Aira Snape - A Comensal escrita por Ma Argilero


Capítulo 10
Quê?


Notas iniciais do capítulo

O título do capítulo pode ser interpretado de duas maneiras. No decorrer da história dá pra entender.
Espero que gostem e comentem.



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Os dias foram se passando e meus encontros com Jean não eram tão frequentes quanto nos primeiros dias. Eu sabia que ele tinha muitas coisas para fazer por causa dos N.I.E.Ms, e até respeitava, mas quando eu o procurava ele me dispensava, dizendo que estava cansado ou que precisava terminar algo de alguma matéria.

Eu sabia que os estudos eram importantes para ele. Também eram para mim. Eu estudava como qualquer um de Hogwarts, mas precisava me distrair das obrigações, assim como ele também devia. Cansei de correr atrás dele. Ele que viesse atrás de mim e implorasse para namorarmos. Eu, nem mais, sabia se queria tanto sua companhia.

Passava meu tempo livre entre minhas amigas ou na biblioteca ajudando Draco. Ele não era horrível, apenas não se concentrava direito. As notas dele eram decadentes em Herbologia. Algo que não sei se era possível até eu ver. Essa matéria ra uma das mais fáceis. É só lidar com plantas e pronto, mas para ele era um martírio profundo. Até parecia que ele tinha alergia.

Eu estava procurando um capítulo que explicasse as funções que uma Aloe Vera possuia, quando ouvi gritos. Era proibido fazer qualquer tipo de barulho na biblioteca. Clara apareceu ao lado de minha mesa e Ângela logo em seguida. Draco levantou os olhos, mas depois voltou as suas anotações. Com certeza pensava que logo a seguir viria uma conversa de mulheres, o que não era totalmente errado.

Clara respirou profundamente e soltou tudo de uma vez:

– Vaihaverumbaileevamosorganizá-lo.

Tentei decifrar a linguagem em cógidos. Parecia até grego pra mim. Ângela riu. Ela sabia do que se tratava. Apenas esperei Clara retomar seu controle.

– Bem é que vai ter um baile aqui em Hogwarts.

A última vez que tivera um baile foi quando houve o Torneio Tribuxo e ele não trás muitas lembranças agradáveis, também por ser o ano em que ganhei um par de chifres.

– E quando vai ser? – perguntei, tentando demonstrar meu interesse. Pelo menos um baile retiraria toda essa tensão no castelo e sobre meu relacionamento com Jean.

Clara fitou-me e sorriu.

– No Dia das bruxas, no Halloween – eu não lembrava de ter tido, alguma vez, baile de Halloween em Hogwarts. Talvez tivera e eu não soube. – Eu e a Ângela vamos organizar – Pensei em diversas chantagens emocionais e perjurativas para Ângela ter aceitado fazer parte do Comitê do baile. – Com você.

Olhei para elas, não acreditando na última frase. Clara devia estar tirando uma com a minha cara. Não havia mais nada em que pensar que não fosse isso.

Eu não organizaria nenhum baile e muito menos aceitaria.

– Não vou.

– Não dá pra voltar.

O modo que a Ângela falou parecia que não havia saída.

– McGonnagal escolheu as duplas, uma de cada casa. Eu e Ângela da Grifinória, você e o Malfoy, da Sonserina, além de mais outros que não sei o nome.

Como assim eu e o Draco? Ele deveria estar adorando isso. Poderia por seu plano em prática. Se ele já não estivesse. Havia um pouco mais de um mês para o final de outubro. Se eu não ficasse doida com todos, me jogaria no Lago Negro.

Não havia com o que discutir. Clara apenas passou um envelope, que continha a chave de uma porta qualquer e um distintivo. Eu merecia! Olhei para ele: era preto com as bordas roxas e em seu interior estava o Brasão da Sonserina e meu nome logo abaixo.

Draco olhava para o peito e depois para o outro distintivo, procurando uma forma de poder usar os dois. Puxei ele para mais perto e retirei aquela coisa horrorosa da mão dele e prendi por dentro de seu casaco. Empurrei-o de volta e retornei minha atenção ao envelope.

