Kokoro No Koe escrita por P r i s c a


Capítulo 3
Sereia


Notas iniciais do capítulo

Músicas do CAP:
- Rakuen - Do as Infinity/Inuyasha
- Chou - Tsukiko Amano



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Acordara não fazia muito tempo.

Sua cabeça latejava e seus olhos ardiam. Em sua mente, o grito apavorado de sua irmã sequestrada ressoava com firmeza.

"Eu devia... ter feito alguma coisa." resentiu-se o Haruno, ainda esforçando-se para se erguer do chão. Seus punhos estavam cerrados e sentia uma vontade quase incontrolável de gritar.

"Como se pudesse..." Neji não estava melhor. Procurava se concentrar em ajudar os demais caídos a se recomporem. "Fomos enganados... Eu fui enganado!" recusava-se a crer no quanto sentira-se admirado pela violinista e agora, como recompensa, perdera não só Tenten como também sua prima. "Ninguém podia ter feito qualquer coisa."

Ao perceber alguém cambaleante tocar-lhe o ombro, Sai se virou e encontrou um zonzo Kakashi levantando-se.

"Mas isso..." começou, em meio aos vultos diante de seu olho, que pouco a pouco recuperava a vista. "...não quer dizer que não possamos fazer algo agora."

"E o que faríamos? Já devem estar longe a essa altura!"

"Falando em altura..." Gaara também ajudava as cantoras e músicos a se levantarem, os guardas sob seu comando levando-os ao médico. Mais de uma os guardas o cercavam e o imploravam para sair dali, mas o rei os ignorava. "Vocês não perceberam nada de estranho?"

"Vossa Majestade..." insistiam alguns deles, impedindo o Rei de Suna de prosseguir com o que dizia "Deixe-as com os para-médicos, Nós temos que tirá-lo daqui ou.."

"Ou o que, oficial!" e de uma fala irritada, Gaara passou para os gritos enfurecidos. "A ameaça já se foi sem ser impedida e devo lembrá-lo de que eu não era o alvo. Mas minha irmã seria se ela aqui estivesse!"

"Gaara..." Kankurou tentava acalmá-lo.

"Não Kankurou, agora eu vou falar! Há um mês inteiro ela vinha recebendo ameaças de sequestro até que decidiu fugir! E agora isso! Vocês não tem competência alguma, no momento que eu quiser segurança, eu vou para o lado oposto de de vocês oficia-"

"GAARA!" interrompe seu irmão. Kankurou se dirigiu aos guardas "Eu sinto muito, Sua Majestade está sob forte estresse agora, será que podem acompanhar os outros até os médicos?"

E então os guardas se retiraram. Houve um grave silêncio no salão enquanto as últimas competidoras e instrumentalistas seguiam-nos até outro recinto, restando ali tão somente o Rei, seu irmão, Kakashi, Sai e Neji.

"Gaara, sabe que não deve falar em público sobre as ameaças..."

"Que me importa o público, Kankurou? Temari fugiu e com razão! Estamos cercados de guardas e vigias por todo o castelo e veja o que aconteceu! Só três foram levadas porque eles não quiseram sequestrar as outras, sabe dis-"

Com um pigarro, o Hatake pede a palavra ao rei.

"Perdão, Majestade, mas... o que dizia sobre a altura?"

Sem sua coroa, o jovem rei de Suna não parecia tão alto... mas não ficava nem um pouco menos intimidador. Sem responder à pergunta, o ruivo encara Sai e Neji.

"Quem são esses dois, Hatake?"

Os dois jovem em questão se encaram inquisitivamente. O cocheiro é conhecido do Rei?

"Oh! São irmão e primo de duas das competidoras sequestradas, Vossa Majestade."

"Presumo que queira que eu assuma este assunto como sendo deles também, então?"

"Se possível... sim, meu Senhor."

E assim, Gaara puxa um grande punhado de ar antes de falar.

"Será que nenhum de vocês percebeu que estamos na sala de um castelo? Ainda não se perguntaram como que um navio entrou pela janela sendo que estamos a mais de 12 lances de escadas do chão e da água?"

Silêncio. Lembraram da cena surpreendente que fora o navio, junto do nome Uchiha, adentrando a sala com todo seu pavoroso esplendor.

Havia algo poderoso por detrás disso.

Gaara e Kakashi se encararam friamente, ambos com a resposta na ponta de suas línguas.

Amaterasu.

