- Pronto... A passagem já esta liberada e as câmeras desativadas – Disse a voz pelo mini fone-microfone que eu carregava no ouvido direito. Sorri ao observar o portão se abrir lentamente, para em fim dar inicio a minha pequena diversão.

Adentrei correndo pelo local, mesmo sabendo que não havia seguranças, não poderia arriscar que alguém passando na rua me visse. Parei em frente ao meu objetivo, colocando minha mochila no chão e procurando nesta as minhas “ferramentas”.

- Muahahaha Eles vão ter uma grande surpresa amanhã de manhã! – Disse para mim mesma, enquanto sorria vitoriosa.

“Bom plano... Mas acho que ainda esta muito... Simples”

- Simples? Como assim...

“Bom, falta algo... mais... ousado.”

Sorri comigo mesma, já entendo onde deveria chegar.

“Você trouxe?”

- Como esqueceria isto? Esta no auge desta brincadeira.

Senti um sorriso satisfatório brotar em meu rosto, mas sabia que este em si não me pertencia.

*

Abri meus olhos lentamente, enquanto desistia de tatear a estante em busca do despertador. Levantei-me da cama, andando em passos lentos ate o banheiro.

- Bom dia – disse logo antes de bocejar.

“Bom dia”

Adentrei no banheiro, me despindo e me dirigindo para um banho de água fria, para despertar. Suspirei ao sentir a água fria entrar em contato com minha pele, e por um breve momento senti que hoje o dia seria longo.

*

Adentrei no colégio sorrindo alegremente, enquanto me dirigia até onde se encontrava a multidão de pessoas aglomeradas, todas curiosas para ver... “Aquilo”.

Desviei de algumas, empurrei outras, até que por fim parei na frente da minha obra de arte. Observando-a como uma gratificação incrível.

“Devo admitir... você tem talento”

- Talento? Esse e um dos melhores trabalhos que eu já fiz... – sussurrei em resposta.

A minha frente estava “o muro” da escola. Não, este não era qualquer muro, era um especial, o orgulho da escola... Do diretor... Era o muro continha o emblema escolar pintado com as cores mais vivas e dignas desta cidade, até ontem. Mas agora não passava de um muro pichado do pé ao topo. A claro, sem esquecermos de contar o “pequeno” mural que eu fiz. Minha obra prima. O auge de minha brincadeira. Um “pequeno” mural dedicado a o diretor e a enfermeira... Bom... Mostrando como ela “Cuida” dele nas horas vagas. Muahahahahah...

- Devo admitir... Fez até que um bom trabalho. – Disse uma voz já muito bem conhecida ao meu lado.

- Não conseguiria sem você... Claro, se você não estivesse desativado as câmeras e aberto o portão automático – Sorri para Mari.

- Não tem medo de ser pega?

- Na verdade... Não... O que fariam desta vez? Me prenderiam? Eles nem se quer tem provar que fui eu.

- Entendo – Disse esta ajeitando o óculos frente à face. – Quanto tempo vocês dão para ele estar aqui?

- Uns – Virei-me para olhar o relógio de pulso virtual, colocando-o no cronometro.

 “Uns... 35 segundos e 42 milésimos”

- Talvez... – Encarei mari – 35 segundos e 42 milésimos e contando. - E sem mais delongas passei a cronometrar. Nenhum milésimo de segundo a mais, nem a menos. Exatamente, pontual.

- MAS O QUE ESTA ACONTECENDO AQUI? – Gritou ao fim da multidão uma voz já tão bem conhecida por todos – SAIAM DA FRENTE TODOS! SAIAM DA FRENTE SEUS MOLEQUES – pude ouvir ele se aproximando enquanto empurrava vários alunos em seu caminho. Até que por fim, parou a dois passos a minha frente. – O-OQUE?!

Suspirei... Virando-me para encarar Mari, lhe mandando um sinal para sair de perto. Afinal, esta tinha um bom currículo, notas altas, bom comportamento... Um orgulho para os pais... Diferente de mim... Enfim, não poderia a deixar botar tudo isto a perder ficando ao meu lado.

Esta deu uma ultima olhada pra mim, como se manda uma boa sorte, e saiu andando passando pela multidão, ignorando tudo a sua volta, como se estes nem existissem.

Olhei novamente o escândalo que o diretor fazia. Passei o olhar em volta, observando todos os outros professores chegando ao local.