Senhorita Aira Snape,

Espero de bom grado que use esse distintivo e cumpra com seus deveres para com o Baile. Apenas abri a temporada novamente, pelo fato de forem apresentados a mim argumentos concretos de que tudo sairá adequado.

A chave que todos vocês receberam é de uma sala, que está fechada a anos. Para encontrá-la, basta ir ao quarto andar a parar ao lado de uma estátueta de bronze e lhe dizer “Pergaminhos Enrolados”. Uma porta se abrirá. Tudo de que precisam estará lá.

McGonnagal

Mesmo sabendo onde ficava a sala, não fiquei feliz em saber que teria mais alguma coisa com que me preocupar. Pior era para o Draco: ele era capitão do time de Quadribol, monitor da Sonserina, tinha que trabalhar até tarde na Sala Precisa, e agora mais isso. Se ele não morresse, ficariam sequelas.

Terminei tudo que tinha de fazer e segui para o salão principal. Precisava me reabastecer. Estava faminta. Comi pouco durante o dia e estava sentindo meu estômago em minhas costelas. Quando sentei-me à mesa da Sonserina e mordi um pedaço de pão, senti-me melhor. Mas depois de engolir a sensação foi de que eu não tinha comido há semanas.

Draco sentou-se ao meu lado e comeu rapidamente e seguiu para a sala precisa. Eu até poderia ajudá-lo, mas a ideia de tê-lo ao meu lado não era tão animadora. Juntos, em um lugar fechado, sem ninguém, com ele trabalhando pesado – talvez ele trabalhe sem camisa – E vê-lo sem camisa seria tentação demais para um ser mortal e cheio de desejo como eu.

Passei ao lado da mesa da Corvinal e vi Jean ao lado da irmã. Lancei a ele um olhar indagador, mas ele nem percebeu. Saí frustrada com meu material. Alguns passos dados em direção as escadas e escutei a voz de Alekssandra, me chamar. Virei-me e a fitei. Ela ajeitou o cabelo que caia sobre seus olhos.

Alekssandra fazia inveja para qualquer uma garota. Ela parecia um anjo – iguais àquelas ilustrações de livros –, cabelos cacheados e loiros, olhos meigos, face bonita e esculpida em traços finos e delicados. Se um poeta a visse, lhe dedicaria diversos versos, fazendo até um Soneto. Mas ela não estava tão radiante, parecia apreensiva.

– Ouve algo? – perguntei por fim.

Ela colocou outra mecha de cabelo atrás da orelha.

– Você e o Jean. O que está acontecendo?

Nem mesmo eu sabia o que estava acontecendo. Não podia lhe responder. Já procurei diversas respostas, mas nenhuma delas era plausível.

– Não, Alekxis.

Ela apenas pendeu a cabeça para o lado, olhando alguma coisa. Olhei para onde a visão dela seguia e vi Ângela e Ernesto McMillian se beijando. Não era um beijo qualquer, parecia mais um desentupidor de pias. Tanto eu quanto Alekxis ficamos boquiabertas com a cena. Quem imaginaria os dois juntos?

Não ousei atrapalhar, mas acabei fazendo isso, derrubando meu livro no chão. Não foi impressão minha que o braulho ecoou com mais intensidade. Ângela e Ernesto nos olharam e se separaram, recompondo-se. Eles seguiram caminhos diferentes: Ângela entrou no salão, enquanto Ernesto subia as escadas.

– Eu vi isso mesmo? – perguntei ainda não acreditando.

– Se você está com problema de visão, também estou.

Desci até as masmorras, matutando com meu cérebro. Como Ângela e Ernesto ficaram juntos a ponto de se agarrarem? Eles eram tão diferentes. Ela encrenqueria, que adora dizer o que pensa e briga com todos. Ele, um chato, ainda por cima monitor da Corvinal, que adora ser o centro das atenções; um completo egocêntrico.

