A herdeira do Lorde II escrita por letter


Capítulo 25
Capítulo 23 - Side effect


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo, podem comemorar *o* Epíligo is coming. (nos vemos nas notas finais)



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     Eu sabia que eu não morrera.

     Uma única vez eu já vivera uma experiência de morte, literalmente morte, e por mais que as pessoas tenham medo e a tratem como um tabu, a morte não é tudo que falam. Ela é tranquila, calma, é como um sono profundo que a pessoa gostaria de entrar depois de um dia cansativo, sem sonhos ou pesadelos, apenas um descanso suave antes de despertar para uma nova vida.

     Porém eu sentia tudo ao contrário a isso, por isso sabia que não havia morrido.

     Como se eu estivesse me afogando, levantei-me abruptamente forçando oxigênio a entrar no meu sistema. O ar veio forte até mim, me despertando e arranhando minha garganta, logo um acesso de tosse caiu de forma abrupta sobre mim e meus olhos começaram a lacrimejar.

     Aos poucos, as lembranças voltaram para minha mente, enquanto eu recuperava o controle de todo meu sistema, por fim senti todo meu corpo formigar e queimar, e quando olhei para ele o vi coberto por hematomas recém cicatrizados, com cascas negras em forma de linhas por onde o sangue havia escorrido e roxos espalhados por minha pele. Havia um gosto metálico em minha boca, e eu sabia que se tivesse comido algo nas últimas horas já teria colocado tudo para fora.

     Meu uniforme estava aos fiapos, rasgado, chamuscado e molhado ao mesmo tempo.

     Eu não tinha conhecimento do feitiço que Tom Riddle utilizara para causar todo o estrago que via agora em mim, poderia julgar que era Sectumsempra, mas tinha o conhecimento de que esse feitiço ainda não fora inventado. Sabia que qualquer que fosse o feitiço que Riddle usara em mim, ele era mortal, e como tal também sabia que alguém tratara de meus ferimentos ao invés de me deixar agonizando até a morte.

     Minha cabeça latejava e meu corpo doía, e apenas depois que eu me dera conta de tudo isso, me lembrei que ainda não sabia onde eu estava.

     A batalha tinha acabado? Eu tinha perdido o portal?

     Eu não sabia onde estava, o chão era de mármore e quatro paredes sem sinais de qualquer porta ou janela me cercavam, estava frio, muito frio, havia sinais de uma velha lareira a minha frente, mas eu não tinha forças para ir até ela e olhar para onde ela levaria se eu a subisse.

     Voltei a deitar no chão duro de onde eu despertara, e me encolhi sentindo um nó se formar em minha garganta.

     Eu havia estragado tudo. Havia perdido as chances de ter uma vida ao lado de Teddy, e não poderia nem me consolar dizendo que eu perdera essa vida por destruir Tom Riddle, porque eu não o destruíra. A covardia foi maior que a vontade e na ultima hora eu fraquejei.

     Eu não sabia se estava no passado, se estava no futuro, não sabia qual era o meu presente.     Talvez eu estivesse perdida no tempo, talvez Merlin e os deuses tenham me castigado e eu esteja em uma dimensão limitada por aquele salão de pedra fria onde já não havia tempo.

     Um soluço escapou de minha boca, e apertei as pálpebras com todas as minhas forças uma contra a outra, comecei a contar mentalmente de trás para frente a partir do cem até minha respiração desacelerar.

     Quando cheguei ao zero abri os olhos, e logo me arrependi por ter feito isso de uma forma tão abrupta. Uma luz forte os atingiu com tamanha violência que tive de voltar a fechá-los, e levou vários segundos para que eles se ajustassem a luz.

     A luz vinha do sol, um sol claro demais que invadia a janela ao lado de onde eu estava. Isso não fazia o menor sentido, olhei em volta com a visão ainda turva e me dei conta que estava agora em um quarto de paredes em tons pastéis, um sofá almofadado estava colocado de frente a minha cama e um criado mudo ao meu lado, onde várias jarras e copos se encontravam. Minha cama era uma cama estreita, com cobertores de algodão branco dobrados aos meus pés e um lençol que cobria todo meu corpo, eu fora despida e apenas uma fina camisola me vestia, dois travesseiros altos sustentavam minha cabeça e o gosto metálico sumira da minha boca.

