Eliza No País Das Maravilhas escrita por Avril_Gomez_108


Capítulo 23
Descubro o ninho de cavaratas


Notas iniciais do capítulo

Dessa vez não demorei tanto! :)
Queria agradescer á BekAinsworth, Jellyfish e Belle pelas lindas recomendações. Meus leitores são os mais fodas do planeta! Também queria agradescer a todos os leitores que me ajudaram á ter 332 reviews até agora! Amo vocês!



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Ele me abraçou, e me abraçou muito. Mesmo com raiva por minha decisão ter sido ignorada, a coisa mais ofensiva no meu Liacionário (meu próprio dicionário patenteado), não pude evitar corresponder seu abraço de urso. Por alguma razão parecia que fazia dias que eu não o via, o que era estranho, já que só havia algumas horas. Mas a sensação era muito real. Nico me levantou no ar e quando meus pés chegaram novamente ao chão ele sorriu como uma criança olhando para o doce na vitrine da loja. Como eu já disse anteriormente em outras partes da historia, seu sorriso é extremamente lindo.

–Meus deuses! Que saudade- disse, ainda sorrindo ele alisou a mecha de meu cabelo que sempre insistia em cair em meu olho. De repente sua expressão mudou para um de raiva- Como pôde fazer isso? O que deu na sua cabeça fugir desse jeito, com um bilhetinho fuleiro! Eu quase tive um infarto!- ele me arrastou para um canto mais perto das árvores, longe do show dos ursos, mas quando chegamos lá seu rosto mudara de novo- A culpa não é sua, a Cat queria você sozinha então disse aquilo porque sabe que você é uma pessoa maravilhosa que faz qualquer coisa pelos amigos.

–Pessoa maravilhosa?-perguntei

–É e... Você tinha que se preocupar com a gente né? Suas amigas estão pirando, o Percy também, se bem que ele não tem o direito de falar de você já que ele também é capaz de fazer algo assim- de novo Nico estava bravo- Mas eu estou jogando muito peso em você, nem sei como foi andar por ai com Afrodite, deve ter sido um inferno- estava com compaixão novamente

–Na verdade foi... – comecei, mas Gaspar Zinho me interrompeu nervoso novamente

–Vocês filhos de Poseidon, consideram seu amigos como irmãos e bla, bla, bla. Não sabem como esse jeito impulsivo de vocês afeta as pessoas que estão por perto- ele mantinha o dedo na minha cara, dando-me uma bronca- Mas não posso te culpar por ser quem é, na verdade se não fosse assim não seria e como não era eu não gostaria de quem quer que fosse- disse confusamente e com muito amor nos olhos

–Perdi sua linha de raciocínio, de quem está falando?

–Você!

Ele parou encarando-me. A cada cinco minutos o sorriso se desmanchava ou se formava. Estava me dando muito medo.

–Nico, você comeu alguma planta daqui, acho que está doente- falei

–Não estou doente!- disse Nico/ nervosinho

–Calma, vamos até ali tomar uma água- falei arrastando ele

–Ta- disse com um sorrisinho

Dei á ele o restinho de água da garrafa que estava em minha mochila. Depois de beber ele pareceu bem menos bipolar. Então conseguimos conversar, mas era a minha vez de ficar irritada.

–Por que está aqui? Mandei Afrodite dizer para vocês voltarem, ela vai se ver comigo!- falei andando de um lado para outro enquanto o filho de Hades me observava sentado em uma pedra

–Não culpe Afrodite, ela nos disse para voltarmos, mas mentimos dizendo que estávamos indo embora. Sabíamos que para Afrodite nos dizer aquilo, você a tinha subornado, então para não prejudicá-la mentimos- explicou

–Por que ninguém me escuta? Eu fugi, vocês não tinham que vir atrás, não é isso que se faz quando uma pessoa foge! Estão fazendo isso totalmente errado! Além do mais demorou pra eu tentar seguir em frente, rolou até uma musiquinha no meu MP200!- falei

–Nós te escutamos, todos te escutam principalmente quando você grita. Nós escutamos o que você queria fazer, mas o que nós queríamos... – ele levantou na pedra e se colocou de frente para mim, obrigando-me á olhá-lo nos olhos-... Era ir atrás de você. Você fez o que você queria e nós o que queríamos, entenda isso.

Abaixei os olhos e arqueei as sobrancelhas, sempre fazia isso quando me sentia contrariada e não podia contrariar, era frustrante estar errada. Eu estava mesmo errada, não devia ter fugido, mas não admito isso em voz alta nem que Cronos me obrigasse. Ainda achava que Cat estava certa, que era tudo culpa minha o que estava acontecendo com meus amigos, mas naquele momento fugir estava fora de questão.

