A Granfina e o Caipira escrita por Manu Dantas


Capítulo 31
31 - Operação Luanita


Notas iniciais do capítulo

Meninas,
Não é por nada não, mas caprichei no capítulo de hoje, o último da primeira fase.
Então, sem delongas, aproveitem!
Trilha de hoje:
Primeira música - http://www.youtube.com/watch?v=5NNi4JIwsCo
Segunda - http://www.youtube.com/watch?v=MKY9bmNrSP0



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Entrei no carro e bati a porta.

- Para o Via Funchal, por favor. Rápido – Quase gritei para o motorista.

- Pode deixar gata. Se segura porque agora a gente vai voar – O motorista me respondeu dando partida no carro e saindo cantando pneu. No instante seguinte ele ligou o som do carro no último volume. Começou a tocar uma música do estilo sertanejo universitário.

“Eu já lavei o meu carro
Regulei o som
Já tá tudo preparado
Vem que o brega é bom

Menina fique a vontade
Entre e faça a festa
Me liga mais tarde
Vou adorar, vamos nessa”


Enquanto a música rolava, o motorista acelerava o carro pelas ruas de São Paulo. Ele era um rapaz jovem que tinha os cabelos lisos um pouco abaixo da altura da orelha. Enquanto cantava, ele balançava os fios e todo o resto do seu corpo no ritmo da música. Eu reparava naquele estilo maluco de dança quando ele parou o carro em um sinal vermelho. Através do espelho retrovisor, ele apontou o dedo em minha direção e cantou a próxima parte da música.

Gata me liga
Mais tarde tem balada
Quero curtir com você na madrugada
Dançar, pular
Até o sol raiar

Gata me liga mais tarde tem balada
Quero curtir com você na madrugada
Dançar, pular
Que hoje vai rolar

Tchê tcherere tchê tchê,
Tcherere tchê tchê,
Tcherere tchê tchê,
Tcherere tchê tchê,
Tchê, tchê, tche...”


O que aquele motorista pensava que estava fazendo? Ele balançava as mãos e a cabeça para acompanhar a música e dirigia como um louco, freando bruscamente nas curvas. Precisei várias vezes me segurar nas laterais do carro para não voar pela janela. Ele ignorou alguns sinais vermelhos, e fechou alguns carros que seguiam na mesma direção. Outros motoristas buzinavam irados para o condutor do táxi. Será que faltava muito para chegar até o local do show? E aquela música que não acabava nunca? Já estava ficando perigoso o motorista querer danças e dirigir ao mesmo tempo.

Como se ouvisse meus pensamentos, de repente o carro parou com uma forte freada. Fui atirada com tudo para a frente do carro e quase beijei o pára-brisas. Meio tonta, retornei para o banco traseiro ajeitando meus cabelos e meu vestido.

- Pronto gata, chegamos – O motorista me avisou, diminuindo um pouco o volume do som para que eu pudesse escutá-lo.

- Quanto custou a corrida moço? – Tudo o que eu queria era poder sair correndo de dentro daquele carro o mais rápido possível. Ele me disse o valor, e eu tirei o dinheiro da carteira do Murilo para pagá-lo.

Quando eu já ia saindo do veículo, ele me chamou – Hey gata, fica com o meu cartão. Beijo, me liga! – Ele piscou para mim tentando usar todo o seu charme.

- Hãamm... Obrigada – Dei um sorriso amarelo e saltei para a rua. Deus, da onde saia aquelas pessoas tão malucas?

Me concentrei novamente no meu plano. Eu precisava chegar até o camarim do Luan. Com sorte eu conseguiria falar com ele antes do início do show.

Eu já havia assistido algumas apresentações naquele lugar. Por isso eu sabia que havia uma porta lateral que os músicos e seus empresários usavam para entrar no Via Funchal. Caminhei rapidamente até a rua ao lado, onde ficava a entrada exclusiva. O local estava repleto de fãs do Luan que esperavam para entrar na casa de shows, por isso abaixei a cabeça e coloquei um pouco do cabelo para frente para tentar não ser reconhecida.

Havia um segurança parado em frente à entrada.

- Por favor, eu preciso falar com o Marcão, empresário do Luan – disse, tentando parecer cordial.

- Me desculpe moça, mas preciso saber qual é o assunto – O segurança me respondeu.

- Sou convidada do Luan para o show de hoje. Fui orientada a entrar por essa porta para ir direto aos camarins – Menti na cara larga.

- Só um instante. Preciso confirmar a informação – O homem tirou de dentro do paletó um rádio. Ele chamou alguém através do aparelho e explicou a minha situação, depois ouviu o que a outra pessoa dizia e desligou.

