sexy do vestido vermelho que eu usara. Ainda era longo e deixava minhas costas e ombros nus, mas o corte na coxa desaparecera. Quando Fred me viu abriu um sorriso tímido.

– Deveria ter me produzido também.

Ele usava um terno negro simples, sem gravata. Sua camisa estava levemente aberta. Ajustei o colarinho dele e lhe beijei.

– Não precisa se arrumar para ficar bonito.

– O mesmo digo de você – ele envolveu minha cintura, mas me afastei. Precisava pegar minha varinha e minha bolsinha.

Estava indo preparada. Na bolsinha eu guardei meus coturnos. Não passaria a noite toda em cima de um salto. Havia também algum dinheiro trouxa e bruxo. Eu não era uma mulher normal. Normalmente em uma bolsa se leva maquiagem, espelho, agenda e outras coisas.

Saímos pela noite, andando pelas ruas do Beco Diagonal. Atravessamos o Caldeirao Furado. Ainda podíamos atravessá-lo; não era tão tarde da noite. Andamos alguns metros e pegamos um taxi. Estava me sentindo em lua de mel, o que era praticamente o que vivíamos.

O restaurante em que paramos era um simples, mas requintado. O adentramos e sentamo-nos. Enquanto esperávamos o pedido, eu percebia olhares sobre mim; Fred também, por isso ele puxou minha cintura e beijou-me.

A sobremesa era sorvete de creme. Dividíamos uma, pois eram o bastante para nós dois e ainda sobraria. Eu estava rindo da lembrança de quando pagamos o restaurante chique com dinheiro bruxo, quando Fred deixou de lado a taça de vinho e retirou uma moeda do bolso. Percebi que era um Galeão. Fred o olhou atentamente e a virou.

– Por que está lendo uma moeda?

Ele olhou para mim e a guardou de volta.

– É um meio de comunicação. Harry está em Hogwarts e os membros da Armada e Dumbledore estão sendo chamados.

Eu me lembrava do grupo que eles formaram, mas achei que tivesse acabado quando Umbridge os descobriu.

– Se estão te chamando e por que é importante – levantei-me, deixando o guardanapo sobre a mesa. – O que está esperando Fred? Não vou ficar aqui sentada tomando vinho, enquanto precisam de ajuda.

– Mas você...

Eu sorri e puxei meu cabelo para fazer um coque. Abri minha bolsinha e retirei meus coturnos. Troquei-os pelos meus saltos. Deveria ser uma visão cômica eu de vestido e coturno, por isso peguei a faca da mesa e abri um buraco na altura de minha coxa e rasguei o restante do vestido. Fred me observava surpreso.

– Agora vamos. Estou preparada.

Os clientes do restaurante deviam achar que eu era louca por ter rasgado meu vestido. Bem, eu estava louca, mas era para ver o que estava acontecendo em Hogwarts. Do lado de fora do restaurante desaparatamos para Hogasmead. Quando chegamos lá, Hogwarts estava toda iluminada e o Cabeça de Javali estava aberto. Fred puxou-me para o bar. Lá dentro descobri porquea algazarra: havia inúmeros estudantes e outras pessoas. Cabelos ruivos voaram para cima de mim e quando me afastei, vi que era Molly. Ela me abraçou.

– Que bom te ver bem.

– Obrigada – olhei para o restante e vi Jorge com Gina conversando com um homem idêntico ao Dumbledore. Parecia que ninguém havia reparado no gesto que Molly fizera para mim. Era surpresa o bastante ela me abraçar.

Usamos uma passagem sobre a lareira. Ela era o suficiente para uma pessoa passar, mas se apertava quanto mais do final chegávamos. Quando atravessei a luz, irrompi na Sala Precisa e um monte de varinhas era apontada para mim.

Levantei minhas mãos.

– Ok. Acho que mereço isso – Fred apareceu logo em seguida. Puxei-o para o meu lado. – Mas não vão querer matar a esposa de seu melhor amigo, não é?

Longbottom apareceu em meu campo de visão. Ele estava muito diferente do que eu lembrava.

– Você é uma Comensal...

