No dia seguinte fui ao ensaio na casa do Artur muito mais disposta. A notícia do trabalho com o Luan tinha me deixado muito feliz. Eu até fiz a “dancinha” da vitória com a Rafa, o André e o Murilo no escritório lá em casa para comemorar

- Nossa, quanta alegria! – O Fiuk comentou enquanto me cumprimentava. Para variar ele havia chegado atrasado para o ensaio.

- Acordei de bom humor – Pisquei para ele querendo fazer uma graça.

- Fica ainda mais linda com esse sorriso no rosto – Ele me respondeu com aquele jeito carinhoso que ele tinha. Mexi no cabelo, nervosa, tentando disfarçar o quanto eu tinha ficado sem graça. Não esperava por aquele comentário.

Começamos a ensaiar. O Artur fez questão de que começássemos pelas cenas de romance entre o Guga e a Ciça. Passei quase a tarde toda passando texto em meio a abraços e toques com o Fiuk.

Mas nem todo aquele clima “água com açúcar” tirou o meu astral. No final do dia o Artur perguntou como faríamos para continuarmos os ensaios. Segundo ele, era de extrema importância que nós dois nos entrosássemos para que o namoro entre os nossos personagens convencesse o público.

- Se o Filipe não se importar, a gente pode ensaiar lá em casa. A Rafa já está craque em me ajudar a compor as minhas personagens – Falei, sem pensar.

- Sem problemas para mim, Anita – O Fiuk falou meu nome com uma entonação diferente, para me zuar porque eu o chamei pelo seu nome verdadeiro.

- Perfeito meninos. Infelizmente não poderei acompanhar todos os ensaios porque preciso ver como andam os outros atores da novela. Mas por favor, me mantenham informados, e qualquer dúvida me telefonem. Vou deixar a minha secretária avisada que qualquer ligação de vocês ela deve me passar imediatamente – Era incrível como o Artur conseguia falar tanta coisa tão rapidamente.

- Liberados por hoje, então? – O Filipe devia estar tão cansado quanto eu.

- Liberados garotos. Mas não deixem de ensaiar amanhã, ok? – Acho que o Artur não confiava na gente.

- Oww... finalmente! Fuiiiii querido diretor! – O Fiuk disse correndo em direção a porta fazendo graça. Quando ele girou a chave na fechadura, ele parou e olhou para trás – Vai querer carona hoje?

- Hããã... Acho que não. Na verdade, eu esqueci de combinar com a Rafa para ela vir me buscar. Mas fica tranqüilo. Eu ligo e em 15 minutos ela está aqui – Respondi tentando fugir da carona.

- Poxa Anita, me perdoe, mas preciso sair agora para uma reunião com a equipe de arte e fotografia da novela - O Artur falou sem graça.

- E aí? É pegar ou largar. Vai perder a carona? – O Fiuk perguntou.

- Ok. Se é assim, eu vou com você. – Aceitei sem opção.

Descemos todos juntos no elevador. Quando chegamos à garagem nos despedimos do Artur e seguimos para o carro do Fiuk.

- E aí Sr. Filipe, será que aquela seleção especial de CDs que você prometeu ontem realmente aconteceu? – Perguntei enquanto ele já saía com o carro da garagem.

- Você vai mesmo me chamar de Filipe? – Ele me questionou colocando os óculos escuros que estavam presos na parte superior do carro.

- Sim. Na verdade já estava até pesando em abreviar para Fê, porque não dá para te chamar de Fí, não é mesmo? – Brinquei

- Eu deixo você me chamar assim com uma condição. Se eu não precisar te chamar sempre de Anita. Você não tem nenhum apelido? – Ele me questionou

- Claro que tenho. Minha família me chama de Any. E o... – Parei de falar. Eu iria dizer que o Luan me chamava de Ní, mas achei melhor não dividir isso com o Fiuk. Pensei em algo rápido para improvisar – E... uma vez uma pessoa me chamou de Anita Bonita – Me lembrei da Bruna, irmã do Luan, me chamando daquele jeito durante a viagem para Campo Grande.

- Fechado Anita Bonita. Você está liberada para me chamar de Fê – Ele brincou comigo.

Logo em seguida ele apertou o botão “play” do rádio. Uma música do Ira!  começou a tocar.

- Olha, caprichou hoje, hein... Adoro essa música – Aquela era do meu tempo de ouvir rock/pop.

- Gosto muito do refrão dessa música – Ele disse antes de começar cantar -  “Vem ficar comigo, sem mais demora, pra ficar comigo, de vez”.

Fiquei em silêncio por um momento. Eu também adorava o refrão daquela música, mas cantada daquela maneira pelo Fiuk, de repente me pareceu que algo estava errado. Era melhor que eu estivesse imaginando coisas.