- Preciso que você aguarde um instante – Ele me disse sério.

Fiquei ali, parada em frente a porta encarando o segurança. Eu tentava parecer relaxada, mas no fundo estava com medo de que ele tivesse descoberto a minha mentira.

Alguns minutos depois, o Marcão, empresário do Luan, saiu pela porta.

- Então é você que está tentando entrar sem ser convidada? – Pelo jeito minha mentira não tinha colado.

- Olá Marcão. Como vai? Pois é, eu não fui convidada, mas acho que o Luan não se importaria se eu entrasse para assistir o show, não é mesmo? – Falei, tentando parecer simpática.

- Nem pensar mocinha. Esse show é importante para o Luan, e sempre que você aparece na vida dele alguma coisa dá errado. Nós estamos bem agora, não precisamos de você para estragar nada – Ele devia estar com muita raiva de mim. Com certeza isso tinha a ver com o fato de eu ter terminado com o Luan sem muitas explicações.

- E tem mais: a Cacau está aí. Ela não iria se sentir bem se você aparecesse por aqui hoje – Ele completou, entrando novamente pela porta e a fechando na minha cara.

Fiquei chocada com o jeito que o Marcão me tratou. Parecia que eu era uma criminosa, uma pessoa que não merecia o menor respeito.

Dei meia volta e me sentei no meio-fio da calçada. Como eu iria fazer para falar com o Luan? Se o Marcão não permitisse a minha entrada nos camarins, seria impossível falar com ele antes ou depois do show. A minha única chance seria tentar descobrir se ele dormiria em algum hotel de São Paulo.

Abri a minha bolsa para pegar meu celular e tentar falar com a Rafa. Com certeza ela conseguiria descobrir aquela informação para mim. Tirei o aparelho da minha bolsa e junto veio um pedaço de papel cumprido. Olhei melhor o que era aquilo.

Claro! Eu havia me esquecido completamente que a Rafa tinha separado um ingresso do show para mim. No mínimo, a minha empresária tinha previsto que aquela situação poderia acontecer.

No ingresso estava marcado que o show começaria às 22h. Olhei para o relógio. Faltavam vinte minutos. Conferi de novo as informações impressas no pedaço de papel. Ali estava escrito que o meu ingresso era válido para a área da pista. Ou seja, eu estaria alguns setores longe do palco, e principalmente, longe do Luan. Eu precisava agir rápido, mas ainda não tinha ideia do que fazer.

Vi um grupo de fãs passar por mim a caminho da entrada do show. Elas nem repararam em mim, sentada ali, na calçada. As meninas conversavam animadas sobre o show e uma delas comentou “Bem que a Anita poderia fazer uma participação especial no show de hoje. Foi super fofo os dois cantando juntos em Ribeirão”. Aquela era uma Luanita, certeza!

De repente tive uma ideia. Mais do que rápido, peguei o meu celular e acessei o meu twitter.

Assim que o site carregou, digitei “S.O.S. Luanitas, preciso da ajuda de vocês!”.

Não demorou muito, algumas fãs começaram a me perguntar o que estava acontecendo. Demorou bastante, e eu precisei usar várias “mentions”, mas consegui explicar qual era o meu plano. Eu precisava chegar até o palco do show para falar urgente com o Luan. As Luanitas precisavam me ajudar a chegar até ele.

A notícia se espalhou rapidamente. Em menos de 30 minutos,  a tag #sosluanita já estava nos trend topics do Brasil. As fãs que não estavam no show mandavam mensagens para as pessoas que estavam no Via Funchal avisando sobre a operação. O meu plano estava dando certo.

O grupo de fãs que estava no início da fila, quase entrando na casa de shows, me disse pelo twitter para que eu fosse até lá, pois elas me deixariam passar na frente. Bom, pelo menos entrar no Via eu conseguiria.

- Meninas, muito obrigada pela ajuda – Agradeci, enquanto furava a fila de entrada na porta da casa de shows

- Mágina Anita. Estamos aqui para ajudar. Torcemos por você – Elas me responderam cordiais.

Entreguei o meu ingresso para o funcionário da casa e entrei. O show já havia começado e o público ia ao delírio. O Luan cantava “Palácios e Castelos” no palco. Quase morri quando ele parou  para rebolar ao ritmo da música.

Era incrível, mas a missão S.O.S. Luanita havia chego até dentro do local do show. Conforme eu ia tentando passar para chegar até próximo ao palco, algumas fãs me reconheciam e iam me dando passagem, me ajudando o máximo que podia.

