Tempero Italiano escrita por Kori Hime


Capítulo 2
O petisco italiano - Final




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/163024/chapter/2

Sanji abriu as janelas do quarto, sentindo-se sufocado, ele olhou para a rua. Aquela não era a rua do hotel. Mas que loucura era aquela? Uma pegadinha. Só pode ser uma brincadeira sem graça daquele italiano. É. Vai ver ele o embebedou e ficou com as garotas, largando-o ali. Então, Sanji deveria estar sem cigarro e por isso aqueles de cravo estavam lá. Alphonso deixou para que ele fumasse tentando lembrar da noite anterior. E com certeza estava rindo desbocado deitado na cama com suas garotas. Maldito!

Sim. Foi isso que aconteceu.

Sanji ate relaxou um pouco com essa história fantasiosa que sua imaginação criou. Mas isso durou apenas alguns minutos. Ele riu, gargalhou escandalosamente na verdade. Largando-se na cama, amassando os cigarros e largando-os no chão, quando ouviu um barulho de porta abrindo. O loiro ficou de pé imediatamente e foi para a saleta, cômodo posterior ao quarto.

Talvez ele preferisse a morte naquele instante. Quem sabe se ele se jogasse da janela? É, seria uma boa opção, assim que pôs os olhos em Alphonso trancando a porta do quarto com a chave.

– Já acordou? – Al caminhou pela saleta como se fossem íntimos, tirando o sapato com a ponta do pé no calcanhar, jogando-os para o lado. Colocou sobre uma mesa de mogno no canto da parede, um saco de papel pardo, e começou a tirar de lá uma garrafa de suco, colocando em cima da mesa e outras coisas que Sanji nem prestava mais atenção no que era. – Esta com fome? Trouxe um pão delicioso da padaria de um amigo meu aqui perto. Aproveitei que estava saindo do forno e comprei. Ainda tá quente. Se quiser posso pedir para o serviço de quarto trazer manteiga ou geleia...

Al continuou tagarelando, arrumando a mesa, colocando as cadeiras em ordem para que pudessem se sentar para tomar o café da manhã. Ele ligou para o serviço de quarto de onde estavam, e pediu geleia, manteiga, café e olhou para Sanji – Quer mais alguma coisa?

O loiro estava vermelho de ódio, e a testa toda enrugada. Parecia que ia explodir a qualquer instante. Mas só não o fez ainda porque estava muito traumatizado com o que via.

– O que esta acontecendo aqui? – Sanji perguntou trincando os dentes, sentindo cada pedacinho do seu corpo arder de ódio. – Seu maníaco, você me drogou?

– Eu? Não. Porque? – Al tirou um pedaço do pão com a mão mesmo, assoprando, porque estava mesmo quente. – Se sente mal?

Sanji berrou, não aguentava mais guardar aquilo somente para si.

– Seu maluco! O que você fez comigo? Onde estamos? E porque estamos no mesmo quarto?

Alphonso deu um sorriso, fechando os olhos. Ele limpou as mãos na camisa verde escuro que vestia, por sinal bem amassada, e foi para perto de uma das janelas.

– Você não se lembra de nada mesmo? – Ele olhou para Sanji, somente para confirmar o olhar mortal que o cozinheiro francês lhe lançava.

Sanji queria pular em cima dele agora, quebrar o pescoço, as pernas, e fatiar aquela cara cínica. Não estava suportando ficar no mesmo ambiente que o italiano. Ele abotoou a camisa, que estava ainda aberta, e foi para o banheiro. Ficou lá por um bom tempo, ainda ouviu a camareira entrar no quarto e Al falar com ela algumas coisas suspeitas.

Sanji colou o ouvido na porta, afim de tentar ouvir algo que pudesse fazê-lo compreender o que estava acontecendo, ou melhor, o que havia acontecido. Porque Al parecia querer enlouquecê-lo com algum joguinho muito sujo.

