Ah, Thats Not Such A Wonderful Cat Life escrita por Nuvenzinha


Capítulo 3
III. Primeiro e Último Toque


Notas iniciais do capítulo

É ISSO AÍ MINHA GENTE! ULTIMA PARTE DA TRI-SHOT!
Demorou bastantinho (?), mas chegou!
Devo admitir que essa foi a parte mais triste ;u; mas espero que aproveitem a leitura.
PS: Não me matem.
[EDIT]
Okay, deixa eu fazer uma nota do capítulo descente. ._.
Cá estamos nesta sexta-feira, eu estando em depressão por ter cortado o cabelo, precisava finalizar isso aqui, se eu quisesse continuar minha outra fic com nekos, que é de Katekyo Hitman Reborn.
Não que eu não quisesse terminar -não sou uma escritora malvada, gosto dos meus leitores ♥ - mas eu realmente queria continuar a outra fic, então acabei fazendo com esse intuito.
O capítulo teria sido maior, mas acabaria saindo dos padrões da tri-shot. Não quero acabar escrevendo um capítulo gigante que vai repelir gente.
Eu, desta vez, não tenho uma música à recomendar D: Não uma, são várias. Ouvi uma grande variedade de músicas tristes para chegar neste capítulo de nekofofura triste. Mas a principal foi Crime & Punishment - Hatsune Miku.
estejam livres para recomendarem outras músicas.
Aproveitem a leitura ~



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Caminhava pelas ruas de Death City com um estado de espírito tranquilo, carregando na boca um pedaço de um peixe que um lojista, mais gentil que o primeiro com quem se encontrara em sua estadia na rua, lhe dera um dia. Já havia algumas semanas desde que sua amizade com o gato da casa do prefeito, Death the Kid, havia começado – provavelmente o único que ela tinha. Chrona estava feliz de não se sentir mais tão solitária mesmo sob as condições de vida que vinha aguentando.

Na verdade, parecia que tudo havia melhorado um pouco desde esse primeiro contato. Conseguia saber lidar melhor com o trânsito nas ruas por onde mais passava, seu pelo não estava sujando tão facilmente como no começo, não se sentia mais incomodada pela superfície áspera do asfalto e concreto por onde andava todos os dias. Talvez as coisas não tivessem mudado de verdade, apenas ela que estava começando a enxergar que havia algo mais além da tristeza de não ter casa para voltar, agora que não era mais sozinha. Podia não saber o que o outro estava sentindo com relação ao laço que haviam criado um com o outro, mas a gata sentia-se contente com aquilo.

Não queria terminar de comer todo aquele peixe, mesmo que estivesse de fato muito bom; Kid era sempre muito gentil em dividir com ela algumas coisas, mesmo que apenas as atirasse da janela ou deixasse na porta de entrada sem nunca sair de casa, então se sentia na obrigação de retribuir de algum jeito. Poderia não ser a melhor coisa para se repartir com alguém, mas era a única coisa que tinha de bom no momento; não se importaria de dividir o pouco que tinha com seu amigo. Por isso, carregava o petisco em sua boca sem arrancar pedaços da carne.

Estava passando pela calçada da rua principal do Distrito Comercial da Death City com passos mansos, olhando o céu com seus olhos azuis avoados. Perguntava mentalmente se o amigo iria gostar mesmo do que ela estava levando; não saberia lidar com a angústia que sentiria se ele acabasse por não gostar. Mas esse era um risco que ela corria, uma vez que não conhecia muito bom esse tipo de detalhe a respeito das opiniões do gato do prefeito. Talvez estivesse se preocupando demais, tinha de relaxar um pouco. Desceu seu olhar para um horizonte mais próximo depois que acabou por trombar no pé de alguém.

A pessoa, quem quer que fosse, continuou andando indiferente; Chrona fez o mesmo. Começou a passar por um trecho da rua que era cheio de becos e ruelas, evitando olhar no interior deles. Como ela poderia saber se, em alguns daqueles lugares escuros, não estava algum tipo de criatura assustadora? Mas, se não queria vê-los, por que continuava olhando para o fundo dos becos? Vai saber. Apenas tirou seu foco daquilo quando sentiu um inseto entrar em sua orelha. Chacoalhou a cabeça, agonizada; nada daquele tipo jamais acontecera com ela e definitivamente esperava que não fosse acontecer mais.

