Curada Para Ferir escrita por thedreamer


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Gente, hoje é meu aniversário *w* Dia 8 de outubro, e por sorte não estou tendo um aniversário como o da Mel. O que vocês acham dela?



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– Querida o que aconteceu? - Disse mamãe que veio correndo ver quem tinha chegado. Ela olhou meu rosto e colocou as mãos na boca. - Mel, seu rosto...

– Eu fui der... Eu caí. Na ed. física. - Corrigi rapidamente antes que ela percebesse. - Sabe como é, nunca fui muito boa com esportes. - Ela veio até mim e me abraçou.

– Justo hoje meu amor. Você devia ter faltado. - Ela afagou meu rabo-de-cavalo mal feito.

– Não mamãe, não devia. Liberaram o calendário de provas hoje, e por ter sido liberada mais cedo terei mais tempo de estudar. - Sorri desajeitada, e segui em direção ao meu quarto.

– Coma alguma coisa Mel. - Ela gritou.

– Estou sem fome, obrigado. - Gritei de volta.

Coloquei minha mochila em cima da cama e voltei ao corredor, para me olhar no espelho. A cena criou um nó na minha garganta. Porque? Porque aquilo tinha que acontecer justo comigo? Já não bastava eu não ter nascido com um rosto impecável como o de Marina ou até mesmo o de Callie, tinha de ganhar um machucado horroroso no rosto? Baixei os olhos para o meu braço. Mamãe não o vira. Estava ficando roxo esverdeado. E então uma lágrima rolou por cima do curativo, sequei com velocidade, causando ardor. Voltei para o meu quarto e fechei a porta, determinada a estudar, mas Marina chegou.

– Porque veio embora mais cedo...? HA HA HA HA HA - Ela guinxou. Virei-me pro meu livro de física tentando ignorar. - Fala sério, só o que te faltava, o que é isso? - Continuei ignorando. - Estou falando com você Melina! O que é isso no seu rosto?

– Será que não viu que é um curativo Marina? Ou seu cérebro é pequeno demais pra conseguir identificar? - Revidei gritando, no mesmo tom que ela.

– Ficou nervosa bebê? Eu não tenho culpa se sua vida é uma desgraça tá? - Ela jogou os cabelos brilhantes para trás e colocou as mãos na cintura. - Porque não me avisou que viria mais cedo?

– Porque não te devo satisfações! - Quase cuspi as palavras.

– Você é insuportável Melina! Ah, e, você não precisa saber, mas vou falar mesmo assim: Estou indo fazer compras! - Ela cantarolou. A olhei com toda a minha indignação estampada em meu rosto.

– Fazer compras? - Ela concordou com um enorme sorriso, penteando o cabelo com os dedos. - Com que dinheiro? - Indaguei, ainda indignada.

– Com meu salário, óbvio. Comprarei no cartão, e quando a fatura chegar já terei recebido. - Sorri com escárnio.

– Não vai não! Você vai usar o seu primeiro salário para ajufar com as contas! - Me laventei.

– Ha, até parece! Não foi minha culpa o papai ter sido idiota o suficiente para perder todo nosso patrimônio...

– O PAPAI NÃO É IDIOTA! A ÚNICA IDIOTICE QUE ELE JÁ COMETEU FOI TE CRIAR COM TANTO MIMO! OLHA SÓ O QUE VIROU...

– VOCÊ TEM INVEJA PORQUE SABE QUE NÃO É TÃO AMADA QUANTO EU, MELINA, VOCÊ NEM ERA PRA TER NASCIDO SUA RIDÍCULA! FOI UMA GRAVIDEZ NÃO DESEJADA, IA PRA ADOÇÃO, SÓ NÃO FOI POR QUE MAMÃE É MUITO BOBA, E NÃO QUIS. - Calei subitamente. Eu nunca soube daquilo. Minhas pernas ficaram bambas e as lágrimas começaram a descer deliberadamente, não pude impedir.

– É menitra! - Disse um pouco mais alto que um sussurro.