***

A gravação do clipe estava marcada para a próxima segunda-feira. Ainda faltavam sete dias para eu ver o Luan  e eu mal me agüentava de tanta ansiedade.

Mas, para a minha sorte, eu tinha tanta coisa para fazer por conta da nova novela que o tempo passou voando.

Os ensaios com o Fiuk continuaram, dessa vez na minha casa. Eu pedi para a Rafa chamar a Ruth, que já tinha me ajudado a compor outras personagens, para me ajudar com o Ciça. Dessa maneira eu e o Fê nunca ficávamos sozinhos. Ou a Ruth, ou a Rafa, e até mesmo o Murilo sempre acompanhavam os ensaios. Era melhor que fosse daquele jeito...

Eu também precisei mudar os cabelos por causa da Ciça. Por causa do filme, o meu cabelo estava preto e liso. Depois de horas no salão, ele ficou castanho escuro com mechas, tipo californianas douradas nas pontas, e ondulados. O que eu não fazia por um papel?

Além de tudo isso, eu ainda precisei assinar o contrato para a minha participação na novela e ajudar a Rafa a enrolar o meu irmão para que ele não viesse para o Rio naquele final de semana. O motivo disso ela não quis me contar, mas eu imaginava que tinha alguma coisa a ver com o Murilo.

Foram tantas coisas ao longo da semana que, quando percebi, já era segunda-feira.

***

Acordei cedo naquele dia. As gravações do clipe aconteceriam em uma fazenda no interior do estado, já que o André Magalhães queria que o casamento tivesse como cenário o campo.

- Rafa, acorda, acorda... ACORDA!!!! A gente precisa ir logo – quase espanquei a Rafa para que ela acordasse de uma vez.

- Gata garota, ainda são cinco da manhã. As gravações só começam às 9h. Deixa eu dormir mais um pouquinho, vai... Se você perdeu o sono, volta para a cama e conta carneirinhos. Sempre funciona – A Rafa me respondeu com a voz completamente enrolada. Ela tinha saído com o Murilo na noite anterior e os dois tinham voltado super tarde. Eles me chamaram para ir junto, mas eu não tinha vocação para castiçal, ou seja segura vela não era comigo.

Fiquei acordada, andando de um lado para o outro no apartamento. Eu não conseguia controlar a minha ansiedade. Estava doida para encontrar o Luan de novo, poder sentir o cheiro dele, sentir a alegria que ele transmitia. Eu precisava dele para me sentir completamente viva de novo. E mais do que tudo, eu precisava ter a certeza que nada tinha mudando entre nós.

Esperar a Rafa acordar, se trocar e pegar o carro foi uma verdadeira tortura para mim. Durante o trajeto até a fazenda eu só conseguia pensar em como seria ficar frente a frente com o Luan de novo. Desde o dia do show em São Paulo nós não havíamos nos falado mais. Será que ele ainda estava muito bravo comigo? Ou será que já estava disposto a acabar com aquele clima tenso entre nós? Eram tantas perguntas que se passavam pela minha cabeça... Meu coração estava agoniado, parecia que iria sair pela boca.

Chegamos ao local das gravações. A equipe técnica já estava trabalhando no local, mas não havia nem sinal do Luan ou de alguém que trabalhasse junto com ele.

- Querida, mas que bom que você chegou. Estou SU-PER ansioso para esse clipe. Vem meu bem, quero te passar algumas instruções, afinal, você é a ES-TRE-LA desse trabalho – O André praticamente me arrastou para dentro da casa da fazenda, onde aconteceriam as primeiras cenas

Ele falava, falava e falava sem parar sobre as mil ideias que ele tinha acrescentado ao roteiro do clipe. E eu só conseguia pensar que o Luan estava atrasado e que ele já devia ter estar ali, comigo.

De repente, o André parou de falar e deu um pulinho batendo as mãos umas nas outras.

- Luan, QUE-RI-DO, você chegou! Ahh... o meu casal de noivos finalmente juntos! – O diretor quase teve um infarto de tanta felicidade.

Olhei para a porta. O Luan estava parado debaixo do batente de entrada. Ele parecia sem graça, sem saber ao certo o que fazer. Caminhei até ele para cumprimentá-lo.

- Oi – Disse um pouco receosa.

- Oi – Ele me respondeu também meio sem jeito.

Ficamos um momento nos encarando sem dizer nada. Por mais que ele tentasse disfarçar, eu conseguia ver no seu olhar que ele ainda sentia algo por mim.

Sem pensar duas vezes o abracei bem forte, sem me importar se alguém estava ali para ver.

Ele retribuiu o meu abraço e afagou levemente os meus cabelos.

Era bom estar junto do Luan novamente.