Sobre A Pele escrita por Selena West


Capítulo 11
A revolta (parte II)


Notas iniciais do capítulo

Perai, perai ainda não acabou tem mais rsrs



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Alice encostou a testa no azulejo frio do banheiro. Sua cabeça parecia pesar toneladas. Mattia se sentou ao seu lado. Ela o observou, ele parecia desconfortável. Provavelmente não era o tipo de situação que ele enfrentava todos os dias. Entrar no banheiro das meninas e socorrer uma doida que se cortou, mesmo que ele também se mutilasse. Ainda assim era estranho.

“Por que você veio atrás de mim?”

Mattia se assustou com a voz rouca de Alice.

“Não sei exatamente. Senti que você precisava de ajuda.” Mattia deu de ombros.

“Isso não é um plano de Viola para me encrencar, não é?”

Alice sentiu vontade de chorar novamente.

“Achei que ela fosse sua amiga.”

“Amiga? Ela é uma grande vadia.” Alice riu, mas não achava aquilo realmente engraçado. Ela parou quando viu que Mattia não fez o mesmo.

“Você fala como ela.”

Para Mattia foi uma observação boba. Para Alice foi um soco na boca do estomago. Alice  fechou a cara.

“Se ela é tão ruim porque ficou amiga de Viola?” Mattia não compreendia as atitudes de Alice.

“Viola é a garota mais popular desta escola. se eu andasse com ela seria popular também. As pessoas falavam comigo, finalmente eu não era mais invisível.” Por um momento curto Alice sorriu. “ Eu realmente acreditei que ela era minha amiga, mas Viola só estava brincando comigo e com meus sentimentos.” O rosto dela demonstrava dor.

Mattia pensou em abraçar Alice. Era o que se fazia quando alguém chora? Certo. Mas ele deu apenas alguns tapinhas em seu braço. Era o Maximo que ele se permitia fazer.

“ Acho que no fundo eu sabia que Viola é um monstro. Menti para mim mesma. Tentei me convencer de que com ela seria tudo diferente e bem eu ainda sou a mesma imbecil de sempre.”

“Na verdade ela é uma imbecil também.”

Alice riu. Realmente riu.

“Achei que você diria que somente ELA é uma idiota, não que NÓS duas somos.”

Mattia sentiu seu rosto corar. Alice riu ainda mais.

“Matti. Por que você se corta?” Alice secou uma lagrima que escapava do seu olho.

Mattia permaneceu em silencio. Ele não estava ali para ser analisado. Alice entendeu que ele não falaria. Não é fácil expor suas fraquezas para as outras pessoas. No entanto Alice confiava em Mattia, que diferente de Viola, parecia ser uma boa pessoa.

“Vou te mostrar algo.”

Alice se afastou um pouco e tirou a camiseta do uniforme da escola. Mattia prendeu a respiração. Ele não sabia o que pensar ou dizer. Então ficou calado e estático onde estava. Alice se virou e mostrou as cicatrizes em suas costas. Linhas rosadas em formas e tamanhos diferentes que iam da nuca até a cintura da garota. Ela se voltou para Mattia que a encarava espantado. Ela vestiu novamente sua camiseta.

“Como?”   Foi a única coisa que ele disse.

“Meu pai bebeu demais na ceia de natal. Houve um acidente de carro e eu ganhei do papai Noel estas cicatrizes.” Alice desviou do olhar de Mattia. “Nunca o perdoarei por isto. Ele é a causa de todos os meus problemas.”

“Porque ao invés de culpar seu pai. Você não enfrenta seus problemas? “ Mattia olhou para seus joelhos.

“Pelo mesmo motivo que você se corta.”

Mattia esperou Alice falar.

“Por medo.”

O tendão de Aquiles de Mattia tinha sido atingido em cheio. Alice acabava de comprovar o que Mattia já sabia. Ele era covarde.

“Me desculpe. Eu não devia ter dito isso.” Alice pediu.

“Não. Você tem razão, eu sou um fraco.”

Alice deu um longo suspiro.

“Mattia mesmo você não me contando o motivo pelo qual você se mutila, com certeza é maior do que uma briga entre garotas. Quando você quiser poderá me contar. Não se preocupe não te considero um fraco.”

Mattia se levantou do chão e estendeu a mão para ajudar Alice a se levantar também.

“Você precisa de um curativo. Vamos para a enfermaria.”

“Nã...”

