Curada Para Ferir escrita por thedreamer


Capítulo 23
Capítulo 24


Notas iniciais do capítulo

Olááááá minhas lindas! Como estão? Espero que estejam muito bem, saudáveis e felizes. Sabe aquela tortura de escola nova? Mudei para uma escola de ensino médio, e pensei: Já que é de ensino médio, todo mundo vai ser desconhecido! É meio óbvio minha conclusão né? Errado! Cheguei lá tinha grupinhos por todos os cantos, e eu sobrei :( Mas já estou averiguando o território para fazer amizade, haha.
Eu não estudo todo esse tempo, haha, mais ou menos. Segunda e quarta faço francês durante a manhã, e maybe, terça e quinta natação, e durante a tarde estudo. ´}E cansativo mesmo, mas, é meu futuro né? Espero que gostem!



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23  “A vingança geralmente atinge dois objetivos: ou traz consolo a quem sofreu a injúria, ou lhe traz segurança para o futuro."

 Acordo bem cedo e sigo para o banheiro. Pego meu estojo de maquiagem comprado ontem, e começo a criar a minha máscara. Passei praticamente todo o domingo no computador assistindo tutoriais, para aprender a me maquiar. Escolho uma sombra azul, que fica bem destacada; passo camadas e camadas de lápis e rímel. Pisco algumas vezes me olhando no espelho para me acostumar com essa cor. Fico feliz com o resultado, aprendi bem rápido. Solto meu cabelo que estava em um coque, e o penteio. Não faço nada demais, o deixo solto como sempre. Calço minha sapatilha e recolho minha mochila. Pego um batom vermelho e guardo dentro da bolsa, afinal se eu passá-lo aqui, o Rodrigo vai pirar.

 Desço calmamente e vejo que ele já está na mesa. Ele sorri para mim assim que entro na sala. Retribuo o sorriso enquanto me sento no lugar de sempre, e coloco a mochila na cadeira ao lado. Ele não parece ter notado minha ‘grande mudança’, ou, se percebeu guardou para si. Para minha total felicidade Vítor não desce para o café, e só o vejo na hora de descermos para o estacionamento. Ele usa uma calça jeans de lavagem escura, uma blusa enorme de moletom com capuz, tampando quase seu rosto todo. Ignoro-o, mas percebo que ele me olha algumas vezes.

 Sigo o caminho todo pensando em como começarei a minha mudança por lá. Vingança. Eu preciso me vingar da Callie, de quase todos, mas principalmente dela. E o melhor modo de fazer isto é descobrindo algum podre. Rodrigo me cutuca e percebo que ele disse algo.

 - Ah, desculpa! Estava distraída. – Fico vermelha.

 - Nada de importante, só queria saber se você gosta de ler? – Franzo o cenho.

 - Gosto sim, bastante. – Ele acena positivamente e encosta o carro na vaga mais próxima dos dormitórios.  Desço do carro e espero Rodrigo para me despedir, enquanto Vítor sai o mais rápido possível, sem falar com ninguém. O encaro seguindo para seu dormitório enquanto balanço a cabeça negativamente.

 - Eu não sei porque ele é desse jeito. Não consigo entender. – Rodrigo diz com um ar cansado e triste. Vou até ele e coloco a mão em seu braço.

 - Não fique assim Rodrigo, nada é culpa sua. Acho que ninguém sabe porque ele é assim. – Digo olhando para longe. Ele me abraça e sigo para a sala de aula.

 Assim que entro envio um olhar a Callie, e sorrio abertamente, fazendo-a erguer a sobrancelha. Sei que não sou má, mas para poder satisfazer meu mais novo desejo, terei de fingir, ou melhor, dizendo, atuar.

 - Bom dia Callie! – Digo ao passar por ela, e percebo que arranco olhares de quase todos ali presentes, até me sentar, na cadeira mais próxima do seu lado esquerdo.

 - O que pensa que está fazendo, sua ridícula? – Ela diz se levantando e apontando para a minha mesa.

 - Me sentando, não viu? – Retruco fingindo inocência.

 - Pois trate de se levantar agora mesmo, este lugar é da Daphne! – Suas bochechas começam a envermelhar, certamente de raiva. Recosto-me e cruzo os braços.

 - Não tinha nenhuma Daphne aqui, muito menos algum nome escrito, marcando seu lugar. Cheguei primeiro, e é aqui que vou ficar! – Viro-me mostrando que não irei mais discutir, todos nos olham atentamente. Pelo canto do olho vejo Callie se sentar com persistência.

