POV Afrodite

Para mim era uma tarde comum em que eu juntava casais e fazia a vida de milhões de pessoas feliz sem elas saberem. Eu estava deitada em minha cama com os pés para o alto esperando as unhas vermelhas secarem pela quinta vez só hoje. Eu mudo a cor das unhas a cada duas horas, é divertido. Estava me preparando para sair com Ares, eu e meu fofucho iríamos para um daqueles locais escondidos que Hefesto não nos atormenta. Mas de repente ouvi batidas na porta e mandei quem quer que seja entrar. Uma das ninfas que trabalham para mim abriu a porta devagar e caminhou até a beira da cama.

Deve estar se perguntando por que eu tenho ninfas trabalhando para mim, não é? Bem, eu tenho uma ninfa para cada um dos meus casais favoritos em todo o mundo. Grande maioria é de semideuses ou deuses, mas tem também alguns mortais que não suporto ver longe um do outro. Como me dedico muito á tarefa de ser deusa do amor eu gravo em minha linda cabecinha exatamente qual ninfa é de qual. Essa era Lisandra, a ninfa LS2N.

-Dite- falou Lisandra como quem se desculpa

-O que, Lis? Parece preocupada. Aconteceu algo com seu casal?- perguntei. Se algo acontecia com meus casais favoritos eu dava chilique

-Bem, não... Quer dizer sim... Mas não me culpe- ela pediu juntando as mãos

-Não vou te culpar pelo o que quer que seja. Somos amigas á muito tempo. Agora o que aconteceu entre Lia e Nico?- era esse o casal dela

Eu simplesmente amava eles dois. Sempre procurei incansavelmente alguém para aquele filho de Hades, mas do nada surge aquela doidinha amiga de minha filhinha nas costas de Nico. Eles eram perfeitos um para o outro, só que Lia sempre arrumava um jeito de estragar meus planos inconscientemente. Ela brigou com ele quando acordou do coma, ela terminou com ele sem me consultar e ela nunca deixa de discutir com Nico. A ninfa LS2N tem muito trabalho observando aquele casal instável, era frustrante não ter ideia do que podia vir á seguir.

-Nico... Morreu- disse Lisandra em um tom baixo

Fiquei imóvel ainda com as pernas para o ar. Abaixe-ias devagar e fiquei de pé tentando ao máximo possível não gritar. Bem, não consegui por muito tempo.

-COMO ASSIM ELE MORREU? ELE NÃO PODE MORRER! ELE TEM QUE FICAR COM ELA!- por fora eu queria dar um soco em uma árvore sem me preocupar em quebras as unhas, mas por dentro... Ah, por dentro eu queria ir lá ao inferno pra buscar Nico e, se Hades não deixasse, eu arrastaria Cronos do tártaro para chantagear todo o mundo.

-Desculpe, eu... – não a deixei terminar

-Não é culpa sua. Agora tenho de tomar uma providencia quanto á isso- sim, meus queridos. Afrodite tomará o assunto com suas próprias mãos estilosas- ZEEEEEEEEEEEUS!-meu berro devia ter sido ouvido do outro lado do Olimpo

Abri a porta do templo e desci os degraus pisando forte com minhas pantufas de oncinha. Nem liguei que todos por quem passava assobiavam porque eu vestia minha camisola rosa clara, só caminhei para a sala dos tronos com o objetivo formado. Quando finalmente me encontrava de frente para as enormes portas brancas, as empurrei praticamente tentando arrancá-las. Zeus estava sentado em seu trono majestoso com sua habitual pose “Sou o melhor, mas na verdade ando carente”. Ignorei o berro de garota que ele deu quando entrei vestida daquele jeito e parei no centro da sala cruzando os braços, Lisandra logo atrás de mim.

-O que você quer agora Afrodite? Eu ouvi seu grito- disse Zeus, massageando as têmporas em um gesto cansado

-Eu faria sem sua permissão, mas preciso do reconhecimento “legal”- falei mexendo o dedo para efetuar as aspas- Vou ressuscitar Nico Di Ângelo.