– Oba! Geleia de amora, eu adoro. Pode me fazer um favor? Levar toalhas limpas pro quarto? – Sanji se afastou rapidamente da porta, ouvindo as rodinhas do carrinho da camareira fazer um barulho irritante no assoalho. Depois que ouviu Al se despedir, ele voltou a olhar para o espelho e lavou o rosto. Não tinha toalhas para secar, então teve que sair do banheiro para pegar as toalhas que a camareira trouxera.

– Ah! Ai está você. Vamos tomar café, antes que tudo esfrie. – Al disse com uma naturalidade incrível, enquanto Sanji imaginava como iria matá-lo e voltar para Paris sem nenhum problema.

– Você vai ficar ai fingindo que nada aconteceu? Eu quero respostas. O que aconteceu ontem a noite?

Sanji deu alguns passos na direção de Al, mas recuou imediatamente, quando o moreno descruzou os braços. Ele estava com um pé atrás, então qualquer movimento brusco era suspeito.

Al apenas riu, e disse que não se lembrava de muita coisa também, e não sabia se Sanji estava preparado para ouvir o que ele sabia.

O loiro deu um grito de desespero, mandando ele falar de uma vez o que sabia.

– A verdade é que eu só me lembro de quando viemos para cá.

– Ahá!!! Sabia, você me drogou e me trouxe para cá.

– Não, não mesmo. – Al gargalhou, e balançou a cabeça, divertindo-se com aquela situação, porque a final, ele era bem diferente de Sanji e não estava muito preocupado como o outro.

– E então o que?

Alphonso foi para a saleta e sentou-se na cadeira preparando-se para tomar o café, já que Sanji não parecia interessado, e ele obviamente não iria deixar de comer. Ouviu as lamúrias, reclamações, tudo o que Sanji tinha para dizer, enquanto comia calmamente um pedaço de pão e bebia o café preto.

– E você continua fingindo que nada aconteceu! – Sanji esperneou, parecia uma criança.

– Não sei porque está tão nervoso.

– Não sabe? Então para você é normal acordar num lugar que não conhece, e dar de cara com um homem desconhecido?

– Bem, não. Mas nós dois nos conhecemos. – E aquele sorriso, Sanji queria socá-lo para parar de rir daquele jeito. – Relaxe, não aconteceu nada de errado aqui. Vamos tomar café.

É, Sanji poderia estar sendo precipitado, talvez nada de errado tenha acontecido mesmo. Ou, o que aconteceu, não era errado para Alphonso. Que confusão.

O loiro finalmente foi vencido pelo cansaço e sentou-se. Al ofereceu-lhe um copo de suco, e Sanji aceitou. Mas ainda pensativo. O que aquelas marcas estavam fazendo nas costas dele? Era um pouco vergonhoso pedir mais explicações para Alphonso. Na verdade ele tava mesmo era com medo de ouvir algo que o desagradasse.

Sanji ficou apenas no suco, ele se recusou de comer algo. Queria ir embora, e nada do que Al dissesse poderia fazê-lo mudar de ideia. E assim foi. Pegou um táxi e foi direto para o hotel. Lá ele subiu imediatamente para o quarto, e foi tomar um banho frio. Bem frio.

Sanji estava pronto para voltar para sua casa. Isso mesmo, ele iria ignorar o dinheiro que gastou até então na viagem, e retornar para sua amada frança, onde estaria seguro em sua casa, no aconchego de seu lar. Sim, seria perfeito, mas, não tanto porque lá estava aquele marimo idiota.

O cozinheiro suspirou, cansado. Sentou-se na cama e acendeu um cigarro dando um longo trago e olhando para o espelho preso na parede de frente a cama. Tantas pessoas para se lembrar e ele tinha que pensar primeiro em Zoro? Porque não em Nami ou Robin? Aquelas vizinhas lindas que ele adorava paparica toda manhã convidando para um café da manhã caprichado.

E falando em café da manhã, ele se recordou daquele que Alphonso preparou. Maldito italiano que o drogou e abusou como bem quis dele.

Sanji trincou os dentes, sentindo uma dor no maxilar. Ele estava tão bravo, tão revolto. Poderia ir lá no tal restaurante onde seriam ministradas as aulas de culinária e agredi-lo, tanto verbalmente quanto fisicamente, porque poderia dar conta daquele moreno.