– Não, não é. E no fundo você sabe. - Ela continuava mechendo no cabelo, como se não tivesse acontecido nada. Ela olhou pra mim. - Ah, olha o drama garota. - Ela pegou sua bolsa. - Tchau.

Fiquei ali. Sentada na minha cama olhando para o nada, com aquela resposta intalada na minha garganta. Eu ia ser entregue para a adoção. É de se ver que mamãe não teria coragem. Criei forças e fui até porta trancá-la. Eu sempre achei que mimavam mais a Marina, mas estava acostumada com aquilo. Então, era isso. Nunca me quiseram, me criaram por piedade. Foi como se de repente o mundo desabasse em cima de mim. Caí de joelhos chorando por tudo que já me dera vontade de chorar. Meu estômago dava rodopios com tudo que eu me lembrava. Era uma dor indecifrável, parecia que algo estava me corroendo, sugando minha vida por dentro, eu queria fugir, tentava tirar aquela dor, mas ela parecia querer sair de dentro, eu não sabia como fazer. E então eu olhei para o meu estojo, para dentro dele, para o meu compasso. Olhei para a ponta afiada dele, senti uma tontura e a dor parecia aumentar, eu tinha que aliviar ou morreria. Cambaleei até meu estojo e peguei o compasso, o abri, deixando somente a ponta afiada e risquei meu braço, com os olhos fechados. Pensei que doeria, mas não, pareceu aliviar. E então fiz outro corte, e mais outro, e outro. Deitei-me e deixei meu sangue escorrer junto com minhas lágrimas. A dor não cessara, mas diminuíra quase ao zero. Fiquei deitada por quase duas horas imóvel, até cair a fixa. Se mamãe me visse daquele jeito causaria uma confusão imensa. O sol já pusera-se e estava ventando, prestes a chover. Levantei vagarosamente e fui para o banheiro me lavar. A casa estava silenciosa, a não ser pelo som da chuva no telhado. Tomei um banho rápido, vesti um baby doll de calça e blusa de manga comprida, par me esconder do frio e esconder meus ferimentos. Meu estômago roncava, mas fiz o que já fazia parte de mim. Ignorei. Deitei-me e embrulhei meu corpo todo, tapando a cabeça, e durmi ao som da chuva e do meu silencioso choro.

Ao contrário do que eu esperava, o dia não amanheceu claro, pelo contrário, ainda chovia, mais forte do que na noite passada. Continuei deitada, não tinha força muito menos vontade de levantar. Depois de muito tempo Marina se levantou e fez tanto barulho que eu teria acordado se já não estivesse. Depois de minutos e minutos fazendo barulho ela saiu do quarto, o deixando em um silêncio imutável. Estiquei meu braço e tateei a mesinha de cabeceira até encontrar meu celular, verifiquei e vi que já eram 11:00hrs. Sempre fui acostumada a acordar cedo, inclusive nos sábados, e ninguém se preocupou em ver se eu estava bem. Senti meu nariz arder e sabia que lágrimas estavam por vir. Suspirei e controlei-as. Levantei-me já não conseguindo mais ignorar minha fome. Fui até a cozinha e vi que mamãe e papai não estavam em casa, assim como Marina. Olhei para a geladeira e vi um bilhete na letra de garrancho do papai.

"Melina, saímos para conhecer a vizinhança, íamos te chamar, mas Marina disse que você havia dito para não te acordar. Não acredito que demoraremos. Beijos."

Embolei o papel em uma bola e joguei no lixo. Abri a geladeira procurando algo para comer. Peguei leite e cereal. Depois de comer tudo e repetir com voracidade, comi uma maçã. Fui até meu quarto e comecei a fazer meus deveres. Quando olhei no relógio, às 14:55, ouvi a porta se abrindo. A chuva havia cessado, mas ainda estava frio. Guardei meus cadernos e livros, depois de tanto estudar, minha cabeça estava girando. Vesti uma calça jeans, tênis e um casaco preto. Deixei meu cabelo solto pra ajudar a esquentar meu pescoço. Encontrei todos rindo na sala.