–Onde estão os outros?- perguntei depois de um longo tempo

–Acamparam um pouco mais atrás, devem estar dormindo ainda, saí antes de todos acordarem- explicou

–Nossa! Não faz nem cinco horas que fugi e os outros já foram dormir, não deve ser de noite nem no nosso mundo- falei

–Nem cinco horas? Faz tanto tempo que pode ser contado como dias- disse Nico

–Dias? Mas, pareciam horas... Loki!

–Me chamou?- disse uma voz atrás de mim

Era voz que eu mais odiava no mundo, cada nota e palavra dela me causava nojo. Era a voz de Loki. Mas não fazia sentido o deus louco estar ali tão perto de mim depois de tanto tempo e nem era a batalha final. Virei-me e me deparei com uma miragem de Loki, não o piradão em carne e osso, mas uma miragem como MI. Só aparecia em sua imagem do peito para cima, mas ainda assim dava para notar que usava uma armadura e que seus cabelos estavam arrumados com gel, como se tivessem sido colados, bem presos na nuca. Parecia que uma vaca (leia-se Hera) havia lambido sua cara e o resultado foi aquele cabelo, mas por outro lado, aquele penteado sobre saía seus olhos verdes loucamente assustadores.

–Você adivinhou não é? Sim, fui eu que joguei um feitiço que dura oito dias em você para parecem quatro horas, legal não é?- perguntou com um sorriso sarcástico

–Oito dias? Eu sumi por oito dias? Como Afrodite não percebeu?- perguntei quase para mim mesma

–Ela não percebeu porque também joguei nela, essa é a única razão de ela ter durado tanto tempo no País das Maravilhas antes de aparecer outro deus. Esse feitiço tem alguns efeitos colaterais como uma doença do País das Maravilhas, mas relaxa você não esta doente embora eu querendo muito isso- disse Loki balançando a cabeça de um lado para outro como se estivesse ouvindo uma música muito divertida

–Por isso parecia que fazia dias que eu não te via!- falei olhando para Nico

–Exato! Mas essa não é a razão de eu ter me dado o trabalho de usar sua deusa Iris para falar com vocês. Só quero avisar que vocês estão chegando á uma distancia perigosa do seu objetivo e isso é ruim para mim, já que não posso ir á Ilha dos Achados e Perdidos. Sou proibido de pisar lá, então vou matá-los antes que consigam o que querem. E como vão morrer de qualquer jeito... Não podem namorar ainda. Só vai me dar mais raiva porque não tenho namorada... Hum... Porque será?- perguntou para si mesmo

–Porque você é feio, doido, idiota, bipolar, chato, controlador, irritante, magrelo, com a cabeça do formato de um ovo choco, tapado, burro, insignificante, sem nenhum talento, sem compaixão, cheio de ignorância e estupidez. E você é feio, duas vezes feio- respondi sorrindo

–Você também é tudo isso e tem um namorado- rebateu

Antes que eu pudesse começar a soltar palavrões horríveis que traumatizariam o deus, Nico foi à frente.

–Um: Não sou namorado dela. Dois: Você ousa chamar minha não namorada, porem prima de feia, idiota, doida, bipolar, chata, controladora, irritante, magrela, com a cabeça do formato de um ovo choco, tapada, burra, insignificante, sem nenhum talento, sem compaixão, cheia de ignorância e estupidez?- perguntou Gaspar Zinho em tom de desafio

–E duas vezes feia- sussurrei

–E duas vezes feia?- perguntou

–Sim, e daí?- disse Loki com desprezo

–E daí que ninguém a chama de feia, idiota, doida, bipolar, chata, controladora, irritante, magrela...

–Já entendemos!- falei

–Ah é, vai fazer o que?- perguntou Loki

Nico chegou bem perto da MI e encarou Loki com um sorrisinho vitorioso.

–Você é a pessoa mais normal e sem criatividade que eu conheço- disse

Loki arregalou os olhos e se preparou para insultar Nico também, mas o filho de Hades chacoalhou a mão no meio da imagem do deus e este desapareceu. Nico tocou a gola da jaqueta para frente, como aqueles bad boys dos filmes fazem quando acabam de realizar um ato do mal. Ele se virou para mim e continuamos á conversar normalmente, como se um deus não tivesse aparecido, nos ameaçado de morte e me insultado.