 O professor entra na sala e dá início a sua aula, a qual presto bastante atenção, ignorando os olhares que recaem sobre mim, principalmente o de Callie, que recai com ódio. Terminada as aulas espio para onde Callie segue e fico feliz ao vê-la ir para o refeitório. Sigo pelo caminho contrário, até o mural onde indica o quarto de cada aluna, e percorro os olhos rapidamente até encontrar o dela. Para minha sorte conheço todas as suas colegas de quarto, assim será mais fácil saber quando nenhuma estiver por ali. Sorrio vitoriosa, por meio passo andando e caminho para o refeitório.

 Vejo Mariana em uma mesa sozinha, enquanto Belinda sta rodeada de amigas, vou em direção a Mariana, mas paro subitamente quando Vítor se senta com ela. Suspiro enraivecida e sento em uma mesa sozinha. Quando estou quase terminando, Belinda senta na minha frente.

 - Bom dia senhorita ‘não ligo, mas estou com raiva’! – Ela diz com sarcasmo. Ergo o olhar tranqüilamente e ela sorri. – Hum... De maquiagem, que milagre é esse? – Ergo uma sobrancelha.

 - Bom dia Belinda! Como foi seu final de semana? – Digo com um falso entusiasmo. Ela sorri e entra no meu jogo.

 - O meu foi ótimo, e o seu? – Ela diz abrindo um pacote de trident extra forte e saboreando um.

 - O meu não foi assim tão bom. Não teve nada de novo, foi normal. – Dou de ombros, sabendo que definitivamente, teve algo de novo.

 - Hum, bom saber. Quero te fazer uma proposta. Vai fazer o que no sábado? – Penso um pouco nas suas intenções antes de responder.

 - Nada que eu tenha planejado até o momento. – Ela sorri presunçosa.

 - Ótimo! Vamos ao cinema? – Fazia tempo que eu não saía para passear, poderia ser legal... – O Bernardo também vai, certo? – Minha barriga congela.

 - Tá. Bom, então, sábado, que horas? – Ela joga o cabelo para o lado e coloca o dedo indicador na bochecha, pensando.

 - O shopping abre as dez, então onze horas, daí a gente almoça por lá. – Ela sorri ainda mais presunçosa.

 - Certo. E... Vocês passam lá em casa, ou eu passo na de vocês? – Pergunto bebendo meu suco.

 - Pode nos encontrar já no shopping? – Ela pergunta.

 - Posso, não fica longe lá de casa. – Ela acena positivamente. O sinal toca e ela faz cara de desânimo.

 - Tenho que ir. – Ela diz preguiçosamente. – Será que a senhorita poderia sentar comigo no almoço amanhã? – Ela pergunta meio sarcástica.

 - Belinda, me desculpe, mas não gosto das suas amigas. – Digo olhando em seus olhos e ela ergue as sobrancelhas, surpresa.

 - Você nem as conhece! – Ela protesta, com razão. Não as conheço, mas não fui com a cara delas, e costuma ser boa com minha intuição.

 - Eu sei, mas... Não me sinto bem perto delas. – Dou de ombros. Ela balança a cabeça negativamente.

 - Tudo bem, você é quem sabe. – Ela caminha glamourosamente, como sempre para o dormitório. Empurro a bandeja para o outro lado da mesa e coloco minha mochila ali. Abro e procuro por minha agenda. Anoto as matérias que irei estudar esta semana e as divido por horários e datas, guardo tudo na mochila novamente, e caminho de volta para o quarto para me trocar.

 Entro e vejo que Mariana já está pronta, penteando o cabelo em um rabo de cavalo. Ela sorri ao me ver.

 - Oi Melina! – Ela diz abandonando o cabelo e me dando um abraço apertado. Retribuo feliz. – Pensei que viesse ontem, mas esperei até tarde e você não apareceu. – Sorrio feliz por ela ter esperado por mim.

 - Ambos concordamos em vir hoje, até mesmo para ficarmos mais tempos juntos. – Digo pensando no Rodrigo.

 - Ah, mas ainda bem que temos aula juntas, hoje. – Concordo sorrindo, enquanto sigo até o armário para pegar meu short e camiseta.

 - Só um momento, Mari. – Entro no banheiro e visto meu uniforme. Em menos de cinco minutos estou pronta. Com o cabelo já amarrado saio e caminho com Mari para a quadra.

 Seguimos tranqüilamente, cada uma mais desanimada que a outra pela ed. Física, que não é o forte de nenhuma de nós. Assim que pisamos na quadra sinto o olhar de Callie em mim, que tem seu longo cabelo castanho avermelhado em uma trança. Aceno com um grande sorriso e ela fecha a cara. Como nunca pensei nisso? Só de sorrir para ela deixo ela furiosa. Devia ter feito isso muito tempo atrás.

 - Espero que não tenhamos de jogar futebol. – Ela fala com uma expressão dolorosa, e eu concordo plenamente.