Claro que no meio do caminho eu precisei parar para algumas fotos com fãs, mas nada que me tomasse muito tempo. Algumas delas me falavam palavras de incentivo e me desejavam sorte. “ Anita, faz o nosso gordo feliz” ou “Anita, boa sorte. Torço por você e pelo Luan”. Outras, no entanto, não gostavam nem um pouco da ideia do Luan ficar comigo. Dessas, eu levei várias cotoveladas e alguns pontapés.

O show foi rolando e aos poucos fui chegando próximo ao palco. Ouvi o Luan cantar “Química do Amor” uma das músicas que eu mais amava, e “Sinais” a nossa canção. Não pude deixar de sorri ao ouvi-lo cantar “Nega” e imaginar que aquela música tinha sido feita para mim, como dizia o Murilo.

***

O show já estava quase no fim quando alcancei a pista VIP. Depois dali, só faltaria passar pela “Pista Premium” para conseguir chegar ao palco.

Precisei de muito talento para convencer o segurança a me deixar passar para a área seguinte. Algumas Luanitas que estavam por ali me ajudaram a convencê-lo. No fim, eu deixei com o segurança um autógrafo especial para a sua filha, e ele me deixou passar. Salva pelos meus fãs!

Na pista seguinte foi a mesma história, mas o segurança era ainda mais difícil de convencer. Mas com a ajuda de outro grupo de Luanitas, consegui passar para a “pista Premium” e finalmente ficar bem próxima ao palco. O Luan já estava tocando as músicas finais do show. Eu precisava me apressar.

Cheguei na grade e olhei para ver se reconheceria algum segurança do show. Não tive sucesso. Toda a equipe que havia trabalhado no show que assisti em Porto Alegre tinha sido trocada.

Continuei olhando para o outro lado da grade, tentando encontrar uma solução para o meu problema. De repente, ouvi alguém me chamando bem ao meu lado.

- O que você está fazendo aqui? – Era o Pedrão, motorista do Luan, que me segurava pelo braço para que eu percebesse que ele estava parado ali, perto de mim, porém do outro lado da grade.

- Pedrão – Sorri ao vê-lo ali – Eu preciso falar com o Luan – Pedi, quase implorando

- Ele não sabe que você está aqui? – Ele me perguntou. Rapidamente contei o que tinha acontecido comigo. Que o Marcão não havia me deixado entrar, e que as fãs me ajudaram a chegar até o palco.

Nessas alturas, o pessoal da pista Premium já nem prestava mais atenção no show. Eles aguardavam para saber se eu iria conseguir subir até o palco.

- Vem mocinha. Eu te ajudo a chegar lá. Vou fazer mais essa entrega para o Luan – Ahh como eu adorava o Pedrão.

Ele me ajudou a pular a cerca de proteção e seguimos em direção a uma escada que levava para os bastidores. As fãs gritavam “Boa sorte” e me pediam para seguir em frente.

Enquanto eu subia no palco, o Luan anunciou a última música do show.

- Pessoal, o show tá bacana demais, vocês são maravilhosos, mas essa é a saideira. Para fechar, quero ver todo mundo saindo do chão comigo – Ele disse para o público.

Nesse momento as fãs que estavam mais próximas ao palco começaram a gritar desesperadamente. “Luan, espera, não termina o show nego”.

Mesmo confuso, sem entender o que as fãs queriam dizer, ele deu sinal para que a banda seguisse. Eu assistia tudo da escada de acesso ao palco enquanto um grupo de seguranças discutia com o Pedrão. Eles diziam que ele não podia levar convidadas para aquela área do show e o Pedrão argumentava que ele tinha uma entrega para o Luan, e que era muito importante que ele chegasse até o palco.

A introdução de “Meteoro” começou a tocar. Aquela era a última música. Era agora ou nunca.

Me aproveitei deu um momento de distração dos seguranças e consegui passar pelos dois e chegar até a lateral do palco. De longe eu vi a Cacau assistindo ao show um pouco mais distante, nos bastidores.

Parei, pensando no que eu faria naquele momento. Simplesmente invadir o palco? Esperar o show acabar? Fiquei em dúvida por um breve momento tentando achar a melhor saída.

Enquanto isso, no palco, o Luan começava a cantar o refrão da música.

Te dei o Sol,
Te dei o Mar
Pra ganhar seu coração;
Você é raio de saudade;
Meteoro da paixão;
Explosão de sentimentos que eu não pude acreditar;
Aaaahh...
Como é bom poder te amar;


Enquanto rolava o refrão, uma das back-vocals, a Marla, me viu parada ao lado do palco. Ela gesticulou para mim me perguntando se eu queria o microfone. Confirmei com a cabeça, e então ela desencaixou o pedestal da parte superior do equipamento e o estendeu na minha direção. Corri ao encontro dela, e a agradecendo peguei o microfone.