Na manhã seguinte, enquanto ia para minha mesa, vi Alekxis próxima da mesa da Corvinal. Agarrei-a pelo braço e a puxei até e mesa da Grifinória. Ela tentou argumentar, mas viu em meus olhos um brilho assassino.

Sentei-a e sentei-me ao seu lado. As gêmeas estranharam nós duas ali. Fazia algum tempo que eu não compartilhava a mesa com elas.

– Angel... – Ângela olhou-me.

– Você me chamou de Angel?

Neguei com a cabeça.

– Te chamei de Ângela.

Ela descordou. Claro que não era surda e sabia muito bem o que eu queria.

– Você sempre me chama de Angel quando quer alguma coisa – fez uma pausa e depois lançou-me um olhar interrogatório. – O que quer?

Apenas mostrei-lhe meu melhor sorriso. O que me fez lembrar do Lockhart.

– Você tá me assustando – disse Ângela. Eu deveria estar mesmo. Amenizei minha expressão facial.

– O que houve ontem à noite?

– Nada – e tomou um gole de suco.

O nada que eu vi era grande coisa. Só faltava aqueles dois se atracar no corredor. E não seria uma boa visão.

Clara olhava para a irmã, segurando o riso. E caiu a ficha. Clara chantegeou a Ângela.

– Boa, Clara.

Todos presente a mesa me olharam.

– Até eu não seria capaz disso. Me superou.

Ninguém entendia patatifas do que eu falava.

– Exatamento do quê você tá falando Aira? – Alekxis olhou-me querendo saber.

– Sabe o que aconteceu ontem? – ela confirmou com a cabeça. – Então, a Clara usou aquilo pra fazer a Ângela fazer parte do Comitê do Baile.

Alekxis riu. Ângela corou, ficando da cor do cabelo da Gina Weasley que estava ao seu lado. Não aguentei e ri da cara dela. Ela levantou irrita e saiu. Por algum momento continuei na mesa, até eu terminar meu café. Peguei minha mochila e segui para fora. A aula seria cansativa e era melhor eu não chegar atrasada.

Parei ao ouvir vozes. Aproximei-me mais da encruzilhada do corredor e vi Ângela encostada na parede e Ernesto em sua frente.

– Não fica assim, Angel – ela olhava para ele com lágrimas nos olhos. – Mas cedo ou mais tarde teriam de saber.

Ele secou a lágrima dela com sua mão.

– Eu sei, mas é que é difícil, eu...eu...

Nunca pensei em ver minha amiga chorando daquela forma. Ela abraçou com força Ernesto, chorando sobre seu ombro. Ele afagava seu cabelo, lhe dizendo palavras de consolo.

Senti-me mal por tê-la magoado. Eles eram namorados e por que eu tinha de me importar tanto? Saí dali, deixando-os sozinhos. Eu merecia que um trem passasse por cima de mim naquele instante. Angel deveria estar sofrendo. Não deve ter sido fácil para ela aceitar estar apoixanada pelo garoto que vivia lançando indiretas maldosas e xingamentos. Os dois viviam trocando tapas, mas agora eram beijos. Como o destino é imprevisível!

Eu tinha que voltar de alguma maneira praquele corredor. Teria de passar pela Angel e o Ernesto.Vagarosamente e receosa da reação de minha amiga quando me visse, andei até o corredor. Vi ela abraçada ao Ernesto, lhe beijando. Tenho que admitir que eles formavam um casal lindo. Tive uma pontada de inveja, mas desviei meus pensamentos.

– Oi, Angel – disse a ela, assim que me aproximei.

Angel olhou-me, separando-se de Ernesto.

– Só queria dizer que não me importo de vocês serem namorados. Mas é muito estranho verem vocês juntos.

Eles sorriram.

– Acho que já vou indo pra sala.

Angel puxou meu braço, fazendo-me ficar de frente a si. Aproximou-se de meu ouvido e sussurrou:

– Sua vez chegará – sorriu para mim e partiu, abraçada a Ernesto.