Dar conta. Isso pareceu tão...

– Chega! Vou embora agora mesmo. – Sanji arrumou as malas e ligou para a recepção pedindo que fechassem sua conta. Ele deu uma última olhada no quarto, pensando mais um pouco, só que tudo já estava decidido.

Sanji abriu a porta do quarto e deixou a mala no corredor, voltando para ver se não esqueceu nada mesmo la dentro. Quando voltou, encontrou Kori parada ao lado da mala, com um sorriso simpático e uma pergunta.

– O que você esta fazendo querido? – A ruiva inclinou a cabeça, cruzando seus braços.

Sanji ficou vermelho, roxo, talvez uma cor ainda indescritível. Porque ela deveria saber o que aconteceu na noite passada, é claro que sabia. Afinal, havia ido com ela e a tal portuguesa para o bar e sabe-se la o que aconteceu depois. Mas tinha certeza que não eram os dedos dela quem fizera aquele estrago em suas costas, que por sinal estavam bem feias.

Kori perguntou novamente porque Sanji estava com a mala pronta, e ele afastou os pensamentos rapidamente.

– Eu vou embora, me ligaram – Ele não tinha uma boa explicação, mas achou que qualquer coisa que dissesse seria o suficiente. – Me ligaram e precisam que eu vá para casa ainda hoje.

– Oh! Mas que pena. – Ela ficou realmente sensibilizada. – Você vai perder o curso todo. Sanji. Não pode ir depois? Não tem ninguém que possa te substituir, seja lá onde for?

E Sanji adorou aquele paparico todo, Kori o abraçou e fez um carinho em seus cabelos.

– Infelizmente meu colega de quarto é muito burro para tomar decisões sem mim. – Ele fez um biquinho, aproveitando da boa vontade da ruiva.

– Porque você não pede para o Al dar um jeito? Quem sabe tem outras aulas.

A simples pronuncia daquele nome, fez Sanji revirar o estômago e querer gritar. Mas ele jamais iria fazer isso com uma dama, ela não tinha culpa alguma daquele moreno tarado e devasso ser o que era.

– Eu vou fechar a minha conta e ir para o aeroporto, e comprar minha passagem.

Kori o acompanhou e Sanji não reclamou nem um pouco da companhia dela. Ele fechou a conta e foram para a calçada esperar o táxi que a recepcionista chamou para ele.

– Vou te ligar assim que voltar para Paris. – ela deu um beijo em seu rosto, e ajudou-o a por a mala no banco de trás do táxi.

Sanji não conseguiu responder a altura a gentileza de sua mais nova amiga, porque um italiano mal educado cortou o clima dos dois totalmente.

– Me contaram que você vai embora? – Alphonso saía do hotel, com as mãos enfiadas dentro dos bolsos do casaco de couro marrom que vestia. Ele deu um sorriso e boa tarde para Kori, já passava do meio dia, depois perguntou a Sanji o porque dele estar fugindo.

– Não estou fugindo. – Rangeu o loiro, tentando se controlar para não perder a postura na frente da dama. – Tenho coisas importantes a fazer.

– Tipo o que? – Al acendeu um de seus cigarros de cravo e encarou Sanji com aqueles olhos vivos que parecia engoli-lo e... mas o que ele estava pensando? – Vamos almoçar primeiro. Fiz algo especial para meus alunos queridos, e vou ensinar a vocês todos os meus segredos mais tarde.

Ele piscou o olho direito em direção a ruiva, que riu e fez algum comentário, deixando os dois a sós logo depois. Sanji queria pedir para ela ficar, mas isso ia parecer meio desesperado de sua parte?

– Porque veio me atormentar? Vá embora, não quero falar com você, maldito.

Al sorriu novamente, e ajeitou os cabelos escuros, jogando-os para trás, como se fizesse aquilo para atormentar ainda mais o pouco de paciência que ainda restava em Sanji.