     Com eu saíra do frio salão de pedra eu não tinha ideia, mas o choro que ameaçara se despregar de mim se chacoalhou com mais força em meu interior, e eu estava tão sem forças que o deixei escapar tentando, em vão, segurá-lo.

     Era um choro feio. O tipo de choro que saí emaranhado aos soluços enquanto você emite ronronados que vêm direto da garganta.

     A porta do quarto se abriu abruptamente e um Draco Malfoy com as feições lívidas entrou as pressas por ela.

     - Belly... – murmurou ele com um misto de sentimentos difusos ao falar meu nome.

     Ele se sentou a beirada de minha cama, e então eu chorei mais.

     Me sentei sem jeito e o abracei sem pensar, deixando que as lágrimas manchassem seu casaco negro.

     Eu havia voltado, então por que eu estava chorando?

     Porque você não merecia isso, sussurrou uma voz em minha mente.

     - Belly. – murmurou ele de novo soltando um pesado suspiro de alívio enquanto retribuía o abraço e acariciava meus cabelos.

     Fungando me afastei de tio Draco, agradecida por ter voltado, mas quando olhei em seu rosto não era tio Draco que me encara, mas sim Tom Riddle.

     O grito ficou preso em minha garganta.

     - Não é tão simples assim Annabelly. – falou Tom Riddle de forma cínica, abrindo um de seus sorrisos zombeteiros. – Você brincou com o tempo, terá que aceitar as consequências para tal inflação.

     - O que está acontecendo? – minha voz não passara de um sussurro, e mesma mal ouvira e começava a duvidar que alguma hora eu tinha falado algo.

     O que estava fazendo ali... Eu não havia voltado afinal de contas? Ou...

     - Pergunte a sua mãe. – sugeriu Tom.

     - Eu não tenho mãe. – rebati, tentando me levantar da cama, Tom segurou ambos meus braços.

     - Você vai falar com ela, por que querendo ou não eu sou, ou serei seu pai, e você me deve total obediência.

     - Eu não tenho mãe. – voltei a repetir com a voz mais firme.

     Novamente a porta do quarto se escancarou, e por ela uma mulher branca de pesados cachos volumosos e negros que desciam por suas costas veio andando em minha direção. Um sorriso brincava em seus lábios, e ele era tão cínico quanto o sorriso de Tom Riddle. A mulher usava um longo vestido negro que rodava em volta de seu corpo como se ela estivesse flutuando.

     Ela bem lembrava a mulher que muitas vezes vi em recortes de jornais dos quais colecionava quando criança e brincava praticando minhas primeiras maldições.

     - Belly, essa é a Bella. – brincou Tom Riddle rindo de seu trocadilho.

     - Por que você está fazendo isso comigo? – perguntei num rosnado.

     - Não está feliz em ver a mamãe? – perguntou Bellatriz Lestrange, sua voz era estridente e aguda, desconfortável de ser ouvida.

     - Você está morta! – exclamei.

     - E quem garante que você não está? – rebateu ela. – Você não devia responder a mamãe assim.

     - Você está morta. – repeti. – Morta.

     - E você também docinho, na verdade era para ter morrido no dia em que nasceu, porém Narcisa e seu coração mole me impediram.

     - E houve outra vez, quando você estava no quarto ano e a maldição de morte de seu amiguinho lhe acertou, ele queria vingança pela namorada, lembra? – perguntou Tom Riddle. – Algo me diz que eu tive parte nisso – murmurou Riddle como se pensasse no assunto.

     - Porque foi você que matou a namorada dele usando meu corpo! – exclamei. – Vocês estão mortos, por que estão fazendo isso comigo?

     - Agora estamos juntos, pra sempre. – Bellatriz jogou a cabeça para trás soltando uma gargalhada perturbadora. – Uma grande e feliz família.

     - Eu não estou morta, não posso estar.

     - Talvez o papai tenha sem querer querendo lançado uma maldição em você. – sugeriu Tom Riddle.

     - Mas filhinha. – disse Bellatriz sentando ao lado de Riddle. – Não leve para o lado pessoal o fato de ambos seus pais terem tentado te matar. – pediu ela.

     - Parem de mexer com a minha cabeça. – pedi em um berro, fechando os olhos e pressionando ambas as mãos contra os ouvidos para não ouvi-los. – Parem, parem, parem.

     Braços me rodearam e me prenderam contra um peito, eu podia sentir uma respiração acelerada por cima de mim e um cheiro familiar inundou minhas narinas. Era o perfume de Teddy.