Em meio ao clima sombrio, Neji pensou em sua prima... e no que Hiashi faria quando retornasse do mar e soubesse o que aconteceu. Sai ainda confuso e temeroso, desejou que Sakura... e até mesmo Ino... estivessem bem.

No Uchiha, as coisas não estavam nada bem.

"ME SOLTEM! EU QUERO VOLTAR! QUEM VOCÊS PENSAM QUE SÃO SEUS-" Ino teve de ser contida por dois marujos. Uzumaki tentava segurá-la a todo custo, mas a Yamanaka só se aquietou ao ter sua boca amordaçada por Kiba.

"Credo, com uma voz irritante como essa..." dizia o moreno esfregando as orelhas "Tem certeza de que escolheu as pessoas certas, Tenten?" Agora o Inuzuka amarrava os pulsos da loira nas costas da mesma, em seguida pondo-a sentada ao lado das outras duas. Todas amarradas ao mastro.

"Também me surpreendi." foi a tudo o que a de coques disse, sem levantar o olhar, enquanto verificava se as cordas de Sakura e Hinata estavam firmes sem que as machucassem. Seu comentário fazendo com que o rosto de Ino ficasse vermelho de raiva.

Tanto a Haruno quanto a Hyuuga não precisaram ser amordaçadas, já que nada diziam desde acordarem do sono imposto pela música tocada pela violinista.

E que música era aquela? Que magia havia naquilo?

COMO, diabos, um navio entrara pela janela de um castelo a uma altura supostamente inalcançável para qualquer objeto aquático!

Mas principalmente...

"O que querem conosco?" perguntou uma séria Hinata, mostrando um lado mais valente de si. O tumulto que se formou entre os marujos aumentava na espectativa de uma discussão.

"Ora, logo quem eu achei que fosse a mais frágil..." Kiba se aproximava perigosamente, agachando-se para encará-la enquanto segurava o rosto da Hyuuga entre calejados dedos. "O que você acha um bando de piratas pode querer com moças como vocês?" sua valentia se desfez enquanto encarava o Inuzuka. A pobre Hyuuga já quase soluçava de medo diante do bafo de cão dele.

"Deixe-as em paz, cachorro!" Era o loiro quem falava, chutando Kiba de leve. Não gostava do modo como o amigo se divertia assustando as prisioneiras. "Não ouve o que ele diz, não. Não é nada disso. Não que eu saiba o que você pensou, mas com certeza..." continuava Naruto a falar sozinho.

Hinata nada respondeu, apenas tirou o rosto das mãos do Inuzuka que agora nem a encarava mais. Levantando-se, Kiba dirigiu-se a Naruto.

"Não há como sabermos se algo assim vai ou não acontecer..." Muitos marújos concordavam com Kiba fazendo com que o barulho de murmúrios soasse cada vez mais alto.

"O que quer dizer?" a aflição de Sakura aumentava a cada palavra dita pelos piratas, que a elas se referiam, mas para elas não se dirigiam.

"Acontece..." disse a firme voz vinda de trás. "...que não estaremos com vocês no lugar para onde vão."

A cada palavra dita pelo Capitão Uchiha, era um passo que dava mais para perto das prisioneiras. E a cada passo de suas botas na madeira do navio, o murmúrio se desfazia e os marujos se aquietavam. Trajando não mais que as botas, as calças e o chapéu, sua posição naquele navio só era denunciada pela vistosa capa azul-marinha caprichosamente decorada com detalhes dourados, claramente feitos com outra pessoa em mente a qual esse capitão afanara sem o menor ressentimento, que cobria-lhe o peito cheio de ataduras. Havia manchas sangue bem vermelhas, recentes, por baixo e por cima da capa. Manchas vermelhas e recentes por fora... e provavelmete por dentro da bainha de sua espada.

Por um instate Sasuke pareceu encará-la. Pareceu analisá-la. Sakura quis desviar, ela tinha que desviar! Mas não conseguiu. E não precisou perguntar uma segunda vez para que ele respondesse.

"Não as mataremos, se é o que pensa. "Agora um sorriso desdenhoso se formava em seus lábios, tirando risadas cruéis da tripulação. "Não ganharíamos nada com isso."

"Se não nos quer mortas nos tire daqui! Temos de voltar agora para o castelo e para o concur... - a Haruno foi interrompida com brutalidade."