– E minha esposa, Neville – os olhares todos caíram sobre nós. – Ela está falando a verdade. Estamos juntos nisso tudo e se não confiam nela, não confiam em mim.

–Aira? –virei-me na direção de onde ouvira alguém gritando, vi um emaranhado de cabelos loiros. Ela olhou para mim e veio correndo. Empurrei Fred e corri até ela.

Abraçamos-nos e Ketlen me apertou tanto que era perigoso quebrar uma costela minha. Afastei-a e ela estava segurando as lágrimas.

– Sabe o que fez? – socou meu peito. – Achamos que estivesse morta. Sem notícias suas por um mês. Que espécie de irmã é você? – ela gritava comigo.

Eu ri e ela ficou com mais raiva ainda, batendo em mim. Segurei seus braços.

– Nunca estive mais viva. Agora pare de me bater – ela abaixou os braços e fungou.

– Onde esteve?

– Em todos os lugares. Paris, Sheffield, Warcester, uma cidade nos Estados Unidos... Tudo na companhia de Fred e Jorge. Nunca estive sozinha.

Ela engoliu o choro e abraçou Fred. Fui pega de surpresa.

– Eu deveria te socar.

Jorge entrou e começou a contar o que sabia. Ela não precisava falar muita coisa, o Trio de Ouro estava ali. Manti-me distante, enquanto eles conversavam. Os dormitórios eram evacuados e os professores ajudavam. Auxiliei todos a saírem e quem não queria, eu empurrava para dentro, mas sempre havia os fujões.

Houve a primeira explosão e todos ficaram paralisados. Apertei a mão de Fred, sentindo seu calor.

– Não posso ficar aqui – disse para Fred e mostrei meu braço. A marca estava visível novamente e se contorcia. – Ele me chama.

Não esperei por Fred, sai da sala, correndo. Sentia algo estranho. Precisava mover-me. Corri pelos corredores e fui até ao gabinete do diretor, mas ele não estava mais lá e a janela estava quebrada. Olhei pela janela e vi o terreno amplo e pontos correndo pelo gramado. Não havia dúvidas do que estava acontecendo.

Eu teria sido louca o bastante para pular a janela como meu pai fizera, mas não sobreviveria a queda. Desci a escadaria correndo e segui rapidamente as pessoas que corriam até o Salgueiro Lutador. Quase fui atingida por um galho, mas abaixei bem na hora, a tempo de me lançar no buraco. O chão era de terra, mas não impedia de esfolar meu joelho ali.

Segui o grupo alguns metros atrás e quando eles pararam, aproximei-me, mas mantive distância segura. O que veio a seguir deixou-me furiosa. Meu pai foi de alguma forma leal a Voldemort e no final ele o gratificou com uma mordida de Nadine. Harry saiu do buraco e aproveitei para segui-lo. Passei por Rony e Hermione, que gritaram e me xingaram. Emergi do buraco e Potter me encarou, enquanto segurava um frasco em mãos. Eu conhecia o frasco.

Meus olhos pairaram sobre meu pai no chão. Com os olhos abertos e segurando o pescoço destroçado. Deixei-me cair de joelho ao lado dele e apertei suas mãos, ensopando as minhas com seu sangue.

– Aira... – lágrimas desceram pelo meu rosto. Meu pai estava morrendo. – Você está aqui.

– Desculpa por ter fugido, mas eu precisava – ele levantou uma mão e tocou meu rosto. – Eu... Eu tenho algo para lhe contar.

Respirei fundo. Não queria matá-lo com as notícias.

– Quando fugi de casa queria saber a verdade do passado de minha mãe. Descobri. Mas também me mantive longe por causa de você, da mamãe e meus irmãos. Se eu ficasse longe era mais fácil de mantê-los a salvo – meu pai olhava-me e quando tentou falar, o impedi. – Fugi com Fred e Jorge. Eles me seguiram onde eu fui. Eles me protegeram pai. Fred me ajudou quando mais precisei, quando... – sorri para ele. – Quando perdi meu bebê. Você ia ser avô.

Meu pai tossiu sangue e gemeu.