- VÃO TODOS PARA SALA! SEUS DELINQUENTES! NÃO A NADA PARA SE VER AQUI! – E aos poucos a multidão foi se desfazendo. É mesmo esta quase toda desfragmentada, era ainda assim possível escutar em auto e bom som as varias conversa sobre as fotos. – ALGUEM CHAME O ZELADOR! E TIREM ESSAS FOTOS DAQUI! - Virei lentamente, me preparando para sair do local, mesmo já sabendo que não adiantaria muito. – PARADA AI SENHORITA ELESIS! – Pude sentir o olhar dos vários alunos que ainda restaram sobre mim. Bufei frustrada, pelo visto este seria mais um sermão daqueles.

- Me chamou? – Disse me virando preguiçosamente, encarando-o com uma pitada de sono no olhar.

*

 - OQUE A SENHORA TEM A EXPLICAR SOBRE ISTO?! – Gritou este, batendo em sua mesa.

- Explicar o que? – Disse indiferente.

- NÃO SE FAÇA DE INOSCENTE! TODOS SABEM QUE FOI VOCÊ QUE FEZ ISTO!

- Tem provas? - Pude sentir olhar furiosos de meus pais sobre mim. Mas afinal... O que eu falei de errado?

“Este será um dia daqueles.”

- Concordo – Sussurrei quase que inaudível.

- Afinal... Agora a culpa e minha que as câmeras pararam de funcionar? Ou que você fica fazendo “Coisas” com a enfermeira, durante o horário do lanche. – Falei sem encará-lo nos olhos – Se você não sabe, existe motel.

- JÁ CHEGA ELESIS! – Gritou meu pai furioso – JÁ ESTOU FARTO DE RECEBER LIGAÇÕES DA ESCOLA E DE VARIOS OURTOS LUGARES RECLAMANDO DE VOCÊ.

- Mas... Eu vou la ter culpa se ele fica comendo a enfermeira em auto e bom som?

- CHEGA ELESIS! NEM MAIS UMA PALAVRA!

- E ruídos? – disse pegando meu gravador e soltando um play – A culpa não e minha que eles fazem muito barulho! Não custava nada ser mais discreto... Afinal... Tente comer, escutando “alguém sendo comido”...

“Realmente... Eles não são nada silenciosos”

- CHEGA! ELESIS VA PARA SALA! – Gritou o diretor.

Levantei-me e me dirigir até a porta.

- Olha, você pode gritar comigo o quanto quiser, pode até colocar a culpa em mim, mesmo não tendo provas. Mas lembre-se, isso aqui é uma escola não o seu motel particular. Não vá depois exigir respeitos dos alunos, sendo mesmo não na sua frente, mas por fora... Os boatos já correm soltos... Imagino eu o quanto a fama da escola ira cair. Se você quer respeito pela escola, dê respeito a ela antes. – Ao falar isso sai andando para a sala.

Logo após sair da secretaria, pude ouvir o tocar do sinal, hora dos alunos trocarem de sala. Bufei enquanto caminhava para aula de química, é claro... Sem antes passar em meu armário. Por onde passava poderia sentir os olhares e os cochichos sobre minha pessoa... Ignorei... Como sempre.

Segui por mais alguns corredores até por fim para a alguns passos da porta da sala, suspirando cansada. Talvez se o diretor não se estive no meu pé eu até poderia matar aula, como sempre. Suspirei novamente ao me lembrar da cara de meus pais na sala e da possível grande bronca que tomarei em casa.

- Não vai entrar? – Virei-me me deparando com Mari.

- Estava só pensando... – Esta apenas me olhou, e ficamos assim, nos encarando.

- Se vai matar aula de novo ou não?

- Quem dera se eu pude-se... – Bufei frustrada – Com o diretor na minha cola... Isso seria meio que... Loucura.

“Você achando algo loucura?”

- O que? Não posso fazer nada! Sem falar que se qualquer guarda me ver na rua... Já sabe no que vai dar... E não estou nem um pouco a fim de aumentar o sermão que irei escutar hoje à tarde.

“Poderíamos chegar mais tarde em casa.”

- Infelizmente não... Afinal, não quero que meus pais paguem alguém para ficar me vigiando as espreitas...

“... De novo...”

- Então não tem saída? – Perguntou Mari.

- Acho que desta vez não... Afinal... Hoje à noite... – A encarei seriamente.

