–É, eu fiz merda! Mas me escuta pelo menos. – Ele parou um pouco, virou o rosto e voltou a me olhar – Eu já estava nervoso por querer te contar, tu não sabe o quanto eu fiquei puto da cara quando você me rejeitou. N...

–Pera ai. Você está dizendo que foi culpa minha tu ter contado que eu era lésbica?

–Não, eu só estou dizendo que eu fiquei puto da cara comigo mesmo!

–... - Demorou um pouco para que eu conseguisse processar tudo. É informação demais pra mim – Con... Con... Continua!

–Quando eu contei pra ela, ela disse que não iria contar para ninguém. Eu sei que sou um bobão mesmo! – Apenas arqueei uma sobrancelha. A vontade de dizer ´´tu acha mesmo?`` era iminente. Bobão é ser educado consigo mesmo – Quando eu cheguei na escola o boato já estava por tudo quanto é lugar, e mesmo que eu não quisesse a culpa era minha... Eu que comecei tudo. E eu... Eu... Eu não sei mais o que falar – Ele deu uma leve risada sarcástica e se sentou na cama ao meu lado – Eu ensaiei isso por meses, e agora nem sei o que eu posso falar.

–Se tem uma coisa que eu aprendi com tudo isso é que as coisas ensaiadas sempre fogem do controle, então foi perda de tempo – Abri um leve sorriso meio delicado que fez com que ele corasse na hora.

De repente toda a raiva e ódio que eu senti por aquele ser loiro que estava na minha frente havia sumido. Eu estava até me sentindo culpada por desejar que um míssil militar teleguiado viesse e acertasse ele bem na cabeça!

–Como eu deixei que as coisas chegassem ao ponto que chegaram... – Murmurou ele de cabeça baixa

–Como nós deixamos!

–Você não teve culpa, eu fui o imbecil cabeça mole.

–Disso eu já sabia há tempos, mas eu tive culpa. Se eu tivesse coragem o suficiente pra te perguntar o porquê daquilo, essa briga nunca teria acontecido.

– Tu estava namorando com o Sixx? - Ele mudou de assunto literalmente do nada

– Quem?

– O Andrew!

–Ah, ele... Não. E porque você chamou-o de Sixx? É só um apelido idiota... O sobrenome do babaca é Biersack

–Nossa, pra quem andava tão amiguinha dele você anda muito irritada, não acha?

–Não eu não acho – Mas que merda, eu não quero falar daquele babaca – Eu só... só... só...

–Só te apaixonou por ele!

–Não, eu não estou apaixonada – Falei as palavras não com raiva, nem com sarcasmo. Falei mais como se fosse um conselho para mim mesma – Eu não estou...

–Faz assim: Fala isso sete vezes pra ti mesma e me avisa se funcionou. – Ele me olhou como se estivesse me falando a coisa mais óbvia do mundo – Vamos, eu sei como é se apaixonar por alguém que não te vê com os mesmos olhos, acredite, eu sei.

–Para. De. Fazer. Isso.

–Parar de fazer o que?

–Fazer eu me sentir pior do que eu já estou!

–Mal por quê? – Ele perguntou completamente confuso

–Porque o que eu mais queria no mundo era que tu morresse!- Confessei meio envergonha

–Ah, tu não é a primeira e nem vai ser a ultima!

–Fala isso como se fosse uma coisa muito normal

– Você não é o capitão do time de futebol. Todos me odeiam, isso já é um fato! – Ele riu consigo mesmo

–Tu não é garota lésbica que todos odeiam...

–Ninguém te odeia. Particularmente não te amam, mas ninguém te odeia – Ele começou a encarar a parede a sua frente – Eles só se afastaram de ti porque acharam que isso faria com que eu me aproximasse deles!

– É, faz sentido, mas...

–Mas?

–Porque você me ignorava tanto? Porque você fazia questão de me humilhar? De me ver sofrer? Se você realmente queria ser meu amigo, porque tu fazia isso?

Ele baixou a cabeça por um momento, me olhou se sentou na cama e colocou a cabeça entre as mãos e disse como em um sussurro – Porque eu nunca, e quando eu digo nunca que dizer nunca mesmo, por se quer um segundo... Eu consegui deixar de te amar.

