Visitas Inesperadas escrita por Janus


Capítulo 4
Capítulo 4




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/163/chapter/4

- Puxa, que jogos mais simplórios...  – disse Joynah – não tem nada para RV() não?

- Nesta época – explicou Anne – não. Apenas em shopings e eventos especiais. Ainda é muito caro para estar disponível em qualquer esquina. Sem contar que é um trombolho enorme, e os capacetes são muito pesados.

- Faça uma pergunta simples e receba uma aula de história como brinde – disse Rini, sem desviar os olhos do jogo que estava jogando.

- Olha a curva – disse Joynah ao ver que o carro dela estava muito a esquerda para fazer a curva sem perder o controle.

- Eu vi, eu viiiiiiiii.....

O som do desastre foi tão real que o coração de Joynah palpitou.

- Sua barbeira! Não é a toa que sua mãe não deixa você ter um girociclo – disse Joynah.

- É só um jogo, Joynah.

- Sim, e você perdeu – disse ela com ar de superioridade.

- Tá bom, é a sua vez agora – disse ela saindo do assento do “piloto”.

Joynah sentou-se a frente do monitor e aguardou Serena, quer dizer, Rini por as moedas no orifício – onde ela tinha conseguido aquilo? Logo a apresentação do jogo surgiu. Exceto pelo som, a imagem era muito amadora, para os padrões dos jogos que estava acostumada. Ela selecionou a pista mais sinuosa que havia e começou a controlar o “carro”.

Não demorou muito para ela pegar o jeito da coisa, e ficar nada mais do que meia hora pilotando, não batendo uma única vez. Um grupo de pessoas fez uma rodinha ao redor da máquina, observando o feito. Depois de algum tempo, ela largou o volante – antes do jogo acabar – e saiu, já enjoada daquilo.

- Não tem nada mais interessante não? – perguntou ela ignorando as outras crianças que brigavam para assumir o jogo largado ainda funcionando.

- Convencida – disse Anne, surpresa com a facilidade dela em controlar o jogo. Na vez dela, tinha perdido em apenas dois minutos.

- Há, isso ai é muito fácil – disse ela se espreguiçando. O que mais tem por aqui?

- Apenas umas máquinas de brindes, para pegar bonequinhos – disse Rini ocultando o fato de estar meio que envergonhada da amiga ter se dado tão bem naquele jogo. Mina ficaria furiosa quando soubesse.

- Bonequinhos? – disse Joynah com os olhos brilhando.

Coisa de uma hora depois, as três, acompanhadas de perto por Luna, estavam andando de volta para o parque. Cada uma tinha um bichinho que Joynah – e somente ela – havia ganho nas máquinas. Rini tinha um coelhinho bebê a mais que iria dar para a sua versão mais nova.

- Para onde vamos agora? – perguntou Anne.

- Podemos ver um pouquinho da peça que... – ela se lembrou de que Luna estava com elas - aquelas duas nos convidaram, ou ir para o templo Hikawa do avô da Ray – disse Rini – Pelo menos, podemos bater papo.

- Podíamos dar uma força nos estudos delas – disse Anne – afinal, nós também teremos prova no nosso próprio tempo na semana que vem.

As duas pararam quando Anne falou aquilo.

- Anne, você é uma chata – disse Joynah.

- Sério? – disse ela – e o que vamos dizer quando voltarmos? Desculpe, não pudemos estudar porque voltamos ao passado?

- Mesmo assim – disse Rini sendo forçada a concordar com ela – não estamos com nossos memochips, o que vamos usar para estudar? Nossa memória?

- Eu estou com o meu – disse ela mostrando o seu bracelete que estava a meia altura do seu braço esquerdo – e ele tem as matérias que precisamos.

- Pensei que era o seu comunicador – disse Joynah com os olhos arregalados.

- Também é isso – disse Anne sorrindo – e então?

Rini e Joynah se entreolharam, sabendo que estavam meio sem opções para o momento.

- Está certo – disse Joynah – vamos lá. Quem sabe podemos ajudar nos estudos delas também?

