Kokoro No Koe escrita por P r i s c a


Capítulo 12
Jóias Raras


Notas iniciais do capítulo

Isso é, tecnicamente, metade do capitulo que eu estava fazendo. Como já estava bem comprido, resolvi quebrá-lo em duas partes, pra não demorar tanto a posta.
Músicas:
Game of Thrones - Harp Twins ver.
Departure - Supercell



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Lindo...?

Não. Muito pouco.

Fantástico...?

Ainda não era isso. Faltava alguma coisa...

De tirar o fôlego.

Literalmente.

Perfeito! Simplesmente a melhor descrição que já brotara nos pensamentos da Haruno! Andavam todos muito, muito, próximos por causa da sensação de afogamento que aquele lugar produzia, apesar do Capitão insistir em dizer que não havia necessidade.

- A menos que faça questão de me agarrar aqui e agora... – e sorria galante.

Eles se afastaram. Tenten parara de tocar violino tão logo entraram no vasto salão azulado e se mantinha bem à frente do grupo, claramente irritada. E a cada passo da morena a... bolha de ar que os cercava se alargava, como uma minhoca fazendo um túnel embaixo da terra.

Só que não estavam embaixo de qualquer terra que fosse.

Através da parede de aparência frágil que separava o “túnel” da água a seu redor as cantoras admirava a vastidão daquele lugar... Chão de madrepérola... Colunas de coloridos corais vivos e enormes janelas arredondadas por onde as águas entravam e saiam, carregando águas-vivas, peixinhos, polvos e outras criaturas marinhas. E erguido na frente de cada coluna... uma exuberante armadura enfeitava o corredor, guardando a passagem do grupo.  Era feitas de cascos de tartaruga para o peitoral, elmos de conchas encaixadas tão habilidosa e elaboradamente que um artesão dificilmente seria capaz de esculpir ou moldar algo igual... quanto mais fabricá-la de conchas verdadeiras, encaixando-as até formar o capacete. Todas as armaduras possuíam Ligas de couro de foca, variando apenas a cor e em seus braços, segurados por luvas de estrela do mar, longos arpões de osso se estendiam.

Osso de que? Não dava pra saber.

- Lindo... – balbuciavam até mesmo os abatidos Hyuugas.

Estavam em um palácio...

Embaixo do mar.

Estar ali, dentro de salão submerso, vendo tudo de um corredor de ar... era como um passeio dentro de um aquário.

Sombras rondavam o túnel. Parecia tão frágil... mas a pouca distância que aquelas silhuetas sombrias tomavam  para enxergar o incomum grupo, como crianças fazendo sombra nos olhos com as mãos a fim de ver peixinhos dentro de um rio, era forte indicador de que era uma bolha bem sólida.

- Ei, querem ver uma coisa legal? – pergunta Sasuke quebrando o silêncio.

Antes que pudessem dizer não, o Uchiha corre, passando velozmente por Tenten, fazendo com que algumas das silhuetas não tivessem tempo de sair da frente de seu túnel, sendo subtamente envolvidas pelo corredor de ar e splash! Enormes peixes estavam se debatendo no perolado chão diante das cantoras e inspetores.

Ok, talvez a bolha fosse mesmo frágil. E a coisa peixe tinha braços... e tronco de mulher.

Uma filha da Kami no Koe... a deusa da voz.

Uma sereia.

- Maldito seja, seu... HOMEM! – gritou a criatura de cabelo azulado, a grande e arroxeada cauda de peixe beta batendo furiosamente contra o chão, pouco antes de se erguer sobre os braços e, num sublime impulso, atravessar a parede de ar, voltando para a água.

Incrível.

O murmúrio do lado de fora da bolha aumentava, irritado. Palavras ininteligíveis eram passadas de silhueta a silhueta, até finalmente alcançarem seus ouvidos.

“Maldito...” diziam as filhas de Koe.