 - Boa tarde turmas, hoje vocês irão jogar vôlei. – Suspiro desanimada juntamente com Mari enquanto alguns dão gritinhos de excitação. – A divisão de times hoje será diferente. Será a turma contra si própria, e quem ganhar joga com a outra turma, você entenderam? – Todos concordam e ele prossegue escolhendo os times. Fico no time oposto ao de Callie. Meu time acaba me colocando na posição de bloqueio, o que não foi uma boa escolha, pois sou menor que a rede.

 O jogo começa. Começamos muito bem, até eu ter que bloquear. Para a minha sorte fazemos o rodízio e fico no fundo, onde consigo rebater e fazer perfeitas manchetes. Quase tenho um pirepaque de felicidade, quando meu time vence o dela, e vejo o quanto ela fica furiosa, me deixando mais feliz ainda. Infelizmente o time da Mari não vence, então ela não joga contra mim. Meu time acaba vencendo novamente, apesar das minhas mancadas.

 Volto para o quarto animada, brincando com Mariana. Entramos no quarto entre sorrisos e encontramos Mikaella se alongando novamente. Ela pára assim que entramos, e foca seu olhar em mim, retribuo, e persisto no olhar até desistir e ruborizar, já que ela continua.

 - Posso falar com você? – Ela diz. Tento não demonstrar o quanto isso me assusta, mas balanço a cabeça positivamente. – Mas quero com privacidade, pode ser lá no jardim? – Concordo novamente.

 - Você espera eu tomar um banho? – Ela acena positivamente. Viro-me para Mari e faço cara de dúvida, ela dá de ombros e sigo para o banheiro.

 Tomo um banho rápido, penteio o cabelo e o deixo solto. Visto uma calça jeans, all star, blusa do ‘The Maine’ e uma jaqueta jeans. Passo uma sombra bem leve, lápis e bastante rímel. Quando saio do banheiro ela não está mais lá, e a Mari diz que ela foi para o jardim, e que me espera lá. Desço um pouco insegura, mas começo a fazer uma lavagem cerebral em mim mesma, e chego no jardim com bastante confiança. Vejo que ela está sentada em um banquinho perto das margaridas. Caminho e me sento ao seu lado.

 - Então? – Pergunto na lata.

 - Você deve achar esse assunto muito chato, mas tenho que falar! – Ergo a sobrancelha e aceno para que ela prossiga. – É sobre o que houve sexta-feira. – Recosto-me no banco e suspiro cansada desse assunto. – Eu sei, desculpa tocar nisso, mas é que imagino o quanto deve ter sido ruim para você ser exposta daquela maneira, e as fotos do acidente...

 - A sua irmã não parece ter achado! – Solto ficando nervosa com esse jeito dela de falar. Como se fosse santa, e não soubesse de nada.

 - Irmã? – Ela pergunta com um enorme ponto de exclamação na testa. Fico corada. Não é possível, ela tem que ser irmã da Callie, elas se parecem demais!

 - A Callie! – Digo mais calma, morrendo de vergonha.

 - Ah! Não, nós não somos irmãs. E eu não apoio o que ela fez! – Olho para ela com descrença. – É sério Melina. Callie é minha prima, e eu sou bem ligada a ela, mas isso não significa que apoio todas as bobagens que ela comete, que são muitas! – Aceno positivamente, sabendo bem disso. – Enfim, peço desculpas por ela.

 - Não quero desculpas! – Digo me levantando. – Não vindas de você. A Callie fez tudo aquilo, e irá se arrepender. Ela quem deve me pedir desculpa, e o fará em breve. Agora, se era só isso que queria dizer... – Caminho de volta, mas ela me segura.

 - Como assim ela irá se arrepender? A Callie não é disso...

 - Não estou dizendo que ela irá arrepender por si própria. Eu farei com que ela se arrependa. – Ela ergue as sobrancelhas, e desvencilho-me de suas mãos.

 Volto para o quarto vermelha de tanta raiva. Só o que me faltava! Agora ela vem querer pedir desculpas pela priminha. Até parece. A Callie tem feito da minha vida um inferno há muito, e eu não vou deixar ela ilesa só com um pedido de desculpa. Ela vai pagar por cada lágrima! Vejo que Mariana não está no quarto, e me jogo na cama com tudo. Fico quieta ali por um tempo até me acalmar, e então me levanto e sigo para a área de lazer.

