Ah, Thats Not Such A Wonderful Cat Life escrita por Nuvenzinha


Capítulo 2
II. É Comum Sentir-se Só Nesta Mansão


Notas iniciais do capítulo

AHHHH MULEK
DOIS CAPÍTULOS NA MESMA NOITE! AWWWYEAAAA ~
Desta vez, é o ponto de vista do Kiddo-kun! ~ ♥ Esse gatinho linds.
Assim como com Chrona, acabei por imaginá-lo em sua forma Nekomimi, não estando completamente transformado em gato, apesar de usar termos referentes ao animal propriamente dito.
Não tenho nenhuma música para recomendar :I descubram vocês uma boa música para ler!
Enjoy!



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Havia pouco menos de meia hora que seu dono havia saído e não havia mais ninguém dentro da mansão além dele. Death the Kid – ou apenas Kid, como as pessoas que moravam ali gostavam de chamar-lhe - coçou atrás de sua orelha, vendo a porta da entrada da mansão se fechar perante seus olhos. Suspirou frustrado; nenhum som que fizesse seria ouvido por alguém, tendo a mesma relevância do assoviar do vento em uma cidade fantasma.  Parecia mais um casarão de filmes de assombração de tão vazio que estava lá.

Lembrava-se do quanto se divertia com aquela solidão toda. Podia ir de um quarto ao outro, cruzar corredores, arranhar paredes, subir nas mesas e cadeiras; podia fazer o que quiser; mas já havia repetido tanto essa atividade que era mais divertido sentar à janela do quarto de seu dono e olhar as pessoas passando do lado de fora. Assim, ele também seria capaz de ver seu dono chegar para poder recebê-lo na porta com o devido carinho. Mas, desta vez, nem isso ele poderia fazer.

Não compensava ficar na janela se ele sabia que ele não chegaria; seu dono, a pessoa mais importante da cidade – pelo que Kid era capaz de entender das conversas que ouvia – teve de sair da cidade alguns dias, por motivos de reformas municipais. Voltaria dali um ou dois dias, mas, para um gato, era tempo demais.

Arfou mais uma vez e deu a volta, indo direto para a escada que levava ao andar de cima. Ele não tinha escolha; ou olhava pela janela ou ficaria dormindo o tempo inteiro, o que realmente não era uma opção viável, já que o barulho da chuva caindo não lhe agradava nem um pouco, mesmo que estivesse um pouco cansado. Era mais agradável dormir na presença da cálida luz do sol. Chegou logo ao quarto desejado, não demorando em pular na macia cama que o dono costumava dividir com ele, dali pulando na cômoda perto da janela e abrindo-a ligeiramente, apenas para deixar o ar entrar, logo depois apoiando o queixo no parapeito. Kid ficou algum tempo apenas olhando para o vidro, encarando as gotas de água fixadas nelas, perguntando qual seria a primeira a cair dali até o chão do jardim abaixo dele.

Quando a gotinha para qual estava torcendo perdeu, apenas olhou para outro canto; Kid, agora, tinha que se contentar apenas de ver o ambiente escurecido pela grande quantidade de nuvens cinzas que cobriam o céu inteiro, eliminando qualquer raio de luz solar que pudesse entrar. A única luz lá fora era a que vinha do abajur da cômoda em que estava sentado, que conseguira acender pisando no botão do interruptor – aquilo doeu, mas acreditava que tinha valido a pena.

Foi nisso que ele ouviu um pequeno espirro, vindo do lado de fora.

-Tem alguém aí? – a primeira coisa que Kid havia feito fora se afastar da janela, mas aproximou-se outra vez para chamar quem quer que estivesse lá, para ter certeza de que não era apenas fruto de sua imaginação.

