Simplesmente Complexo escrita por Julie Blair


Capítulo 17
Capítulo 17




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Voz: Brennan

A manhã estava gelada, meu corpo parecia não responder mais as dores, pelo menos não a maioria delas. Faziam três dias que havia escrito a carta a Booth, mas ainda as mesmas preocupações ocupavam a minha mente... Se ele tinha lido, se tinha desistido de me procurar, se ele tinha desistido de mim. Faziam três dias que não comia, mas a dor da fome, a fraqueza de meu corpo, pouco se comparavam com a dor de estar longe de casa há quase uma semana. Fazia pouco que Ben havia saído, estava sozinha, sentada em minha cama. Ele oferecera gargalhando um pedaço de carne crua, dizendo que a fogueira era apenas para privilegiados. Mesmo sendo vegetariana, não negaria... Mas tive medo. Medo das sobras, medo do quanto poderia me fazer mal. Os cães eram melhor alimentados... Pud e Snip, os fiéis companheiros de Nathan e sua gente. Pud era um labrador, dócil, capaz de encontrar qualidades até mesmo em Nathan e Ben. Mas mesmo que Nathan fosse seu dono, Pud parecia estar se habituando a mim... Na manhã passada, quando os cachorros vieram, Pud parecia se sentir sozinho, assim como eu. Lhe contei sobre Sophie, Booth, e o quanto era difícil acreditar que um dia poderia sair dali. Por mais que Pud não pudesse entender, por alguns instantes não me senti só... Por alguns instantes, até que Nathan nos encontrasse sentados de baixo de uma figueira. Pegou Pud pelas orelhas, puxou com força, enquanto Pud choramingava de dor. Tinha vontade de impedi-lo, segurá-lo, mas ao invés disso, apenas olhei para Pud com a promessa de que um dia sairíamos dali. Já Snip, era diferente. Era um Pitbull, nada amigável, apenas com Nathan. Snip havia passado por uma série de treinamentos, para que matasse assim que Nathan o ordenasse. Era cruel, com Snip.

Logo, meus pensamentos voltaram a Ben e suas últimas palavras... 

”Você tem quatro horas para encontrar um alimento na floresta, caso não volte, já sabe como acontece”. 

Estava fraca, minha visão turva, mas tinha que sair dali. A cada hora que passava, menos meu corpo respondia... E daquela maneira, logo estaria inconsciente. Não podia correr esse risco. Ficando inconsciente, não poderia me defender, não poderia evitar maiores conseqüências... Então mesmo mal sentindo meus pés, saí da cabana. Caminhei em silêncio, sem ser vista, apenas por Pud. Acariciei com a ponta dos dedos sua pelagem, e segui em frente. Meus pés estavam descalços, a terra estava fria, era uma das minhas poucas sensações. Depois de quarenta minutos de caminhada, não conseguia mais distinguir os sons... Me apoiava nas árvores, para não cair... Não sabia aonde estava, nunca havia estado ali, estava perdida. Mas mesmo perdida, segui em frente, com dificuldade... Precisava encontrar algum fruto, algo para comer... Perdia as forças cada vez mais, não podia ficar inconsciente. Me guiei apenas pelas luzes e tato por mais vinte minutos de caminhada, as raízes das plantas, os pequenos tombos, haviam deixado diversas marcas por meus braços e pernas. Queria desistir, queria deixar que meu corpo respondesse naturalmente a fome, quando avistei do outro lado de um riacho enormes árvores repletas de frutos. O riacho parecia fundo, mas não me importei... Apenas usei as minhas últimas forças para chegar até ele, precisava atravessá-lo. A correnteza parecia forte, mas nadando, poderia chegar até o outro lado. Minha pele se arrepiou assim que entrei, a água estava muito fria. Minha roupa colada ao corpo, meus dentes que batiam, e a visão do outro lado do riacho... Era tudo o que sentia e enxergava.

Não pensei no quão longa era a travessia, nos riscos, apenas enchi o meu pulmão de ar e comecei a nadar. Aos poucos fui parando de sentir frio, fome, dor... Não tinha mais forças, todas haviam sido gastas. A correnteza da água era mais forte, e por mais que me esforçasse, não conseguia mais nadar contra ela. Levantei a cabeça, e senti meus pés afundarem... A água me levava, enquanto eu me esforçava para levantar e pegar ar. Não sentia mais o frio, a fome, a dor... Apenas sentia medo, medo de que meu corpo fosse encontrado ao fundo... Medo de não poder olhar novamente nos olhos de Booth, medo de não poder escutar mais uma vez o riso de Sophie. E enquanto tentava concentrar minha mente neles, senti. O sangue escorria pela minha testa, minha cabeça havia batido contra uma pedra, não tinha mais forças para erguer a cabeça e respirar. Apenas deixei que meu corpo afundasse, apenas fechei os meus olhos e deixei que acontecesse. 
Nunca pensei que a minha vida acabaria assim... Na verdade, nunca havia pensado em como acabaria a minha vida. Meu cérebro estava quase sem oxigênio, mas ainda assim, podia vê-los. Dizem que quando a morte se aproxima, vemos toda a nossa vida passar como um filme a nossa frente... Mas isso não é verdade. Apenas tive o que pedi... Apenas enxerguei os olhos de Booth, e escutei o riso de Sophie. Parecia tão real... Senti os braços de Booth ao meu redor, senti seus lábios em meu rosto, escutei a sua voz dizendo que ficaria tudo bem. Enquanto isso, o riso de Sophie embalava o meu adormecer... Tão calmo, sereno, assim como a voz e o toque de Booth. Imagens avulsas passavam por mim, as mais felizes, como um presente final de minha mente. A primeira vez que senti os lábios de Booth, a primeira vez que segurei Sophie, suas primeiras palavras... Aquele não parecia um final, parecia mais um começo... E com essa sensação, perdi finalmente a consciência e adormeci.


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