– Não queria... Me ver assim... – a voz dele estava fina e fraca. Comecei a procurar minha bolsinha, mas ele segurou meu braço. – Não tente me salvar – ele sorriu seus dentes manchados de sangue. – Saber que você cresceu e se tornou mulher... – tossiu mais uma vez e olhou para mim. – Não me arrependo de nada e você também não devia... – ele fechou os olhos e uma lágrima desceu por seu rosto. – Sinto muito por tudo o que aconteceu com você... Não estive sempre lá para lhe defender, mas espero que o homem que você ama faça isso em meu lugar – ele apertou minha mão com força. – Talvez eu não tenha sido o melhor pai do mundo...

- Você foi – abraceio-o e chorei em seu peito. – Você é papai. Eu te amo. Não pode ir – o coração dele batia lentamente. Cada vez mais fraco. Levantei-me e vi o brilho dos olhos dele se apagando. Ele morreu em meus braços. Fechei seus olhos e beijei sua testa.

Levantei-me toda ensangüentada. Não pude salvar meu pai. Arranquei o Vira-Tempo que eu tinha no pescoço e joguei contra a parede, quebrando-o. Não usaria de um artefato para salvá-lo. Meu pai me dera por algum motivo, mas não podia usar aquilo.

Passei por Harry e entrei no buraco, passando por Hermione e Rony. Sai para a luz da lua e olhe para Hogwarts que queimava. Não fui para o castelo, permaneci olhando o céu e as estrelas que eram testemunha da batalha entre as Trevas e o Bem. O trio saiu do buraco e me viram. Peguei minha bolsinha e retirei minha capa de Comensal da Morte dali de dentro. Coloquei-a e puxei o capuz, tapando meu rosto.

Atravessei os terrenos e fui lançando feitiços em todos os que eram aliados de Voldemort. Atravessei a floresta e parei em uma clareira. Ele e os comensais mais importantes se encontravam ali. Aproximei-me de Voldemort e abaixei meu capuz. Ouvi alguns guinchos de supresa.

– Feliz em me ver? – Voldemort estava impassível. Virei-me e olhei para todos. Andei até Narcissa e Lucio. – Você ainda continua aqui... – inclinei minha cabeça para o lado.

– O que aconteceu com você? – Narcissa perguntou com sua face horrorizada. Minha aparência deveria estar tenebrosa.

Eu não queria que ninguém soubesse da morte de meu pai, mas todos ali já poderiam saber. Virei às costas para eles e continuei meu caminho. Meus serviços não eram mais necessários para Voldemort. Em meu caminho sinuoso pela floresta, via a batalha acontecendo. Hogwarts já não era mais silencioso e seguro.

Corri para dentro e vi a cacofonia que ocorria ali. Eram Comensais revidando e os outros os encurralando. Os Comensais eram poucos. Eu não estava em boa vantagem com aquela capa. Apressei-me e subi as escadas. Precisava encontrar Fred de volta.

Eu o encontrei. Estava correndo pelo corredor, quando o vi no final do corredor com Jorge e seu outro irmão – que acho quer era o Percy – corri ao vê-lo, sem parar por causa dos destroços, apenas os pulando e desviando. Vi Harry, Hermione e Rony na encruzilhada e continuei correndo, até que soltei um grito, quando um Comensal quase me acertou com um feitiço. Parei ao lado da parede e revidei, mas antes ele destroçou uma parede ao lado de Fred. Procurei minha voz para gritar para ele sair, mas foi tarde demais, a parede caira sobre ele.

Percy estava gritando e jogou-se sobre o entulho e começou a escavar. Corri e juntei-me a ele. Fred não podia morrer. Ele também não. Lágrimas embaçavam minha visão.

– Seu idiota! – gritei. – Se você morrer, não te perdoarei nunca! – solucei e coloquei a mão sobre uma pedra e arranquei com toda a forla que pude. – Quem foi que me prometeu um casamento e filhos?

Jorge e Rony puxaram Percy, mas eu continuei ali, soluçando e chorando, enquanto escavava. Encontrei o rosto dele e comecei a cavar mais rapidamente. Minhas unhas estavam em carne viva, mas eu continuava. Jorge aproximou-se de mim e tentou me puxar, mas o empurrei.