"Entenda de uma vez garotinha..." disse Sasuke afastando bruscamente a capa de si com um movimento cortante do braço que fez seu ferimento sangrar um pouco mais. "Aqui em meu barco vocês não são passageiras... não estão aqui em viagem. Tão pouco são pessoas. Aqui, vocês são mercadoria."

As três se encararam, E agora tudo fazia sentido.

A eterna lei da oferta e da procura se fazia mestra de seus destinos agora...

"No mundo, tem maior valor aquilo que mais falta. Quanto vocês acham que valem suas vozes? Quanto acham que valem as vozes se concorrentes à vaga de Sereia?"

Estavam indo para Ichiba, a terra do mercado, onde seriam trocadas pelo preço que considerassem justo.

"Então é isso... Tudo isso para nada." Hinata dizia o que os olhos de uma cabisbaixa Ino assim como o silêncio de Sakura transmitiam. "Todo esse concurso para ninguém fazer uma oferenda pelas pessoas!" seus gritos se esforçando para superar o barulho da tripulação e, quem sabe, atingir seu desalmado capitão.

"Não são a Sereia." sua voz era cortante e fria como uma espada. E quando ele falou, todo barulho cessou "Se a original pode ser substituída... Vocês também podem."

Dito isso se retirou. Naruto e Kiba removeram a amordaça de Ino, que de tanta decepção já nem mais reclamava.

Em silêncio, os marujos saíram. Eles próprios temendo as frias palavras ditas pelo seu líder, até que restava somente Naruto ali.

De todos, o loiro parecia ter menos vínculo possível com uma atitude pirata. No entanto, era ele um dos membros da tripulação de maior vínculo com o Capitão Uchiha. O outro membro era ninguém menos senão Tenten. Desde que chegaram ele parecia estar mais interessado em tentar confortá-las do que dar ouvidos ao capitão.

De um de seus bolsos ele puxou uma faca de aparência débil e enferrujada, talvez guardada a muito nas pantalonas do marujo. Do outro, uma maçã de aparência tão débil e, ugh, tão velha quanto a faca. Descascando a maçã sem qualquer pressa ou, esperava-se, vontade de comê-la, Naruto lhes falava sem encará-las. Seus olhos só acompanhavam os passos de Sasuke.

"Sabem... ele nem sempre foi assim." então, ARGH!, comeu um pedaço da maçã. "Muita coisa aconteceu para nos trazer até aqui. Não "aqui" fisicamente, sabe, no mar. 'Aqui', nesse ponto de ter sequestrar vocês três..." dizia, na tentativa de obter mais do que as caras de decepção que as prisioneiras lhe lançavam. Mas isso dificilmente aconteceria. Quando percebeu que não estava se saindo muito bem, lançou fora a maçã, e comentou mais para si que para elas "Espero que possam nos perdoar um dia..."

Então Naruto também saiu, deixando-as com seus pensamentos.

"Ei, hã... Sakura, não é?" A de olhos verdes acenou positivamente com a cabeça, sem se virar. Ao que Hinata prosseguiu com uma triste voz. "O que... exatamente, foi isso?"

Sakura olhou-a sem muita vontade de sequer franzir o cenho para indicar sua dúvida. Então, fosse por realmente querer saber, fosse pelo desconforto de cair novamente no silêncio, Hinata prosseguiu.

"Quero dizer... ele é um pirata.. não tem obrigação de nos fazer sentir melhor. Então... porque..."

"Porque ele tem a noção..." disse-lhe Ino com uma voz que misturava o mau humor com uma maturidade meio incomum à jovem "...de que somos gente. De que merecemos mais respeito do que aquele capitão nos deu."

E depois o silêncio acabou retomando seu lugar. Cada uma digerindo suas próprias especulações, tentando apenas esquecer sua atual situação. Sakura fechou os olhos e ergueu a cabeça, sentindo uma leve e fresca brisa que carregava os aromas do mar.

Agora ela queria muito ter ouvido o que Sai tinha pra lhe dizer antes do concurso. Mesmo que fosse uma implicância... Na verdade, principalmente se fosse uma implicância...

Ela sentia tanto a falta de seu irmão... Dos dois.

"Se ao menos" Hinata dizia mais para si que para as outras, mas chamando a atenção delas mesmo assim. "Se ao menos pudéssemos mostrar aos outros o mesmo que o loiro viu..."

"Se pudéssemos mostrar que somos... mais que mercadorias." prosseguia Hinata com o raciocínio.

Um sutil sorriso se formou no rosto da Yamanaka:

"E quem disse que não podemos?"

