Ao mesmo tempo que mantinha nos olhos a expressão surpresa devido as palavras de Rin, Sesshoumaru dera um meio sorriso. A culpa ainda não o havia deixado, mas ouvir os delírios da menina o deixava mais tranquilo. Lembrava de uma época distante em que não tinha que se preocupar se iria machucá-la ou não.

- Sua boba. Não diga besteiras.. Você está mais viva do que nunca. - suspirou. - E dessa vez, não fora graças a mim.

Na mesma hora a menina o olhou, boquiaberta.

- É sério isso? - disse dando duas piscadelas. - Até em meu rito de passagem para a morte ou seja lá o que for, você vai se fazer de durão e vai querer se separar de mim?!

A menina logo levantou-se, cabaleando um pouco.

O youkai ficou mudo. Apenas a olhava com um meio sorriso nos lábios. Já fazia tanto tempo que não ficavam assim.. Em paz, sem nada para atrapalhar..

- Quando vai entender que não está morta? Você está aqui, agora, comigo.

Rin dera um longo suspiro.

- É difícil de acreditar quando você passa por situações em que a realidade pode mudar tão facilmente.. Quando você não tem certeza do que é realidade.. A morte é traiçoeira e no pior dos sentidos, que é manter a esperança acesa dentro de nós.. Eu não quero ter essa esperança.

E em um movimento tão rápido que mal a menina percebera Sesshoumaru já estava mais próximo.

- O que tenho que fazer para que acredite em mim?

- Você nunca precisou se esforçar para que eu acreditasse em você.

Ambos deram um meio sorriso.

- Você está bem?

- Me desculpe, Sesshoumaru. - disse a menina desviando o olhar. - Mas.. Eu não tenho certeza. Este momento pode acabar a qualquer instante.

- Eu não vou deixar que acabe. - o youkai disse, olhando profundamente em seus olhos. - Mas para isso você precisa acreditar que está aqui comigo. - disse estendendo a mão para  a menina.

De pronto Rin pegou sua mão e algo a fez se sentir diferente da sensação de perda que pensara que sentira antes. Naquele momento a menina sentiu que aquilo era real. As incertezas aos poucos davam lugar a razão e a realidade. Seu coração batia acelerado no peito, sua respiração já estava ofegante e Rin podia pressentir que toda aquela emoção que a tomou naquele momento  escorreria por seus olhos.. E lá foi a menina de encontro aos braços de Sesshoumaru.

- É de verdade? - a menina balbuciava. - Tudo isso.. é de verdade?

Na mesma hora Sesshoumaru a abraçou mais forte enterrando o rosto em seus cabelos.

- Sim, é de verdade. Você está aqui. - deu um suspiro aliviado.

E então, as coisas começaram a clarear na mente de Rin. A menina lembrou-se das coisas que ocorrera, separando o trágico momento de transição que tivera após sua morte. As lembraças recentes a deixaram um pouco desconcertada a ponto da menina escapar do abraço de Sesshoumaru, virando-se de costas para ele.

- Se é tudo verdade então aquilo.. - disse a menina lembrando-se de seu breve momento com Sesshoumaru na caverna. - AI MEU DEUS!

- O que aconteceu? Está se sentindo bem?! - disse Sesshoumaru com as mãos em seus ombros.

- Que vergonha, que vergonha, que vergonha! - a menina dizia com as mãos cobrindo o rosto.

- Vergonha?

A menina se calou, cerrando suas mãos em punhos. Aquilo fora o bastante para Sesshoumaru entender do que Rin falava. O youkai, por sua vez, a virou de modo que a menina o encarasse.

- Tem vergonha de seus sentimentos?

Suspirou.

- Não, não é isso é que.. Não quero estragar as coisas. - disse por fim desviando o olhar.

- Quem estragou as coisas fui eu. E não estou falando de sentimentos porque foram eles que me salvaram, mesmo sem merecer.

Aquelas palavras logo a desarmou.

- Posso te pedir uma coisa?

- Qualquer coisa.

- Não desista. Por mim.

Sesshoumaru nada dissera, apenas levou sua mão livre ao rosto da menina e em seguida tocou sua barriga e levantou sua blusa, deixando-a um pouco desconcertada. Mas aquela sensação logo dera lugar a uma angústia que Rin sabia que teria que lidar. Uma grande cicatriz se estendia em meio a barriga da menina que rapidamente baixou a blusa.

Mas era tarde demais. Sesshoumaru já se torturava em silêncio, Rin podia ver em seus olhos.

- Esqueça isso, você sabe que não tinha a intenção.

- Mas eu o fiz! - ele gritou.

A menina cambaleou novamente sendo pega pelo youkai.

- Mas que droga, porque estou me sentindo tão fraca! - resmungou.

- Você perdeu seus poderes espirituais, é natural que esteja se sentindo assim. Precisa descansar. - ele disse, friamente.

Por alguns segundos aquilo ficou martelando em sua cabeça, mas logo a menina deixou este pensamento de lado encarando a realidade.

- Sabe que não vou perdoá-lo se me deixar depois de tudo que passei, não sabe? - disse a menina, categórica.

- Sei.

- E não se importa?

- Está mais preocupada em não me perdoar se eu deixá-la? - deu um meio sorriso sem humor. - Você se esqueceu do fato de eu tê-la matado com a minha katana?

Aquele meio sorriso de Sesshoumaru e o jeito como se expressou, mostrou-lhe algo que a menina somente entendeu naquele momento. Em sua carta Seya dissera que sempre estaria com a menina, as palavras escritas logo vieram a sua mente:

..o Seya que você conheceu vai estar sempre alí presente para qualquer coisa, desde que você queira, somente para você.. Basta olhar com os olhos do coração, que é algo que eu tenho certeza que você sempre fez.

Não era uma questão de diferenciá-los, mas sim de saber que fazia parte de Sesshoumaru, que sempre fizera. Aquilo a deixava tranquila, clarear a mente e abrir os olhos para aquilo fora bastante reconfortante para a menina.

- Passaria por tudo de novo sem pensar duas vezes se soubesse que no final estaríamos aqui. Não vou desistir de você, nunca. - a menina disse por fim. - E você, vai desistir de mim? - indagou.