 Vejo Vítor sentando em um dos bancos mais distantes com fones de ouvido e um caderno. Minha curiosidade ataca novamente, e fico querendo saber o que ele está escrevendo, mas me contenho. Sigo para u banco bem distante do dele e me sento. Prendo meu olhar no longe e concentro meus pensamentos na minha vingança. Minha cabeça vai a mil, enquanto monto um perfeito plano em minha mente. Já vi a Callie escrevendo bastante em um tipo de agenda, e tenho certeza que não era sobre a aula. A tapada tem um diário! Se tiver uma coisa que eu jamais faria é escrever um diário. É tão arriscado, vai que alguém o descobre... Ela devia ter pensado nisso, que lugar melhor para encontrar os podres dela que o seu próprio confessionário? Um sorriso maldoso brota em meus lábios. Simplesmente tive uma das melhores idéias até agora!

 Volto com pressa para o quarto e sorrio empolgada ao ver Mariana por lá.

 - Mari, tem alguma garota na sua sala chamada Camila ou Caliandra? – Pergunto assim que entro e me sento em minha cama, abrindo a agenda.

 - A Caliandra sim, mas não tem nenhuma Camila, não. – Aceno positivamente.

 - Acho que a Camila é do 1º G... A Marcela! – Exalto me lembrando que ela pode me ajudar com essa informação.

 - O que tem a Marcela? – Ela pergunta meio espantada com minha ‘emoção’. – E... O que a Mikaella queria?

 - Ãn? – Franzo o cenho levando alguns segundos para a ficha cair. – Ah, não, nada demais. Queria pedir desculpa por sexta-feira. – Ela solta um fraco’ah’ e silencia-se. – O que aconteceu com a Marcela que ainda não a vi hoje? – Pergunto interessada.

 - Eu a vi assim que voltei da aula, no refeitório e aqui novamente quando vim me trocar para a educação física, ela saiu pouco tempo antes de você entrar.

 - Ah! – Digo pensativa. – Vamos estudar história comigo? – A convido e ela aceita.

 Passamos o resto da tarde estudando, trocando em intervalos de história para geografia. Já havíamos lido tanto que eu sabia tudo na ponta da língua. Estava tão entretida que nem percebi que Marcela havia chegado. Reparei somente quando ela bateu a porta do banheiro enquanto secava seu cabelo na toalha. Virei e me sentei na beira da cama.

 - Oi, Marcela! – Disse fingindo um sorriso. Eu estava ficando ótima nessa história de falsidade. Ela me olha de cima abaixo e não para o que faz enquanto responde.

 - Oi, Melina, e aí? – Dou um sorrisinho amarelo.

 - Eu queria te perguntar uma coisa. – Ela indica para que eu prossiga. – Tem alguma Camila na sua sala?

 - Tem uma. De cabelo curto, castanho e ondulado, pele morena e olhos castanhos, que usa aparelho. – Sorrio encontrando a Camila.

 - Sim, essa mesma. Obrigada. – Ela me olha como se eu viesse de outro planeta, e volta para o banheiro para pentear-se.

 - Porque tá querendo saber dessas garotas, Melina? – Pergunta Mari, e fico sem saber o que dizer.

 - Pesquisa de campo. – Dou de ombros e sorrio. – Percebi que estudo aqui há muito, e não conheço tantas pessoas. – Sento em minha cama e guardo minhas coisas na mochila.

 Troco minha roupa por um moletom e peço para que Mariana faça uma trança. Depois disso vou até o banheiro, lavo meu rosto, retiro toda a maquiagem e me deito, logo depois de ajustar o alarme para um pouco mais cedo. Levo algum tempo para dormir, pois fico maquinando o plano mais uma vez, receando que algo dê errado, mas ainda assim, disposta a arriscar.

Assim que o alarme toca, levanto-me e sigo para o banheiro, onde tomo meu banho, visto o uniforme e faço a maquiagem, hoje na cor verde. Comprimento a Mari assim que saio do banheiro, e a espero para tomarmos nosso café. Seguimos para o refeitório e Belinda acena para que nos sentemos com ela, e então nos juntamos a ela.

 - Bom dia pessoas! – Ela diz muito bem humorada.

 - Bom dia. – Respondemos Mari e eu em uníssono.

 - Estão preparadas para as provas da semana que vem? – Ela pergunta enquanto passa requeijão em sua torrada.

 - Na verdade eu estou bem segura. – Digo sinceramente.

 - Eu também, sou acostumada com provas, nunca tive receio, ou coisas do tipo. – Belinda acena positivamente.

 - Eu também não fico ansiosa, e sim preocupada. Não sei se vou tirar uma boa nota esse bimestre... Não ando conseguindo me concentrar, e isso tá acabando com minhas horas de estudo.

 - Está preocupada com algo? – Pergunto querendo ajudá-la.

 - Não, coisa boba. – Ela dá de ombros e sorri.

 - Se você precisar de ajuda com os estudos, ou com qualquer outra coisa, eu estou aqui Belinda. – Digo olhando em seus olhos castanhos e ela sorri com compreensão.