- A magia do palácio nos impede de interagir com a água do mar, formando essa redoma de ar por onde quer que passemos... E mantendo-a estendida por onde já andamos, para que não nos percamos. – e todos olhavam para trás, constatando que desde a entrada, entrelaçada por grassas raízes de carvalho, até a poça de água salgada deixada diante deles pela enfurecida sereia, a bolha se estendia longamente com ar. Sasuke então estendia o braço devagar, vendo a bolha esticar e depois rápido, tocando a água antes da lenta parede de ar conseguir recuar. - Mas é bem raro humanos passearem por aqui, então ninguém foca muito em manter certos feitiços em dia...

Tava aí uma ótima ideia para um parque. Fazer túneis de paredes transparentes para as pessoas se sentirem embaixo da água com os peixes sem se afogarem, alguém faria fortuna se aquilo fosse possível sem magia...

“Amaldiçoado...” continuavam a sussurrar as sereias.

- Você é bem popular por aqui, não? – desconfia Ino.

- Nada pessoal. Geralmente elas são assim com qualquer homem. Aqui é o palácio das Sereias, caso tenham esquecido e a mamãe delas: Vossa Senhoria Deusa da Voz. Há certos ódios que se tornam hereditários.

E as filhas de Koe continuavam a fitar o Uchiha com violentos olhos.

- Não, isso parece ser bem pessoal pra mim. – disse a Haruno.

- É pessoal. Ela tem problemas com homens.

- E porque elas não reagem a nós? – perguntou Neji.

Sasuke para, surpreso. Olhando para a parede do túnel à direita ele soca a água e tira de lá um peixe, mais rápido e faminto do que um gato seria capaz. Ele estende o peixe para os companheiros, tirando gritinhos enojados de Ino e Orochimaru.

- É macho ou fêmea? – pergunta.

- E como vamos saber?!

– Ouvi dizer que as vezes macho e fêmea tem cores diferentes, Orochimaru-sama...

- Ou tamanhos... ou formas... As vezes pelo formato da cabeça... – completou Ino, atraindo surpresos olhares para si. – Ah, claro, só porque tenho nojo automaticamente não entendo nada de peixe!

- Ino tem razão. E as sereias nos veem mais ou menos da mesma forma. Cabelo curto é macho. Cabelo comprido – e aponta para cada um deles, Neji, Hiashi, Orochimaru e Kabuto. – fêmea.

“Amaldiçoado...” – continuavam murmurando. Sasuke devolveu o peixe que, instantaneamente, fora triturado por dezenas de lanças até não sobrar mais que prateadas escamas espalhando-se na correnteza.

- Não, Sasuke, isso definitivamente é pessoal.

*** ***

Sua nova cela era aconchegante. Bom, mais ou menos... tirando os esqueletos de peixes e a mandíbula quebrada de um tubarão, tudo ali era muito bonito e tranquilizador. Tudo feito de corais e conchas, brilhando com jóias trazidas pelas correntezas. As sentinelas eram consideravelmente gentis e atenciosas com ela e sua irmã, em especial uma ruiva e três criancinhas que passavam horas espreitando-as, emanando curiosidade.

A princípio acharam que fossem as pernas de Hanabi a causa da empolgação, mas, como descobriram no dia anterior, eles foram atraídos por seus olhos.

“Olhos perolados!” gritara toda empolgad, atrás de uma grande coluna de coral arroxeado, a sereia ruiva da manhã anterior. “Como serpentes!”

Entre humanos ela tomaria aquilo como ofensa, mas o brilho nos olhos da sereia deixava claro que era o mais puro e sincero elogio que a filha de Koe poderia dirigir a uma pessoa.

Hinata passou o braço por um grande furo e estendeu uma bolacha-do-mar para Hanabi. Ela tinha uma cor azul turquesa muito bonita e a estrela do centro parecia esculpida.

- Uma lembrancinha. – sorriu a mais velha. - algo me diz que não vai demorar para sairmos daqui.

E a mais nova sorri também. Se aproximou da irmã, o braço de Hinata atravessando a redoma de ar e se agitando para espirrar a água que escorria na cara de Hanabi. A pequena resmungou com a travessura, mas continuava sorrindo, guardando o souvenir dela no bolso

A cela era o interior de uma enorme e alaranjada esponja marinha. Através dos poros ela podia ficar de olho em Hanabi, a quem deixavam vagar livre já que, bom... não podendo ir à superfície, para onde é que ela fugiria?