- Fico satisfeita de ver que são bem mais aplicadas que suas mães desta época – disse Luna atrás delas.

- Nem tanto – disse Rini – as mães de Anne, quer dizer, a sua mãe verdadeira e a sua mãe de criação, sempre foram aplicadas aos estudos. A gente foi mais por osmose mesmo.

- Isso é uma coisa que eu gostaria de entender – disse Luna, as acompanhando enquanto seguiam rumo ao templo – Vocês disseram que Amy foi mãe de criação de Anne. Porque? Se é que isso não seria uma informação sigilosa...

- Não é nenhum segredo – respondeu Joynah – a mãe dela tem aquela velha compulsão de ficar defendendo o reino, e não podia se dedicar integralmente a filha. Assim, pediu para Amy quebrar o galho enquanto ela ficava ocupada. Ela odeia quando Anne chama Sailor Mercúrio de “mãe” – deu uma risadinha.

- Eu me acostumei – disse Anne simplesmente – não há nada de errado nisto.

- Esperem um pouco – disse Rini olhando para uma barraquinha de sorvetes. Vamos lá, vocês vão conhecer uma das delícias destes século.

Rini saiu correndo na frente delas, e as outras se apressaram em alcança-la. Quando o conseguiram, o atendente já estava entregando a ela uma casquinha de sorvete enorme.

- O que tem neste sorvete? -  Perguntou Joynah.

- Isso? – disse Rini sorrindo – é um super triplo(). Uma delícia.

- Você vai conseguir comer isso sozinha? – perguntou Luna com os olhos arregalados.

- Claro que não – disse ela – isso é para todas nós. Vamos nos sentar naquele banquinho para devorar isso. Depois vamos para... argh! O templo estudar um pouco.

- Se não acharmos coisa melhor para fazer – disse Anne.

- Sabe – disse Joynah – talvez você não seja um caso totalmente perdido...

- Então eu tenho que pegar o número que deu aqui em cima, tirar com este aqui de baixo, colocar no fim da tabela e só então começar a usar as fórmulas de cálculos???? – falou Serena incrédula.

 - Sim – respondeu Amy – este é aquele tipo de problema que a professora levou uma semana para nos explicar no ano passado, lembra? Eu demoro cerca de uma hora para achar o resultado.

- Uma hora???? Você???? – disse Mina assustada – Eu desisto!

Ela jogou o corpo para trás, estendendo os braços acima da cabeça. Artemis, que estava atrás dela, por pouco não foi esmagado.

- Mina – disse Artemis com uma certa ternura – faça um esforço maior, por favor.

- Esforço maior? – perguntou ela olhando para ele de cabeça para baixo – já estamos aqui há três horas, e nem mesmo a Amy conseguiu resolver o problema ainda.

- Isso é porque nós a estamos atrasando – disse Ray um pouco nervosa – ela já teria acabado todos os exercícios do caderno a essa hora e teria o resto do dia para se divertir, se não estivesse se sacrificando por nós – fechou os olhos e soltou uma baforada de ar – acho que devíamos dar a ela um fim de semana de folga.

- Não é nenhum sacrifício – disse Amy ficando vermelha – eu gosto de ajudar vocês. Assim eu também acabo aprendendo alguma coisa.

- Mesmo? – perguntou Serena – o que?

- Talvez algo para uma futura tese doutorado sobre o vazio de sua cabeça – disse Ray olhando de lado para ela.

- Como é? - Serena começou a espumar de raiva de novo.

Mina fechou os olhos novamente, sabia que os próximos dez minutos seriam preenchidos com as duas discutindo. Até que, daquela vez, tinha demorado bastante. Mas, com a abertura da porta diretamente atrás de sua cabeça – devido a ainda estar deitada de costas – ela os abriu novamente.

- Oi gente! Viemos fazer uma visita!

Era a Rini crescida, junto com as outras duas. E elas carregavam pacotes de lanches.

- Achamos que iriam estar com fome e trouxemos um lanche – disse Joynah – Passei na sua casa para fazer – disse dirigindo-se a Lita – espero que não se importe.