O silêncio foi tomando o lugar das vozes dos humanos negociando no mercado. Não que houvesse diminuído o trânsito de pessoas por ali, mas é que aquela era uma área mais deserta do Distrito Comercial; uma área relativamente perigosa para quem não tem consciência dos seres que vivem ali. Tentando manter-se sobre controle – não conseguia negar o medo que sentia ao passar ali todos os dias para ir à casa do Prefeito – a gata andava com passos largos pela calçada, contornando as caixas e sacos negros que haviam jogados por lá evitando o máximo que podia olhar para os lados; sabia muito bem que era naquele local que viviam os gatos de rua que tanto a assustavam. Mas uma criatura ainda mais assustadora que estes gatos se camuflava na escuridão daquelas ruelas.

- Eu estou desesperada, Free. Eu tenho que acha-la. Esta gata é muito importante. É como uma filha para mim.

Ouviu aquela frase ser dita do fundo de um beco; o mais escuro que havia por ali. Um arrepio correu por toda sua espinha, fazendo-a arregalar seus olhos até eles quase saírem de suas órbitas e acabar deixando o peixe cair no chão. Não, não podia ser. Chrona deu alguns passos para trás, aterrada; acabou por cair sentada no chão. Aquela voz era inconfundível; a voz de Medusa jamais sairia de sua cabeça e ela sabia que a pessoa que dissera o que acabara de ouvir era sua dona. Estava... Procurando-a? Ficou mais algum tempo sentada em meio ao silêncio, apenas fitando o peixe caído bem à sua frente. Ouviu mais algumas partes da conversa da dona antes de entrar em pânico e correr na direção de onde viera, abandonando a comida para trás.

Ela não podia voltar para casa daquela mulher, ou então ela acabaria por morrer.

Death the Kid soltou um bocejo manhoso, esticando suas patas para frente. Afofou o travesseiro em que estava deitado um pouco mais, apoiando a cabeça nele; aquele sol de meio de tarde lhe dava sono. Mas não quis continuar a dormir muito mais tempo depois que despertara: seu estômago logo começou a reclamar. Havia pulado o horário do almoço por causa de sua sonolência e agora sua fome parecia ter dobrado de tamanho.

Desceu da macia cesta que havia ganhado aqueles dias com um pequeno pulo, mexendo a cabeça de um lado para o outro para se alongar um pouco depois do longo cochilo que tirara. Ainda sentia-se um pouco travado pelo tempo que passara imóvel, mas, assim que sentiu o delicioso aroma dos produtos de limpeza que as gentis empregadas que trabalhavam lá gostavam de passar no chão após encerá-lo deixou-o mais relaxado.

Desceu todos os lances de escada até a cozinha, onde foi direto para o canto onde ficava sua vasilha com comida. Como sempre, havia uma porção generosa de sua comida favorita ali, que comeu com gosto até chegar ao fundo da tigela. Sentiu um alívio enorme ao saciar sua fome.

A mansão, como sempre, estava vazia; seu dono já estava há horas fora de casa devido ao seu cargo na cidade e as empregadas normalmente saíam mais cedo quando conseguiam terminar seus serviços antes. Não era novidade para ele. Olhou pela janela do balcão da cozinha para ter certeza de que não havia ninguém na casa e viu-se certo.

-Acho que ir um pouco lá fora, para variar, não vai ser ruim para mim.

Disse para si, abrindo a janela para que pudesse passar. Não era de seu comum fazer tal tipo de passeio; para falar a verdade, mal se lembrava dos jardins da mansão. Quem sabe não era um lugar muito mais bonito do que acreditava ser vendo da janela? Poderia ser mais um destino que poderia tomar em seus dias de tédio – sem falar que estava fazendo um dia de sol maravilhoso do lado de fora daquela mansão escura.

Pôs suas patas na parte onde o vidro da janela corria; era gelado. Olhava para baixo e via a grama verdinha e bem cortada, mais adiante alguns arbustos floridos formando uma imagem que não pôde distinguir daquele ponto de vista; mas acreditava que fosse parte do jardim da frente da casa. Pulou de onde estava para o chão do lado de fora, se deleitando com o roçar das gramíneas na parte mais sensível de sua pata. Fazia cócegas; mas não perdeu a calma nem deu um riso sequer. Por nunca ter saído antes, ainda sentia certo receio de prosseguir.

Respirou fundo; a casa estava vazia e, também, não saindo dos portões, estaria tudo bem. Começou a caminhar pelo jardim observando as flores e as folhas com seu olhar curioso. Suas orbes douradas nunca tinham tido uma visão tão próxima daquele jardim que tanto admirava de cima, além de que o cheiro do ambiente lhe dava uma sensação agradável de conforto e frescor.  Aquele dia estava tão lindo que nada poderia dar errado.