E pensar que um redemoinho inteiro fora obra da Rainha Tsunade. Parecera tão descomunalmente poderoso, mas gerado por não mais que um bater de cauda da soberana (segundo comentavam as guardas). Se arrepiava só de relembrar o crocitante som das tábuas se quebrando, a nau se partindo e não importando o quão fundo sentissem que entravam no mar... permaneciam secas. A pequena redoma de Hanabi as mantivera fora do alcance de estilhaços e do próprio toque salgado da água, observando a violência das ondas e o desespero dos homens a seu redor sem serem afetadas por ela. Foram puxadas por uma correnteza até as raízes de um carvalho plantado em pleno mar e... Hinata não se lembra muito mais do resto. Havia desmaiado e, quando acordara, já estava encarcerada dentro da esponja.

Mas Hanabi estava perto. E estava alimentada, sem qualquer ferimento. Era só isso que importava.

A mais velha percebeu uma conhecida sentinela se aproximando.

- Nekomata-san!

- Boa noite, Rabo-de-bagre... – cumprimentou Hanabi.

- BAGRE É A SUA... URGH! – e engolia os xingamentos, como uma boa guarda Sereia. - Nem todos os peixes-gatos são bagres, sabia seu passarinho depenado?! – se enfurecia Nekomata. Ela e Hanabi pareciam ter formado alguma espécie distorcida de amizade, a qual Hinata não entendia direito.

E voltando ao seu dever...

- Parece que sua fiança foi paga, Gaivotinha...

As Sereias chamavam de Gaivota toda e qualquer criatura que consideravam não pertencer ao mar.

Gaivotas e aves “marinhas” em geral...

“Ela não são marinhas, coisa nenhuma!” rugira na primeira vez que conversaram, a princípio assustando as Hyuugas. “Não vivem aqui, não respiram aqui, apenas pegam nossos peixes e ainda têm a ousadia de devolver os ossos!”

Criaturas de água doce...

“Água doce é para os fracos!” E caçou Hanabi pelas celas esponjas quando a mais nova falou “Bagres são peixes de água doce...”

Humanos que comeram uma Umi no Mi...

“São nossas frutas...” enfatizava Nekomata usando o arpão para coçar a ponta da cauda sem escamas. O jeito rude não passando de personalidade e não hostilidade, como vieram a aprender. “Vocês têm as de vocês, porque pegam as nossas?!”

Assim que liberta, a Sereia sai nadando pela janela, pedindo para que Hinata a seguisse. Acabou voltando porque Hanabi não podia tirar os pés do chão... não havia qualquer influencia do empuxo na bolha de ar da mais nova de modo que ela só podia ir a lugares onde tivesse algo para pisar. E não podia sair e entrar na água. Tentara e tentara diversas vezes, a bolha continuava envolta de si.

- Se não fosse por ela a pressão daqui de baixo esmagaria seu corpo antes que tivesse chance de sentir a água congelando seus dedos... - confortava a Mulher Bagre.

- E como é que você não explodem indo à superfície?

- Somos criaturas mágicas, menininha. Aceite, supere e siga em frente.

Depois disso Hanabi nunca mais tentou sair da bolha.

Seguiram pelo caminho mais longo mesmo. Bastou umas poucas curvas para os gritos da Rainha serem o bastante para guia-las até o Salão do Trono.

- COMO?! Como... como sempre consegue entrar!? Não importa quanta magia exista, quanto mistério se forme, não importa que este mundo esteja selado e somente nossas vozes sirvam de chave! VOCÊ SEMPRE DÁ UM JEITO DE ME ATORMENTAR, UCHIHA...!

- SASUKE!! – gritou uma menina, tão emocionada por estar diante daquele que só conhecera através das histórias de sua irmã.

E quando Hiashi e Neji olharam para a entrada do salão...

- Hanabi! Hinata!

- Sasuke! – voltou a gritar o Uchiha pelo puro prazer de ouvir seu nome.

Mas não adiantou, porque toda a atenção era para os Hyuugas... Hiashi e Neji correram para as meninas, puxando Hanabi para perto trazendo Hinata para dentro de suas redomas de ar envolvendo-as em um forte e almejado abraço. Era a segunda vez que testemunhavam a queda do temível Hiashi em um acesso de lágrimas, mas agora ele ria. A felicidade e o alivio inundando o Salão do Trono.