Deveria estar aparente em mim o quanto meu relacionamento estava pra baixo. Entrei na sala, com meu pai me dizendo que eu estava atrasada. Como se eu não soubesse! Sentei-me ao lado das gêmeas e retirei meus materiais, quando senti uma forte vertigem e fechei meus olhos. Senti alguém me abanar e quando abri meus olhos, vi Clara com um pergaminho.

Afastei a mão dela e sentei-me corretamente no banco. Ultimamente eu estava passando muito mal. Não era por falta de alimento. Tinha que haver uma explicação. Passei a aula toda perguntando-me se eu estava doente.

No final da aula, puxei as gêmeas até o banheiro da Murta-que-geme. Eu tinha que ter mais algumas opiniões.

– Você stá bem, Aira? – Clara perguntou-me assim que eu fiquei de frente ao espelho e comecei a me analisar.

– Estou – na verdade eu estava horrível. Aquele cabelo rosa desbotado, sem maquiagem alguma, oleiras e tinha uma espinha horrorosa em meu queixo. Quanta decadência em minha aparência! – Estojo de maquiagem! – estendi a mão. Ângela entregou-me seu estojo, que sempre levava consigo para o caso de acontecer imprevistos.

Passei uma maquiagem leve para cobrir sinais. Era o básico mais serviria para eu não parecer uma morta-viva.

– Dá para dizer o que tem?

Contei a elas sobre minha falta de apetite de vez em quando e a vertigem. Clara ficou pensativa por algum momento.

– Aira... – começou Angel. – Você não está... quer dizer é muito difícil você deixar isso acontecer, mas agora...

Olhei pra ela, querendo saber do que estava falando. Até que minha ficha caiu. Não era possível em hipótese alguma. Não podia! Claro que não podia.

– Não estou grávida, okay?

– Como pode ter tanta certeza? – perguntou Angel, fitando-me.

Apenas lhe respondi com minha verdade.

– Por que a última vez que transei faz quase dois anos.

Podia sentir elas fazerem as contas mentalmente. Não me entreguei ao Jean e ficava agradecida internamente por isso. Seria muita burrice eu não me proteger e engravidar. Não era tão irresponsável assim. E se meu pai soubesse, me castigaria e mataria meu namorado envenado, mas antes o torturaria.

Apoei-me na pia e olhei para elas.

– Vou contar a vocês para quem eu me entreguei, mas por favor, não revelem a ninguém.

– Claro. Nós comos suas amigas.

– Isso – Clara concordou.

Contei-lhes tudo, desde o momento em que Fred viu eu beijar Gean Cheege até o momento em que saímos em meio a neve, nos divertindo. Revelei todos meus sentimentos quanto àquela noite de amor. Minha primeira noite e última com Fred Weasley. Entreguei-me a ele, querendo ser amada e fui. Ele deu-me o que eu sempre quis e prometeu-me nunca me deixar e ainda pediu-me em namoro. Aceitei e pensei que iria ser feliz pelo resto de minha vida, como nos contos de fadas que minha mãe adotiva me contava, porém não tive um “E viveram felizes para sempre”.

Foi horrível saber que o seu primeiro amor te traiu com sua melhor amiga. Que seus sonhos foram jogados no lixo, descartados sem ao menos ter a consideração. Senti-me morta ao perceber que não era tão importante ao Fred quanto achava.

– Aira? – olhei para as gêmeas, que observavam com olhos carinhosos e cheios de compreensão. – Sinto que esse namoro com Jean é uma forma de se distanciar de Fred.

Não podia discordar dela, mas não queria admitir isso pra ela, quanto pra mim mesma.

– Clara...

– Não sou especialista, mas tenho um irmão mais vellho e dois primos. E acredite, eles podem ser estúpidos e idiotas, mas nunca, nunca mesmo, Aira, eles esquecem de seu primeiro amor e muito menos de que mostrou a ela uma forma diferente de amar.

Clara me surpreendeu. Ela falar tudo aquilo pra mim amenizou minha dor, mas não mudaria o fato de eu ter sido traída duplamente.


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Notas finais do capítulo

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