Nico contou que assim que leu meu bilhete foi para seu quarto e fez a mochila, ele havia decidido desde o primeiro segundo que iria atrás de mim não importa o que eu dissesse. O filho de Hades falou para meus amigos e meu irmão o que eu fizera assim que terminou a mala, todos tomaram a mesma decisão que ele e Ane, Laís e Julie disseram “Não é a primeira vez que ela foge”. Depois de todos montarem uma mochila com suprimentos deixaram a mansão, Annabeth calculava quanto tempo havia se passado desde minha partida, Travis e Connor ficavam repetindo para si mesmos que “salvariam sua melhor amiga”, Rafael (depois de recuperado) ficava de cabeça baixa alegando que seu ferimento me dera mais vontade de ir e o próprio Nico não falava nada, só pensando no que faria ao me encontrar.

Gaspar Zinho também disse que durante esses dias mais alguns monstros os atacaram, mas era apenas uma galinha gigante que acabou sendo o jantar. Mas Julie não comeu porque é vegetariana (desde pequena aquela criatura rara não come carne), então sumiu no mato e voltou com salada e molho, ninguém sabe como.

–Mas ela não pediu com a lógica contraria?- perguntei

–Se foi isso, por que ela iria pro meio do mato pra pedir?- disse Nico por sua vez

–Sei lá, ela nunca bateu muito bem da cabeça- respondi

Contei á ele o que eu havia feito. Descrevi as expressões terrivelmente engraçadas que Afrodite fazia enquanto eu á enganava (N/A: Mais conhecido como o termo “trollar”), ditei o que eu havia falado á deusa como ameaça (ele não gostou da parte em que eu dizia que o odiava), também falei sobre o Josefino e como me assustei diante daquela mudança estupenda. Fizemos piadas sobre Afrodite, de como ela era muito inocente em certas coisas e como dá muito medo em algumas situações. Era bom conversar com ele de novo depois de oito dias, enquanto falava com Nico percebi mesmo a passagem de tempo, parecia uma lembrança distante eu fugindo da mansão, ou todos na sala de jogos.

O mais triste era que havia se passado esses dias também no nosso mundo, e por mais legal que fosse o País das Maravilhas, eu estava com saudade da minha cama no acampamento meio sangue, daquele cheiro de morangos e até do Parreirinha. Sempre foi bem divertido no acampamento, passávamos as tardes cantando ou zoando, a maioria das vezes eu fazendo Nico de empregado, Loki estragou tudo.

A conversa tinha parado por alguns segundos, mas foi o bastante para eu entender. Se não fosse por Loki um monte de coisas ruins não teriam acontecido, foi aquela fada serva de Loki que fez a emboscada, foi Loki que me acertou com uma faca no Halloween, foi Cat, a empousa que trabalha para Loki, que me convenceu á fugir, foi Ben, que também esta do lado de Loki, que acertou Rafael com uma flecha envenenada. Tudo havia sido por culpa de Loki indiretamente e ninguém realmente prestou atenção nisso. Aposto minha vida que ele tem algo á ver com os milhos gigantes, porque seria um plano bem bolado, o maior medo de Julie aparecendo e decidindo a atacar. Era sempre no mesmo padrão, os alvos eram sempre os mesmos, meus amigos.

Quando fiquei em coma, foi para deixar meus amigos frágeis, com medo do que ele pode fazer. Então começou os ataques, primeiro Nico, depois Julie, depois Rafael, era tudo parte do plano, Cat disse aquilo exatamente para eu fugir e deixar meus amigos sozinhos, o tempo passava para eles, não para mim, era mais provável que sem mim eles morressem. Quando percebi isso me senti o ser mais idiota da terra por não ter visto o que estava tão na cara, fugir havia sido meu maior erro.

–Nico, me desculpa! Era tudo plano de Loki e eu caí. Me desculpe-falei com muito esforço, era difícil dizer que eu estava errada

–Plano?- perguntou

Expliquei minha teoria do que Loki estava fazendo. Nico balançou a cabeça em concordância visualizando o nada.

–Faz sentido. Aquele pilantra controla todo mundo deixando isso na cara para ninguém poder ver. Cretino- disse com raiva

–Tenho certeza que ainda fazemos parte do plano, que até essa conversa é esperada por ele- comentei

–Talvez até algo que ele tenha dito para nós. Ele é muito bom nesse jogo- disse Gaspar Zinho

–Mas eu sou melhor, já descobri o que ele quer, quando estivermos frente á frente vou meter um soco em seu nariz tão caprichado que nem plástica do País das Maravilhas vai resolver- falei com muito ódio olhando para o nada, só imaginando o quão linda seria a cena

Quando voltei á olhar para Nico ele sorria pra mim.

–Por que está sorrindo?- perguntei

–Porque estava com saudade de ver você ameaçando alguém- disse sorrindo mais ainda

–Sabe... Afrodite me disse que ela conversa com nossos amigos sobre nós dois- comecei- E sua irmã disse que você sussurra meu nome enquanto dorme.