-O que?- Zeus quase caiu de seu trono- Não pode Afrodite. Existem sérias leis quanto á morte que você não pode simplesmente ignorar e...

-Calado! Eu vou trazer ele de volta porque isso esta afetando seriamente meus planos e ninguém me quer irritada, não é?- perguntei o desafiando a discordar

-Não. Mas você não pode ter sempre exatamente tudo o que quer- disse Zeus levantando as mãos para o alto- Não tem minha permissão e posso mandar os outros deuses ficarem de olho em você para não ir contra minhas ordens.

Demorei um pouco para responder. Eu tentei formar a melhor cara de má que conseguia para assustá-lo. Acho que deu certo, pois sua expressão ficou um tanto cautelosa.

-É o seguinte, cara- falei dando mais dois passos para frente- Se não me deixar trazer ele do mundo inferior vai acabar com um dos meus casais preferidos. Vou fazer o que estiver á meu alcance para Nicolas Di Ângelo voltar. Incluindo transformar sua linda relação com Hera uma coisa tão conturbada que vai ser forçado a dormir no sofá sem uma amante.

-Você não pode me ameaçar- disse Zeus estreitando os olhos perigosamente

-Sinto muito, mas já estou ameaçando- devolvi seu olhar

Ele não disse nada por alguns minutos pensando em quais eram as chances de se ferrar. Provavelmente concluiu que como deusa do amor, todos os relacionamentos estão á meu controle. Um homem esperto não arriscaria ser amaldiçoado para ficar sem mulher nem amante, e olha que Zeus já anda sem muitas mortais nos últimos anos. Ele sabe que posso fazer a grande brincadeirinha dele acabar.

-Tudo bem. Faça o que quiser- falou Zeus com um suspiro- Mas tenho certeza que Hades não vai deixar. Ele preza muito as regras que a morte estabelece. Regras que nem você pode contornar. Afrodite, esse seu precioso casal você não vai conseguir salvar.

Sorri para ele.

-Desafio aceito- falei já me virando

Lisandra saiu comigo da sala dos tronos também sorrindo. Ela era esperta o bastante para saber quantas armas eu tinha e quantas usaria para salvar Nicolas Di Ângelo. Sempre gostei muito dessa ninfa, por isso ela vigia o meu terceiro casal preferido em todo o mundo. Em primeiro obvio que é Percy e Annabeth, eles são uns fofos juntos enfrentando toda aquela história de pais que se odeiam, eles superam as inimizades mesmo tendo algumas pela frente. Em segundo é Poseidon e Atena, sempre quis liquidar aquela besta da Anfitrite e mandá-la para o tártaro. Faço armações para aproximar aqueles dois á décadas, mas algo sempre dá errado. Acho seriamente que nesses últimos meses ando cada vez mais perto, nem Poseidon muito menos Atena, quer a infelicidade dos filhos que estão namorando, por isso eles pararam de brigar. Mas eu acho que é outra coisa.

Enfim, Lia e Nico são os terceiros e os únicos que podem dar errado. Minha magia com os outros sempre funciona, mas com esses dois quase sempre piora. Vou tentar explicar de um jeito melhor. Não posso usar encantos para eles se beijarem ou se abraçarem, eles fazem isso com total independência. Se eu me metesse algo, provavelmente o cruel destino, faria Lia se irritar, as emoções dessa menina me frustram completamente. Eles são os únicos que estão por conta própria, puf! Que droga!

Pensei em um plano tão perfeito quanto eu, enquanto caminhava de volta para meu templo. Entrei em meu lindo quarto rosa e mandei Lisandra fechar a porta quando passar. Não queria deuses bisbilhoteiros como Hermes xeretando em meus planos.