– Venha, vamos entrar. – Al continuava com aquela paciência inabalável, e o sorriso sedutor, com o cigarro pendendo no canto da boca. Ele estendeu a mão para pegar a mala de Sanji, pagou o táxi e em seguida dirigiu-se para o hotel, chamando Sanji.

O que ele poderia fazer? Ora essa. Poderia ter dado um gancho de direita, ou quem sabe um soco no estômago, talvez pisado no dedão do pé dele. Por Deus, qualquer coisa poderia ter sido feita, mas não. Deixou que Al tomasse controle da situação. Sera que era a primeira ou segunda vez que isso acontecia?

Para isso tinha que saber o que se passou no quarto na noite passada.

Sanji então o seguiu. Já que o táxi fora embora e sua mala já estava voltando para o quarto. Ele viu quando o rapaz que carregava as malas sumiu pelo corredor em direção aos elevadores. E Alphonso estava la com seu sorriso de ator pornô, brincando com as recepcionistas.

Porque aquilo incomodava tanto a Sanji?

Não importa, ele ia ignorar. Acabou sendo arrastado por Kori para almoçarem na mesma mesa, e la estava a portuguesa. Bem, ela parecia normal. Como se nada tivesse acontecido, ou fingia muito bem. Estaria com vergonha da noite passada? Mas essa era uma oportunidade para Sanji descobrir o que aconteceu.

– O que me diz, Ana? Ficou com ressaca? – Ele perguntou descontraído, ou pelo menos tentando parecer.

– Um pouco, acordei com dor de cabeça, a Kori me ajudou com um remédio muito bom, se quiser, ainda tenho na bolsa.

– Não, eu estou ótimo.

– Jura? – Kori entrou no meio da conversa. – Você era o mais animado de todos ontem a noite, bebeu tanto e não sentiu nada?

– Digamos que eu seja bem resistente. – Sorriu e mentiu.

– Nossa, minha namorada é assim. – Kori continuou, após beber um pouco de água com gás. – Ela bebe a noite inteira, e no outro dia ainda vai trabalhar de boa, mas também quando chega em casa a noite, dorme que nem pedra.

Sanji apenas acompanhou a risada das duas, e depois disso, parecia que nada do que elas falavam tinha algo haver com ele e Alphonso no fim da balada no mesmo quarto. Então elas não sabiam. Mas Ana acabou dando uma pista para Sanji. Quando falaram do irmão do tarado.

– Angelo? 

– Sim, o irmão do Alphonso, não se lembra? Você e o Al levaram ele de volta para o hotel em que estava hospedado. – Ana parou um minuto e voltou a falar, recordando-se de tudo. – Ele caiu do palco, estava cantando uma musica no karaoke. Foi tão engraçado, e ele é tão bonito.

Ana falou baixinho, para Kori, mas Sanji ouviu muito bem o que ela disse. Mas naquele momento o que importava mesmo era o fato de que ele agora já sabia mais um pouco da noite anterior, e na verdade, estava com uns flash de memória meio vago, de uma pessoa caindo. Mas achou que não fosse nada, talvez um sonho. 

Afinal, o que tinha naquela bebida?

– Absinto. Eu nunca bebi antes. Muito forte, por isso não sei como o Sanji e o Al aguentaram a noite toda, ate carregar o Angelo. – Kori conversava com Ana, como se o próprio Sanji não estivesse ali. – Aliá. Sanji? Você não ficou machucado?

– Machucado? Com o que?

– O Angelo caiu praticamente em cima de você, e pra se levantar agarrou em você. Lembra?

– É verdade. – Ana continuou. – Eu lembro que você brigou com ele porque estava machucando as costas.

Ahhhhhhhhhhhh.

Sanji pediu licença para as damas, e disse que voltava antes da sobremesa. Ele foi direto para a cozinha, onde provavelmente iria encontrar Alphonso.

E la estava ele, cortando alguns legumes para um prato. Mas Sanji não se importou se podia ou não entrar ali naquele momento e atrapalhar todo aquele processo, mesmo ele sabendo que era tão sagrado como quando sua mãe ia as missas de domingo.