Nico arregalou os olhos e desviou o olhar, ficando estranhamente vermelho.

–Vamos procurar nossos amigos, eles já devem ter acordado- falou se levantando da pedra com rapidez

–Espere, vou procurar Afrodite- falei

Corri para o meio da multidão, indo até onde eu e Afrodite assistíamos ao show antes da chegada de Nico, mas não a encontrei lá. Procurei no meio daquele monte de gente que ainda gritava por Josefino, até que resolvi sair de perto deles e procurá-la perto das árvores. Ao lado de uma pedra, bem á margem da clareira onde acontecia o show, encontrei um coração. Era como aqueles que estavam colados na roupa de Afrodite.

–Achou ela?- perguntou Nico atrás de mim

–O tempo dela aqui acabou, logo, logo vai vir o próximo deus para nos ajudar- expliquei

–Eu gostava dela aqui- disse o filho de Hades- Foi ela que lutou pra eu ressuscitar. É uma pena que não pudesse ficar até o final.

Concordei com a cabeça. Estava com curiosidade pra saber quem seria o próximo deus, mas ficaria com saudade da deusa Barbie.

Nico e eu mandamos uma mensagem de Iris para nossos amigos, eu estava com preguiça de ir até eles depois andar de volta pela trilha amarela, então era mais fácil comunicá-los para andarem logo. Todos suspiraram de alivio assim que me viram, para logo em seguida começarem a falar todos ao mesmo tempo, cada um me dando uma bronca de um jeito diferente. Eu teria tentado ouvir, mas como a bronca que Nico já havia me dado me ensinou muito (N/A: Acredito muito!) não escutei uma palavra.

Nossos amigos já estavam á caminho, então no sentamos novamente naquela mesma pedra e os esperamos. Nico não parecia ter esquecido meu comentário do que Laís disse, mas estava se esforçando para parecer o mais normal possível. Eu e ele falávamos de séries que adorávamos, era a primeira vez que eu conversava sobre o que ele gostava de verdade. Devia ter feito isso muito tempo antes.

–Friends- falei

–Nossa! Amo Friends, pena que já acabou, mas ainda bem que continua passando- disse

–Qual era seu personagem favorito em Friends?- perguntei

–Ross, ele é todo trapalhão e se mete numas situações horrorosas- respondeu rindo- E o seu?

–Rachel, ela ta sempre procurando um cara e sempre acaba fazendo besteira- respondi, então nós dois relembramos de episódios hilários da série

–E aquela série antiga da Disney que já acabou? Minha vida com Derek?- perguntou

–Nossa! Amo o Derek- respondi

Nico parou de sorrir.

–Qual Derek?- perguntou

–O da série e o filho de Ares- respondi

–O odeio- comentou

–Por quê? Ele é um cara tão legal- falei

–Não acho, ele fica querendo mandar em você- disse

–Ele é um cavalheiro comigo- rebati

–Mais que eu?- perguntou

Senti meu rosto arder. Claro que Nico era mais que ele, só que se eu respondesse isso ele acharia que ainda gosto dele e, bem, eu gosto só que... Ai que raiva! Cale a boca, eu sei o que você está pensando, é você mesmo que está lendo, não abra esse sorrisinho. Eu não sabia o que responder, meu rosto estava em chamas.

–Vou considerar esse seu silencio como um sim, ele é mais cavalheiro- disse Nico se levantando e andando até a trilha amarela, onde meus amigos já haviam chegado.

Eu queria ir falar com Nico, ele parecia chateado por eu não ter dito nada, mas não consegui, pois logo fiquei rodeada. Meus amigos me abraçavam, gritavam comigo, me abraçavam de novo, mas pareciam extremamente aliviados. Ane ficou agarrada á mim por muito tempo, Laís abraçou minhas pernas, então todas caímos por cima de Julie que se mantinha atrás de nós. Então rolamos levando Pâni e Meg junto. Quando finalmente a confusão parou começamos a rir histericamente.

–Julie, tira sua perna de cima da minha barriga- ordenou Ane

–Não dá, não consigo me mexer, Lia esta tirando o ar de meus pulmões- respondeu a filha de Atena com uma voz sufocada

–Eu saio daqui assim que Laís se desgrudar de mim- falei

–E que tal Pâni sair de cima dos meus braços- disse Laís

–Eu não consigo me mexer! Acho que quebrei um órgão tipo o pé- disse a filha de Apolo

–Pé não é órgão- disse Julie ainda com voz sufocada

–Isso não é hora de ataque de nerdisse- disse Pâni

–Você é filha de Apolo, já deveria saber- rebateu Julie

Os meninos riam da cena, até que foram nos ajudar. Meu corpo doeu inteiro depois disso, mas valeu à pena, eu estava com muita saudade delas. Depois de finalmente me levantar e abraçar todo mundo, Josefino apareceu. Meus amigos o olharam como se ele fosse um alienígena, Keitlyn, ops, Percy, escancarou tanto a boca que poderia lamber o chão sem esforço. Quando Josefino falou o susto de todos aumentou, aquela voz fininha que parecia ser remixada havia sumido.