-Lis, preciso que você vá ao mundo inferior- falei á ela

-Por quê? Você não pode?- perguntou Lisandra

-Posso, sou uma das únicas deusas que pode se meter em ambos os territórios, pois o amor está em todos os cantos do universo- falei, levantando a mão para o céu como um gesto dramático

-Então por que eu tenho de ir?

-Você vai para entregar um bilhete meu á Hades. Não gosto muito de ir ao mundo inferior, então só pisarei naquele lugar quando tiver certeza absoluta que Nico voltara comigo. Não quero ter de ir lá várias e várias vezes- expliquei enquanto procurava em todos os cantos papel e caneta

-Esta bem.

Arranquei uma folha de meu bloquinho de papel rosa e escrevi com minha caneta brilhante vermelha:

Oiiii, Hades lindo do meu coração!

Eu quero ressuscitar seu filho, o motivo não te interessa. Fale para minha ninfa um jeito de eu tirar Nico desse lugar, por favor.

Obrigada, beijinhos!

PS: Se não me ajudar faço você se apaixonar por Deméter

Dobrei o papel e o beijei para ficar a marca de minha boca.

-Coloque estes brincos- tirei um par de brincos de esmeraldas verdes da minha gaveta- Eles tem um câmera mágica que vai transmitir tudo o que você ver por uma linha direta de MI.

Ela pegou os brincos de minha mão e pareceu procurar a tal câmera enquanto os colocava, mas não deve ter tido sucesso. Entreguei o bilhete á Lisandra e esta sumiu no ar usando os poderes da benção de Afrodite (que sou eu, mas acho que vocês já sabem disso). Fiz uma parede de água surgir do teto ao chão e chamei a MI, no meio da parede a imagem do que parecia o centro de uma caverna apareceu. Pude ver as filas para a morte, os espíritos chegando do Estige depois de aguardarem um eternidade e uma enorme massa negra que reconheci como Cérbero, o cãozinho de estimação de Hades. Uma vez eu não tinha nada para fazer e tentei gliterizar Cérbero. Ele ficou uma grassa todo colorido como uma fantasia de escola de samba, mas Hades não ficou nada feliz por eu ter enfeitado seu cão dos infernos. Vai entender, puf.

Ouvi batidas fortes na porta e gritei para Ares entrar, eu sempre sabia diferenciar ele de qual quer outro porque só esse deus parecia querer matar minha linda porta. Ele entrou e olhou para mim com um sorriso amarelo.

-Então, aonde vamos hoje nos esconder- disse Ares me abraçando por trás

Dei uma cotovelada em suas costelas e o empurrei com toda a força para longe de mim.

-Quieto Ares! Tenho que assistir Lisandra- falei sem nem olhar para ele

-Isso é a nova novela da TV Hefesto?- perguntou em tom de zombaria

-NÃO- berrei -Eu quero salvar o meu terceiro casal preferido no mundo, mas Nico morreu e preciso arrumar um jeito de ressuscitá-lo, depois levá-lo de volta para o País das Maravilhas para ele e Lia terem uma linda vida feliz juntos. Com pequenas Lias e pequenos Nicos andando pela casa e brincando de se irritar. Mas talvez isso não aconteça porque não posso usar meus poderes como influencia. EU ESTOU PIRANDO! ENTÃO NÃO ME IRRITE AINDA MAIS ARES!- falei tudo muito rápido, mas se ele se atrevesse a dizer que não entendeu seria jogado no tártaro.

Ele me encarou como se eu fosse maluca e disse:

-Você está de TPM por a caso?

-COMO SE ATREVE!- sempre odiei quanto falavam que eu estava de TPM, a maioria das vezes eu dava um jeito de me vingar mais cedo ou mais tarde.

Eu estava tão irritada que peguei o vaso de vidro de minha mesinha de cabeceira e acertei em Ares. Ele gritou desesperado quando vários cacos se prenderam em sua pele derramando ícor, o sangue dos deuses, por todo o meu quarto. Fiquei com mais raiva ainda por Ares ter manchado meu tapete Persa importado e o chutei pra fora de meu templo. O deus da guerra caiu na calçada do Olimpo com estrondo e saiu correndo com as mãos pro alto berrando “Doida psicótica!”. Ignorei seus gritos e tranquei a porta para não ser incomodada de novo, se não uma morte ocorreria.

