Travessuras do Destino escrita por juhreis


Capítulo 1
Capítulo 1 - Um Novo Lugar




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Sentada ao lado de uma garota de cabelos curtos lisos e óculos, durante a aula, Nanami olhava fixamente para frente e pensava como seria bom fazer novos amigos. Observando de esguelha a outra, reuniu coragem para falar-lhe:

- Oi, meu nome é Nanami.

Parecendo ter sido trazida de volta a realidade contra a vontade, a garota séria, tirou o olhar do livro e lançou-o na novata. Não parecia nada propensa a conversas.

- Prazer em te conhecer. – Nana sorriu, um pouco sem jeito.

- Eu sou Yamamoto Yuri, prazer em conhecê-la. – a outra ainda tinha a mesma expressão desinteressada, apesar das suas palavras.

E para confirmar sua desatenção, assim que acabou de falar, a tal Yamamoto Yuri retornou à sua leitura. Mas, persistente, Nanami prosseguiu:

- Você também veio de outra escola?

- Sim. – Yamamoto não deu mais detalhes.

Desanimando-se com a indiferença da garota, Nana decidiu calar-se e prestar atenção à aula, que transcorreu sem nada inusitado. Mais tarde, quando ia para a aula de matemática, percebeu algo cair da mochila de uma da dupla de garotas um pouco a sua frente. Pegando a nota de cinquenta reais, arregalou os olhos e, sem cogitar, correu até a dona da quantia e disse:

- O teu dinheiro caiu.

Espantada, a garota de cabelo escuro solto, partido ao meio, exclamou:

- Oh! Meu deus, mamãe ia me matar! Muito obrigada! – agradeceu, parecendo realmente feliz. – É para pagar uma conta...

Alegre por ter ajudado, apresentou-se:

- Eu sou a Takahashi Nanami. Cheguei aqui há poucos dias.

- Prazer. Eu sou a Mizu-chi e esta é a Taka-chan. – a dona do dinheiro apontou para a garota magra e de franja reta ao seu lado.

- Não precisa agradecer – Nana sorriu. – Vocês são da mesma classe que eu, não é? – Nanami passou a acompanhá-las.

- Sim. Estávamos sentadas na frente. – Taka-chan respondeu.

- Ah!

Ficaram um pouco em silêncio.

- Será que tem alguma garota do Colégio Ômega em nossa classe? – Mizu-chi fez uma expressão pensativa ao olhar para o pátio lá embaixo pelas janelas do segundo andar.

- Acho que a Yamamoto Yuri estudou lá. – foi a vez de Taka-chan divagar.

Lembrando-se da garota reservada e introspectiva, Nana quis saber, curiosa:

- Por que pergunta?

- Por causa dele. – Mizu-chi parou e apontou para um garoto de costas, conversando num círculo de amizades em frente à escola.

- quem é? – Nanami observou o garoto alto e esbelto, vestido despojadamente.

- Motoharu. Yano Motoharu. – Taka-chan olhou-o com adoração.

Nana tentou ver o rosto do garoto, mas não conseguiu. Apenas seus cabelos claros e seu corpo atlético podiam ser contemplados. Notando seu uniforme diferente, deduziu:

- Ele é do colégio Ômega? Por isso você estava perguntando?

- Sim. Você não deve conhecê-lo por que é nova aqui. Mas ele é bem popular. – Mizu-chi não parava de observá-lo um segundo sequer.

- Mesmo não estudando aqui?

- Sim. Fizemos o curso de inverno com ele. É um cara bem legal! – Taka-chan tinha uma voz bem empolgada.

- O Motoharu tem um jeito peculiar, por isso é tão popular entre os garotos e as meninas – ajeitando os cabelos curtos com os dedos, Mizu-chi olhou para a Nana. – Há rumores de quê, durante o ensino fundamental, já aconteceu de 2/3 das meninas de sua classe estarem apaixonadas por ele ao mesmo tempo!

Surpresa, Nanami observou o garoto trajando roupas legais com fascinação. Nossa, ele devia mesmo ser uma pessoa maravilhosa! Perguntou-se em pensamento se a Yamamoto teria caído nos encantos daquele cara também. Conversaram mais um pouco e foram para a sala. Durante a aula, Nana sentiu uma vontade louca de perguntar a Yamamoto sobre o garoto mais popular da escola. Não resistiu.