Foi emocionante. Fizera o Uchiha até suspirar!

Mas agora já deu...

Em lágrimas estavam também Orochimaru e Kabuto.

- Orochimaru-sama, o que está acontecendo...? – pergunta o inspetor aos soluços, uma vez que nenhum dos dois estava à par da separação dos Hyuugas.

- Não sei... – responde o alto e esquisito Orochimaru. Seu rosto pálido tomado por uma careta de emoção e lágrimas. – Mas é tão lindo!!

E eles também começam a chorar. Ah, Kami, ok, estavam felizes... chega!

Estava encurralado. À direita haviam os instrutores emotivos... à esquerda as cantoras estavam de mãos dadas, enxugando as lágrimas com lenços como se tivessem acabado de ver o final feliz a uma linda peça. Procurou Tenten e a encontrou de costas para eles, mantendo os olhos longe dos Hyuugas. Ela com certeza estava lacrimejando. Chorando podia até ser que não, mas estava segurando-se muito.

Para o socorro do Uchiha, Tsunade pigarreou, erguendo a sobrancelha tediosamente.

A Rainha era... como dizer... “chamativa”. Sua ornamentada metade peixe era de um majestoso peixe-leão. Espinhentas nadadeiras dançavam ao movimento da água, tornando-a tão magnífica quanto intimidadora. Ao contrário do que se pensa, a maior parte das sereias não costuma usar conchas ou estrelas do mar ou outras carcaças de criaturas para ocultarem seus.. ahn, dotes. Elas estavam sempre ou de armadura ou nadando livremente, sem cobertura alguma, como qualquer criatura marinha. Conhecendo a tendência masculina, Tsunade havia arranjado um longo manto branco, provavelmente parte da vela de um navio e duas estrelas do mar enormes para usar no peito. Claro que com um busto daquele tamanho as estrelas se assemelhavam mais a polvos aleijados aos quais o manto deveria disfarçar. Mas com o movimento natural ondulante da água, era difícil não capitar os olhares dos homens presentes fisgando aquelas estrelas.

As sentinelas de Tsunade trouxeram cadeiras, (bom, quase isso as tartarugas estavam mais para almofadas de pedra que cadeiras, mas ajudavam) para acomodar os humanos ali reunidos. Com exceção de Hinata, que permanecia fora das bolhas, nadando entre sua família. Não demorou tanto tempo quanto esperavam para Sasuke e Tenten explicarem o que os trazia de volta à presença da Rainha Sereia.

E assim como Jiraya...

- MEXILHÕES, TENTEN, É VOCÊ?! ESTÁ TÃO...TÃO...

- Diferente. É, já me disseram isso.

Neji e as cantoras começavam a se perguntar como era a violinista quando mais nova para causar tanto espanto.

E a Rainha sorri.

- Está linda, minha jovem.

A violinista não responde, apenas vira o rubro rosto para o outro lado.

- E onde está Naruto?

- No navio, Tsunade-sama. Descansando.

- Hm... – e depois de um curto suspiro, o Salão fica, finalmente, silencioso.

Fora muita sorte Hinata e Hanabi terem sido resgatadas pelas Sereias. Era uma chance mínima isso acontecer, mas o Uchiha apostara nela, trazendo Hiashi e Neji consigo. Esse resgate, no entanto, não era tão parte dos planos de Tenten...

- Tsunade-sama... Viemos até aqui para... – e respira fundo, não crendo no que estava prestes a pedir. – para pedir que nos deixe passar pela entrada do Segundo Portão.

Uma agitação sobreveio as sentinelas. Sua tensão era visível e balançavam as paredes de suas redomas de ar.

A Rainha não tivera a menor reação, ponderando o pedido em um agonizante silêncio. Quando abriu a boca para responder, Shizune, a sereia golfinho entra no salão, informando Sua Majestade da chegada da hora de se reunir com o Príncipe Tritão. Tsunade assente e então diz:

- Infelizmente, não temos mais qualquer contato com as irmãs que guardam o próximo portão. Nossa entrada para a Floresta fora há muito selada.