- Ela não se importa não – disse Serena esquecendo da briga com a Ray e, passando por cima da mesa e espalhando os cadernos e canetas, foi diretamente pegar um dos pacotes – já está quase na hora do almoço.

- Bolinhos de arroz!!! – disse ela assim que abriu o saco – e está com uma aparência ótima!

- Também temos outras coisas – disse Anne – EI!!! – disse ela agarrando o bolinho que quase tinha entrado no poço sem fundo que era a boca da Serena – mais educação ai, por favor!

- Mas é que eu estou com muita fome...

- Espere como todo mundo – disse ela confiscando o pacote de bolinhos de arroz que Serena tinha pego de Rini – vamos aprontar a mesa e comer como gente civilizada. E SAIA JÁ DE CIMA DA MESA, SUA BÁRBARA!!!

- Ray, posso usar o seu fogão? – pediu Joynah mostrando uma garrafa térmica - Eu quero esquentar um pouco mais o missô-shiru que eu trouxe.

- Claro – disse ela sorrindo – faz tempo que não tomo isso. Venha por aqui.

Joynah seguiu Ray até a cozinha, enquanto as outras tiravam o material de estudo de cima da mesa e a preparavam com o “banquete” – como Anne e Rini fizeram questão de frisar - que a Joynah tinha feito. Lita ficara mais uma vez impressionada com as habilidades de sua futura filha. Ela tinha feito vários pratos típicos japoneses, incluindo sashimi finamente cortado – onde ela tinha comprado o peixe? Não tinha em sua casa – alguns blocos de carne assada – cujo odor já a deixava com água na boca – e vários blocos de tofu decorados com rodelas de salsinha picada. Haviam ainda dez hambúrgueres, que estavam cuidadosamente embalados, e pareciam ter sido feitos a mão.

Anne colocou o molho de soja no centro da mesa e colocou um dos dois pratos de plástico - que tinham conseguido no caminho até ali – ao lado. Assim todas poderiam compartilhar do molho. No outro prato, ela colocou um pouco de cada coisa que trouxeram e o pos ao lado da mesa, em frente a Luna e Artemis. Ambos os felinos também olhavam com água na boca. Anne os avisou para esperarem Joynah voltar.

- Artemis – disse Luna com os olhos arregalados – seja forte.

- Estou tentando – disse ele mal conseguindo evitar de pular em cima daquela comida de aparência deliciosa.

Assim que a mesa estava pronta, Joynah e Ray retornaram com o missô-shiru já quente dentro da garrafa térmica – para o alívio de todas, pois não conseguiam mais segurar Serena. Ray tinha aproveitado para trazer algumas cuias para se tomar a sopa.

- Gente, vocês não vão acreditar em como deve estar gostoso – disse Ray enquanto se sentava – mal consegui me segurar quando senti o cheiro do missô-shiru.

- Tudo pronto? – disse Joynah – então... ATACAR!!!

Quase todas – com exceção das visitantes do futuro, que já tinham beliscado algo enquanto ajudavam Joynah a preparar a refeição – caíram em cima da comida. Amy também foi rápida para pegar sua parte, mas a comeu com calma. Pelo menos, as duas primeiras mordidas foram com calma. Luna e Artemis também estavam atacando alegremente as porções generosas de sashimi que Anne tinha lhes dado.

- Puxa, elas estavam mesmo com fome – comentou Joynah  para as amigas – incluindo aqueles dois – indicou os gatos.

- Desde quando fome é desculpa para comer o que você faz? – retrucou Anne sorrindo – já esqueceu que quando sua família vai dar uma festa vai quase que o bairro inteiro?

- Ora... somos muito populares – disse Joynah sem jeito.

- Err... que tal pegarmos nossa parte enquanto esta ainda existe? – pediu Rini.

- Que delícia – disse Serena com a boca cheia – melhor que os de Lita.

- É mesmo – concordou Lita, mastigando um bolinho de arroz junto com um bloco de carne assada.

Mina e Ray não podiam dizer nada, e provavelmente não queriam. Estavam mastigando com muita vontade. Amy engoliu a grande porção que mastigava e sorriu satisfeita.