No leme, Sasuke virou a oeste, onde seguiriam para Ichiba. A Noroeste o Mar Inexplorado e as Shima Koe a leste. Cada vez mais para trás, Suna.

Apesar de manter o olhar fixo à frente, em sua cabeça, um certo brilho esmeralda não o deixava em paz.

"Não acha que pegou pesado demais?" Subindo as escadas, Tenten não trazia seu violino, agora com os cabelos soltos, preparava-se para dormir.

Não que sentisse sono... Era apenas o seu modo de deixar "problemas" de lado.

"São Shoohin, Tenten... mercadorias. Não tenho que tratá-las bem."

"Mas você bem queria, não é?"

O de orbes ônix não respondeu. Mas seu silêncio dissera tudo.

"Você mudou muito desde a morte de Itachi."

As mãos do capitão apertaram com mais força o leme, quase amassando-o em algumas partes ao que Tenten continuou.

"Não fique bravo... Ele se foi como um capitão de verdade. Afundando com seu navio... Se não fosse por ele, e por sua luta com ele, não teríamos o Sharingan agora. Nem as cantoras."

Acalmou-se. Não que as palavras de sua amiga não eram tranquilizadoras... Eram apenas verdadeiras.

"Você não está aqui só pra 'me fazer sentir melhor', está?" já adivinhara tudo.

Ela fez bico, empurrando-o e conduzindo a nau por ela mesma, já que esta era sua tarefa original no, agora incrivelmente lento, navio.

"Você gostou de tocar com aquele cara... Você sempre preferiu caras de cabelo comprido, não é?"

Ainda sem resposta. Mas ela já fazia aquele bico de irritação.

"Ainda dá tempo de voltar e sequestrá-lo também, se quiser" brincou o capitão. "Afinal,  ele te traz lembranças boas. Não. É"

Nada

"E por isso você humildemente veio me "ajudar", para fingir que eu estava pior, não..."

"CHEGA DE 'NÃO É'!" Sasuke ria. Aquilo era muito divertido. Naruto tinha o mesmo hobby de provocar a morena... desde os sete anos de idade o faziam, Tenten com oito. "Pare de me encher o saco, seu pivete travestido de capitão, ou dou-lhe um puxão de orelha!"

"Tenten... a muito deixei de temer seus puxõ...AHHHHHIIIIAIAIAIAI!"

Tenten puxou-lhe a orelha.

"Como, é? Não ouvi-iii... Repita!"

"LARGAA.. AIAIAIAI!" ela o fez. "Hmmph, isso foi sorte. Você pegou... minha orelha ruim."

Tenten ria com as costas da mão abafando parte de seu riso . Era sempre muito divertido relembrar a infância com Sasuke cujo mais próximo de uma risada que dera fora seu velho sorriso de canto.

Foi nesse momento que foram interrompidos por uma canção.

Rakuen - Do as Infinity

Ino sorria. Sakura e Hinata acompanhavam.

Aquela música tinha muita força.

E elas também teriam, pois se entraram nessa com a possibilidade de morrer... como ousariam se abater por "serem substituídas"?

O que cantariam poderia não ter qualquer significado para os piratas... Podia não alterar em nada seus novos destinos, mas elas não cantavam para eles.

"Todos sabem que as cicatrizes não desaparecem
Quanto tempo continuará?
Nós não precisamos de ninguém"

Estavam lá para apanharem, sofrerem, caírem, e sempre, sempre se levantar. Seriam tão fracas ao ponto de fraquejarem à primeira dificuldade?

Não. Não seriam.

E não voltariam a se esquecer disso.

"Todos estão esperando o dia em que não haverá nenhuma luta
Soldados no campo da batalha:
Relembre o calor de suas mães agora"

Quase esqueceram-se. Não lutavam e competiam apenas por elas, mas também por todos os que precisavam de sua liberdade de volta.

Fossem eles amigos... família... desconhecidos...

Ou até piratas.

"Neste amplo infinito mundo
seus próprios mapas são construídos
& vão caminhar, segurando suas lágrimas"

Do jeito que pudia, de olhos fechados, Ino se ajoelhou. Aquela canção era para todos aqueles naquele navio, que porum momento, puderam subjuigá-las, puderam subestimá-las.

"Levante-se, Hey acorde
os leões dormindo algumas vezes
pois eles vão viver para amanhã"

Precisaria de toda sua voz naquele momento por que como todos sabem, mas muitos esquecem, é difícil pôr em palavras tudo aquilo que se sente...