Cutucou a outra.

- Você era da mesma escola que o Yano-kun?

- Sim. – o tom da garota era completamente neutro.

 Curiosíssima, Nanami continuou:

- Soube que 2/3 das garotam tinham uma queda por ele, é verdade?

Desviando o olhar, Yamamoto respondeu, de maneira abrupta:

- Eu o odeio.

Depois, voltou-se novamente para o quadro.

Sem graça, Nana ficou olhando-a. Por que ela o odiava? Teria recebido um fora, talvez? Ou, simplesmente, era parte da outra porcentagem quem nem o admirava ou simpatizava com ele? Bom, isso não era mesmo de sua conta, então, o melhor a fazer seria prestar atenção na aula. Suspirando, Nana olhou para os cálculos. Ou, então, tentar prestar atenção.

- Ei, Nana, deseja fazer parte do comitê de classe? – Mizu-chi indagou, quando comiam os lanches no intervalo.

- Não, obrigada. Prefiro ter uma vida escolar tranquila... – riu, mordendo em seguida o seu sanduíche.

- Sei. Eu gostaria de participar, sabe...

- E por que não participa? Qual é o procedimento?

- Posso me nomear, mas acho isso meio vergonhoso...

- O que acha então de eu nomeá-la?

Esfuziante, Mizu-chi abraçou-a.

- Faria isso por mim?

- Claro. – Nana riu com a reação da outra.

- Muito obrigada! Estarei contando com você! – após agradecer várias vezes, a outra saiu, dizendo que iria ao banheiro.

Assim que a colega partiu, Nanami constatou que não sabia o nome dela. Como indicaria uma pessoa assim? Fazendo uma careta, abordou o primeiro que passou e apontou para a garota dobrando ao final do corredor:

- Qual é o nome dela? – olhando para um ponto qualquer no espaço, disse, tentando lembrar-se: - Mizu... Mizu alguma coisa... – e então fitou o garoto que agarrara inesperadamente a camisa. Ele era lindo.

- Mizuhara. – ele tinha uma expressão divertida quando respondeu.

Olhando-o, embevecida, Nanami sentiu como se caísse num poço sem fundo. Seu coração galopava pelas pradarias de seu corpo selvagemente. Então, após contemplar vários minutos aquele cara tão atraente, algo explodiu em sua cabeça e a fez associá-lo ao garoto popular em frente à escola. Mas, só que este garoto de agora vestia a camisa da instituição e não do outro colégio. Nana só pode pensar que imaginava coisas.

- Obrigada. – soltou-o rapidamente.

Piscando-lhe um olho, ele foi embora. Deixando-a com a mente avoada.

Durante a última aula, a de português, foi aberto o espaço no horário para a seleção do comitê. Nanami, que não parava de olhar o garoto de cabelos lisos castanhos claros e jeito displicente, sentado em sua direção. Suas suspeitas foram confirmadas quando o professor brincou com o ex-aluno:

- Você não estuda mais aqui, Yano. Então, por que traja esta farda?

Com a fisionomia caçoísta, Motoharu disse, arrancando gargalhadas da turma:

- Gosto do lanche daqui. O do novo colégio é pior que comida de cachorro.

- E você já provou para saber, Moto? – alguém gritou, arrancando mais risos.

- Claro que sim, quando almocei em sua casa, naquele dia... – ele rebateu, aleatoriamente.

A sala não continha o divertimento.

Sorrindo, o professor ajeitou os óculos.

- Não será bom para você se a direção descobrir, Yano.

- Não me culpe. Culpe a cozinheira da cantina. – Motoharu insistia em ser engraçado.

- Como conseguiu o fardamento?

Parecendo pensar, ele demorou a responder:

- Hum... Doação?

Fitando-o com cara de quem não acreditava, o professor pareceu perceber que ele não revelaria nada e deu de ombros, resolvendo deixar o assunto de lado.

- Bom. Então, sei que vocês adorariam que o Yano Motoharu fosse o presidente da classe – um coro de gritos da classe foi ouvido. – Mas, daremos espaço para os demais, certo? Alguém se nomeia ou a outra pessoa?

Nanami já levantava a mão, quando escutou:

- Eu me nomeio vice-presidente! – Motoharu levantou-se com a mão erguida, sorrindo largamente.