 - Vou querer sim. Podemos nos encontrar na biblioteca hoje a tarde? – Abro um largo sorriso.

 - Sim, depois das quatro, certo? – Ela concorda.

  Terminamos nosso café e nos despedimos, cada uma seguindo para sua respectiva turma. Vejo que hoje Daphne foi mais rápida e sentou no seu lugar habitual, consigo encontrar um lugar vago, uma cadeira atrás da de Callie, e me sento ali, ignorando totalmente a minha antiga e habitual cadeira. Prendo meu olhar nela todas as vezes que ela mexe na bolsa, e nenhuma vez ela puxa a agenda, ou melhor, dizendo, o diário. Deixo ela de lado e presto mais atenção na aula, esperando a oportunidade de voltar a ser a Melina de antes, que respondia todas as perguntas do professor. E então, agarro a chance assim que posso na aula de filosofia.

 - Alguém pode me dizer quem foi Platão, e qual foi sua relação com Sócrates? – Regina, a professora, pergunta. Ergo minha mão, e ela sorri para mim, enquanto todos colam seus olhos nessa cena. – Por favor, Melina.

 - Platão foi um grande filósofo e por muito tempo, havia sido discípulo de Sócrates, e acompanhou de perto o processo movido contra seu mestre. Para Platão, a morte de Sócrates deixou bem clara a contradição que pode existir entre as efetivas relações dentro de uma sociedade e a verdade e o ideal. – Digo deixando todos boquiabertos e a professora com um enorme sorriso.

 - Muito bem, Melina. Você teria mais algo sobre Platão, a acrescentar, como...

 - A primeira ação de Platão como filósofo foi a publicação do discurso de defesa de Sócrates. Nele Platão torna público o que Sócrates havia dito ao grande júri. – Ela sorri presunçosa e Callie revira os olhos, me deixando ‘lá em cima’.

 - Ótimo! Muito obrigada, mas agora eu gostaria que mais alguém me ajudasse com esta matéria, já que precisarão disso na prova, que acredito você irá tirar de letra Melina, e também quero acreditar que todos tirarão, portanto, quem mais? – Ela pergunta e o silêncio predomina. Ela então começa um discurso de que devem prestar mais atenção em suas aulas, que assim como as outras matérias, essa também reprova, e um monte de outras coisas.

 Assim que toca o último sinal, todos seguem para o refeitório, inclusive a minha presa, vou até a porta e olho para todos os lados a procura das suas companheiras de quarto meu coração infla  de adrenalina quando vejo todas ali. O caminho está livre. Caminho tranqüilamente, como se estivesse indo para o meu quarto, mas na verdade virei um corredor antes. Com muito cuidado espio comprovando que está totalmente vazio. Rezo para que a porta não esteja trancada, enquanto minha barriga parece congelar. Minha mão escorrega da maçaneta por estar suada. Respiro fundo e a seco na saia, tento de novo e a porta se abre.

 Fico alguns segundos parada, até perceber o que realmente estou fazendo. ‘Precisa ser rápida!’ Lembro a mim mesma. Entro e fecho a porta. Recosto-me nela e percorro meu olhar por todo o quarto. A mobília é idêntica ao meu, mas esse quarto é bem mais colorido, devido à decoração feita pelas garotas. Não é difícil descobrir qual a cama da Callie, já que está tudo rosa e com fotos dela por todo canto. Abro a primeira gaveta de seu criado com cuidado e velocidade, revirei tudo, mas só encontrei papéis escolares. Abri a segunda e vi alguns cadernos, mas nenhum era o que eu desejava, parti para a terceira, onde só revirei meias. Suspiro. Devia ter imaginado que não seria tão fácil. Vou até o armário abrindo as portas uma por uma, e procurando em todos os cantos possíveis.

 Apesar de mexer em tudo com velocidade, tomo o cuidado de não bagunçar, para não desconfiarem de nada. As portas de Callie acabam por serem as últimas. Reviro os olhos ao ver que mesmo lá, tem fotos dela. Abro seu porta-jóias, nada; Abro a gaveta de calcinhas, nada; Soutiens, nada; Gaveta de blusas, saias, shorts, nada; Começo a me desesperar. Será que ela está com ele na bolsa? Coço a cabeça aumentando meu nervosismo a cada segundo. Vasculho até mesmo a parte dos sapatos, e também não encontro nada. Fecho o armário e sigo para a prateleira, onde há vários livros, que tenho certeza, ela, nunca leu algum.