Como explicar-lhes os seus sonhos?

"Todos estão segurando
uma única parte de amor
mesmo se você a odeia, nenhuma delas
pode ser carregada"

Seus objetivos?

"Não precisamos desse tipo coisa
neste tempo limitado,
siga para um paraíso que você não pode ver ainda
Eles vão caminhar não importa quanto distante seja"

Mercadorias não tem sonhos.

Mercadorias, não tem objetivos...

"Relembre
o calor de suas mães agora
Siga para um paraíso que você não pode ver ainda
Neste amplo infinito mundo
Eles vão caminhar não importa quanto distante seja"

Elas eram mais, muito mais, que mercadorias... e provariam isso.

E cantavam.

E encantavam.

Pois desabafavam tudo o que sentiam em sua vozes, em sua música. Elas eram e sempre seriam aquilo que elas cantam.

E o que elas cantam... tem um valor muio mais alto. Um valor inegociável.

Porque quado elas cantam... Tudo... se transfoma.

Todos naquele grande navio pararam para escutar. Há muito não ouviam algo assim.

Há muito não ouviam coisa alguma!

"Não olhe para trás, apenas se antecipe
Eles vão viver para o futuro
até que seus corpos apodreçam em outro lugar"

Eram piratas.

Mas eram humanos.

Sentiam falta das canções, melodias, sentimentos. Por não se deixarem levar por regras e leis, jamais perderam seu direto de expressão. Mas sem a música... Ainda era uma parte da liberdade que faltava.

"Não precisamos desse tipo coisa
neste tempo limitado,
siga para um paraíso que você não pode ver ainda
Eles vão caminhar não importa quanto distante seja"

E todos, sem excessão, estavam agora em seus próprios paraísos.

E assim a música chegava a seu fim.

Com palavras e sentimentos ainda voando pelas mentes de todos a bordo.

"Relembre
o calor de suas mães agora
Siga para um paraíso que você não pode ver ainda
Neste amplo infinito mundo
Eles vão caminhar não importa quanto distante seja"

E todos a bordo... sentiram que haviam recuperado parte do que haviam perdido.

Tenten estivera até agora navegando de olhos fechados, ouvindo.

Já não concordava com o que faziam àquelas garotas desde o início.

Agora? Agora tinha mais do que certeza de que deveria ter impedido que chegassem até aquele ponto... Não queria de modo algum que elas fossem vendidas como mercadorias. Estava provado que eram muito mais que isso...

Talvez se as libertasse... Se as ajudasse.

Se tivesse ajudado...

"Tenten... chegamos."

Palavras sem emoção vindas do capitão.

Antes tão empolgados com a ida a Ichiba, pelas riquezas que fariam, pelas informações que ganhariam...

Agora decepcionados... pela fortuna que perderiam...

A terra do mercado nunca fora um lugar bonito. Sequer bom.

Por toda a sua extensão, haviam barracas, lojas e muitas, incontáveis, pessoas. Tornando aquele um lugar muito abafado, quente...

Insuportável.

Seu principal negociador era mais insuportável ainda.

"Yo, Uchihinha... trouxe algo que preste?"

Kakuzu, assim como demais conhecidos, fazia parte da Akatsuki, o grupo de Traficantes de Voz que comandava toda a ilha, assim como todas as trocas, compras e vendas ocorridas nela. Em outros tempos fora um grupo de mercenários, contratados por qualquer preço para qualquer serviço. Até o dia em que foram traídos. Com o tempo, e a morte do irmão de Sasuke, a orgazinação, assim como antigos tripulantes do Uchiha, navio originalmente de Itachi, monopolizou a ilha, mais tarde, renomeando-a.

Era um lugar perfeito para piratas, mas Sasuke nunca gostou de lá.

O Uchiha desceu de seu navio, levando as três cantoras consigo por uma corda amarrada aos pulsos das mesmas. Os demais permaneceriam no navio, à espera do que ganhariam e prontos para ajudar seu capitão caso este precisasse.

"Veja por você mesmo. - dito isso empurrou-as para frente."

"Já sabemos que são bonitas... un"

"Mas elas têm de ter vozes bonitas..."

Deidara e Sasori analizavam as cantoras quase que seriamente. Quase porque era inevitável para Deidara, dizer qualquer coisa sem que sorrisse com deboche.