- Você não pode, Yano. Não estuda aqui.

Fazendo uma careta, ele retornou ao seu assento, fazendo um gesto de paz e amor para o pessoal. As garotas soltaram gritinhos e gemidos agudos.

Tomando empenho, Nanami ergueu a mão.

- Eu também gostaria de nomear alguém... Para a função de secretária, a Mizuhara-san. – olhou para a amiga de maneira conspiradora.

Houve um breve silêncio na sala. Nana soube instintivamente que algo estava errado. Ao fitar novamente Mizu-chi teve a absoluta certeza. Ela estava completamente atônica.

- Você quis dizer Mizuguchi-san? – quis saber Yamamoto.

Perplexa, Nanami olhou-a. Fora vítima de um trote. Yano Motoharu a fizera motivo de chacota da sala. Gargalhadas ininterruptas brotavam mais e mais. Lançando um olhar mortal para o garoto que a observava com expressão angelical, Nana sentou-se, frustrada. A aula acabou com ela tornando-se a presidente, Taka-chan a vice-presidente e Mizu-chi a secretária.

Na saída, abordou Motoharu.

- Você mentiu, não foi?

Com as mãos nos bolsos, ele tinha uma expressão debochada.

- Fui mais mal-educado do que você que esqueceu o nome dela?

Boquiaberta e sem palavras, Nana somente ficou lá, olhando-o com cara de pasma.

- Qual é mesmo o seu nome? – Motoharu olhava-a fingidamente confuso.

Sem responder, Nana deu-lhe as costas e partiu.

Muito mais tarde, já em casa, assistia a tevê quando a campainha tocou. Não adiantava esperar outra pessoa ver quem era, pois o pai ainda estava no trabalho e a mãe saíra para visitar uma amiga. Levantando-se do sofá, foi atender. Deu de cara a última pessoa que esperava, Yano Motoharu. Esse segurava entre as mãos estendidas sua cadelinha, Lalami.

- Ela ia ser atropelada.

Assustada, agarrou a cadelinha peluda e pequena, analisando-a para ver se não estava ferida.

- Ela está bem. Apenas um pouco aterrorizada. – Motoharu estava ainda mais bonito, trajando camiseta e short. Seus cabelos eram ocultados por um boné.

- Obrigada – olhando tristemente para a cadela, Nana sussurrou suspirosa: - O que você estava pensando, em, Lalami?

- Lalami? – ele caiu na risada.

Com um olhar nada feliz, Nana deu um sorriso aparente.

- Foi muito gentil da sua parte. Não sei o que seria dela se você... Obrigada mesmo!

Balançando-se nos calcanhares para frente e para trás, Yano custava a fitá-la nos olhos.

- Por sorte a vi correr daqui quando entrava em casa, aí, o resto já dá para você imaginar...

 Ao saber que eram vizinhos, Nana não conteve a surpresa:

- Você mora aqui!

- Sim. Naquela casa. – Yano apontou para uma casa do outro lado da rua, não muito distante da de Nanami. Essa tinha um belo jardim.

Com o sobrolho erguido, a garota não escondia o choque nos seus olhos castanhos.

- Aquela garota, Mizuguchi, também mora por aqui. Olha ali a casa dela. – mostrou uma casa amarela de andar. – E a Taka-chan mora na rua de trás. – inclinou a cabeça na direção.

- Não sabia que conheceria parte dos vizinhos na escola... – Nanami falou em tom de brincadeira.

Não parecendo impressionado, Motoharu deu de ombros.

- Cidade pequena.

- Pois é... – Nanami apenas pode concordar.

Erguendo Lalami no alto, disse para a cadelinha:

- Você passou por uns maus-bocados hoje, não foi, fofinha?

A outra deu latido, como se respondesse.

Dando-lhe um beijinho, Nana voltou a aninhá-la.

- Ela deve ter fugido quando abri a porta, em algum momento. – acariciando a cadelinha encolhida próxima ao peito, Nana justificou: - ela está ficando aqui dentro até comprarmos a casinha dela. Tenho pena de amarrá-la lá fora, sem abrigo...

