The Beautiful Thieves escrita por bitterends


Capítulo 18
Quem Disse Que Podia Me Tocar?


Notas iniciais do capítulo

"Saia de perto de mim,você está muito perto
Tire suas mãos de mim
Fique longe de mim,me deixe sozinho
Quem disse que você podia me tocar?"
Who Said You Could Touch Me? - AFI



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Capítulo Narrado por Davey

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No dia seguinte Bryan teria de viajar muito cedo, temia deixar Michelle sozinha. Muito contrariado pediu para que a levasse para minha casa ou ficasse por lá com ela.

Levei-a para minha casa, óbvio! Queria ter um momento com ela, sem tantas pessoas garantindo uma falsa segurança.

Ela havia se trocado em sua casa, antes de sairmos. Me esperava deitada em minha cama, e sim, com a camisa rosa claro que agora ela havia dominado, saía da lavanderia direto para seu corpo.

- São cinco da manhã, você ainda está acordada?

- Queria te esperar.

- Ah, que bonitinha! - Falei, dando um cheiro em seu pescoço de modo que a fazia rir, deitando ao seu lado. - Aliás, eu adorei o seu cabelo.

O ego dela inflou, eu não entendo porquê as mulheres sentem-se tão especiais quando elogiamos seus cabelos... Mas eu realmente gostei de seu cabelo.

- Não gosto desse lado da cama, Davey...

- A cama é um quadrado, todos os lados são iguais, Michelle!

- Eu quero ficar aí, do seu lado esquerdo.

- Eu também quero ficar aqui, como estou agora e você vai deixar! Não acredito que até nisso você quer discutir... Me dê sua mão aqui. - alisei-a e dei um beijo, colocando-a em meu peito.

- Está batendo rápido...

- É assim que você me deixa, menina. Agora vamos descansar, estou com sono.

Ela silenciou, mas em menos de cinco minutos senti sua mão pequena percorrendo meu tronco e seus beijos em meu pescoço. Mesmo enlouquecendo, não me movi, o que a fazia continuar.

Já estava no auge de meus arrepios, era uma louca!

- Pare...

- Está com medo?

- Não me provoque...

Ela então começou com as mordidas, os leves arranhões... Bem, não havia como parar. Virei -me de barriga para o alto e ela encaixou seu corpo sobre o meu e os beijos que estavam no pescoço de repente já alcançaram meu abdômen, eu já nem tentaria impedi-la, enquanto apertava minhas mãos em suas pernas.

Rolamos um pouco e eu fiquei por cima, estava tudo rápido... então olhei para ela e vi Christie. De novo, parei.

Empurrei-a de leve para o lado e sentei de cabeça baixa aos pés da cama.

- Eu sinto muito por isso... mas não dá.

- Qual sua desculpa agora? Temos tudo Davey... permissão, sentimentos, vontade... O que falta?

- Coragem.

- O que te faz tão covarde, te deixa com medo? Que droga, que tipo de homem é você?

- Do tipo que você não entende.

- Porque você não me deixa entender.

Pior é que ela tinha razão, eu não a deixava entender. Eu confiava profundamente nela, mas não sabia por que não conseguia lhe contar de uma vez.

Estava quase uma hora do mesmo jeito, sentado aos pés da cama e Miche vinha chegando de mansinho até mim. E quando notei-a novamente, estava sentada, encaixada em meu corpo.

- Davey, me conte o que há de errado. Confie em mim, me deixe te entender... eu quero te entender!

- Eu... acho que talvez seja a hora de dizer a você... -disse num suspiro longo, enquanto meus olhos encontravam os dela.

- Acho que passou da hora.

- Pare de me pressionar, já disse que vou contar e te digo mais; poderei entender caso você saia por aquela porta, não queira me ver ou sinto nojo de mim... ou tudo isso junto.

- Vou te escutar, depois falamos sobre o que farei ou não.

Dei uma pausa longa, puxando todo o ar para dentro de mim. Parecia prever o que Miche faria depois de me escutar...

- Quando eu tinha 16 anos, eu amava uma amiga minha. Amava tanto, muito mais que você possa imaginar. Seu nome era Christie, ela era de pele dourada, cabelos bem enrolados e longos, olhos cor-de-mel. Dona de uma alegria incomum... era linda, perfeita. Uma versão pouco mais magra que a Beyoncé. Tínhamos a mesma idade, eu era um dia mais velho que ela! Faço aniversário dia 20 de novembro e ela fazia dia 21. Não parece incrível? Nos fazia acreditar mais ainda que fomos feitos um para o outro. Aos 18, nos casamos. - Observando a atenção dela e seu silêncio, eu continuava. - Nossas famílias, embora gostassem de nós dois juntos, não aprovava a ideia de termos saído de casa cedo, assumindo responsabilidades desnecessárias, mas nos amávamos! Estudávamos e trabalhávamos, conseguíamos nos manter sozinhos, nunca nos faltou algo... Ela engravidou...

- E então?

- … Estávamos tão felizes, aquilo era tudo para completar nossa relação. Tudo mesmo. Mas num maldito 13 de outubro de 1993, ela morreu... Nosso bebê iria nascer em dezembro... mas mataram as duas; minha esposa e minha filha... - Minha voz embargou e um misto de ódio e tristeza traziam lágrimas aos meus olhos. - … Estavam mortas... as mulheres da minha vida.