Sempre fora assim. Desde os tempos de Itachi e até agora, em nada mudaram o loiro e o ruivo, ex-tripulantes ao comando do falecido Uchiha.

"Dê-me o que é meu e vocês as ouviram cantar."

Hidan riu.

Desde que desceram do navio as cantoras sentiam-se receosas com o que poderia acontecer. Mas a risada de Hidan lhes deixara apavoradas! Ele ria como um maníaco. Como um sádico...

Ele era um sádico.

"Pensa que somos otários? se achando o rei aqui só porque tem sobrenome Uchiha, é?" e era ainda quase tão insuportável quanto Kakuzu. "Daremos o que merecem depois de ouví-las fazerem algum som que preste. Até lá... vocês não saem."

Sasuke bufou, soltando um resmungo, ele olhando de relance para sua nau. Tudo tranquilo.

"Está certo... Se conseguirem fazê-las cantar." Apesar de sorrir ao dizer isso, ele estava bem inseguro quanto ao que dissera.

Kakuzu estreitou os olhos ameaçadoramente.

"Sasori-danna..." O loiro levantou a sombrancelha, ainda sorrindo, pedindo para que o colega fizesse as honras.

O ruivo fez que sim com a cabeça e, segurando Sakura pelos cabelos e uma faca na garganta dela, ordenou que as demais cantássem uma de cada vez para poderem analizar as vozes individualmente. Era um cara bem persuasivo...

Sasuke sentiu seu sangue ferver. Tratava-as mal, mas aquilo era demais! O ruivo sempre fora assim. Desde os tempos de Itachi.

Uma canção rápida, qualquer coisa! As garotas pensavam o máximo que podiam. Não se sabe se pela simples agilidade de seus pensamentos, ou pelo medo do que Sasori poderia fazer, mas fora Sakura quem lhes dissera o que cantar.

Canções muito breves, temerozas. As vozes continuavam belas, mas as letras... vazias. Completamente diferentes da música cantada a bordo.

Como não estavam lá, os Akatsukis não perceberam.

"É satisfatório." Kakuzu fez menção de se retirar, tendo Sasori e Deidara levando as cantoras para longe da vista do Uchiha, mas antes que pudesse.

"Espere." destestava ter que dizer aquilo. Queria apenas sair daquela maldita ilha e esquecer que um dia ouvira as vozes daquelas garotas. Esquecer que estava fazendo besteira. "Nossa recompensa."

"Ah, sim! Darei aquilo que vocês merecem... não se preocupem."

Ouviu-se um grito vindo do barco, seguido da voz irritada do Inuzuka e latidos ferozes de Akamaru.

Uma cilada.

Antes que pudesse sacar sua arma já estava imobilizado pela estranha criatura que era Zetsu. Não percebera a falta desse ao avistar a trupe da primeira vez, e agora pagava o preço.

Queria pedir ajuda para a tripuilação, mas esta estivera tão pronta para auxiliar seu capitão que nada puderam fazer para ajudarem a si próprios. Foram imobilizados e presos antes que Zetsu sequer tocasse no Uchiha.

"Seu querido irmão tem uma certa dívida comigo... Como você foi o felizardo que o matou... creio que minhas contas devo acertar com você..." sorria maldosamente.

Fora tudo uma cilada, desde o início, desde o primeiro dia em que encontrara com Sasuke e lhe propusera que sequestrasse as cantoras em troca de um mapa. Aquele que os guiaria para as resposta que o Uchiha mais velho não pudera responder. Direto para o líder deles.

"Prendam a todos! Serão executados pela manhã, sem excessão." Hidan estava amando aquilo. A sensação de estar próximo de uma execução era... reconfortante.

"KAKUZUUU!" assim o Uchiha mais novo fora, indignamente, arrastado para sua cela, onde passaria os últimos instantes até sua morte.

Na cela, as coisas iam de mal a pior.

Apesar de todas as celas se encontrarem dentro de um mesmo poço fedorento e úmido, estavam separados uns dos outros e Akamaru longe de todos, para que não bolassem um jeito de fugir. Apenas uns poucos encontravam-se em duplas ou trios pela falta de celas para todos.

Sentiam-se péssimos. Sasuke que sempre fora um líder que encontrava uma saída para tudo de qulaquer maneira, limitava-se a ficar recostado na parede escura de sua cela. Torturando-se mentalmente.

Por sua ambição, levara à morte não só a si próprio, como também sua tripulação e garotas inocentes.