-S-Sumimasen!*

Ao ouvir tal resposta em tom de voz feminino, ficou ainda mais confuso. Olhou para baixo e pôde ver dois inocentes olhos azuis, que brilhavam com a luz do abajur que ia até a parte do jardim que ficava próxima à porta de vidro da sala de estar da mansão. A dona desta voz não demorou em sair debaixo da grande folha em que se escondera até então para pedir desculpas pela invasão mais uma vez. Elevou o cenho; seria uma gata de rua? Provavelmente era, mas não tinha o mesmo ar desleixado que o dos outros gatos de rua que as vezes pareciam ali de xeretas, além de ter uma cara conhecida. Teria visto-a alguma vez durante suas longas estadias na janela? Não conseguia se lembrar, não mesmo.

- O que está fazendo aqui, senhorita? – perguntou educadamente, mantendo seu semblante sério.

-G-Gomen... – ela se encolheu um pouco – E-Eu só vim para cá me proteger da chuva...

-Não tem casa para voltar? – Uma de suas orelhas dobrou-se para frente, em sinal de sua confusão mental; olhando-a bem, ela estava muito bem cuidada comparada aos outros gatos de rua; tinha mais cara era de gata doméstica que saiu de casa e não conseguiu voltar antes da chuva.

-Não mais. – Ela encolheu-se um pouco mais – Eu era muito sozinha em casa... – tinha o ar de quem escondia algo, mas não possuía intimidade para insistir.

-Solidão, é? – apoiou seu queixo em uma das patas – Eu sei bem como é...

-Sabe? – a gata ergueu seu rosto mais uma vez, voltando a olhá-lo olho no olho – Então por que não tira essa coleira e pula pra fora? Por que não sai?

-Não tenho motivos suficientes para tal; estou muito bem aqui. – fechou os olhos, meio irritado – Estou sempre muito bem limpo, posso dormir em uma cama quentinha e tenho boa comida todos os dias. – voltou a mirá-la logo em seguida – Você abriu mesmo mão disso apenas por liberdade?

O silêncio reinou na área da mansão mais uma vez; a gata encarava-o abismada e ele continuava a encará-la com seu semblante sério costumeiro; podia não notar, mas os pingos de chuva diminuíam. Kid tinha suas sérias dúvidas a respeito dos motivos daquela moça, mas tinha vontade de ajuda-la de alguma forma; uma pena que ele não podia deixar nada estranho entrar. Era verdade que era solitário, assim como era verdade que ele poderia sair a qualquer momento, mas tinha em mente que não tinha coração forte para abandonar seu bom dono. Afinal, ele estava ali pelo mesmo motivo que ele queria coloca-la para dentro: pois se sentia só.

Por alguns instantes, cogitou em dar uma saída da mansão, com a pata esquerda no topo da cabeça; explorar um pouco a cidade que seu dono tinha nas mãos não parecia uma má ideia. Mas desistiu; não podia se deixar persuadir por um par de olhos ingenuamente determinados. Aquela gata não deixava de ser uma gata de rua.

-Pode ficar aí se quiser. – ele esticou o pescoço para fora da janela uma última vez, olhando-a fixamente – Eu vou dar uma cochilada por alguns minutos.

-H-Hai... – disse, num tom submisso; Kid já estava para fechar a janela quando ela tornou  falar – A-Anno... Qual seu nome?

-Desu za Kiddo. ** - Ah, aquele nome saiu num tom orgulhoso de suas cordas vocais. –Mas chame-me de Kid, apenas. E o seu?

-C-Chrona...

-Está bem, Chrona. Poderemos conversar depois.

-Hai.- e fechou a janela.

Quando acordou, o sol já brilhava no céu. Olhou para baixo e Chrona não estava mais lá. Ficou um pouco preocupado. Será que ela voltaria? Era a primeira vez que conseguia conversar com certo nível de confiança com outro ser de sua espécie. Realmente não esperava tal tipo de conversa; nunca pensara que poderia ter aquele tipo de contato com alguém de fora do casarão onde vivia.

Mas não deu um dia, a gata de pelagem rósea por quem ficara tão interessado estava de volta, embaixo da folha, apenas esperando para que ele aparecesse na janela para poderem conversar.


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Notas finais do capítulo

* Do japonês, 'Desculpe-me'
** Death The Kid na pronúncia japonesa.