– Seu desgraçado. Porque não me disse que seu irmão quem me machucou nas costas?

– Opa! Calma ai amigo. – Al largou a faca, e puxou Sanji pelo braço, levando-o para a dispensa. – Não quero que as pessoas aqui fiquem fazendo mexericos. Pode falar agora.

– Quero saber porque não me disse que essas marcas. – Sanji tirou a camisa e virou-se de costas, mostrando para Alphonso o estrago da noite. – Foi seu irmão quem fez.

– Nossa, ficou feio mesmo. – Al analisou as manchas e não pode deixar de notar no corpo do loiro, que cobriu-se imediatamente sentido seu rosto arder em chamas. – Tenho uma pomada que poderia ajudar, se quiser, vamos la no meu quarto–

– Não! – Exclamou, irritado. – Eu só queria saber a verdade, agora que sei, posso descansar em paz.

Sanji já estava saindo da dispensa, quando Al o impediu, segurando a trava da porta de metal. – Olha. Eu não queria esconder nada, mas você estava tão nervoso que não me deixou contar nada.

– Que mentira, você queria me torturar, isso sim.

Al sorriu. Daquele jeito que Sanji odiava, o sotaque italiano conforme ele falava. Sanji queria saber o porque de Al sempre deixar transparecer seu sotaque italiano quando falava francês. Quando com as mulheres, ele falava perfeitamente. Deveria ser para irritá-lo.

– Pode ser. Me desculpe, não se faz isso com um amigo.

– Não sou o seu amigo. – ele crispou os lábios e cruzou os braços, sentindo aquela curta distância muito perigosa. – me deixa sair, ou eu vou gritar.

– Você é tão engraçado. – Alphonso se aproximou mais e abraçou Sanji pela cintura, domando-o por completo. Parecia ser tão fácil. E Sanji se sentia assim. Estupidamente fácil. Era uma vergonha. Ele até ensaiou uns tapas e soquinhos com a mão fechada no peito de Al que estava estufado, mas não foi o suficiente para mantê-lo longe.

Que ridículo, queria, queria e queria. Mas até o último segundo resistiu contra o desejo que estava tomando conta do seu corpo.

Alhponso subiu uma das mão pelas costas de Sanji e afagou os cabelos loiros, puxando-os, conforme o beijo ganhava vida. As línguas, ainda sem jeito, começavam a disputar espaço dentro da boca um do outro, como se fosse uma competição para saber quem era o mais forte e resistente. Sanji grudou a mão direita no pescoço de Alphonso e dali só soltou quando um estalo das bocas aconteceu, finalizando o beijo naturalmente, conforme cada um buscava da sua maneira fôlego para voltar a fazer o que começaram.

A dispensa parecia ser pequena demais agora, abafada demais. Sanji sentia-se quente. Seu corpo estava em turbulência, aquilo era incrível, nunca havia experimentado uma sensação prazerosa como aquela, beijando um homem.

E quem se importa com isso agora, ele não se importava, deixou cair a máscara e aproveitou seu momento. Alphonso que o diga.

Tiveram que parar porque alguém bateu na porta da dispensa. Alphonso ajeitou sua roupa um pouco amassada, e passou a mão nos lábios, sem tirar o sorriso do rosto. Sanji por outro lado, não sorria, mas arrumou a gravata que Al tirou para fora do paletó e também penteou os cabelos com os dedos.

– Pronto? – Al perguntou, incrivelmente sedutor. Sanji queria dizer não, mas Al abriu mesmo assim a porta da dispensa. – Alguém manda a manutenção vir aqui? Essa porta tá emperrando toda hora, eu não conseguia abrir la de dentro.

Ele falou alto, enquanto os demais que trabalhavam na cozinha davam umas risadinhas mais discretas. Sanji sentiu-se um idiota, porque era como se todos já soubesse que aquela era uma desculpa esfarrapada de Alphonso. Quantos outros ele já deveria ter prendido sem querer ali dentro da dispensa?