Graças a ele, cantoras que queriam apenas a liberdade das pessoas, conseguiram ir para a prisão. Depois iriam para execução.

Irônico.

Sentia-se nojento por não ter dado meia-volta enquanto pôde. Itachi teria vergonha dele.

Ouviu vozes. Alguém conversava.

Ao virar o rosto, percebeu que aquela que se chamava Sakura conversava com um casal que encontrava-se na mesma cela que ela. Estavam piores que eles, como se presos a dias seguidos.

Uma linda mulher sorria fracamente enquanto acariciava a cabeça ferida de seu desmaiado companheiro. Imaginou que fossem amantes ao avistar o fraco, mas ainda insistente, brilho de alianças em seus dedos anelares.

Sakura parecia tentar animá-los de alguma forma. Era péssima nisso, claramente por causa da insegurança... Mas se esforçava. Conversava e sorria.

Era espantoso o modo como ela estava tentando ser otimista até em uma hora como aquela. O mais incrível, era que em nenhum momento desde foram trancafiados todos juntos no poço, ela brigara com ele ou com qualquer membro da tripulação pela atual situação em que ela e as amigas se encontravam, ao contrário da Yamanaka que, pro azar de Kiba, dividindo cela com ela, continuava a ralhar e a dar tapas no tripulante até vê-lo se desculpar por dizer que seus gritos eram esganiçados feito um cão morrendo.

Sakura lhe parecia incrível porque mesmo tendo um rosto doce ela parecia possuir uma força dentro de si capaz de fazê-la condená-lo e ofendê-lo sempre que lhe desse brecha.

Pensava isso por causa do olhar dela... Sakura tinha um jeito de encarar...um certo brilho no olhar...

Havia uma determinação ali que lhe lembrava muito Tenten.

E Tenten o condenava e o ofendia sempre que lhe dava brecha.

Ouviu a mulher ao lado da Haruno dar uma leve risada com algum comentário da garota.

Sasuke sorriu. Sempre fora um pessimista, frio... vingativo.

Somente com Naruto e Tenten não conseguia ser assim.

Achou que talvez nunca conseguisse...

"N-naruto-san...?" Depois do que fizeram e disseram desde que foram raptadas, era inevitável para Hinata sentir menos medo do loiro que dos demais.

Além disso, o Uzumaki era o que estava mais próximo à cela da Hyuuga. Ao ver o nervosismo nos pálidos olhos dela Sasuke tinha certeza de que o loiro estava se contorcendo de vontade de abraçá-la.

"E-eu ouvi o-o... 'capitão-san' falando no Itachi... eles e-eram irmãos, não é? C-c-como acabaram conhecendo a Akatsuki?"

Sasuke sentiu seus pensamentos serem quebrados pela voz tímida e hesitante da Hyuuga. Conhecia a família desta. Teriam problemas depois por terem-na sequêstrado. Aos menos se não fossem morrer antes.

"Ah, isso foi... há muito tempo..." disse Naruto se levantando e voltando a sentar mais próximo à grade que separava sua cela da de Hinata. "Eu, ele e Tenten-chan ainda vivíamos em Konoha na época"

Konoha... que nome nostálgico.

Ao falar e falar do loiro, as lembranças voltavam uma a uma à mente do Uchiha.

Quando eles eram pequenso e brigavam por qualquer coisa, sempre competindo.

Como Tenten dava uma de "mãe" nele, e principalmente em Naruto, quando brigavam, puxando-lhes as orelhas.

Itachi ensinando-lhes a tocar, sendo ele violão, ela violino e Naruto não conseguindo mais do que bater panelas estrondosamente.

Como sua família, de militares a serviço do Rei foi mandada perseguir e cortar as gargantas de todas as cantoras.

Veio à sua mente Itachi dizendo não à toda aquela ditadura, fugindo de casa. Tornando-se pirata... criminosos eram os únicos à manterem seu lberdade de expressão por não obedecerem às leis.

A morte de toda a sua família.

A morte do Rei.

O fim da repressão.

Era pequeno demais para entender tudo aquilo, limitando-se a ser um idiota com uma ambição ridícula de vingança.

Ao roubar sua primeira nau, foram Naruto e Tenten que seguiram viajem com ele, depois Kiba e Akamaru, seguido de Shino, Chouji e Lee. Até o dia em que confrontaram Itachi e a famosa nau que voa.

