Aira Snape - A Comensal escrita por Ma Argilero


Capítulo 17
Revelações


Notas iniciais do capítulo

Tentei postar antes, mas o Nyah não deixava e ando muito ocupada. Espero que gostem.
Deem uma olhadinha lá embaixo depois.



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Entrei na cabana de Hagrid e ele ofereceu a mim um cobertor. Enrolei-me e passei-o em meu rosto. Era tão fofo e aconchegante. Enquanto eu me deliciava com a maciez de meu protetor de algodão, Hagrid preparava um chá.

Vi uma figura parada no chão, babando incessantemente. Era um cachorro grande. Aquela baba toda começou a me dar ataque de coceira. Tentei evitar o nojo e a alergia a longa distância, mas era inevitável. Passei as mãos pelos meus braços, pensando em amenizar, porém só piorou.

Para distrair-me da alergia, comecei a olhar ao redor. A cabana era pequena, mas bem confortável. Peguei meus sapatos e os coloquei. Senti-me bem melhor e poderia sair, mas não achava justo não me despedir dele. Continuei sentada, observando-o pegar alguma coisa dentro de um armário.

Minha curiosidade acerca o que fazia cessou, assim que ele pôs uma tigela com biscoitos e uma caneca de chá a minha frente. Os biscoitos estava bem atrativos. Não recusei pegar um, mas depois de morder, arrependi-me de ter pegado-o. Devolvi à tigela e tomei um pouco do chá, que estava bom para minha felicidade.

– Obrigada.

– O professor Snape tem uma boa filha.

Sorri. Não era todo dia que falavam de meu pai sem recentimentos.

– Todos ficamos surpresos ao saber que ele tem uma filha.

– Meu pai não é muito decifrável. Você vive muito tempo aqui em Hogwarts, não?

Eu esperava que Hagrid não suspeitasse do que eu queria, realmente.

– Entrei em Hogwarts quando Dumbledore ainda era professor.

Imaginar Dumbledore como professor não era difícil. Ele deveria ser bem legal e amado por todos seus alunos.

– Hagrid – ele olhou-me. Aqueles olhinhos de besouro. Muitos já suspeitaram dele no passado, mas pra mim ele é inofensivo. Não machucaria nenhum ser vivo. Desde que eu me lembre, de quando entrei em Hogwarts, ele tratava todos os animais com carinho. – Como era antigamente? Bem, você deve ter visto muito bruxos. Eles sempre foram preconceituosos quanto aos mestiços desse jeito?

Ele sentou-se em uma cadeira à minha frente. Não me sentia mais fria, porém o cobertor dava-me uma sensação de proteção a mais. Depedendo da resposta, talvez eu precisasse dessa proteção.

Eu já ouvira histórias acerca de Hagrid. E ele sempre foi discriminado por ser meio gigante.

– Muitos deles eram. Mas não é tão intensa quanto na época em que ele vivia... – ele parou, olhando-me. – Não devia ter dito isso!

A ênfase no ele, dava-me a suspeita de ser o Voldemort. Eu queria conversar mais sobre àquela época, mas eu precisava voltar para o castelo e seguir com meu dia e também suspeitava que não contaria-me mais nada. De qualquer forma meu pai saberia de minha fugida da aula de Poções.

– Obrigada pelo cobertor e o chá.

Ao sair, senti o vento frio de encontro ao meu rosto. Andei rapidamente em meio ao vento, procurando me proteger com meus braços ao redor de meu peito.

Era almoço. Entrei direto, esfregando meus braços e espirrando. O chá só havia dado efeito naquela hora. Eu merecia estar gripada pela minha total negligência. Sentei-me à mesa e espirrei mais três vezes seguidas. Todos do salão me olhavam.

Parkinson que não perdia um momento para me jorrar seu veneno, fez seu comentário do dia. Ela ficou quase duas semanas sem me importunar; o acumulo de desprezo tinha de ser liberado de alguma forma.

– A responsável matou aula e agora volta doente.

– Vá catar bosta de dragão, Parkinson! – todos riram com meu novo insulto. – Só quero comer em paz.