–Olá Lia! Posso ir com você pra... Aonde vocês vão?- perguntou Josefino

–Praia sem sol- respondi

–Gosto de lá, fico todo bronzeado- disse o urso

Ninguém entendeu, mas perguntar alguma coisa pra um maluco pode ser perigoso, se ele responder você corre o risco de pirar na batatinha. Josefino perguntou novamente se poderia nos acompanhar e respondi que sim, afinal ter um urso gigante com uma voz assustadora pode ser útil se... Bem, pode ser útil. Voltamos a andar pela trilha amarela, no começo me senti estranha por voltar á andar com eles, como estava finalmente tendo a noção do tempo, nem me lembrava de como era andar com mais de uma pessoa. Mas logo me acostumei com meus amigos novamente. Laís toda aluada e Ane toda agitada. Julie com suas curiosidades e Pâni com sua felicidade incansável. Annabeth e seu gênio inteligente e Clarisse e seu gênio explosivo. Era muito bom ter eles de volta.

Ane simplesmente não conseguia sair de perto de mim, ela achava que eu era uma miragem que poderia sumir no meio do ar do nada. Percy estava na mesma situação, só que ele não saia de perto de mim para eu não fugir, ele me prometeu que faria vista grossa nos próximos dias. Fugir estava mesmo fora de questão, todos estavam com medo que eu fizesse isso então nunca deixariam de me observar. Até porque eu não queria mais fugir de ninguém.

Contei para Ane, Laís e Julie o que fiz nesse meio tempo. O que falei para enganar Afrodite e tudo que também falei a Nico, Ane não parava de dar tapas no meu braço, que nem doíam, por eu ter sacaneado sua querida mamãe. Foi quando lembrei o que a deusa do amor havia dito.

–Gente- falei alto para todos escutarem. Todas as cabeças se viraram pra mim- Afrodite me disse que ela tem um tipo de conversa com vocês.

–Que tipo?- perguntou Rafael

–Do tipo: Eu e o Nico.

Todos pararam. Minhas amigas olharam pra mim com muito medo, na verdade, todos os que falaram sobre aquele assunto pareciam estar tremendo.

–Não sei do que está falando- disse Clarisse, a mais corajosa

–Não é? Então devo lembrar- falei andando pelo meio deles, olhando para o rosto amedrontado de cada um- Vocês se juntavam á Afrodite para falar o que achavam de minha relação com Nico. Todos expunham suas opiniões, apostas do que aconteceria, fatos que comprovavam teorias, era praticamente um clube de fofocas. Mas eu não permito isso, querem falar? Então vão falar.

Estalei os dedos e correntes de água surgiram do chão, cada uma prendendo uma pessoa. Nico, Percy e Julie deram graças aos deuses por não terem falado de mim.

–Laís, repita o que disse para Afrodite- falei

–Que tenho certeza que você ficarão juntos!- disse rapidamente

–Sabe o que eu tenho certeza? Que você devia enfiar sua língua na goela- falei- Ane, o que você disse?

–Que vocês deviam ficar juntos porque são bonitinhos como um casal- disse quase chorando, mas eu sabia que era fingimento

–Você e Rafael também são bonitinhos juntos! Fique com ele!- falei

–Travis e Connor! Não quero perguntar o que você disseram então... – dei um tapa bem forte na cabeça dos dois gêmeos-MAIS ALGUMA DAS PESSOAS QUE ESTÁ AQUI PRESENTE VAI FALAR DE MINHA VIDA PESSOAL NAS MINHAS COSTAS MAIS UMA VEZ?- berrei

–NÃO!

–Não o que?- perguntei

–Não senhora!

–Senhora?- perguntei em tom de desafio

–Não senhorita!

Estalei novamente os dedos e as correntes sumiram. Todos caíram no chão com estrondo. Andei até Percy, Nico e Julie que se mantinham a uma distancia que seria suficiente para eu não notá-los, se eu fosse idiota.

– O mesmo vale para os três- avisei- Agora todo mundo levantando, agora não é hora de descansar. Seguindo pela trilha amarela!