Nanami não imaginava o quadro meigo e delicado que fazia, acariciando e olhando o filhote com uma doçura tocante. As roupas apertadas e velhas junto com os cabelos claros que iam até um pouco abaixo dos ombros, faziam-na ainda mais apetitosa, não desajeitada. Por isso, quando ergueu a cabeça para olhar Motoharu, não entendeu por que estava sendo observada com tanto interesse. Aí, ruborizou-se.

- Bom, está entregue. – Motoharu fez menção de partir.

- Espere! – ela nem soube por que pediu algo assim.

- Hum? – ele estacou nos degraus.

- Caso você precise... Caso eu possa retribuir o favor... Por favor, diga-me! – as palavras escaparam de sua boca de repente, como se tivessem vida própria.

Puxando o boné de uma maneira que escondeu um pouco seu olhar, Yano voltou a pôr ambas as mãos nos bolsos e portar-se com a aquele encantador jeito relaxado.

- Isso... inclui qualquer tipo de favor? – os olhos castanhos tinham um brilho malicioso.

- Não. – Nana olhou-o secamente.

- Foi o que imaginei. Bye, bye. – Sorriu, acenando em seguida.

Nanami estava tão hipnotizada por ele, com aquele jeito moleque e sedutor, que nem respondeu a sua saudação. Quando percebeu, correu e gritou:

- Bye, bye...

Ele já havia entrado em casa.

Estava assistindo a novela quando os pais chegaram.

- Boa noite, meu bem. – o pai beijou-a na testa e foi direto para a cozinha. Como sempre, deveria estar faminto.

- Boa noite, querida. – a mãe deu-lhe um aperto no ombro, subindo para guardar umas sacolas no quarto.

Pouco depois, sua mãe voltou para auxiliar o marido.

- Alguma novidade?

- Um vizinho salvou a Lalami de ser atropelada. – contou, acariciando o animal de estimação dormindo ao seu lado, no sofá.

- Sério? – ela fez uma extremamente preocupada. – Ela está mesmo bem? – abaixou-se perto do bichinho, olhando-o atentamente.

- Sim. – Nana enfiou na boca mais um punhado de biscoitos. – Apenas está um pouco nervosa ainda.

- Quem é essa família? – referiu-se ao salvador da pequena Lalami.

- Yano. Eles moram numa casa do outro lado da rua. A que tem o jardim mais bem cuidado.

Fazendo um esforço para lembrar-se, a mãe colocou a mão no queixo e olhou para o chão.

- Acho que não os vi ainda...

- Mudamos há pouco tempo, mãe. Não teria como sabermos.

- É verdade. Bom, farei uma torta ou algo assim em agradecimento.

Franzindo o nariz, Nana exclamou:

- Que coisa mais brega!

Colocando as mãos na cintura, sua mãe disse divertida:

- Comida nunca é brega, querida.

- A senhora é quem sabe. – Nana voltou sua atenção para o televisor.

- Está decidido – a mãe afirmou, apressando-se em ajudar o marido no preparo da refeição. – Amanhã, quando chegar da escola você leva, tá? – e foi para a cozinha.

Nanami soltou um grunhiu em resposta. Horas depois, deitada na cama, olhava o teto sem enxergá-lo. Seus pensamentos estavam presos no garoto de olhar misterioso e sorriso franco. Não sabia por que, mas algo lhe dizia que por trás daquele sorriso não havia felicidade. Alguma coisa a fazia pensar que aquele Motoharu não era o verdadeiro. E Nana forçou-se a dormir para parar de cogitar sobre aquele cara que mal conhecia. Suspirando, ignorou o cheiro de tinta que ainda se encontrava na casa. Aquele cheiro característico ressaltava o quanto aquele era um novo lugar e isso era incômodo. O sono veio, então, beijar-lhe os olhos.


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Notas finais do capítulo

Desejei com esta fanfic, dar outro rumo a história criada por Yuuki Obata (Bokura ga ita). Pensei, e se a Nana-san não houvesse morrido? E se o Takeuchi-kun fosse mais que o melhor amigo do Yano? E se a Nanami ao invés de colega de classe do Motoharu, fosse vizinha? Algumas coisas que destoam bastante do original, deve-se a minha revolta quanto alguns acontecimento no mangá e também curiosidade de fazê-los percorrer outros caminhos. Preparo muitas surpresas com esta fanfic nascida da profunda admiração e paixão pelo mangá Bokura Ga Ita.