Voltei á olhar a MI. Lisandra já estava andando pelo mundo inferior com dois espíritos guardas de escolta. Ela havia acabado de passar pelos campos da punição e olhava maravilhada para o Elísio, com todas aquelas palmeiras e construções parecidas com hotéis á beira do mar. A imagem do paraíso foi interrompida quando minha ninfa se assustou com um barulho, era o guincho irritado das fúrias bem em cima de um enorme palácio negro. Os guardas empurraram grandes portas e guiaram Lisandra até uma sala gigantesca, com um homem pálido vestido em um manto de almas sentado num trono de mortos e, ao seu lado, outro trono vazio em forma de flor. Onde minha inimiga Perséfone ficava.

Sempre odiei Perséfone. As pessoas diziam que a beleza dela era tão majestosa que podia se comparar á minha. Puf! Essa mulher é só uma florista esquisita, que é disputada pela mãe hippie e o marido gótico que bota chifre nela sempre que tem oportunidade. Ainda por cima ela passa metade do ano na terra para fingir que alguma coisa. Perséfone diz que é para ficar ao lado de Deméter, mas eu não caio nessa. Ela só está achando que não é pouca porcaria, não, ela é muita porcaria na minha linda opinião.

-Senhor dos mortos- disse Lisandra ajoelhando-se diante de Hades- trago um bilhete de Afrodite.

Hades parecia uma ameixa ressecada. Sua expressão era cansada e rugas se formaram em volta dos olhos. Ele observou Lisandra como se estivesse olhando para algo além dela, ou como se visualizasse sua alma.

-Eu sabia que Afrodite se revoltaria- falou

Lisandra entregou o bilhete e Hades o leu sem se surpreender. Mas quando viu a última linha, o PS, arregalou os olhos com medo.

-É impossível ressuscitar alguém do mundo dos mortos. Eu já teria feito isso á muito tempo com Maria e Bianca. Há muito tempo concordei em seguir todas as regras da morte, só tomaria conta do mundo inferior sem interferir em nada- disse a ameixa

-Senhor, Afrodite fará qualquer coisa- disse Lisandra

-Afrodite teria de achar algo para contornar as leis. Como uma brecha. Mas teria de estudar em alguns livros para conseguir esse feito. Não sei se ela está tão disposta á isso- respondeu Hades

“Eu tenho que estudar?” pensei chocada.

-Obrigado senhor- falou Lisandra reverenciando Hades e dando meia volta.

 Assisti toda a volta de Lisandra pelo mundo inferior até a sala com o Cérbero. Depois ela se teletransportou e apareceu em meu quarto. Rapidamente apaguei a MI e desfiz a parede d’água.

-Você foi muito bem tentando convencer Hades a falar- tranquilizei ela, pois Lisandra exibia uma cara horrível de culpa- Agora tenho de decidir minhas prioridades.

 -Se quiser eu posso estudar sozinha- disse a ninfa. Ela devia estar querendo compensar não ter convencido Hades inteiramente

-Não. Eu es-estudo com você. Sou a deusa do amor, não vou deixar que meu terceiro casal predileto se desfaça só por eu ter preguiça de abrir um livro. Vou procurar algo que contorne a lei, vou usar isso contra a morte, vou até o mundo inferior para tirar Nico Di Ângelo de lá e entregá-lo a Eliza Letter Crazier no País das Maravilhas- falei com determinação

Eu não tinha percebido, mas minhas outras ninfas que vigiavam casais estavam olhando a cena desde que falei em estudar. Todas bateram palmas quando acabei meu discurso e pediram para ajudar na busca pelos livros. Claro que aceitei, qualquer ajuda era aceita, mas falei para elas começarem sem mim porque eu iria trazer outra deusa para nos auxiliar. Saí em disparada de meu templo e corri para outro idêntico á uma biblioteca, sim é exatamente essa deusa que você está pensando, minha queridinha loira dos olhos sem cor incrivelmente inteligente, Atena.