–Max... Eu não... Eu não po-po-sso, eu não sou... Eu sou lés...

–Eu sei, tu é lésbica. Eu sei isso de cór e salteado – Ele riu com sigo mesmo – Eu já repeti isso umas 300 vezes pra mim

–Merda.

–Merda. Isso explica tudo

–Desculpa, eu queria, mas eu não sei o que eu sinto, eu ultimamente nem sei quem eu sou

–Não precisa disso, tu só tá meio confusa. Por mais que você não seja quem eu quero que você seja pra mim, eu ainda vou continuar a querer que seja minha amiga.

–Eu sei disso.

–Me desculpa?

–Max... E... Eu... Não

–Olha eu sei que eu sou o maior filho da puta; desgraçado; corno; um pouco viado; – Hãn? – arrogante; idiota e sem moral, mas eu realmente gosto de ti. Tu sempre foi a minha melhor amiga! Por favor, me desculpa!

– Tu tem que aprender a ouvir mais as pessoas...

–Ah, é verdade. Eu também sou um pouco metido.

–Eu to falando disso, agora eu posso falar? – Ele balançou a cabeça como uma criança de 6 anos – Tu sempre me falou que as coisas mudam de uma hora pra outra. Pra ser sincera eu nunca acreditei muito nisso, nunca quis acreditar em mudanças radicais. Mas quando tudo aquilo aconteceu eu comecei a ver tudo de outra maneira... Eu comecei a ver as coisas do jeito que elas são, do jeito que elas foram feitas e não mais da forma que tu fazia com que eu visse! Tu que sempre me ajudou quando eu tava triste, quando eu me machucava, brigava com meus pais ou qualquer outra besteira. Tu sempre foi o meu irmão ´´mais velho`` só que mais novo... Eu sempre quis saber o motivo da nossa briga, porque eu não sabia direito o motivo... Até hoje eu não sei, mas eu não posso deixar de negar: Você tem muita coragem!

–Isso quer dizer que...

–Que tu ainda é, foi, e sempre vai ser o meu melhor amigo!

Ele se levantou da cama e começou a tossir compulsivamente, parou e me olhou como se eu fosse um premio

–Para de encarar. Tu sabe que eu não gosto disso!

– Vem pequena – Ele me puxou pela mão e depois pegou na minha fina cintura até que os nossos corpos se unissem.

Droga, Sandra. Se controla. Tudo bem que o cheiro dele é irresistível e que ele é um ser lindo, mas se controla.

–Promete que nunca mais faz merda comigo! – Falei por instinto

–Tudo bem que eu sou um idiota, mas eu juro que nunca mais vou te decepcionar.

Era exatamente o que eu precisava no momento. Pra mim – Acho que para ele também - aquilo era mais que um abraço, não me entendam mal, aquilo era o que os dois queriam e precisavam. Ele murmurou alguma coisa no meu ouvido que não consegui entender e logo depois ele começou a me deitar na cama.

–Eu quero saber uma coisa - Ele falou em quanto estava em cima de mim na cama de casal

–Eu também quero saber uma – Ele me olhou com curiosidade – Onde tu acha que isso vai parar? Se tu não ti lembra, a ultima vez que tu tentou isso agente não se falou mais por quase 9 meses!

–Não te preocupa, eu não vou fazer nada que tu queira - Ele falou rindo

–Esse é o problema: Eu não sei o que eu quero

– Oque? Como assim? Tu ta dizendo que quer...

–Ah esquece! – É impressão minha ou eu só falo merda? – O que tu queria saber?

–A Gabrielle me disse hoje que tu brigou com o Sixx, quer dizer com o Andrew ou algo parecido...

–Argh! Eu ainda te mato rosada de uma figa – Eu praguejava em quanto o Max me encarava como se eu estivesse completamente pirada (não que eu não seja pirada)- Eeer, bem nos tivemos um mal entendido bem fodido por assim dizer, que aconteceu somente por causa dessa merda - Levante a mão na qual levava a cicatriz que ainda latejava

–Que porra é essa, Sandra? – Ele saiu de cima de mim e se sentou na cama a encarar a palma da minha mão – O Andrew fez isso em ti?