- Lita – disse ela – sua futura filha herdou tudo o que você tem e mais alguma coisa.

Anne pegou as fatias de peixe e as mergulhou no molho que estava já derramado no prato plástico. Ela adorava aquilo, assim como sua mãe. Rini a seguiu. Mina, apesar de não ser uma grande fã daquilo, fez o mesmo.

- Pena que não achei os ingredientes para a maionese – comentou Joynah para Lita – eu queria fazer o especial do papai. Você ia adorar.

- “Especial do papai”? – perguntou ela.

- Papai também é um grande cozinheiro. Metade do que aprendi foi com ele – disse ela um pouco envergonhada – Uma das especialidades dele é fazer  bolinhos de arroz com fatias de peixe regados com uma maionese quase líquida que é nossa receita secreta.

- Nossa! – exclamou Ray olhando para Lita – até o seu marido vai ser um bom cozinheiro?

- Não se esqueça das minhas irmãs – disse Joynah pegando um bloco de tofu habilmente com os pauzinhos – toda a família cozinha muito bem.

- Se eu tivesse uma família assim – disse Artemis, finalmente dando aos seus pulmões uma chance de respirar – abria um restaurante.

- E eles abriram – disse Rini – é até ponto turístico em Cristal Tóquio.

- Serena! – disse Joynah com ar de reprovação para ela – não seja fofoqueira.

- Ora, a mamãe está quase todo fim de semana jantando por lá... É uma fila bóia daquelas...

Serena – a do tempo atual – parou de mastigar e olhou encabulada para as outras que a encararam depois que Rini disse aquilo.

- É como diz o ditado – disse Mina – filhinho de peixe sempre cai na rede.

Todas ficaram um pouco encabuladas. Rini e Joynah desabaram a rir.

- Agora sei de onde a Rita tira aquelas expressões – comentou Anne.

- Quem é Rita? – perguntou Amy.

- É filha de uma de vocês – respondeu Rini – adivinhem de qual? – e ficou olhando para Mina.

Mina ficou vermelha, mas não falou nada.

Logo, a mesa foi ficando limpa, sobrando apenas uns poucos blocos de tofu – previamente separados por Joynah – e os hambúrgueres. Anne os pegou e entregou um para cada uma delas – incluindo um para Artemis e outro para Luna, que eram menores, feitos especialmente para eles – enquanto Joynah preparava o missô-shiru para ser servido. Ela pos de forma equilibrada os blocos de tofu em quantidades rigorosamente iguais para cada uma das oito cuias – os felinos já tinham dito que não queriam – e derramou o conteúdo da garrafa térmica neles. Lita notou que ela estava fazendo com grande habilidade e zelo, como se fosse uma garçonete de um restaurante, e talvez fosse. Talvez ela trabalhasse no restaurante que Rini tinha dito que iria ter no futuro. Mas acabou não ficando curiosa com aquilo. Viu que Anne já estava abrindo o papel que protegia o seu hambúrguer e já o levava a boca. Fez o mesmo com o seu e ficou novamente maravilhada. Devia ter algum tempero secreto ali, pois estava, como tudo o mais, uma delícia.

- Hambúrguer! Uma delícia dos Estados Unidos – disse Serena - Se Haruka estivesse aqui, iria querer a receita. Este está ótimo!

- Na verdade – disse Anne – o hambúrguer não é originário dos Estados Unidos. Há uma receita de como fazer carne moída e prensa-la misturada a temperos, e esta receita já tem mais de três mil anos. Bom, para vocês ela teria dois mil. É do império romano.

- Puxa – exclamou Mina – nunca teria imaginado que os romanos tinham inventado a carne de hambúrguer.

- Na verdade- prosseguiu ela – não foi só a carne. A receita dizia para servir em pedaços redondos de pão. Ainda há pesquisas para saber se também inventaram a maionese – brincou ela.

- Há, com certeza devem ter inventado, e o cachorro quente também. Afinal, não foram os Incas que inventaram o chocolate?