     - Annabelly. – sussurrou ele. – Está tudo bem.

     Afastei com custo os seus braços de mim e tentei olhar em seus olhos, estavam vermelhos e escuros.

     - Saí da minha cabeça. – pedi num sussurro.

     - Annabelly, sou eu. – murmurou ele.

     - Saí da minha cabeça, saí da minha cabeça, saí da minha cabeça! – comecei a murmurar.

     E logo tudo escureceu.

-x-

     - Diga que eu estava sonhando. – murmurei sozinha antes de abrir os olhos, logo que senti a consciência voltar a mim. – Diga que tudo foi um pesadelo, muito, muito ruim.

     - Qual das partes? – uma conhecida voz respondeu de volta e eu não pude mais ficar de olhos fechados.

          - Alice! – eu levantei tão rápido da cama que por um segundo minha mente girou e eu juro que quase consegui sentir meu cérebro chacoalhar.

     - Olá Belly adormecida. – disse ela com um meio sorriso, sentada em uma poltrona ao lado da minha cama, com seus joelhos para cima, abraçando-os com o braço firmemente.

     Depois que olhei em volta e me dei conta da cama onde eu estava, das paredes cinzentas que me rodeavam, da prateleira de livros, do closet enfeitado exteriormente com fotos enfeitiçadas de mim ao lado de amigos e Teddy nos tempos de Hogwarts me dei conta de que estava em casa. E só posteriormente a isso pude reparar que Alice ainda não me abraçara a ponto de meus olhos saltarem para fora das órbitas ou o oxigênio me faltar nos pulmões, se eu tivesse forças provavelmente eu mesma iria fazer isso, afinal, era o que se espera depois de um longo ano longe de sua irmã.

     - Está tudo bem? – perguntei por fim.

     - Bom... – Alice começou, mas antes que ela pudesse continuar soltei o que estava preso em minha garganta a interrompendo bruscamente.

     - Onde estão Draco? Scorpius? Astoria? Teddy? E Cory e Ric? E Gabe, ainda estão juntos? O que aconteceu comigo? Como vim parar aqui? Vocês se lembram de mim, não lembram? Quem me encontrou? E como...

     - Belly! – exclamou Alice me fazendo parar.

     - Estão todos bem. – disse ela por fim. – Você apareceu inconsciente na biblioteca abandonada da mansão dos Malfoy... Quero dizer sua casa, Scorpius ouviu alguma coisa vindo da lareira, não faço ideia de como foram averiguar que era você. Te levaram para o hospital, e muitas perguntas foram feitas tanto pelos curandeiros, quanto pelo Ministério e até pelo Profeta Diário, sabiam que você tinha sumido. Mas Harry Potter e Draco se uniram para resolver tudo.

     - Eu estou realmente aqui então. – falei sentindo um peso sair de minhas costas, Alice assentiu. – E porque você não está me abraçando? Dizendo o quanto queria me ver?

     - Porque, Annabelly, eu estava com medo de ter te perdido e assim como você estou tentando fazer a ficha cair sobre o fato de você realmente estar de volta. – explicou ela, mas no momento seguinte saltou da poltrona para minha cama, passando os braços ao meu redor. – Eu realmente senti sua falta, você é tipo uma irmã que graças a Merlin eu não tenho para competir.

     Retribuí o abraço de Alice, tentando me lembrar a quanto tempo não o recebia.

     - Quanto tempo fiquei apagada? – perguntei quando ela se afastou.

     - Eu não contei, mas o suficiente pra eu ficar me perguntando se você voltaria acordar. – respondeu ela soltando uma fungada.

     - Eu estou bem Alice. – falei sem saber exatamente o motivo.

     Eu estava prestes a dizer mais, mas na hora a porta de meu quarto se escancarou e Richard entrou com um sorriso enorme no rosto ao lado de Cory que parecia ter optado por deixar seus cabelos crescerem, ambos sorriam de orelha a orelha.

     - Ouvimos conversa. – falou Cory correndo até a cama e pulando com tudo em cima dela.

     Richard, mais controlado, optou por se sentar na poltrona, ele apertou minhas bochechas e apalpou meus braços, como para se ter certeza de que eu estava ali.

     - Que saudades. – confessei querendo ter braços de cinco metros para abraçar todos eles de uma vez.

     - Belly. – pediu Ric. – Nos lembre de nunca mais concordar com um plano seu!