Saiu rapidamente dali, deixando para depois a sobremesa com as adoráveis damas. Sanji quis ficar no seu quarto o resto da tarde, perdendo assim a primeira aula do curso. Mas quem disse que ele estava arrependido?

Mas do que ele estava falando? Arrependido de perder a aula inicial, ou do beijo.

O beijo. Essa sentença ficou perturbando sua cabeça por horas a fio, e não foi diferente quando Alphonso apareceu na porta do seu quarto, com aquele sorriso desgraçado e cabelos bagunçados. Ele segurava uma garrafa de vinho e um saco de papel pardo.

Deja vu, talvez.

– Vim ver como meu aluno favorito esta. Já que você ficou doente e não pode ir na aula inicial.

– Eu não estou doente.

– Eu sei, mas disse isso para os outros alunos. Foi um sufoco impedir que a Kori e a Ana viesse aqui trazer seu jantar. – Al deixou tudo em cima da mesinha, e virou-se para se aproximar de Sanji.

– O que? Você não deixou elas virem me ver? Que desgraçado! 

– Achei que você gostar mais da minha companhia. – O moreno disse, sem deixar de notar nas maças coradas de Sanji, e seu cabelo preso com um elástico, e algumas mexas mais curtas soltas. Ficava bonito assim, ainda com aquela barbicha por fazer.

– Você é um intrometido.

– Sou mesmo. – Al o segurou pela cintura novamente, e Sanji viu-se desarmado. Como era fraco. Vergonhoso isso, e se alguém soubesse? E se Zoro visse? Como é que Zoro morando em outro país iria ver ou saber disso? E porque ainda estava pensando naquele marimo burro?

Al não deixou os pensamentos de Sanji completarem o raciocínio, dando-lhe um beijo tanto ou mais acalorado que o primeiro.

É, Sanji estava domado novamente. E quem se importa?

Na manhã seguinte, o loiro acordou e dessa vez, não estava sozinho. Só que ele não deu um escândalo. Apesar de se sentir um pouco estranho, por assim dizer. Levantou-se rapidamente e se trancou no banheiro por meia hora, um banho e uma longa olhada no espelho.

– É amigo, quem te viu quem te vê. – Ele enrolou a toalha na cintura e saiu do quarto. Alphonso já estava de pé, vestindo sua camisa bege, toda amassada, por motivos óbvios. Disse um bom dia em italiano, com o sorriso de sempre. Agora, Sanji já não odiava, tanto, aquele sorriso.

– Tenho que resolver uns assuntos no restaurante, mas vou estar pronto para a aulas as duas da tarde, você vai não é?

– Bem, sim. Vou. – Sanji acendeu um cigarro e ofereceu para Alphonso, sabendo que o dele havia acabado na madrugada.

– A noite tem uma festa pra ir, se quiser. – Alphonso aceitou o cigarro e Sanji o acendeu.

– Pode ser.

– Ótimo, eu te espero no saguão do hotel as dez da noite. – Antes de sair, Al deu um beijo em Sanji e acenou, fechando a porta.

Sanji caiu na cama, e depois sentou-se rapidamente. Novamente Zoro vinha em sua cabeça.

– Mas que inferno. – Ele pegou o telefone celular e fez uma ligação para sua casa. Inicialmente ninguém atendeu, mas ele insistiu um pouco mais e então Zoro com sua voz sonolenta disse alô.

– Cook? O que foi? Isso é hora de ligar? Eu tava dormindo.

– Imaginei isso. – Sanji não estava bravo, irritado, ou zangado como geralmente estaria.

– O que aconteceu para você me ligar essa hora? – Zoro pareceu curioso do outro lado da linha.

– Nada, nada não, eu só estou tirando umas conclusões aqui comigo mesmo.

Sanji não viu, mas Zoro enrugou toda a testa. – Não entendi.

– Deixa, quando eu voltar, explico melhor. Até.

Ele desligou o telefone, e deitou novamente na cama, com as mãos atrás da cabeça. Talvez, fosse preciso viajar para entender o que realmente era para entender. Um pouco confuso? Sim, ainda era, mas ele aos poucos ia desenrolando tudo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Tempero Italiano" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.