–Não, não foi ele. Isso é uma obra de minha autoria. Ontem ele veio aqui em casa e faltou luz, dai eu estava com fome e fui à cozinha pra ver se tinha algo pra comer e sem querer eu quebrei um prato, ele caiu no chão e...

– Serio que ele caiu no chão? Achei que tinha caído no teto – Ele riu com a própria piadinha

– Que graça Max, isso mostra o quanto você é maturo! Mas continuando, eu fui pegar o prato e me cortei. Simples assim.

– Então porque raios vocês brigaram se ele não te fez nada?

–É complicado – Senti as lagrimas começarem a inundar as minhas orbes. Pode até parecer bobo, mas eu realmente não queria ter brigado com o Andy ele não fez nada de errado...

–É por causa da tua mãe, não é? - Em parte ele estava certo, mas eu não ia correr o risco de contar sobre o beijo

–É sim, tu sabe bem como ela é

–Vou admitir: Não sinto em nada por isso, eu não odeio ele, mas ele me irrita até o ultimo fio de cabelo. Ele é muito metido e mesquinho, se acha o maioral e tenta pagar de gostosão

–Ah, como se você não fosse isso tudo –Dei um leve empurrão nele

–Nem sou, ok?

–Não. A minha mãe que é

–Sandra a tua mãe realmente é metida

–É, sei, ela é mais metida que vocês dois juntos - Eu comecei a rir que nem uma doida

–Que ruma prova que ele tenta pegar todas? Ele está dando em cima da Gabrielle, só vou te fala uma vez: Até o final da semana ele come ela.

–Nossa, Max. Que horror – AI, MERDA. EU VO MATA AQUELE FILHO DA PUTA... Porque eu quero matar ele? Será que eu estou com... Ci... Ciu... NEM EU NÃO TO COM CIUMES – Ele nem deve estar tentando

–Sandra, eu pego quase todo mundo... Eu sei, ele tentou te pegar e não conseguiu. Partiu pra outra

–Cala a Boca Max, tu já tá falando merda

–Ok, se você diz que eu estou!

–Desculpa, eu ‘to dor e ‘to com sono. A Codeína me deixa muito grogue.

–Tudo bem... – Ele riu um pouco e depois ficou sério

– No que você ta pensado?

–Você não acredita no que eu te digo

–Em que sentido?

–No de que eu te amo, no de que eu posso te fazer feliz, no de que eu não vou te magoar

As palavras dele me atingiram como uma bala: rápida e mortal. Eu não podia acreditar nisso, quer dizer: eu acho que não posso acreditar nisso.

Fiquei em silencio até ter certeza das palavras que eu podia usar... Se é que existe alguma pra poder falar

–Me dê dois motivos pra acreditar em você

–Eu não tenho, mas... – Ele pegou no rosto com cuidado e começou a se aproximar lentamente, eu podia sentir a sua respiração descompassada vindo em minha direção, de repente a mesma situação que havia acontecido á poucas horas estava na minha frente novamente, mas eu não posso...

–Max, não, não, não, não e não. Não dá – Ele se afastou de mim rapidamente

–Eu sabia que não iria ser tão fácil assim – Ele deu um sorriso meio tímido e depois o silencio se instalou no quarto mal iluminado.

–Acho que eu já vou. Se quiser ir lá em casa mais tarde, eu vou estar te esperando– Ele se levantou da cama e saiu porta a fora

Um sentimento de culpa cortante me invadiu no momento em que ele saiu daquele quarto. No fundo eu sabia que ele tinha razão. Ele realmente poderia me fazer feliz e eu sei que ele não iria me magoar de jeito nenhum, mas isso seria a coisa certa a se fazer, e cá entre nos: Eu nunca fui de fazer as coisas certas. Sempre preferi o arriscado, o perigoso, o caminho mais difícil.

Mas algo me fez sair daquela cama e correr escada a baixo, ao encontro do... Meu futuro destino