Todos se levantaram e voltaram á andar com medo. Eles haviam aprendido a lição

Continuamos caminhando como se nada tivesse acontecido. Novamente voltei á chatice de ter que ficar andando e andando sem ter nada pra fazer, todos os outros conversavam, mas eu não tinha nada pra falar e minha mãe me ensinou que quando não se tem o que falar não se força a imaginação. Percebi então que o único que também não conversava era Nico, então decidi ir irritá-lo.

–Ei Gaspar Zinho! Está deprimido ou uma faca de fantasmas cortou sua língua?- perguntei chegando perto do gótico/ emo

– Nenhum dos dois, estou muito bem, só não quero conversar- respondeu

Eu havia entendido a indireta.

–Que foi Nico?- perguntei

–Já disse, só não quero conversar- repetiu

–É por causa do Derek?

–Lá vem esse aí de novo- sussurrou mais para si mesmo do que pra mim

–Se é por causa dele... – sussurrei em seu ouvido-... Você é muito melhor.

Saí de perto antes que visse sua expressão e meu rosto enrubescesse novamente. Mas dessa vez Ane me puxou para um conversa excitante sobre camelos, isso mesmo, aqueles animais de deserto com corcovas. Ela e Pâni queriam saber a diferença entre camelos e fuinhas, não sei por que, mais queriam. Depois de acharmos 20 diferenças entre esses animais, perguntei a diferença entre um corvo e uma escrivaninha. Decidimos então que os dois eram iguais por não termos achado nenhuma diferença além do obvio.

Depois mudei de conversa, andei com Rafael e os Stoll falando sobre os melhores artistas da atualidade. Zoamos alguns vídeos engraçados da internet, como o pônei maldito e brincamos de achar um animal que pareça com uma estrela de cinema. Era muito divertido ficar com eles, eu não parava de rir, mas logo a farra deveria acabar. O País das Maravilhas não me deixa ter mais que trinta minutos de paz. Eu já estava até com medo do que poderia vir a seguir, talvez alguns soldados de Loki, já que o deus prometeu que tentaria me matar, ou talvez finalmente o castelo da Rainha de Copas... Não, esse está longe, ainda bem, pois eu não estava nem um pouco a fim de jogar gasolina e depois acender um fósforo na cara de um exercito de cartas (N/A: Estava sim que eu te conheço!).

Paramos para descansar um pouco, beber, água e comer para depois voltar á caminhada. Sentei no chão e bebi longos goles da minha garrafa d’água, em seguida encostei-me a uma árvore, estava extremamente cansada. Continuei de olhos abertos, mas alguns segundos depois poderia ter dormido rapidamente, se Nico não tivesse se sentado do meu lado esquerdo e eu não tivesse tomado um susto. Sorri para ele e ele para mim, não falamos nada um pro outro. Meus olhos voltaram a insistir em se fechar, as pálpebras se juntavam dormentes e se afastavam quase no mesmo segundo.

Senti um braço com aroma de hortelã e morte rodear meu pescoço. Olhei para Nico ainda piscando sonolenta e este apenas sorriu puxando minha cabeça para seu ombro, então dormi.

Eu estava num castelo onde tudo era vermelho, branco ou preto, às vezes com estampa de corações, diamantes e os outros símbolos de cartas. O teto era a uma distancia impressionante do chão, com enormes lustres majestosos, quadros com tema de cartas, móveis luxuosos de um vermelho reluzente. O piso era preto, mas havia sido tão bem lixado e limpo que o reflexo de alguém poderia ser visto através dele, e o estalar de passos de uma pessoa deveria ser ouvido do fim do corredor. Um castelo elegante, bem arrumado, mas assustador. Ninguém passava por ali, pelo menos não no corredor onde eu estava. Num lugar chique como aquele era de se esperar que empregadas passassem o tempo todo, arrumando os objetos e alinhando os quadros em um milímetro de diferença, mas isso não acontecia ali.

Andei até o final do corredor e virei em outro, era idêntico ao primeiro, depois em outro e em outro. Eram todos iguais. Começei a ficar desesperada, aquilo era como um labirinto, um labirinto de cartas. “Labirinto de cartas” pensei. Fazia sentido, se minha suposição estivesse certa eu poderia encontrar algo naquele lugar fácil. Já que estava sonhando, não poderia tocar na parede, mas podia atravessá-la, então fiz isso. Passei por 20 de um vez com os olhos fechados, e quando os abri me encontrava finalmente em uma sala diferente daquela. Não que isso fosse muito bom, afinal, no centro do lugar uma linda mulher de cabelo vermelho que se mantinha sentada num trono negro.