– Me deixem! – olhei para ele com lágrimas nos olhos. – Eu perdi tudo. Não podem me fazer perdê-lo!

Jorge abaixou-se a minha frente.

– Ele está morto Aira. Eu não queria, mas meu irmão...

– Não! – bati no peito de Jorge. – Fred não pode morrer. Ele... Ele disse que ficaria comigo. Nosso bebê...

Jorge abraçou-me e eu chorei em seu ombro. Não sei quanto tempo se passou em que eu chorei.

– Você deveria voltar.

Balancei a cabeça em negativo. Queria ficar com Fred por mais algum tempo.

– Eu vou ficar bem. Só... – olhei para o rosto pálido de Fred. – Só preciso me despedir dele.

Jorge aceitou minha condição e foi com Percy. Eu nem havia visto que o trio tinha ido há algum tempo.

Sentei-me ao lado do corpo de Fred e o observei. Levaram tudo de mim: meus pais adotivos, Giulia, meu filho, meu pai e agora Fred. Voltei a chorar, mas em silêncio. Olhei para seu rosto novamente. Que espécie de médica eu seria se não tentasse salvar uma vida?

Peguei minha varinha e retirei todas as pedras sobre ele. Retirei todas minhas poções e utensílios para a medicina bruxa. Primeiro eu precisava reavivá-lo. Coloquei a varinha sobre seu coração e sussurrei um feitço de eletro choque. O corpo dele saltou, mas nada. Fiz isso outras três vezes e nada. Na quarta, minhas esperanças estavam quase mínimas, quando apliquei mais uamv ez. Os olhos dele abriram e ele respirou.

Joguei-me sobre ele, abraçando-o.

– Aira? – olhei-o e toquei seus lábios, chorando sobre ele. – Fiquei quieto. Tenho de ajeitar seus ossos.

Ele olhou-me desorientado, mas não esperei que ele entendesse. Puxei sua perna esquerda e ele gritou quando a coloquei no lugar. Verifiquei suas costelas e amenizei algumas dores na lombar e cabeça.

Fred apalpava a cabeça, onde eu fizera um curativo para cobrir um corte na sua testa. Não iria curar algo daquele tamanho. Ele sorriu para mim.

– Achei que estivese morto.

– Bem, sua família acha que você está morto.

Fred puxou pegou meu braço e puxou-me para ele. Seus lábios eram doces. Não houve tempo para nos beijarmos mais. A voz de Voldemort invadiu o corredor. Um calafrio passou por minha espinha. O que ele falava era impossível. O idiota do Potter não podia estar morto. Meu pai morrera por nada?

– Harry, morto?

Eu também não acreditava. Levantei-me e ajudei Fred a ficar em pé. Ele ainda estava meio zonzo, quando encosrou em mim.

– Devemos nos juntar aos outros – disse. – Ele não pode estar morto.

Fred concordou com a cabeça e apalpou a testa. Vagarosamente percorremos os corredores aos pedaços e descemos escadas pela metade. Antes de chegarmos ao Salão Principal, ouvi uma voz familiar:

– Uma grávida no meio de uma guerra?

Olhei para minha direita e a vi. Era ela. Laura Cheege vestia um vestido roxo simples e por cima uma capa de Comensal da Morte. Larguei Fred, que quase caiu no chão. Apontei minha varinha para a mulher a minha frente.

– Não estou mais grávida – ela fingiu surpresa. – Você sabia que eu abortaria, mas como?

Ela andou dois passos para sua esquerda e eu movi a varinha para ficar rente a ela.

– Você deveria ser inteligente para saber que desaparatar é proibido para gestantes.

Por que você acha que somos intruidos aos dezesseis anos? Por causa dos riscos.

Laura abriu um sorriso. Se aquilo era possível, eu era a culpada?

– Você matou meu filho...

Pulei até ela, derrubando-a no chão.

– Sua desgraçada! – bati em seu rosto com meu punho fechado. O nariz dela fez um clack quando a acertei. – Você fez tudo isso por inveja e falta de amor próprio! – eu a batia com força e ela tentava me impedir, mas era inútil.