     - Não me deixem mais fazer planos. – pedi rindo.

     - Pensamos que você não ia mais voltar. – confessou Cory empurrando Alice para poder se sentar ao meu lado.

     - Eu mesma pensei que não iria voltar. – confessei, e logo uma luz se acendeu em minha mente e perguntei. – Alguma coisa mudou? Tem algo diferente?

     Os três se entreolharam sombriamente e pude ouvir a resposta que eles queriam pronunciar: não, não fez diferença alguma.

     - Não valeu de nada ter me arriscado. – falei por fim.

     - Claro que valeu. – discordou Alice. – Tipo, não sei explicar, mas ouvi Harry dizendo a Teddy...

     O nome pronunciado fez meu coração tamborilar violentamente de encontro ao peito, e logo não ouvi mais Alice, porém Ric pigarreou chamando minha atenção de volta.

     - O que Alice quer dizer, é que o tempo é cíclico. Enquanto estávamos vivendo o presente agora, no passado também vivendo nossas vidas... – Ric balançou a cabeça. – O que quer que seja que você fez no passado, está continuando agora no devido tempo deles, e vai se refletir no futuro deles, talvez no futuro do nosso passado.

     Minha cabeça estava começando a doer.

     - Fez toda diferença. – falou Ric por fim, frustrado por não conseguir explicar.

     - É tipo dimensão paralela. – disse Cory. – Você salvou o mundo e mudou o futuro em uma dimensão paralela.

     - Isso faz mais sentido. – falei por fim, tentando sorrir.

     - Mas foi exatamente isso. – salientou Ric, tentando parecer confiante.

     - Teddy está aqui? – perguntei me ajeitando na cama. – E meu tio?

     - Ambos no ministério. – respondeu Alice. – Teddy está respondendo um processo por usar magia proibida, foi para te visitar no passado, mas ele não pode contar que foi por esse motivo se não você pode ir para Azkaban, sabe que é contra a lei mexer com o tempo.

     - Ele inventou que estava fazendo experimentos. – Cory deu de ombros.

     Alguém pigarreou novamente, e meu queixo caiu quando Minnie se materializou ao nosso lado na cama.

     - Consegui! – falou ela sorrindo. – Uau, foi difícil.

     - Minnie? – perguntei.

     - Belly. – ela sorriu. – Eu não tenho muito tempo, estava apenas experimentando para ver se conseguiria te encontrar e... – ela olhou em volta. – queria me certificar de que está bem, parece que está.

     - Sim, são meus amigos, pessoal essa é a Minnie, Minerva McGonagall na verdade. – Alice olhou assustada para Ric, e Cory me fitava com a expressão vazia, uma total falta de respeito para com Minnie. – Eles são assim mesmo. – falei em tom de desculpas.

     - Tudo bem. – Minnie balançou as mãos no ar. – Estamos recrutando mais membros para      Ordem, e como não temos provas de que Tom andou fazendo tudo o que fez, não podemos levá-lo ao Ministério, mas estamos de olho nele e acho que graças a você eu e o pessoal vamos ter um futuro livre das trevas. – Minnie começava a desaparecer no lugar. – Todos mandaram um oi.

     - Mande um oi pra todos por mim, e... Agradeça-os por tudo. – Minnie assentiu e tão rápido quanto apareceu ao lado de minha cama, desapareceu.

     Com um sorriso no rosto e mais crente da teoria de que mudei as coisas para quem ainda viveria o futuro, olhei para os meus amigos.

     - Por que estão com essa cara de velório, eu estou viva. – falei brincando ao ver as expressões deles.

     - Belly. – Alice pronunciou meu nome devagar. – Com quem estava falando?

     - É a professora McGonagall, porém quando adolescente. – expliquei.

     - De onde você tirou isso? – Cory perguntou incrédulo.

     - Ela estava aqui, vocês viram! – exclamei.

     - Não Belly. – falou Ric balançando a cabeça. – Não tinha ninguém aqui.


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Notas finais do capítulo

Vocês são tão malvados, todos me julgando que matei a AnnaBelly u-u kk Bom espero que tenham gostado, o epílogo está prontinho e nas mãos da Natália (que me disse que gostou muito) posto ele no final de semana ou começo da semana, mas até lá comentem muito e façam uma autora bem feliz.
Enquetizinha: O que acham que está acontecendo com a Annabelly? Como acham que vai acabar?