Sempre pensei que a Rainha de Copas fosse feia, que seria uma coisa horrorosa, mas a mulher do trono possuía uma beleza penetrante que superava a de Afrodite (tomara que ela não escute isso). Mas o ar de maldade que rodeava a bela rainha tornava tudo de lindo nela uma coisa ruim, uma beleza ruim. Seus lábios eram de um tom escuro de vermelho, sua maquiagem era reforçada com toques de preto e vinho. Usava um vestido com corpete listrado de preto e branco, com uma linha preta contornada de vermelho cheia de corações passando pelo meio. As mangas eram como cartas de coroas pontoadas das mesmas cores do corpete. O resto eram símbolos de cartas abaixo de um tecido vermelho. O cumprimento era até dois palmos antes do joelho, e sua pernas foram cobertas por uma meia calça com estampa também de cartas.

A Rainha de Copas sorria para a porta, como se já soubesse que em poucos segundos um homem de armadura e olhos verdes assustadores entraria por ali. E foi isso que aconteceu.

–Minha linda rainha!- disse Loki curvando-se – Bom vela novamente- ele andou até a beira do trono e beijou a mão dela

–Loki! Querido amigo, finalmente chegou para discutirmos de negócios- disse a Rainha de Copas, sua voz era melodiosa e doce, tão doce que chegava á ser embriagante

–Sim, minha rainha, negócios. Quero firmar a amizade de meus exércitos e os seus com este presente- disse Loki

–Mas não precisava, somos amigos- contradisse a rainha, mas em um tom falso. Ela realmente queria presentes e Loki sabia disso- Que belo colar, com pingente de coração... É para simbolizar as Copas não?

–Exato, e as perolas a paz entre os exércitos- completou o deus louco, eu nunca o havia visto tão cordial como naquele momento

Andei mais um pouco até ficar alguns poucos metros do trono. O colar era daqueles antigos que pareciam braceletes com pingentes de pescoço, a parte bracelete eram cinco linhas com perolas e na ultima de encontrava um lindo coração vermelho brilhante.

–O coração é feito de rubi, minha rainha- disse Loki

–Que elegante! Com este presente, a nossa amizade esta mais do que firmada... – disse a Rainha de Copas mordendo os lábios como se estivesse falando de um segredo

–Acho que devemos manter nossa relação apenas nos negócios por enquanto- disse Loki ajeitando a gola da armadura

–Por enquanto- repetiu a rainha- Adeus meu amigo, até sua próxima volta.

–Adeus- disse Loki, mas não para a rainha

Ele olhou para mim como se soubesse o tempo todo que eu estava ali e não fez nada contra mim, apenas saiu do aposento. Olhei novamente para a rainha e esta admirava o lindo colar, que já pendia em seu pescoço, como uma relíquia extremamente valiosa. Então acordei.

Assim que abri os olhos minha primeira palavras foram:

–A Rainha de Copas é bonita!

–Que?- perguntou Nico

Olhei em volta. Nico me carregava nos braços enquanto andava junto com meus amigos.

–Porque está me carregando?- perguntei

–Porque não queria te acordar- respondeu- E que negócio é esse de rainha bonita?

–Loki fez uma aliança com a Rainha de Copas, na hora da luta ele com toda a certeza irá lutar ao lado do exercito de cartas- falei

–E a rainha é bonita?- perguntou Connor

–Aliança? Como assim?- perguntou Percy com surpresa- Ele está armando, só pode.

–A rainha é bonita?- perguntou Connor novamente

–É claro que Loki esta armando Percy. Contra nós- falei

–ME RESPONDA! ESSA DROGA DE RAINHA É BONITA?!- perguntou Connor berrando

–É ELA É MUITO BONITA E LOKI TEM UM CASO COM ELA!- berrei mais alto ainda

–OBRIGADO PELA RESPOSTA!- continuou o filho de Hermes ainda berrando

–DE NADA!

–PAREM DE GRITAR!- berrou Nico- Quer dizer, parem de gritar- repetiu dessa vez mais baixinho

Depois dessa gritaria, percebi que ainda estava sendo levada por Nico e fui colocando os pés no chão aos poucos.

–Deixa eu te levar, você ainda está com sono- disse Gaspar Zinho

–Ô Drácula! Se minha irmã quiser sair dos seus braços ela saí, beleza?- disse Percy me ajudando a descer

Nico bufou de impaciência e voltamos á andar, mas dessa vez com Percy entre eu e meu querido primo. Não parei de pensar na cena do meu sonho um só minuto. Tantos planos que Loki podia estar armando, tantas trapaças que já poderiam estar á postos, tantos soldados que seriam mandados contra nós. A coisa que mais podia dar chance de ele vencer e de nos deixar fracos ele fez, teve até um caso com a Rainha de Copas só para isso. Ele não gostava dela, isso eu tinha certeza, ela é bonita, mas não passa de outro ser louco que faz parte do plano para ele.