Abri rapidamente a porta de carvalho com desenhos floridos e parei meio assustada com os detalhes do lugar. O teto de dez metros exibia todas as constelações preferidas de Atena (acredite, eu sei por que ela não parava de falar delas quando pediu para Annabeth planejar seu templo) e pendia um lustre de cristal maravilhoso, que fazia reflexos coloridos por todo o ambiente mesmo não ligado. As paredes de um tom branco claro pareciam feitas de chantili, com as janelas de cinco metros feitas de chocolate (as janelas parecem com aquelas da Bela e a Fera). Mas o que me deixou realmente assustada foram as quarenta estantes de livros só na fileira da frente, sendo que o espaço acabava muito mais adiante. Eu teria de procurar Atena no meio daquilo tudo.

-Atena!- minha voz fez um eco pela biblioteca- Ateninha!

Entrei em um corredor de livros, depois virei para a direita e entrei em outro corredor. Aquilo parecia um labirinto, entrei e saí de vários corredores sem saber onde estava indo ou aonde chegaria. Depois de uns bons vinte minutos de procura finalmente encontrei a deusa da sabedoria. Ela estava deitada em um sofá azul com um livro nas mãos, em uma área redonda sem estantes com outras poltronas da mesma cor do sofá e uma mesa de carvalho igual a porta.

-Atena!- falei e esta deu um pulo de susto

-Afrodite? O que está fazendo aqui? Você não é muito fã de livros- disse a loira

Sentei em uma poltrona de frente para ela me preparando para contar toda a história.

-Preciso de sua ajuda- respirei fundo. Não sabia se ela aceitaria ajudar- Você sabe toda aquela historia de eu ter ninfas para meus casais preferidos, não é?

Ela concordou com a cabeça e fechou o livro enquanto o colocava na mesa.

-Bem, um desses casais vai precisar de sua ajuda...

-Não vem que não tem. Eu não fico com Poseidon- disse ela

-Não tem a ver com Poseidon, é outro casal!- revirei os olhos- Nico morreu.

-O que? Nico? O filho de Hades?

-Sim e ele faz parte do casal. Preciso ressuscitá-lo, mas Hades disse que tenho de es-estudar em vários livros para conseguir. Você tem que me ajudar, não sei nem onde começar, essa não é minha área- falei

Atena parou para pensar um pouco. Depois de breves segundos sorriu.

-Eu ajudo. Se meu tempo no País das Maravilhas não tivesse acabado eu poderia ter impedido a morte desse menino. Agora estou culpada, Lia deve ter chorado muito e ela é a única que me simpatizo na família de Poseidon- disse a loira

-Isso!- levantei as mãos para comemorar- Tenho certeza que podemos salvar Nico!

-Ótimo!- Atena levantou as mãos junto comigo

-Operação LS2N iniciada!

-Que?- perguntou a loira

-Operação LS2N. Esse é o código da ninfa que vigia esse casal. L=Lia S2=coração e N=Nico- expliquei

-Que brega- riu Atena

-Cala a boca que seu nome na forma romana é o mesmo daquela velha do Harry Potter- provoquei enquanto me levantava e entrava em um corredor (N/A: Quieta Afrodite, a Minerva é legal!)

Foi mais fácil voltar. Atena sabe de cor os caminhos, ela pegou uns cinquenta livros enquanto passávamos alegando que teríamos de consultá-los, mas rapidinho chegamos ás portas de carvalho. Imaginei quanto tempo ela passa naquela biblioteca sem nem ver o sol todos os dias. Eu definitivamente apressaria as coisas entre ela e Poseidon assim que acabássemos com a operação. Finalmente tiraria mais uma deusa casta riscada de minha lista de afazeres. A próxima seria Ártemis e depois Héstia.