Sasuke se levantou abrupto para protestar, mas a soberana não havia terminado, e com um gesto de mão, a tartaruga se sentou sobre ele, prendendo-o ao perolado chão como correntes de uma tonelada.

- Não tenho a menor atenção de ser contra ou a favor de seus propósitos. O que diz respeito aos humanos não é de nossa alçada. Se nossa passagem estivesse aberta não faria a menor questão de impedi-los de usá-la. Mas ela não está. - Tsunade então se levanta, retirando-se do Salão em um lento flutuar. Ela já não os encara mais ao dizer - Ofereço abrigo e comida por uma noite, duas se acharem que não é o bastante para terem forças para sair de meus domínios. Nada mais. Com exceção da Gaivota, enquanto estiverem aqui, não devem comer nada que nos pertença. Pedirei ao Príncipe que lhes traga alguma comida humana em sua vinda. Aquele imbecil sempre chega atrasado, mesmo...

E sai.

Então... era aquilo...? Eles falharam?

- Tenten... – fala Sasuke, já sufocando com o peso da Tartaruga.

- Eu sei. Vou falar com Tsunade. Ainda temos a carta de Jiraya pra entregar.

- Não... – e tosse um pouco, sua voz cada vez mais escassa. – Isso também, mas... me... ajuda...

E com a força de Hinata em sua forma Sereia, eles conseguem fazer a tartaruga sair da bolha de ar, nadando leve e suavemente pela água Salão a fora.

Estavam prestes a sair também, e procurar novamente a Rainha quando, de uma das entradas, uma curiosa Sereia ruiva espreitava o grupo.

Hinata a reconheceu.

- Karin! – exclamam ela e Hanabi.

Pelos corredores da pálacio, sua nova guia turística lhes informava empolgadamente sobre como funcionavam as coisas lá. Sua metade enguia era de um preto brilhoso e movia-se como uma cobra. De tempos em tempos ela ajeitava os óculos de natação vermelhos como os cabelos para encará-los.

Aparentemente... criaturas mágicas também podem ser míopes.

- Não devem comer nada nosso. – reforça a ruiva, pegando um peixe entre distraídos dedos. – Só peixe! Peixes e algumas espécies de moluscos são terreno neutro! – e como se pra provar o que dizia, ela engole o pequeno peixe de uma só bocada, cuspindo as espinhas e enterrando-as na areia que cercava o corredor perolado.

Quando passaram por um salão

- Não há portas por aqui. – e gesticulava os arredores. – Só colunas, arcos e colunas arqueadas... Nosso lar é o mar e esse palácio só fora construído para servir de elo entre nosso povo e humanas.

- Então já houve um tempo em que sereias e humanos interagiam... – ponderou a Haruno.

- Humanas. Só mulheres. Homens não sabem se comportar por aqui, sabe como é... Ah, sim, há muito, muito tempo, antes da Mãe se apaixonar.

As cantoras se encararam. “Se apaixonar?”

Passando por um corredor próximo a uma bifurcação, puderam ouvir ao longe Sua Majestade Tsunade rugindo por mais bebida. Sasuke cutucou Tenten e sem perder tempo a morena se afasta do grupo. Sutil. Cautelosa. Até finalmente arrumar uma brecha entre o fala-fala de Karin e seguir a direção da voz de Tsunade.

- Ah, olha, falando nisso...

E apontou para o que parecia ser uma espécie de escola para os filhotes. À sua direita, no centro de um dos Salões abertos um grupo de crianças-peixe fazia bagunça na areia prateada, enquanto dois Tritões contavam uma história para elas.

Ou pelo menos tentavam...

- Aquele com a metade tubarão é Ebisu... O outro, bocejando, com metade truta é Genma. Não vivem aqui, mas sempre que o Príncipe aparece, nós os deixamos entrar, pois são os melhores em “controle de peste”,

O grupo encara a sereia.

- Sou uma Sereia enguia... –diz simplesmente - Enguias morrem depois da desova, não tenho exatamente o que chamam de “Instinto Materno”.

E após o alegre comentário...

Ebisu já parecia cansado de gritar para que elas se aquietassem e ouvissem a história, segurando os redondos óculos de natação de lentes escuras como Karin fazia.