- O que houve?

- Depois da aula na faculdade daquela noite, a banda tocaria num sujo bar de rock, chamado “Basement Rock” na rota I-95. A apresentação seria 1:00 da manhã, eu não queria que ela fosse para lá tarde, dirigindo sozinha, mas ela era persuasiva. Me fez aceitar e gostar da ideia. Ela chegou lá, toda linda, viva. Saiu mutilada, morta.

- Você a viu, ficou com ela antes disso?

- Sim, meia hora antes da apresentação ela chegou. Vestia uma calça de couro minha porque suas roupas não serviam de modo algum, uma blusa branca, larga, do The Cure, coturnos... Ela não costumava se vestir daquela forma e aquilo me deixou louco. Transamos pela última vez em um dos boxes do banheiro sujo e pichado, de uma maneira bem louca por causa do tamanho da bebê em sua barriga. Foi rápido, mas para nós parecia a eternidade, como todo momento que tínhamos juntos. A vi alegre, sorrindo pela última vez cantando conosco “Just Like Heaven” do The Cure, cantei para ela, era sua preferida, era nossa música. Depois ela saiu do meio daqueles roqueiros aglomerados, foi para fora, tomar ar... A apresentação acabou às 5:00 da manhã, nada dela. Eu senti meu estômago ardendo, angustia profunda... Pensei que ela tinha ido embora, rondamos o bar e o carro dela estava estacionado e ela não estava dentro. A procuramos até às 10:00 e ligamos para a polícia.

- Por que demoraram tanto?

- Porque queríamos acreditar que a encontraríamos, viva e logo!

- E então?

- Encontramos a Christie às 5:00 da tarde. Eu e dois policiais. Não podia acreditar no que via... Minha esposa nua, sua pele morena estava pálida, olhos escancarados, a garganta cortada, as mãos cortadas, machucadas... seu corpo ensopado de sangue... Christie viu tudo o que foi feito, antes de morrer sufocando com seu próprio sangue. Eu não me perdoo, tentei me matar várias vezes, nos meses seguintes. A imagem dela não me sai da cabeça... toda vez que durmo, sinto-a viva, vejo-a sorrir e imagino nossa filha... agora ela teria sua idade... imaginei sua infância, correndo num parque qualquer, colhendo margaridas, dizendo “olhe papai, peguei para você”... a família dela me acusou e eu acreditei neles, não nos vemos ou nos falamos há 17 anos, dois caras deixaram a banda, temendo que pudessem perder suas famílias também. Adam esteve comigo antes, durante e depois, ele não me deixou fazer minha vontade – me matar – Me deu forças, mas eu não consegui mais me envolver com outra mulher, não queria apagar ou substituir Christie. Ela era minha mulher, minha única mulher, a que me fez homem. Depois de alguns anos, mais por necessidades carnais, comecei a … a sair...

- Com homens? - ela disse, sem surpresa ou espanto... Como se soubesse...

 - Sim... mas nunca gostei de alguém, muito menos deixava que introduzissem o brinquedo deles em mim. Só que você não faz ideia do nojo que sinto, tomo vários banhos por dia, pra apagar toda a sujeira que possuo em mim... eu me sinto sujo, nojento demais só de pensar em tentar algo com você Miche, embora você alivie todos os tormentos que guardo. Não quero te emporcalhar, você é tão importante, tão especial...

- Ah amor... Me sinto estúpida, vulgar. Eu não sabia sobre isso. Não imaginava, nunca passou por minha cabeça... Me perdoe, por favor. Só que, não me leve a mal, mas você estava descrevendo seus pensamentos, não os meus. Eu te entendo, acho lindo que tenha momentos maravilhosos guardados sobre vocês. Mas isto não foi sua culpa, não poderia ser. Se era a hora dela ir embora, iria acontecer, de forma menos ou mais violenta e você não poderia prever nem evitar. E se... em outro plano, encontrarem-se, bem, poderão estar juntos novamente...

- Para mim, restaram-se lembranças. Para ela, onde quer que esteja, restou nossa filha. Não ficaremos juntos num outro plano... Ela me entregou para você, um dia antes de nascer... não me permitiu amar outro alguém pra que eu pudesse te esperar crescer.

Michelle me olhou corada, e eu não sabia como aquilo tinha saído de minha boca... como isso acontecia? Nunca imaginei que diria algo parecido, sequer acreditava em planos espirituais, coisas do gênero, era ateu.

Fui domado, deixando me levar pela vontade dela, que era a minha também.

Fomos pousando sobre a cama, tudo recomeçava; os beijos, as carícias, desta vez lentamente e romântico, estávamos embalados pelo romance que o momento anterior permitiu proporcionar.

Seu corpo era quente, acolhedor... ela parecia saber o que estava fazendo, cada toque, e o balanço suave de seu corpo, o rosto corado e o corpo suado, davam a ela uma beleza pela qual somente um homem pode ver quando está em sua intimidade com a mulher.

Eu era completamente de Michelle, ela era completamente minha... nos tornando um só corpo. Após 17 anos eu estava me dando a chance, me permitindo amar novamente.


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