-Oi gente, olha quem vai nos ajudar- cantarolei empolgada quando entramos em meu templo

As ninfas comemoraram com a chegada da inteligente. Atena sentou-se na cama e colou os livros ali, em seguida os distribuiu para nossas ajudantes e todas começaram á ler. A loira me entregou um livro de umas mil paginas com o título “As 10 leis da Morte” e, de cara amarrada, virei a capa para procurar a sinopse. Vi muitas letras, elas se juntavam e formavam palavras, mas eu não queria ler nem a metade delas.

Enfim consegui chegar até a página 30 antes de me cansar e dar uma paradinha. Mas depois de vários minutos ainda não havíamos achado algo que contornasse a tal lei de morte. Atena estava mais frustrada do que quando Poseidon se casou, quer dizer, nem tanto.

-Essas leis foram feitas bem demais. Se a alma de uma pessoa sai devido á danos sérios no corpo ou velhice, essa alma deve ir para o mundo inferior sem restrições- citou Atena- Como é possível contornar isso?

-Sinceramente não sei- disse Lisandra

Encarei o chão com tristeza. Eu tinha colocado todas as esperanças em salvar Nico Di Ângelo e fazer mais um casal feliz, mas descubro que no final não foi o bastante e uma droga de lei me impediria. Prometi á mim mesma que o traria de volta e falhei. “O País das Maravilhas só trouxe problema, aquele lugar e Loki acabaram com meu casal. Por que tudo lá te sempre que fazer tudo ao contrario?” pensei com raiva. De repente uma ideia surgiu em minha cabeça como uma luz no fim do túnel.

-Espera! Nico não está morto- falei me levantando e andando de um lado para outro- Ele estava no País das Maravilhas, por tanto não morreu.

-Tudo que é não será a não ser que seja- sussurrou Atena- Isso. Conseguimos!

-Vamos ao mundo inferior! Temos que tirar Nico de lá- disse Lisandra

As ninfas resolveram ficar, elas não gostam do mundo inferior, então apenas eu, Lisandra e Atena nos teletransportamos para lá. O mundo girou em todas as direções e quando parou aparecemos bem em frente á Cérbero, na mesma sala que vi na MI. O cão de três cabeças grunhiu para nós, mas ignoramos seus rosnados completamente enquanto entravamos na fila da Morte Expressa. Andamos um pouco mais rápido do que o normal enquanto passávamos pelo campo de almas, aquele ambiente era assustador demais e eu queria chegar logo no castelo negro de Hades. Avistei o Elísio de longe, parecia realmente muito legal, mas eu sabia que jamais iria para lá já que os deuses não morrem. Do outro lado, nos campos da punição não se via muita coisa, só arame farpado em volta de um terreno com névoa, mas os berros que vinham de lá provavam sua fama.

Finalmente vi o palácio sem teto com uma decoração horrível em minha opinião. Já tentei convencer Hades a mudar, mas ele não me escuta quando falo (principalmente quando chego ao ponto das paredes rosa choque).

-Aleluia chegamos- falei empurrando os guardas com fardas feiosas

Abri as portas com pressa e corri até o trono de ossos no fim da sala. O deus dos mortos estava na mesma situação da MI, uma ameixa seca. Ele ficou muito surpreso em nos ver, Hades realmente não acreditava que eu conseguiria.

-Achou algo?- perguntou desconfiado

-Sim. Seu filho não está morto porque estava no País das Maravilhas quando morreu. Como aquele lugar faz tudo ao contrario Nico está vivo. Entendeu?- perguntou Atena depois de explicar tudo

-Mais ou menos, mas não é hora de me fazer entender. É hora de tirar Nico dos campos de Asfódelos, vou com vocês- disse Hades levantando-se e pela primeira vez parecendo forte como um deus

Corremos de volta para as portas e seguimos adiante com toda a velocidade.

-Pensei que seus filhos teriam tratamento especial e iriam ao Elísio- falei- Por que Nico, não?