 Olho nome pro nome, capa por capa, retiro alguns pra olhar atrás, e novamente não encontro nada. Olho para o relógio e vejo que já se passaram dez minutos. Sigo para a escrivaninha, que tem cinco gavetas. Abro uma por uma, e quase ocorre uma explosão no meu peito quando encontro uma agenda. Um enorme sorriso se abre em meu rosto, e se fecha com tamanha velocidade, quando vejo o nome Caliandra na primeira folha. Fecho e guardo-a com raiva. Passo a mão no rosto para limpar o suor, e tento botar a cabeça para funcionar. Aonde ela esconderia seu diário? Sem nem ao menos pensar sigo para o banheiro. Abro todas as portas e gavetas ali possíveis, e não encontro nada novamente. Volto para o quarto disposta a pensar dessa vez. Mas agora me coloco em seu lugar. Aonde eu esconderia o meu diário? Percorro o olhar por todo o quarto novamente. E então meus olhos recaem sobre a cama. Embaixo do colchão! Corro até lá e levanto a beirada com algum esforço devido ao peso. Passo o braço pela beirada e congelo ao sentir que encontrei algo.

 Puxo rapidamente E o abro antes de me emocionar. Vejo o nome Callie escrito em uma letra bastante enfeitada e cor-de-rosa, passo a primeira página e vejo que eu estava certa. Ela fez a agenda de diário, está tudo ali, a minha chance de vingança na palma das minhas mãos. Como eu havia me agachado para procurar, fico ali mesmo enquanto começo a ler.

1 de janeiro, 21:35, Paris.

 Isso mesmo, querido diário. Estou em Paris! A primeira vez que venho aqui, e está sendo tudo perfeito. Os franceses são rapazes lindos e gentis, e essa história de que eles fedem, é tudo mentira. Eu conheci vários rapazes e algumas moças, todos bem cheirosos. Conheci um que me encantou. O nome dele é Pierre, uma fofura, e bem rico. O pai dele é dono de uma das mais famosas lojas de biscoitos daqui. Biscoitos não é algo que eu diga ‘noooossa, ele é dono de tudo isso!’, mas o que interessa é que isso o faz rico!!! É tão bom não estar naquele Brasil horrível, aqui é tudo melhor, estou até tentando fazer meu pai vir morar aqui, ou então me mandar para um intercâmbio bem duradouro. Já pensou, que maravilha?

 Reviro os olhos e paro de perder tempo lendo as primeiras folhas, do mês de janeiro, e os primeiros dias de fevereiro, já que também estava de férias. Paro no dia 6, o primeiro dia de aula.

6 de fevereiro, 21:06, meu quarto, Colégio Carnegie Mellon.

 Querido diário é com muita tristeza que escrevo isso. É, isso mesmo, estou de volta ao Brasil, de volta ao Rio Grande do Sul, de volta a Carmo, de volta a essa escola! Aaaaaaaaaaargh, que raiva, queria ainda estar na Europa, lá estava tudo tão maravilhoso, não é mesmo? Já não é tortura suficiente? Não, acho que não. Por que fizeram o favor de colocar a insuportável da Melina Meester na minha classe, de novo! Porque fazem isso comigo? Sério, é torturante ter que ver aquela garota todos os dias, e agora que irei morar nessa droga de escola, vou ter que ver ela na aula, no almoço, no lanche, no jantar, na biblioteca... Você não ia gostar de estar no meu lugar, não ia mesmo. Assim que entrei na sala dei de cara com ela. Você na vai acreditar, ela cortou aquele cabelo dela. Como eu já te contei, o cabelo dela é bonito, mas não tinha corte algum era horrível. Mas agora que ela cortou, ele ficou super lindo, o que não podia ter acontecido de jeito nenhum!!! Imagina, um cabelo bem preto e liso, tão liso que desliza quando ela faz a droga do rabo-de-cavalo, com um corte repicado, um franjão... Ficou lindo, de verdade. Não, eu não estou com medo dela chamar a atenção para si, já que continua sendo uma bobona, que abaixa a cabeça sempre que a critico, o que me deixa cada vez mais feliz. Mas eu tenho sim um receio, ela nunca vai ter o cabelo tão lindo quanto o meu, que você sabe, é ruivo com grandes cachos abaixo da cintura. E ela também nunca vai ter os meus olhos verdes ou meus lábios cheios e rosados, não, ela nunca vai ter! Mas tem garotos que preferem as morenas, não é mesmo? Portanto se ela continuar ficando ‘bonitinha’ vou ter de meu preocupar, afinal só eu posso chamar a atenção! Agora, chega de falar dessa ridícula. Tem cada gatinho novo na escola. Um deles é o Bernardo, que é amigo da coisa, ou sei lá se é algo mais, mas ele me destratou no acampamento, portanto ele está excluído da minha lista. Que lista? Essa:

 Gatos mais gatos de 2012

1 – Carlos Eduardo

2 – Gabriel

3 – Lucas

4 – César

5 – Vítor Hugo 

 Bom, nenhum é da minha sala, porque nenhum garoto do primeiro ano me terá. Ambos são do segundo ano, um mais lindo que o outro. O Vítor Hugo é o mais lindo de todos, mas por ser tão estranho tive que deixá-lo por último. Ele só anda com um capuz, e fones de ouvido, parece que é problemático. Mas não posso negar, é um Deus. Os olhos dele são mais verdes que o meu. Dá pra acreditar? Pois é, eu também não. Ai, hoje foi um dia cansativo, teve educação física, onde acabei com a Meester mais uma vez, e estou muito exausta. Então, vou dormir.

