Simplesmente Complexo escrita por Julie Blair


Capítulo 18
Capítulo 18




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Voz: Brennan

Senti minha testa arder... Abri os olhos, era impossível... Mas estava viva! Havia sentido várias dores, mas nunca uma dor tão agradável quanto aquela. Apenas sorri... Sorri por estar viva. Sabia que milagres não existiam, mas não conseguia encontrar uma explicação razoável... Estava sozinha, sem forças, não tinha como sobreviver sozinha. Foi aí que senti uma mão em meu ombro, tudo logo se explicou... Não estava sozinha.

”Você se afogando, Jung pulou para salvar você.”

Ele falava devagar, separando as palavras… Certamente não acreditava que eu o entenderia, em Tupi. Tinha os ombros largos, braços fortes, de certa forma me lembrava Booth. Alto, pele cor de madeira, rosto pintado e olhos de um preto profundo que contrastavam com a tinta vermelha em seu rosto... Fiquei um tempo sem nada dizer, apenas observando e conhecendo melhor o jovem índio que acabara de salvar minha vida. Reparei algumas tatuagens pelos braços, peito e pernas... O cabelo negro como os olhos, e a franja reta e lisa que caia algumas vezes sobre seus olhos. Ele estava agachado, a minha altura, também me observando. Parecia curioso, intrigado... Deveria responder, deveria agradecer... Mas antes que me pronunciasse, o jovem índio voltou a falar...

- Sim, Jung entende língua dos Abaetês¹, dos Abequar².

Seu inglês não era perfeito, mas ele falava devagar, o que diminuía a dificuldade de entendê-lo. As dores foram esquecidas por um momento, era realmente fascinante e confuso... Não sabia como ele podia compreender e falar minha língua, mas decidi deixar isso para depois.

- Também falo a sua língua... Aliquam!³
- Mani – Aiá não tem que agradecer Jung.
- Mani – Aiá? Não sei o que isso significa...
- Jung outro dia vai dizer para Mani – Aiá!

Ele sorria. O sorriso formava duas belas covinhas em seu rosto. Não quis insistir, apenas continuei observando-o. Me assustei por alguns instantes quando o vi se afastar, subindo com facilidade em uma grande árvore, e logo outra.

- Jung!

Era a primeira vez que o chamava por seu nome.

- Jung não vai deixar Mani – Aiá! Estar com fome e machucada.
Sorriu com os dentes, incrivelmente brancos e limpos, e depois sumiu em meio as folhagens. Alguns minutos depois, Jung voltou com os braços cheios de frutos... A maioria desconhecia, e acredito que Jung logo percebeu. Era incrível a sua habilidade em ler minhas expressões... Parecia muito com Booth. A leve menção de seu nome em meus pensamentos já fazia a minha pele arrepiar e meu corpo estremecer... Nem mesmo o frio que sentia com a roupa molhada e colada em meu corpo causava esse efeito em mim. Era incrível, o efeito que mesmo distante ele conseguia causar.

- Mani – Aiá não conhece o que Jung conhece.

Aquilo não era absolutamente verdade. Eram frutos, mas conhecia muito de sua cultura... Me sentia de certa forma ofendida. Ia me manifestar, mas antes, Jung observando minha insatisfação, completou...

- Sobre fruta Jung sabe mais que Mani – Aiá.

Ele tinha razão, não tinha como contestá-lo. A pequena parte que ficara insatisfeita, deu espaço para um grande interesse quando Jung começou a apresentar as frutas, uma por uma. Fez questão até mesmo de apresentar a manga, mas certamente Jung não sabia o quanto ela era comum fora de sua floresta... Era incrível, mas para Jung, seu mundo era a sua floresta.

- Antes de Mani – Aiá comer fruta, Jung tem que curar machucado.

Jung pegou metade de uma casca de fruta que eu não havia visto. Dentro, um óleo que não reconheci no momento. Mesmo não reconhecendo, sabia que Jung não seria capaz de me fazer mal... Não precisava conhecê-lo, bastava vê-lo... Suas boas intenções eram visíveis até mesmo para mim. Com muito cuidado Jung passou o óleo nos meus ferimentos das pernas, e instantaneamente vi meus ferimentos cicatrizarem. Já reconhecia aquele óleo, era o óleo de copaíba, o único capaz de resultar naquele incrível efeito. Mesmo que já tivesse visto seus efeitos, nunca havia os sentido...

O formigamento e a ardência em minha pele, que rapidamente resultou em machucados quase curados. Era realmente fascinante! Jung logo passou o óleo também em alguns cortes nos braços e testa, até que todos estivessem parcialmente curados.

- Agora Mani – Aiá pode comer frutas!

Jung cruzou os braços, esperando que começasse. Era de certa forma engraçado... Seu sotaque quase infantil, e a postura adulta e madura que esforçava para manter. Certamente era o macho alfa, assim como Booth.

- Fruta boa, Mani – Aiá pode comer.

Dei um leve sorriso...

- Aliquam!

E comecei a comer. As frutas estavam incrivelmente doces... A fome provavelmente tinha alguma parcela de responsabilidade nisso, mas certamente aquelas eram as frutas mais deliciosas que já tinha experimentado. Jung parecia feliz, com um sorriso de ponta a ponta, orgulhoso. Desviei os olhos dele por alguns minutos, e quando retornei o olhar para o lugar onde Jung estava, ele não estava mais ali. Não me assustei, sabia que ele voltaria... Talvez não naquele mesmo dia, mas em breve. Ainda não sabia o significado de Mani – Aiá, como conhecia a minha língua, e como chegara até ali... Com certeza Jung voltaria, com seus cabelos e olhos negros, pele cor de madeira e covinhas no rosto, para responder essas e muitas outras perguntas.


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Notas finais do capítulo

Glossário:
1. Abaetê: Pessoa boa, espírito do bem.
2. Abequar: Homem que voa, vindo do céu.
3. Aliquam: Obrigada.



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