Muitos minutos depois de eu acordar, quase completando uma hora, vi uma barata. Ai você pensa “Uma barata? Grande coisa Lia!”, ai eu te respondo “Ela do tamanho de um cavalo cara”. Sim, é isso mesmo, um cavarata, a mistura de cavalo e barata. Aquela criatura era muito nojenta e passou rapidamente por nós, quase em um raio.

–Todo mundo viu isso né?- perguntei

Os outros concordaram. Continuamos andando e outro cavarata apareceu, depois outro e outro, alguns segundo depois estávamos numa espécie de ninho de cavaratas. Não se via quase nada do chão ou das árvores, pois tudo estava coberto por cavaratas. Só uma pequena linha no chão estava sem aquelas criaturas, um pequenino rastro amarelo no meio de uma imensidão marrom.

–Ahhhhhhh!- berraram todas as meninas

Ao ver o ninho de cavaratas me agarrei instantaneamente à primeira coisa que encontrei, que por ironia do destino a coisa era Nico. Eu abracei seu braço direito com muita força tanto que este gritou.

–Você está com medo?- perguntou Nico em um tom de voz assombrado

Concordei com cabeça.

–Não vou pisar nesse chão, os cavaratas vão me matar!- gritei

–Cavaratas?- todos perguntaram

–A mistura de cavalo e barata- expliquei

–Cavarata ou não, temos que passar- disse Nico

–Me leva! Me pega no colo por favor, por favor, eu não piso nesse chão, por favor me pega no colo- implorei ao filho de Hades

–Espero por essas palavras desde o Halloween- comentou Nico- Pode subir.

Ele derrubou meus joelhos com um braço e deixou meu peso cair no outro. Meu medo era tanto que as marcas de minhas unhas ficaram em seu pescoço.

–Eu também quero- disse Ane

–Cada menino leva uma menina- ordenou Annabeth

–Posso levar duas- disse Josefino

Rafael levou Ane, Percy a Annabeth, Chris a Clarisse, Connor a Laís, Travis a Pâni e Josefino Meg e Julie. Ane chorava rios e mais rios, ela odiava baratas, segundo ela baratas eram nojentas e sujavam sua lindas roupas, ver um cavarata deve ter sido um choque. Todas as meninas cobriam os olhos para não ver as criaturas enquanto os meninos andavam pela pequena trilha, Percy á frente seguido por Nico e assim por diante. Quanto arrumei coragem para levantar os olhos das roupas de Nico uma cavarata passou pelo pé dele e o mesmo quase me deixou cair.

–Se eu cair por sua culpa eu juro que te mato Nicolas Di Ângelo!- falei segurando a gola de sua camisa preta

–Ta! Calma!- disse

O filho de Hades se divertia, já que me ver em uma cena dessas tão de perto devia ser muito engraçado. Mas quando fechei a cara pra ele e lhe lancei o olhar do mal ele parou. Quando finalmente as cavaratas estavam bem longe nós Percy disse:

–Pronto princesinhas, já podem descer.

Os garotos riram.

–Se somos princesas vocês são o que? Os cavalos?- perguntei

Eles pararam de rir na hora.

Eu ia descer de Nico, quando vi que os cavaratas estavam nos seguindo, montes deles vinha em nossa direção.

–Pelo visto dar um fora sem lutar não rolou- falei saltando dos braços de Nico- Não tem um frasco gigante de Bom Ar na minha frente.

A lógica contraria fez aparecer um frasco gigante de Bom Ar na minha frente. Sabe, aqueles perfumes de banheiro, é esse mesmo.

–Por que você quer isso?- perguntou Nico

–Espere e verá- respondi

O Bom Ar era tão grande que tive de escalar sua superfície lisa, mas meus tênis eram de borracha então subi com facilidade. Cheguei até onde se pressiona para sair o perfume e esperei os cavaratas chegarem perto, então pulei na mola e uma tsunami bem cheirosa acertou as milhares de criaturas, que na mesma hora caíram no chão para morrer. Só sobrou os cavaratas mortos com as perninhas para o ar. Desci pelo Bom Ar e sorri para meus amigos que me olhavam com cara de idiota.

–Minha mãe costumava matar as baratas que apareciam em casa com o Bom Ar, o cheiro é tão bom que elas odeiam- expliquei

–A cada dia que passa sua mãe parece mais louca- disse Nico

Então seguimos pela trilha amarela, novamente.


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Notas finais do capítulo

Uhuuuu! Oi pessoas! Thau pessoas! Espero reviews e recomendações :)