Draco olhava-me. Ele não estava preocupado, parecia mais ansioso por conversar comigo. Desde o baile eu não conversava com ele. Totalmente o ignorei.

Foi difícil eu comer algo. Minha garganta doia, sentia meus ossos doloridos e uma forte dor de cabeça. Ninguém insistia para eu comer, mas eu queria. Não podia ficar doente. Se fosse um resfriado eu até não me importaria, mas havia a suspeita de gripe.

Sem resultado no almoço, decidi ir até o dormitório e tomar um banho quente. Eu só precisava descer alguns andares. Enquanto eu andava pelo corredor, formado pelas mesas da Sonserina e da Lufa-Lufa, sentia minha cabeça girar e meu corpo doer. Fechei meus olhos na tentativa de ficar melhor, mas só piorava.

E minha mente trabalhou para o que estava acontecendo. Todos estavam presentes. Eu tinha que aguentar. Antes que eu pudesse seguir para meu dormitório ou qualquer lugar, desmaiei no meio do salão.

Como eu descobri antes de apagar em meio à escola toda, eu estava com princípio de hipotermia. Meu pai fazia perguntas de como eu consegui pegar tal doença para a enfermeira, que lhe respondia.

Eu deveria ter um passe livre pra enfermaria. Não tem ano em que eu esteja em Hogwarts que não acabo indo pra lá. Não era preocupante ir por demaio ou febre, mas hipotermia era grave, até no mundo dos bruxos.

– Pra que tanto drama? – os dois olharam pra mim. – Estou bem.

– Não, não está.

Madame Prowfen saiu, deixando-nos a sós.

Ele sentou-se ao meu lado.

– Sua negligência continua viva.

Eu devo ter feito uma expressão de incompreensão, pois ele riu levemente e afagou meu cabelo. Ultimamente ele estava expressando muito suas emoções comigo. Eu gostava disso, mas ainda não me acostumei. Sempre o vi carrancudo e odiando certas pessoas. Somente comigo que podia demonstrar o que realmente sentia.

– Está na hora de eu revelar tudo a você.

Olhei-o. Revelar o quê? O que meu pai poderia estar escondendo de mim? Não queria pensar no que poderia ser dito a mim.

– Exatamente o que escondeu de mim?

– Hayley.

O que mais eu tinha de saber sobre a minha mãe? Ela estava morta. Eu não queria saber do passado dela e descobrir o quanto somos parecidas em aparência e personalidade. Prefiriria imaginar ela como alguém normal. Ser a sombra de alguém me deixava miníma e depressiva.

Meu pai olhou dentro de meus olhos e suspirou. Colocou a mão dentro de sua capa e retirou um recorte de jornal velho. Entregando a mim, pude ver a manchete e uma imagem de um casal e uma garota.

Observando bem, notei a semelhança da mulher comigo e, consequentemente, minha mãe. Eu poderia jurar se ela, se não estivesse morta há dezesseis anos.

– Leia.

Engoli em seco e comecei a ler. A cada palavra queria entender o motivo disso tudo, até que vi o nome Hayley Mikles destacado em meus olhos. Não podia ser coincidência o nome e a aparência.

– Hayley?

Ele recolheu o recorte, guardando-o.

– Eu deveria ter lhe contado antes, mas não queria te fazer sofrer mais.

– Obrigada por dizer que minha mãe está viva e com outra família há quilômetros de distância de mim!

Com o humor normal dele, ele teria rebatido o que disse, mas apenas bufou em resposta, aceitando minha dor de saber algo tão importante daquela maneira.

Deitei-me na cama, ficando de costas pra ele e apertando a colcha contra minha boca. Eu queria chorar, jorrar tudo que sentia, mas também queria ser forte. Esse conflito interno me matava e desgastava minhas energias e magia.

A mágica estava ligada aos sentimentos também. Quando estavam com raiva usamos magia sem consentimento. Muitas vezes me peguei ao redor de objetos quebrados pela minha fúria. Mas a minha magia estava indo embora, enquanto minha depressão tomava conta.