Quando Genma se cansou do tumulto, nadou até a criança peixe mais barulhenta, um tritãozinho com um cachecol azul ondulando ao redor do pescoço com provavelmente a mesma idade de Hanabi e o acertou na cabeça com força o bastante apara fazer o som calarem as outras crianças. As Hyuugas o reconeceram, assim como uma peixinha de cabelo alaranjado o tritãozinho redondos de óculos de natação como sendo o trio curioso que vivia espreitando-as no calabouço.

- História. AGORA. – e continuou mascando a comprida espinha em sua boca.

E lá estavam elas, acomodadas angelicalmente sobre a clara areia.

Controle de peste.

Game of Thrones – Harp Twins

O tal Ebisu pigarreou e, com o auxílio de uma harpa (ela não estava lá antes, de onde ele tirou aquela harpa?), começou a épica narrativa. Ele primeiro juntou as palma e, tocando no instrumento, afastou lentamente as mãos, até envolvê-la em sua própria bolha de ar. Sentando-se sobre a própria cauda cartilaginosa, moveu os dedos, fazendo sair a linda melodia.

E contou, entre música e rimas, a antiga história de Koe, deusa da Voz, Mãe das Sirens... e sua única história de amor.

Vivia em suas isoladas ilhas longe da presença humana, como qualquer deus pagão, sendo seu maior entretenimento a música, a poesia, os sussurros, os risos, os brados e, ao fim do dia, uma contemplativa calmaria, porque nem todo silêncio é ruim.

Não gostava de homens. Desde a criação de suas filhas sua rudeza a enojava e não demorou a se tornar hostil.

Um dia, no entanto, Um jovem marinheiro se aventurou por sua ilha. Não ousando pisar na terra da deusa, o viajante se limitava a rondar suas águas, surgindo na paisagem da praia branca com seu navio ao raiar do sol e só reaparecendo no raiar seguinte, quando completava sua volta, contornando as ilhas como o próprio tempo.

Mais de uma vez a deusa enviou suas filhas para eliminá-lo, mas, uma a uma, elas eram conquistadas e, sem que qualquer canção pudesse hipnotiza-lo, o viajante lançou a isca da curiosidade.

E com a Curiosidade... surgiu o afeto... e do afeto nasceu o amor. Durante cinco anos eles permaneceram juntos e nenhum outro homem fora atacado por alguma filha de Koe.

Ebisu parou a melodia. E próximo a Genma surgiu um piano transparente e já envolto em sua própria bolha de ar. Foi só nessa hora que perceberam o quão bom era o contador de histórias, porque em nenhum momento elas ou as crianças se deram conta da presença do grande instrumento. Então Genma iniciou uma nova melodia e a história continuaria a ser contada, mas...

- Espera... Eu... Eu conheço essa música!

Karin sorriu.

 - Ela é muito especial para nosso povo. Fora cantada pela própria deusa, mas ninguém mais sabe a letra. Só sabemos que é uma canção de amor...

- Não, você não entendeu... – e não demorou a levar a mão às têmporas, sentindo um calor intenso encher seu peito e subindo até a cabeça. – Eu... eu conheço a letra...

- Oras mas isso... isso é...

- “Mou anata kara aisareru koto..."

- Genma... PARA!

E o grito de Karin assustou até a Haruno que engoliu o resto das palavras.

- Você não! Anda Genma! Do começo!!

E assim ele fez.

Departures  ~Anata Ni Okuru Ai No Uta – Supercell

Mou anata kara aisareru koto mo

Hitsuyou to sareru koto mo nai

Soshite watashi wa koushite hitoribocchi de

Nesses dias em que você já não me ama mais

E em que não sou mais precioso para você

Desse jeito, é que eu fico sozinho.

E, bem devagar, para não assustar a Haruno, claramente ainda se lembrando da letra, o som de instrumentos se elevava, calma, suavemente.

Anata wa itsumo souyatte watashi o

Okorasete saigo ni nakasun da

Dakedo ato ni natte

Gomen ne tte iu sono kao

Suki datta

É assim que você sempre me entristece

E me faz chorar no final.

No final das contas...