- Você acha que conseguirá despistar seus pais?

“Pif... Faço isso com as duas mãos nas costas e ainda por cima com um GPS preso em mim”

- Não duvido nada... – Sorri de canto, para logo em seguida voltar a encarar Mari. – Mas eles são o de menos... O problema de verdade e “ele”.

“Concordo”

Der repente um barulho ensurdecedor tomou conta da escola, era o sinal, avisado o começo da segunda aula. Dei uma ultima olhada para Mari, antes de esta passar por mim e sair andando rumo à sala, junto à grande parte dos alunos. Em poucos segundos o corredor ficou vazio, e eu no mesmo lugar.

“Não vai entrar?”

- Eu realmente devo?

“Na verdade... nem eu quero... Mas já que não podemos mais matar aula...”

- Droga... – Praguejei enquanto caminhava em direção a sala, abrindo a porta e adentrando na mesma.

- Hora, hora. Se não é a senhorita Elesis, atrasada... Novamente... – Disse a professora me encarando junto com metade da sala. – Deveria lhe mandar para o diretor! Mas sei que já não funcionaria mais... Afinal... Se não me engano você ficou lá durante o primeiro tempo, devido a sua brincadeira...

- Você não tem provas que fui eu mesmo – disse dando de ombros e me dirigindo a minha carteira - E mesmo que tivessem fariam o que? – Sentei-me encarando a professora, esperando uma resposta, coisa que não veio. Esta apenas se virou e continuou a aula. – Idiota! – murmurei mostrando a língua.

- Disse algo senhoria Elesis?

- Não professora... – Suspirei me virando para a janela, não estava nem um pouco a fim de prestar atenção na aula, que pelo visto, tardaria a passar.

*

Encarei a porta de madeira a minha frente, já me preparando mentalmente para a bronca que levaria. Abri esta usando uma naturalidade, podemos dizer que até surreal... Se comparado a situação que me encontro agora.

Passei direto pela sala, ignorando a presença de meus pais neste cômodo... Junto a alguns... Policiais?

“Droga...”

- Elesis... – Chamou minha mãe... Calma até demais. Parei de andar no mesmo instante... A alguns passos do limite da sala com a escada.

- Me chamou? – Disse indiferente, virando-me para encarar todos.

- Você é a senhoria Elesis então? – Disse um policial meio... Branco.

- Só Elesis... Não sou velha. Mas em fim... O que os senhores desejam comigo... – Disse entre dentes.

- Por favor... Sente-se – Disse o segundo policial.

“Isso não esta me cheirando boa coisa.”

- Concordo – Sussurrei de volta, enquanto caminhava até eles, parando a frente de uma cadeira, me sentando nela – E então?

- Bom... Não precisa ficar nervosa... Não vamos lhe fazer mal... – Disse um terceiro policial – Só queremos que responda algumas perguntas... Nada de mais.

- Ok então... Sobre o que seria...?

- Sobre o incidente hoje cedo na escola... E queremos a verdade – Disse o primeiro policial me encarando nos olhos, pelo visto ele deve ser o tipo “Intimidador”.

- Juro lhe falar a verdade...

“... Totalmente modificada...”

Segurei-me para não sorrir maleficamente frente a todos... Pelo visto teríamos um bom motivo para dar boas risadas depois.

- Então... Vou ser direto! Foi você que fez aquilo na escola?

- Não senhor...

- Espero que não esteja mentindo para mim mocinha!

- E por que eu mentiria? A claro... Por que tudo que acontece nesta cidade e culpa minha? Infelizmente senhor guarda, eu ainda não sou hacker a ponto de desativar as câmeras da escola e abrir o portão... Pois esta e a única explicação favorável. – Senti o olhar fulminante do policial sobre mim – Ou seja... Não ha como provar que fui eu! E como os senhores não acreditam em mim! – suspirei – volto a dizer... Não fui eu que fiz isso.

“Coof Coof MENTIRA!!! Coof Coof”

- Cala boca – Sussurrei enquanto massageava minhas têmporas, para logo em seguida voltar o olhar para os policias, que me olhava curiosos – O que foi? Perderam algo?

- Ora a sua pirralha...  Com quem você acha que est-

- Se vocês não têm mais nada a dizer... Vou para o meu quarto! Até amanhã...

“Até nunca mais!”

...e sai andando em direção ao meu quarto.