Laura puxou meus cabelos e arrancou um punhado, mas pouco me importei.

– Você matou sua família. Você matou a minha família! – peguei minha adaga, que escondi na bolsa (na verdade era uma cópia) e forcei contra seu pescoço. – Você não merece ser perdoada...

– Aira, pare com isso! – Fred pediu, mas o ignorei.

Olhei para Laura e senti mais ódio dela do que todas as outras pessoas. Até mesmo de Voldemort. A culpa era mais dela do que a daquele outro monstro.

– Matê-me garota – ela olhou-me e sorriu. – Não terá coragem de me matar – ela riu. – Eu matei muito para te impedir de chegar a verdade, mas no final ela sempre prevalece. Os refugiados na rodovia fui eu que os fiz sair de suas casas...

Bati no rosto dela com minha mão livre. Levantei minha mão direita e olhei para Laura.

– Adeus, Laura. Nos vemos no inferno – desci a adaga, mas diferentemente do olhar dela, que lhe traia, eu não enterrei o metal em sua carne.

A arma estava fincada na pedra, próximo ao braço dela. O peito dela subia e descia freneticamente, assim como o meu. Levantei-me, segurando a adaga e a guardei dentro de meu coturno.

– Você...

– Poupe suas palavras – olhei para a Marca Negra e ela estava nítida ainda. – Todo esse tempo eu pensei que quisesse feri-la. Já lhe feri uma vez e foi o bastante – suspirei. – Não adiantaria de nada fazê-la sofrer – lhe dei as costas e andei até Fred.

A batalha continuava ao meu redor. Estava tão absorta na discussão com Laura que não reparara no turbilhão de pessoas ali. Comensais caiam ou fugiam. O que eles faziam não era o bastante contra todos os outros bruxos, que revidavam com tudo o que tinham. Era uma média de três bruxos para cada Comensal.

Laura se encolheu num canto, abrigando-se a batalha, mas ela também a assistia. Não digo que estava fascinada pela carnificina. Pessoas morreriam e eu não poderia salvá-las. Feridos caiam e eram ajudados pelos amigos ou estranhos que compartilhavam a mesma causa. Gritos, choros, suspiros, lamentos, formavam a canção que dava boas vindas ao amanhecer.

O sol despontava quando Voldemort caiu pelas mãos de Harry Potter. Nunca tinha colocado esperança nele, nem mesmo quando meu pai disse que havia uma profecia que o envolvia. Profecias... Eu tinha uma também. Naquele meio tempo em que apontava a adaga para Laura, cheguei a imaginar que a profecia seria verdade. Não queria me transformar em uma alma negra.

Ofereci ajuda aos feridos e todos agradeciam. Éramos mágicos, mas magia não curava tudo, especialmente quando o medibruxo usa demais sua magia. Improvisei fazendo curativos manuais, dos quais eram em machucados menos sérios. Uma perna quebrada eu colocava no lugar. Um corte na testa, eu passava um cataplasma e o prendia com uma faixa.

Passei horas a fio curando os feridos e Fred me ajudava, mas em um momento ele saiu e voltou acompanhado de senhores. A postura deles era de bruxos vividos, alguns sábios. Terminei de cutucar meus machucados e enrolei meu braço em uma faixa. Eu não havia percebido que me cortara. Não era algo grave, mas eu precisei limpá-lo.

– Aira – olhei para Fred e levantei-me. – Esses aurores...

Um dos três aurores tomou partido e aproximou-se.

– Você está presa pelos crimes contra os bruxos e trouxas.

Ele era direto. Juntei meus pulsos e ofereci-me para ser algemada. Eles olharam-me espantados. Fred abriu a boca para protestar, mas falei antes dele:

– Vou pagar por meus crimes. Já fiz tudo o que podia aqui.

– Você não pode ir presa.

Abracei Fred e o beijei. Não queria que fosse nosso último momento juntos, mas queria uma recordação boa antes de ir para Azkaban ou qualquer outro lugar. Quando nos separamos, Fred estava chorando. Sorri para ele. 


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Notas finais do capítulo

Não chorem, guardem as lágrimas para o que tem por vir.



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