O modo como seu rosto ficava quando pedia "Me desculpe."

era o que eu amava.

Primeiro devagar... lembrando como se houvessem cantado para ela durante tenra infância...

O número de músicos havia aumentado. Todos chegando devagar, seguindo as instruções de Karin, fazendo renascer a esquecida canção.

E Sakura olhou para as cantoras... Como se fosse algo que elas também deveriam se lembrar.

Genma voltou ao piano. E pouco a pouco uma a uma, as cantoras erguiam os olhares, reconhecendo as palavras soltas que nadavam em seus pensamentos, encaixxando-as na letra.

Hanasanaide gyutto

Sou omoikkiri 

Anata no ude no naka itai

Futari de odeko o awasenagara

Nemuru no

Não me deixe ir...

Segure me firme, com todo o meu coração.

Quero estar em seus braços

Juntos, com nossas testas unidas,

Adormeceremos...

E o piano prosseguiu com a melodia. Ebisu acompanhando gentilmente com as cordas do vilão, até chegarem ao fim.

Não tinha como explicar... ela simplesmente sabia.. que elas sabiam. Lá no fundo, Sentia isso no peito. E sentia que havia mais palavra também... se ao menos as outras conseguissem se lembrar.

Do alto do terceiro andar do palácio, Tsunade e Tenten as observavam. A carta de Jiraya ainda aberta enquanto os olhos da Rainha desviavam das palavras escritas, absorvendo as cantadas.

 - Quem... são elas afinal de contas...?

- São nosso tesouro. – responde a violinista. – Jóias raras, Tsunade-sama.

 E a morena sorri. 

E assim que acabaram de cantar, Sakura sentiu o calor em seu peito se desmanchar... uma rande tristeza tomando seu lugar.

“Ele foi embora.”

- O viajante... ele foi embora. Abandonou ela...

- Bom, sim... É uma história trágica de amor. – esfregava as lentes do óculos freneticamente, como se ainda não acreditasse no que acabara de testemunhar. - No final das contas foi por causa do coração partido que ela criara as Umi no Mi e nos tornara incapazes de comer qualquer coisa que venha da terra. Não há humano que posso viver em nosso meio, nem filha de Koe que viva em terra humana. Ao menos não sem ser banido.

- Banido?

E antes que Karin desse mais explicações, elas são cercadas por pelo menos o dobro de criancinhas que estavam sentadas para ouvir. E não param de gritar e fazer perguntas, até o tritão de cachecol ver Sasuke...

E reconhecê-lo.

- Sasuke!!!! – gritava, avançando no pescoço do capitão, entrando em sua bolha de ar e encharcando-o de água salgada. A sereiazinha de cabelo alaranjado e o tritãozinho de óculos logo o seguiram. – Você voltou! Cadê o Naruto – niichan?!

- Nii-chaaaaan! – gritavam os outros dois.

Do alto de sua sala, ao lado da violinista, Tsunade observa o animado grupo, guardando a carta de Jiraya em uma pequena caixa de jóias.

O silêncio dela era aflitivo e as ondulações na borda de seu túnel de ar indicavam que a Rainha também estava perturbada.

- Fiquem por uma noite. – disse por fim, fazendo desaparecer em meio a água a pequena caixa de jóias. – Amanhã faremos um banquete... Um baquete no qual analisarei essas suas “jóias raras”. – E o olhar da Rainha era sombrio. Sombrio como jamais foram os olhos de Tsunade. – Se passarem em meus testes... eu lhes direi como chegar ao segundo portão.

Um olhar profundamente sombrio... Repleto de pesar e de uma vontade palpável de vê-las fracassarem, como se os olhos da Rainha não fossem mais dela...

Mas de sua mãe, a própria e enfurecida Deusa da Voz.

- E se fracassarem... não só devem deixar meus domínios... como devem nos entregar todos aqueles que já não pertencem ao seu mundo... Os usuários da Umi no Mi.


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Notas finais do capítulo

Percebo agora que tem bastante música de Guilty Crown programada para os próximos capítulos 8DDD
Os posts serão semanais a partir de agora, pois tenho que retomar o ritmo de estudos então semana que vem tem mais!!!!
Comentem o que acharam!



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