O Luan agitava o público do outro lado do palco e nem percebeu o movimento diferente no canto que eu estava.

Respirei fundo, e ainda com a ajuda da Marla comecei a cantar a primeira estrofe da música, surpreendendo todos da banda, e principalmente o Luan.

“Depois que eu te conheci;
Fui mais feliz;
Você é exatamente o que eu sempre quis;
Ele se encaixa perfeitamente em mim;
O nosso quebra-cabeça teve fim;”

O Luan ficou por alguns instantes procurando de onde vinha aquela voz diferente. Quando me viu, ainda parada no canto do palco, meio sem graça com a situação, ele parecia nem acreditar.

“Se for sonho, não me acorde;
Eu preciso flutuar;
Pois só quem sonha,
Consegue alcançar.”

Enquanto ele cantava o segundo trecho da música, ele caminhou até mim e segurou a minha mão. Procurei em sua expressão alguma reação negativa àquela minha aparição repentina, mas não encontrei nada. Sorri, aliviada.

“Te dei o Sol,
Te dei o Mar pra ganhar seu coração;
Você é raio de saudade;

Meteoro da paixão;
Explosão de sentimentos que eu não pude acreditar;
Aaahh...
Como é bom poder te amar”

Cantamos juntos o refrão da música. Ficamos super a vontade no palco, dançando  e interagindo com o público. O Luan não soltava a minha mão por nada. Ele devia estar com medo de eu fugir se me soltasse.

Repetimos as estrofes da música cantando juntos. A banda teve que se virar para conseguir acompanhar o nosso tom de voz, mas nem eu  nem ele estávamos ligando muito para cantar no tempo certo e afinados.

“Tão veloz quanto a luz;
pelo Universo eu viajei;
Vem me guia, me conduz;
Que pra sempre te amarei;”

O Luan cantou essa parte sozinho me olhando nos olhos. Quase me derreti toda com aquele sotaque lindo. Eu estava tão feliz que tudo estava dando certo. Mesmo sem planejar nada muito bem, eu tinha conseguido chegar até o Luan.

Terminamos a música e o público foi ao delírio. Eram tantos gritos que nós mal conseguíamos entender o que as pessoas diziam.

- Vocês viram pessoal, que surpresa boa! – O Luan disse para as fãs – O que aconteceu nega, para você aparecer por aqui, assim, sem avisar?

- Olha, eu deixei a inauguração do livro da Rafa, passei o maior sufoco dentro de um táxi, precisei das nossas fãs para chegar até aqui só para te falar uma coisa – Respondi

- Então fala, ué – O Lú disse, impaciente

- Luan Rafael Santana, eu te amo!

Eu o peguei de surpresa com aquela declaração. Primeiro ele pareceu não acreditar no que eu disse, mas depois ele abriu um sorriso daqueles que só ele sabia dar.

Fiquei tão encantada com aquele sorriso que nem percebi quando ele jogou seu microfone no chão e me segurou pela cintura, aproximando o meu corpo ao dele. No instante seguinte, ele estava me beijando.

O público foi mais uma vez a loucura. Nem liguei que estava diante de milhares de pessoas e que muitos fotógrafos registravam a cena. Retribui o beijo abraçando o Luan bem forte.

***

Depois que paramos de nos beijar, peguei o microfone e perguntei para o pessoal da plateia.

- Gente, vocês topam nos ajudar a fugir?

Todo mundo concordou. Várias pessoas gritaram frases de incentivo, nos encorajando.

De repente percebi que o pessoal organizou uma espécie de corredor, permitindo a nossa passagem até a saída.

- Então vem nego – Puxei o Luan pela mão e usamos as escadas laterais do palco para ir em direção à saída.

Uma noite seria pouco para matar toda a saudade que eu sentia dele.


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Notas finais do capítulo

Meninas, caprichei no cap, agora quero comentários caprichados também, ok?
Afinal, esse é o último cap da 1ª fase. Foram 31 capítulos acompanhando a história desses dois. Quero saber o que acharam da história até aqui.
AVISO IMPORTANTE:
Meninas, amanhã posto um resumo de como será a próxima fase.
Mas preciso saber - Vocês preferem que eu continue colocando os caps em sequência (exemplo - o próximo será o 32, depois o 33 e assim por diante), ou que eu inicie uma nova história (aí a primeira e a segunda fase ficarão separadas)?
Me digam o que preferem, ok?



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