Beeeeijinhos diário. Callie.

 Não sei se fico surpresa, chocada ou emocionada. A Callie adorou meu cabelo? Começo a sorrir. Não só achou meu cabelo bonito, como se sentiu ameaçada. Muito bom saber disso, muito bom. Então quer dizer que ela se alimenta da minha fraqueza... Vamos ver o que ela fará agora que me fortaleci. E essa história dela achar o Vítor o mais bonito da escola... Estranho! Passo para a folha seguinte, mas paro na mesma hora em que pareço escutar passos. Minha respiração para. O som começa a aumentar. E agora, o que faço? E se for as companheiras de quarto da Callie? Ou pior, e se for a Callie? Ouço uma conversa e noto que é mais de uma pessoa. O que fazer, o que fazer, o que fazer? Recupero meus movimentos que haviam paralisado e me levanto, olhando para todos os lados pensando aonde me esconder. Vou para o lado do banheiro. E se uma delas resolver usar o banheiro? Volto desesperada E acabo me jogando no último segundo embaixo da cama, ao lado da de Callie. A maçaneta gira e vejo os pés entrando. Elas sorriem histericamente de algo, enquanto meu coração está preste a sair pela boca.

 - Cadê? – Uma delas pergunta.

 - Está embaixo de uma das camas. – A outra responde. ‘Droga!’ Penso no mesmo instante. Agora já era, elas vão procurar embaixo das camas, vão me encontrar, e eu ainda vou para na direção. Como sou burra! Devia ter deixado para ler no meu quarto.

 - Você não sabe qual? – Ela questiona novamente.

 - Não, procura! – Prendo a respiração e fecho os olhos. Está tudo perdido, posso esquecer da minha chance de humilhar a Callie. Percebo que ela começa a apalpar embaixo das tais, e suspiro silenciosamente quando ela grita.

 - Achei! Vamos, senão ele vai para a aula de educação física. – Ignoro o assunto das duas e fico bem quietinha até alguns segundos depois que elas saem, para não correr o risco delas terem esquecido algo e me verem.

 Rolo para o lado e me levanto. Abro uma brechinha da porta e espio. Não vejo ninguém, então saio, andando naturalmente, coloco o diário dentro da minha bolsa e sigo para o refeitório. A tempo de comer a sobremesa. Procuro pelo refeitório e não encontro Belinda, e nem mesmo Bernardo, que faz tempo, não vejo. Encontro Mariana acenando para que me sente com ela, e vejo que Vítor está lá. Fico meio indecisa, mas acho que seria chato negar já que ela me chamou. Ignoro o fato dele estar lá e me sento ao lado dela, de frente para ele.

 - Você demorou! Onde estava? Nem sequer almoçou. – Dou de ombros.

 - Não estava com muita fome, então fui dar uma volta.

 - Já é esquelética, se não comer vai voar! – Vítor comenta e eu o olho com desagrado.

 - Vítor Hugo! – A Mariana protesta, meio horrorizada. Coloco minha mão sobre seu braço com um sorriso calmo e meio sarcástico quando olho para ele.

 - Não liga Mari, o Vítor adora chamar a atenção. – Ele revira os olhos e começa a mexer em seu ipod. Começo a tomar meu sorvete, enquanto ela começa a questionar.

 - Então, vocês são primos, e eu conheço o Vítor a mais tempo que você Mel! – Ela sorri. – Que engraçado isso. – Aceno positivamente.

 - É porque o papaizinho dela...

 - NÃO FALA DO MEU PAI, VÍTOR! – Digo alterada, chamando vários olhares para a nossa mesa.

 - Olha o escândalo! – Ele fala ficando vermelho.

 - Você devia ter pensado nisso antes de falar o que não devia! – Ele balança a cabeça negativamente e se concentra mais uma vez em seu ipod.

 - Hum... Eu conheço o Vítor há mais tempo por causa da escola. Acho que já te contei isso, não é mesmo? – Concordo. – Foi meu primeiro amigo... – Ela sorri para ele, que retribui. – Lembra aquela vez que escorreguei, caí na piscina e te levei junto. – Ela começa a gargalhar junto com ele.