– Oh, oi querida! - Disse papai entre sorrisos.

– Oi. - Disse seca.

– Desculpe não termos te acordado, leu o bilhete? - Ele tentava parar de sorrir, mas não conseguia.

– Encontrei, e eu não me incomodo de terem ido sem mim. Eu vou até a casa de uma amiga certo? - Marina parou de gargalhar e olhou para mim ainda sorrindo.

– Amiga? - E disparou a rir novamente. Acenei para mamãe e papai e saí. Eu não ia a casa de uma amiga, porque não tinha amiga. Então saí sem rumo, caminhando contra o vento, que estava forte, levando meu cabelo para trás e me trazendo uma sensação maravilhosa. Depois de um bom tempo caminhando me vi em frente à uma praça. Havia um parquinho onde poucas crianças se divertiam, um gramado extenso por quase toda a praça, mesinhas com xadrez desenhado, e bancos, como em toda praça. Havia também uma rampa de skate, onde reconheci Bernardo. Apesar de me sentir bem de tê-lo visto ali, não fui falar com ele, segui até um dos bancos e me sentei, de frente a um pequeno lago onde havia gansos. Fiquei admirando-os.

– Você por aqui? - Olhei para trás e vi Bernardo.

– Ah, pois é. Bem, porque a surpresa? - Ele balançou a cabeça.

– Não sei. Você só... Não parece ser o tipo de garota que sai muito. - Concordei com a cabeça - Mas e então, que está fazendo aqui sozinha? - Dei de ombros.

– Não tenho amigos.... - Ele ergueu as sobrancelhas e eu corei. - Que gostem de sair no frio. - Completei vermelha.

– Bom, você não estava muito bem da última vez que nos encontramos. - Ele disse e eu fiz cara de desentendida, e então ele apontou pro meu rosto machucado, que eu havia esquecido.

– Ah. - Corei ao extremo. - Mas, e então, o que fazia lá? - Perguntei tentando desviar o assunto do qual colocava em questão a minha vida desastrosa.

– Me matriculando. - Ele disse sorrindo, e eu sorri em resposta, sem mesmo notar. - Eu disse que iria pra lá ano que vem, eu gostaria de ir esse ano mesmo, mas já estam nas provas finais, então não teve como. - Concordei. - Escuta... - Ele disse e começou a amarrar o cadarço - Porque da primeira vez que nos encontramos, você disse que não seria minha amiga? - Eu abri a boca para falar mas fiquei sem fala, senti meu rosto arder.

– Não quis dizer que eu não gostaria de ser, quis dizer que você, não gostaria de ser. - Ele ficou com uma cara confusa e eu sorri. - Olha, você sabe quem eu sou, não é mesmo? - Ele sorriu e balançou a cabeça.

– Claro, você é Melina Meester, a herdeira do homem mais rico da cidade, ou o ex mais rico da cidade... - Fiquei meio boquiaberta.

– Você sabe? - Ele encostou as costas no banco e se virou para mim.

– Sei de que? - Ele me fitava, mas eu estava tão desacreditada com aquilo que nem corei.

– Que meu pai perdeu tudo, e ficamos pobre e agora estamos vivendo em uma casa pequena, e que só estudo na Carnegie porque consegui uma bolsa. - Falei disparada, quase tropeçando nas palavras. Ele sorriu.

– Claro que sei, os jornais só noticiavam isso. - Fiquei totalmente boquiaberta.

– E ainda assim, quer ser meu amigo? - Ele ficou sério.

– Que tipo de garoto você pensa que eu sou? - Ele franziu o cenho. - Achou que eu queria ser seu amigo por causa do seu dinheiro? Me poupe. - Fiquei escarlate.

– Desculpe... É que... Foi isso que aconteceu com todos os meus amigos. Me abandonaram quando perdi tudo. - Abaixei a cabeça. Ele puxou uma mexa do meu cabelo e eu levantei a cabeça.

– Seu cabelo é tão bonito. - Ele disse e conseguiu me fazer sorrir. A primeira vez que sorri em oito meses.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Reviews please.



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