Pensei que a enfermeira me faria um interrogatório para saber do meu humor instável, mas ela, como todos ignoraram essa parte de mim. Meu pai, porém, poderia ter precebido. Era uma pequena esperança. Eu não queria contar para ninguém da depressão. Parkinson encontraria mais uma forma de me afrontar e dessa vez eu não teria armas para lutar.

Apertei meus olhos, prendendo as lágrimas. Funcionou, mas eu sabia que mais cedo ou mais tarde elas cairiam de vez.

– Por que agora?

Snape não tentou fazer-me olhá-lo, apenas repondeu à minha pergunta:

– Nem eu acreditava que ela tem uma nova vida. Até alguns anos atrás pensei que estivesse morta.

– Ela me abandonou?

As lágrimas cairam. Nem me dei ao trabalho de limpá-las.

– Descobri muito do qual você não sabe.

– Conte-me então! – virei pra ele, que olhou-me temeroso. – Eu quero saber por que a outra família dela merece atenção e eu não!

Meu pai afastou a colcha e limpou meu rosto com sua mão.

– Não é tão fácil assim, Aira. Se eu contar tudo de uma vez, você pode ficar pior. Sei que não está tudo bem com você.

Virei meu rosto. Ele não tinha noção de minha doença, mas, pelo menos, sabia que eu não estava feliz.

– Mas vai me contar?

– Aos poucos, mas vou – ele beijou minha testa. – Mas agora preciso que você melhore. Descanse.

Ele se afastou de mim e saiu pela porta. Vi a capa dele oscilando e lembrei-me de quando o conheci. Eu não sabia que o professor de Poções exigente e odiado pelos alunos – exceção sonserinos – seria meu pai.

Recebi alta, mas antes que eu pudesse seguir para o café da manhã no Salão Principal, madame Prowfen fez-me a pergunta que eu tanto queria ouvir de alguém:

– Por quanto tempo esconderia?

– Exatamente do que a senhora está falando?

Ela olhou-me e lançou um olhar de repressão. Eu não me entregaria tã facilmente.

– Todos os sintomas remetem em depressão.

Ela era a enfermeira. Era seu dever diagnosticar qualque mudança em mim ou comigo.

– Descobriu ontem ou faz tempo? – rebati contra ela.

Ela deixou a bandeija com os fracos de poções sobre a mesa e veio até mim. Examinou-me detalhadamente e depois veio seu diagnóstico:

– Não é comum bruxos ficarem depressivos, mas já vi casos em que a depressão sugava a magia. E é o que está acontecendo no seu caso.

Bem que ela podia dizer algo que eu não sabia. Eu sabia quanto a minha magia estar indo embora, mas a depressão fazer isso era novidade. Mas não era uma hipótese descartável, já que a depressão retira a alegria de nossas vidas e a magia é uma parte boa de nós.

– Mas posso ajudar com poções. Porém você terá de fazer sua parte.

– O que por exemplo?

Andando entre os armários com poções, ela retirou alguns fracos e foi colocando sobre a mesa. As cores variavam de claras à escuras. Não tinha certeza se meu sistema aguentaria toda aquela carga de endorfina.

– Você sempre foi instável, mas algo de forte impacto fez com a depressão lhe atingisse – ela selecionou quatro poções e entregou a mim. – Além de tomar essas poções, procure ficar entre pessoas que você goste.

Era fácil ela falar. Não sabia de minha relação tapas e insultos com Parkinson e as Cheege. Não me importava de ser odiada, mas elas conseguiam fazer eu ficar pra baixo e acabar com meu dia. E a minha entrada no grupo dos comparsas de Voldemort, acabou acarretando issso.

Voltei ao meu dormitório e peguei meu material do dia. A primeira aula seria daqui meia hora. Mas antes de entrar no Salão Principal e fazer meu desjejum, segui em direção pra fora do castelo. Seguindo a trilha, cheguei à cabana de Hagrid. Respirei fundo e bati na porta.

Não demorou muito e ouvi a resposta, mas não veio de dentro da cabana, mas sim fora. Andei até o outro lado e vi Hagrid cuidando da horta.