- Primeiro: Meus filhos não têm tratamento especial- disse Hades ofegante- Segundo: Nico se recusou á ir para o Elísio dizendo que aquilo nunca seria o paraíso sem Lia.

-Que fofo!- eu e Lisandra dissemos ou mesmo tempo

Os campos de Asfódelos ficavam logo á frente, alguns metros adiante de onde estávamos.

-Fofo nada. Não quero meu filho com aquela cria de Poseidon- a ameixa cuspiu o nome do irmão com nojo

-Quieto que se eu consigo tirar esse menino da morte não é você que vai atrapalhar.

Entramos no amontoado de almas naquele espaço imenso. Era tantos á nossa volta que não consegui mais ver minha equipe (gosto de dizer que isso é uma operação, então eles são a equipe). Comecei a gritar por Nico em desespero.

-NICOOOO! POR FAVOR! EU VOU TE TIRAR DAQUI!

-Eu me chamo Nico- disse a alma de um mortal me segurando- Vai me tirar daqui?

-NÃO! NÃO É VOCÊ QUE EU QUERO! VAI EMBORAAAA!- berrei com todas as forças assustando a alma, que resolveu me soltar ou fugir de mim.

Tive outra ideia (N/A: Quantas ideias em um dia só!). Seria meio impossível achar a alma certa vagando entre todas essas outras, então eu o atrairia com uma coisa que apenas Nico prestaria atenção. Toquei meu colar de diamantes rosa que antigamente tinha seis diamantes, mas agora apenas cinco. Arranquei o acessório e o fiz brilhar como estrelas em minhas mãos, depois o levantei o mais alto que podia me esticando nos saltos plataforma. O brilho relampejou por alguns metros e torci para ser o sinal certo, para que o filho de Hades reconhecesse.

Senti uma mão me tocando no ombro e virei aturdida deparando-me com um menino de treze anos de pele clara, com cabelos e olhos pretos muito escuros. A expressão do menino era de confusão.

-Afrodite?- sua voz soou triste por influencia do lugar- Esse é o colar que você doou um diamante e fizeram o anel de Lia?

-NICO!- berrei enquanto o abraçava- Eu te achei. Eu consegui!

-Conseguiu o que Afrodite?- perguntou

-Vou te tirar daqui. Você não está morto.

-O que? Posso voltar e... Ver Lia?- sua voz fraquejou de emoção

Concordei com a cabeça e Nico sorriu me abraçando. Depois peguei sua mão e corri para sair do meio das almas. Minha equipe me viu saindo (não sei como) e veio junto, todos sorrindo para o gótico.

-É isso aí filhão! Você não morreu- comemorou Hades

Corremos pelas estradas mortas e depressivas até a caverna com as filas de morte e Cérbero. Hades disse que não podia passar dali, mas abraçou o filho e desejou boa sorte, depois seguimos para o barco no Estige sem ele. É claro que poderíamos teletransportar, mas precisaríamos pisar no chão fora dos estúdios M. A. C para ter certeza absoluta que Nico estava vivo, então o fizemos. O barco se transformou em um elevador e subiu até parar em uma sala de espera esquisita, entulhada de fantasmas e uma figura estranha de smoking branco atrás de um balcão. A figura nos observou interessada, mas não discutiu quando passamos pelo saguão e saímos na noite escura. Minha operação havia durado o dia todo.

Ali a cor de Nico voltou um pouco (nem percebi que tinha saído) e, de alguma forma, ele pareceu mais vivo e feliz. Talvez fosse só pela emoção, talvez não.

-Afrodite, se teletransporte daqui para o País das Maravilhas- disse Atena

-Mas eu estarei vigiando- avisou Lisandra para Nico, ele não entendeu nada, mas não quis discutir

Ainda de mãos dadas o mundo girou. Girou mais do que seria normal girar, mas quando finalmente parou estávamos em uma linda floresta no País das Maravilhas.