Será?

A rua estivera em completo silêncio, em sincronia com toda a mansão, até que Kid conseguiu ouvir passos vindos da calçada. Não eram os passos de seu dono nem os de outro qualquer ser humano, parecia ser de outro gato. Quem será que era? Um daqueles gatos de rua que tanto o incomodavam? Chegou a pensar que fosse Chrona, mas antes de sequer conseguir se lembrar de que esta só aparecia no final da tarde e descartar a possibilidade, viu-a saltar as barras do portão de sua casa com uma expressão de medo profundo em sua face. Kid olhou perplexo para amiga, apenas assistindo-a enquanto ela respirava sôfrega olhando pelo portão.

- Chrona? - Foi se aproximando lentamente da amiga, com um semblante calmo, e chamou por ela com um tom de voz neutro.

-K-Kid-san! – ela virou-se assustada, com os pelos de pé e os olhos arregalados ao máximo, com o olhar trêmulo como suas magras patas.

Seu coração descompassou; nunca tinha visto-a naquele estado de desespero. Seus olhos, com o mesmo tom de azul de uma pedra de gelo, nunca haviam expressado tanto medo quanto naquela hora. Death the Kid não pôde fazer nada além de tentar acalmá-la com palavras mansas, mas nada fazia Chrona parar de tremer.

Depois de algum tempo naquela situação tão delicada, a gata finalmente conseguiu falar, mesmo ainda com um ar choroso. Mirava o chão o tempo inteiro enquanto explicava a situação a ele pela primeira vez desde que se conheceram; se não tivesse contado, provavelmente jamais saberia que ela havia fugido de casa.

-S-Se ela me achar... – titubeou –  Não nos veremos mais...

Arregalou os olhos. Não, aquilo não poderia lhe acontecer. Chrona era a única com quem ele tinha contato que não fosse nenhum dos empregados da mansão ou seu dono; era sua única amiga e não conseguia aceitar a ideia de perdê-la. Mas como ajudar? Nada estava ao seu alcance, ele não poderia fazer nada. Aquilo estava acontecendo mais rápido do que esperava; tinha de pensar mais rápido que o normal. O que fazer? Como ajudar? Era impossível dizer um “eu te entendo”, pois é impossível você compreender alguém sem passar pelo que essa pessoa –ou gato- passou; sempre teve comida de qualidade e uma cama quentinha para dormir, além do carinho de seu dono.

Não podia simplesmente deixar a amiga, tão frágil e desajeitada como era, cair nas garras de uma mulher tão cruel como a Medusa que a gata descrevera; uma pena que não tinha poder para convidá-la a morar na mansão com ele. Bem que gostaria de convidar, mas seu dono não aprovaria. Muitas vezes, erguera a pata para tentar consolá-la, mas a coragem lhe faltava; tinha certo medo de violar a privacidade de Chrona se o fizesse.

-Doushio...? – os olhos dela estavam aquosos quando ela falou, num tom de desespero. Foi quando não pôde mais ficar ali parado.

-Daijobu ka. – Chegou bem mais perto dela, encarando-a nos olhos; tentando confortá-la, passou de leve sua cabeça contra a dela – Seja forte.

-...! – Chrona deu um ou dois passinhos para trás, constrangida – D-Demo...

-Tem certas coisas que não podemos evitar. – tentou manter seu semblante sério, para não perder a razão – Não importa o que acontecer, resista. Fugir jamais será a solução.

-E-Eu sei, mas...

-Você deve ir e encará-la de frente. – insistiu.

Aquilo pareceu espantá-la um pouco, tanto que, abaixando o olhar e encolhendo-se um pouco mais do que já estava, balançou positivamente a cabeça, com os olhos inseguros; sentiu-se meio arrependido do que fez ao vê-la andando para fora do portão da mansão com uma aura tétrica. Death the Kid pensou em retirar o que disse, mas o que foi feito não pode ser corrigido; certamente, havia feito a escolha errada em manda-la embora daquele jeito.

-... Estarei te esperando na janela, quando tudo voltar ao normal.

Teve a ligeira impressão de que Chrona virara-se para trás para responder, mas nunca pôde saber; assim que terminou sua frase, retornou para dentro da mansão, determinado a não sair mais de lá.

Talvez, apenas talvez, havia encontrado uma primeira e última amizade verdadeira para guardar em seu pequeno coração felino.

Queria apenas ser tão forte quanto aparentava  para suportar a perda. 


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