Ao me ver, ele limpou as mãos e veio até mim.

– Parece melhor.

– Obrigada. Eu vim agradecer por ontem – Ele foi tão gentil comigo. Merecia retribuição.

Hagrid sentou-se em cima de uma abóbora e olhou-me.

– Ultimamente tenho andado sozinho. Foi bom conversar.

Sentei-me ao seu lado. Eu ficava muito pequena ao lado dele.

– Foi legal conversar com você também. Mesmo tendo tomado o chá, fui parar na enfermaria – repentinamente ele olhou-me preocupado. – Mas estou bem.

– É bom entrar e ir pra aula – ele levantou-se e seguiu com seu trabalho com seu trabalho de recolher as abóboras. – Está ficando frio.

Eu retornei ao castelo. Dessa vez usava camadas de roupa protetoras. Ninguém se incomodou em ver-me de sobretudo preto. Eu parecia até que estava trabalhando. Eu parecia morta, pra dizer a verdade. Meu rosto sem maquiagem e meu cabelo desbotado davam-me essa aparência.

Juntei-me com minhas amigas na mesa da Grifinória. Elas me olharam assustada.

– Está bem? Parece que vai a um enterro.

Ângela sempre com seu humor contagiente.

– Só se for no enterro de minha mãe.

Peguei um torrada e quando ia colocar na boca, Ângela a retirou e jogou longe.

– Eu ia comer!

Não conseguia entender como fui me tornar amiga de um ser como ela. Apenas não me deixei ficar estressada.

– Conte os detalhes. E sua mãe já não tá morta faz tempo?

– Ângela! – Clara advertiu a irmã.

E a nossa conversa fraternal era assistida pelos grifinórios mais perto de nós.

– A roupa é uma forma de eu não morrer de hipotremia ou qualquer coisa que se pegue com frio excessivo – tomei um gole de chá e olhei. Bufei e olhei Ângela. – Ela está morta e enterrada. Meu humor não é um dos melhores hoje.

Levantei-me. Tinha que encontrar alguém em particular. Como não o avistei na mesa da Sonserina, poderia estar na Sala Precisa. Mas antes que eu pudesse sair, Clara puxou meu braço, sussurrando em meu ouvido para me acompanhar até o banheiro do segundo andar. Chegando ao banheiro, ela foi direto ao ponto:

– Que foi aquilo de dizer que ia ao enterro de sua mãe? Você não traria à tona uma história dolorida como essa se não estivesse magoada.

Eu gostaria muito que Clara parasse de observar as pessoas tão atentamente e ser capaz de saber quando tem algo de errado com ela. Nunca vi pessoa mais compreensiva e observadora que ela. Eu gostava da atenção que estava me dando, mas contar sobre minha dor não era agradável. Mas depois de milhares de olhares suplicantes – como ela consegue fazer isso? – cedi o que me atormentava.

– Fiquei sabendo que ela está morando nos Estados Unidos e tem uma família.

Clara suavizou a expressão, mas não deixou em branco nada. Ela me conhecia tão bem, mas sabia que não era só isso que me fez agir como idiota nos últimos dias e suicida no dia anterior.

– Posso te ajudar.

– Como?

E Clara contou-me que seu irmão, Julio Salvatore, trabalhava no ministério dos Estados Unidos e poderia conseguir informações acerca de minha mãe. Eu não queria aceitar, mas nunca saberia do por quê de ter me deixado para viver lá. Fiquei em dúvida se Salvatore faria esse favor por mim. O tanto que já o desprezei e a última vez em que conversamos – não foi bem uma conversa, mas sim agarramento – ele não estava muito feliz.

Minha amiga garantiu que o irmão não se importava, já que ele estava namorando fazia algum tempo. Sorte a dele. Alguém precisava ser feliz nesse círculo em que me encontro.


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Notas finais do capítulo

Estou divulgando o meu fórum [http://paranoidwriter.forumeiros.com/forum]. Gostaria de que dessem uma olhada pelo menos. Está no começo de movimento e queria ver mais pessoas lá.
Talvez haja uma posição de valor lá para novos integrantes.



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