 - Como esquecer, graças a você perdi as três aulas mais chatas! – Ela fala como se comemorasse, e dou um leve sorriso, imaginando a cena.

 - Foi hilário Melina, tinha que ter visto! – Ela disse entre sorrisos. – Você devia ter estudado lá, talvez assim teríamos sido da mesma turma todos esses anos.

 - É, teria sido muito bom. Estudo aqui desde sempre... – Digo me lembrando a primeira vez que vim para cá, com três anos.

 - Puxa! Então são as mesmas pessoas desde sempre... – Ela diz pensativa.

 - É, tenho que ir Mari. Tenho natação... – Me silencio lembrando que Vítor também tem. Suspiro. – Tenho que ir, até mais tarde.

 Sigo para o quarto. Somente Mikaella está ali. A ignoro e guardo minha mochila dentro do armário. Pego meu maiô e o visto no banheiro. Visto o roupão e desço para o ginásio onde se encontra a piscina. Metade da turma já está ali, inclusive Callie. Depois de algum tempo Vítor entra, poucos segundos antes do professor. Ele nos cumprimenta e indica o que teremos de fazer.

 - Hoje será uma disputa em dupla. Um terá de nadar até o outro lado, e quando tocar a beirada, o companheiro salta e tem de tocar esta beirada de cá. A dupla que completar em menos tempo ganha. As duplas serão sorteadas da seguinte maneira: Casais, um de cada turma. – Todos concordam e ele pega duas pequenas caixas de acrílico onde sacode e começa a retirar os nomes. Ignoro toda a seleção até ele falar o que eu menos queria ouvir. – Vítor Hugo e Melina.

 Coloco a mão na cabeça cansada desses acasos infelizes. Vítor parece não ter agradado também e reclama com o professor que diz que não irá mudar nada, e que não adianta reclamar. Ele indica onde devemos nos posicionar. E eu fico na marca inicial, ao lado de Callie, que é companheira de um garoto bem bonito por sinal, e ela parece ter gostado. No mínimo é um dos garotos da lista. Balanço a cabeça negativamente.

 Nos preparamos e saltamos assim que ouvimos o som do apito. Nado com toda a velocidade que consigo e em pouco tempo toca a beirada e ergo a cabeça a tempo de ver Vítor já alcançando a metade da piscina em primeiro lugar. Fico na expectativa e abro um imenso sorriso ao ver que ele permaneceu sendo o primeiro, e tocou a beira da piscina e então o professor apitou mostrando que havíamos vencido. Saio da piscina ainda sorrindo e o professor nos chama.

 - Bom, mais uma vez Melina foi a campeã. É boa com isso mocinha – Sorrio enquanto ele levanta meu braço de um lado e o do Vítor do outro. – A dupla campeã, parabéns! Agora as meninas podem se sentar e recuperar o fôlego que será a vez dos meninos disputarem sozinhos, e depois as meninas.

 Depois do fim das disputas vesti meu roupão e segui para o quarto sem falar com ninguém, desesperada para chegar. Assim que entro sigo para o banheiro. Tomo um banho bem quente. Visto uma blusa de mangas compridas vermelha, calça jeans e um all star branco com poucos detalhes vermelhos. Faço uma maquiagem bem leve, penteio meu cabelo e sigo para a biblioteca.

 Encontro Belinda já estudando. A cumprimento e começamos a estudar. Matemática, depois física, seguido por português, filosofia, química, história geografia. Estudamos a tarde toda, e fico feliz ao ver que ela conseguiu entender todas as matérias, e ficar satisfeita com tudo. Saímos da biblioteca as 20:00 e seguimos para o refeitório. Ela conversa bastante, mas acabo não prestando atenção em nada ansiosa para ler mais o diário da Callie. Assim que termino minha comida me despeço, desejo boa noite e subo correndo para o quarto.

 Pego seu diário dentro da minha mochila e sigo para o banheiro, tranco a porta e olho para o espelho vitoriosa. ‘Para quem uma hora dessa estaria chorando ou se cortando, você foi muito bem Melina.’ Digo a mim mesma. Chegou a hora pela qual tanto esperei. Irei desmascarar aquela víbora e humilhá-la publicamente. Eu poderia apenas esfregar na cara dela, mas farei ela sentir o mesmo que senti. Não será tamanha dor porque ela não teve a mesma perda que eu, mas farei o possível para que ela se sinta abaixo de tudo e todos.


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Notas finais do capítulo

Mereço reviews? Espero que sim! Bem, como devem ter percebido agora a Mel está ficando maléfica, o que significa que o fim está se aproximando... :( Enfim, agora tentarei escrever os capítulos aos sábados e postá-los aos domingos, mas não vou dar certeza porque nunca se sabe né? Obrigada pela compreensão, e comentem tudo! Poly xx