Venceram, e de "presente" seu irmão lhe dera o antigo navio dele, o Uchiha, afundando com a nau destruída de Sasuke.

E dentro do Uchiha... ainda muitas surpresas...

Konoha não existia mais, de modo que o reino principal agora era Suna. O nome Uchiha era conhecido apenas na pirataria, não mais atribuído a perseguidores e assassinos. Não era exatamente o que se podia chamar de "nome limpo", mas, novamente, fora graças a seu irmão.

E Gaara subira ao trono.

Teria muito mais a pensar se não fosse pelo barulho estridente de portas se abrindo. Celas destrancando.

A execução deles seria só pela manhã...

...mas a do casal seria naquela noite.

Apareceram Zetsu e Hidan no lugar dos costumeiros Sasori e Deidara. Abrindo a cela na qual se encontrava a Haruno e o casal, Zetsu segurou o desmaiado pelos braços arrastando-o. Seria o primeiro.

Aos poucos ele acordava com gritos de sua esposa que implorava para que o deixassem e que a levassem.

Chou - Tsukiko Amano

Pela primeira vez, Sasuke viu seus rostos com auxílio da luz da lua...

"E por que deveríamos levá-la primeiro?"

A mulher pareceu respirar fundo enquanto segurava e apertava umas das mãos de Sakura buscando forças.

E no lugar dar uma resposta... a mulher deu-lhes uma canção.

"No fundo do subterrâneo, eu continuava cavando um buraco
Sem saber aonde iria levar.
Com um ocular coberto de sujeira em uma mão,
Eu procuro pelo seu braço."

Sua voz era firme, madura. Levemente embriagada pela tristeza, que ao invés de desmerecê-la, dava ainda mais emoção àquela música.

"Desenhando juntos uma felicidade de colcha de retalhos, e costurando-a
Eu fui esmagada pela sua força."

Começara cantando suavemente, mas ao lento despertar de seu amado, sua voz ficava mais firme.

"Queimando, queimando,
As cicatrizes inapagáveis deixadas pelas palmas das suas mãos.
Abro uma fenda nas nuvens crepúsculas com minhas asas rasgadas,
Veja, eu posso flutuar melhor do que você pensava."

Porque agora ela cantava para ele. E apesar da dor claramente se intensificar em seu peito, sua voz não falhava. Nem falharia.

"A eternidade com a qual sonhei enquanto confinada no meu casulo
Aonde levará a semente e florescer?
A manhã eventualmente virá e trazer as trevas de volta para casa."

Nada disseram, olhando de relance um para o outro, os carcereiros apenas jogaram o ferido de volta para sua cela...

.. e a levaram mulher para a execução.

"Apalpando para você pela luz da lua, sobrepondo e emaranhando com você,
Eu acredito que eu poderia me tornar seu verdadeiro esconderijo."

Novamente preso, seu marido começara a gritar. Ele esbravejava, pedindo para que ela voltasse, para que ele fosse o primeiro...

Mas o incrível era que nada se ouvia além da canção. Como na música de Sakura que abafava o som das cordas do violino de Tenten, a voz dela apagava a dos demais.

"Queimado, queimado,
O lugar da nossa promessa que nunca irá retornar.
Corra através da terra mancha de preto com uma agonia rasgada
Veja, eu posso flutuar melhor do que você pensava."

Era uma despedida. Através dela ela dizia adeus a seu marido, e ninguém, nem nada, nem mesmo o som tinha o direito de interromper.

"Se você não pode me ouvir, mesmo que eu grite
Eu quero que você me destrua com as suas próprias mãos
Enquanto você ainda puder me segurar, querido."

Assim como o que seu irmão dizia, os outros obedeciam, ela cantava e todos ouviriam, porque esse era seu dom.

"Seus braços que me seguram
Se transformam em uma gentil poeira
Eu apenas olho para o céu, silenciosamente"

Porque ela era Sabaku no Temari, e jamais a impediriam de agir como tal ainda que sua vida tirassem. Era problemática.

"Queimando, queimando,
As cicatrizes inapagáveis deixadas pelas palmas das suas mãos.
Abro uma fenda nas nuvens crepúsculas com minhas asas rasgadas"

Porque ela era a Sereia.

"Queimado, queimado,
O lugar da nossa promessa que nunca irá retornar.
Veja, eu posso flutuar melhor do que você pensava."

E ela seria executada primeiro.



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Notas finais do capítulo

bastante ação e aventura chegam no próximo cap!



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