 Alice tentou discordar, mas Mattia a puxou para fora. O sangue não escorria mais. O lenço azul claro havia ficado vermelho. Alice acompanhou Mattia pelos corredores até a enfermaria da escola.

O lugar era exatamente como Mattia se lembrava. Branco e com cheiro asséptico. A enfermeira estava sentada em uma cadeira respondendo palavras-cruzadas. Mattia bateu na porta para chamar a atenção da mulher. A enfermeira Laura olhou o casal por cima dos óculos.

“Em que posso ajudá-los?” Laura disse largando a revista de palavras-cruzadas.

“Ela precisa de um curativo.”

Alice estendeu o braço com o lenço enrolado. A enfermeira olhou para Mattia. Ela se lembrava dele. Não era todo dia que um garoto se corta na frente dos colegas de classe.

“Parece grave. O que houve?”

A enfermeira perguntou olhando para Mattia ao invés de Alice. Para Laura era suspeito que Mattia estivesse junto da garota com um corte no pulso. Ela teria de conversar sobre a má influencia daquele menino com a diretora.

“Eu me cortei acidentalmente.” Alice mentiu.

“Isso não parece um acidente.” A enfermeira pegou a gaze e um remédio para limpar o ferimento.

Mattia continuava parado na porta da enfermaria. Ele estava receoso com a maneira que a enfermeira o encarava. Mattia não era bobo, ele sabia que ela suspeitava que ele tivesse algo haver com o corte de Alice.

A enfermeira terminou o curativo e mandou que os dois voltassem para suas salas. Nenhum deles voltou. Mattia e Alice foram para a parte de trás da escola até que o sinal do intervalo tocasse. Alice tinha algo para dizer a Viola, apesar de Mattia ter lhe dito para que esquecesse Viola.

A parte de trás da escola era cheia de arvores e mato. Poucas pessoas iam lá. Pra dizer a verdade, apenas casais que queriam se agarrar sem ninguém ver. Mattia estava desconfortável ali, ele sabia pra que era usado aquele lugar e estar ali com uma garota só fazia tudo pior. Alice parecia bem mais a vontade.

 Mattia sentou na raiz de uma arvore e Alice se sentou ao seu lado. Ele  não podia acreditar que estava cabulando aula. Nunca deixou de ir um dia sequer para escola. Exceto quando ficava doente. Como uma garota que ele mal conhecia o fez invadir o banheiro feminino e cabular aula. Talvez ela fosse mais influente do que ele imaginava.

A campanhia finalmente tocou. Vários alunos saíram correndo para o intervalo. Alice e Mattia também foram para o pátio. O dia estava ensolarado os alunos disputavam as poucas sombras. Alice procurou por Viola em todo o pátio, até que a encontrou perto da cantina.

Viola conversava com suas amigas como se nada tivesse acontecido. Alice respirou fundo. Ela não poderia errar, era o momento de mostrar para Viola que ela não precisava da sua amizade. Alice parou na frente de Viola.

“Você é surda? Eu acho que disse que não éramos mais amigas.” Viola disse.

Alice sorriu do mesmo modo que Viola costumava fazer.

“Viola Bai. Você é uma cretina vadia! usa essas idiotas que te seguem, para que se sinta mais importante do que realmente é. Por que você é um inseto insignificante. Precisa humilhar os outros para se sentir melhor. Eu vejo o seu futuro Viola, você vai ficar sozinha, por que você é desprezível. E quer saber, não sinto ódio. Eu sinto pena.” 

Viola estava furiosa. Foi preciso que suas amigas a segurassem para que ela não batesse em Alice.

“Alice Della Rocca eu vou acabar com você!” Viola gritou.

“Eu não tenho mais medo de você Viola!” Alice gritou de volta.

Mattia assistia a cena de longe. Ele não acreditava no que Alice estava fazendo. Ela realmente enfrentou Viola? Mattia admirava a coragem daquela garota.

Um grupo de alunos se juntou em volta das garotas esperando a briga. Seria épico, finalmente alguém enfrentaria Viola. Para a tristeza geral, a inspetora dispersou todo mundo e mandou as duas meninas se controlarem senão iriam para a diretoria.

Alice saiu vitoriosa. Ela sabia que mais cedo ou mais tarde Viola iria se vingar e não ia ser bonito. Entretanto Alice não se importava. Viola não tinha mais poder sobre os medos de Alice. Nunca a temeria novamente.


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Notas finais do capítulo

Ainda não tenho ideia do que escrever no proximo capitulo, talvez demoro para eu postar novamente, sorry.