Anne não teve coragem de dizer que estava brincando naquele ponto.

- Parece que você gosta de historia – comentou Amy, entre uma mordida e outra.

- Ela a-do-ra civilizações antigas – disse Joynah pegando sua parte nos hambúrgueres -  Sempre que pode, está visitando ruínas por todo o mundo.

- Hum! Não é na semana que vem que vai ter a excursão para aquelas ruínas que foram abertas ao público? – perguntou Rini.

- É sim – disse Anne um pouco preocupada – gente, temos que voltar antes disto. Não quero perder esta oportunidade.

- Ruínas? – perguntou Amy.

- Sim, há uns dez anos, encontraram algumas ruínas que talvez tenham cinco mil anos de idade. E sua arquitetura se parece um pouco com as ruínas do antigo Milênio de Prata, na Lua.

- As pessoas do futuro sabem sobre as ruínas na Lua? – perguntou Luna.

- Claro! – respondeu Rini – não é nenhum segredo. Mas é difícil fazer uma visita por lá. As máquinas que mantinham a bolha de ar sobre as ruínas pifaram há alguns anos.

-Serena – chamou Joynah – vamos parar por aqui.

- Err.. – disse ela encabulada – tá certo.

Assim que acabaram com os hambúrgueres, tomaram o missô-shiru, e todas adoraram o tempero especial deste. Era levemente mais salgado do que estavam acostumadas, e com um gosto bem mais encorpado. Rini acabou confessando que aquela sopa era um dos pratos favoritos de Joynah.

- Estou satisfeita! – exclamou Serena, logo seguida pelas outras.

- Gente, eu nunca comi tanto assim – disse Amy – não cabe mais nada.

- Não guardou nada para o churrasco de hoje? – perguntou Anne.

- Bem, até lá deve abrir algum espaço – disse ela sorrindo.

Logo, Anne e Rini pegaram as sobras – apenas guardanapos e pacotes vazios - e as levaram para o lixo. Joynah limpou a mesa de algumas migalhas que escaparam a voracidade alheia e levou o pano que usou para lavar e deixar pendurado no varal. Serena, Mina e Ray estavam deitadas no chão, apreciando a digestão e a sonolência que a refeição lhes provera. Lita estava sentada apoiando as mãos atrás, de forma a deixar o seu corpo inclinado. Ela observava a mesa agora limpa e parecia estar pensando em alguma coisa. Os felinos também estavam deitados espalhados o máximo possível. Emitiam alguns murmúrios de satisfação de quando em quando. Apenas Amy estava deitada de lado lendo um livro.

O leve ronco de Serena e Mina já estava preenchendo o ambiente quando as três voltaram.

- Meninas – disse Lita assim que elas entraram – vocês são mesmo filhas exemplares. Serena me contou como você ajudou nos afazeres da casa dela, Rini, e eu mesma vi como Joynah também ajuda. E acho que todas as três participaram da preparação desta refeição, não?

- É – responderam elas – foi.

- Mas não pense que somos santinhas não – disse Rini olhando para as outras duas – apenas estamos nos exibindo um pouco.

- E pagando a nossa hospedagem aqui neste século – completou Joynah.

- Ainda bem – disse ela também se deitando – pensei que éramos muito severas no futuro.

- E vão ser – disse Anne em voz baixa. Mas Lita não ouviu.

Joynah e Rini sentaram-se uma de cada lado de um felino, e começaram a acariciar as nucas destes, Anne encostou-se em uma das paredes mais afastadas e retirou o seu bracelete, para preparar o memochip para ser usado.

- Ai!!! – dizia Luna – eu estou no céu...

Artemis não falava nada, mas ronronava com satisfação.

Quando Luna finalmente abriu os olhos, percebeu que estava muito confortável e aquecida. Estava no colo de Rini, que estava sentada no chão com as pernas cruzadas. Ela ainda fazia carinho em sua nuca, o que a fazia inclinar a cabeça para receber mais carinho ainda. Artemis já estava dormindo na barriga de Joynah, que tinha se deitado de costas para coloca-lo ali.

- Hum – disse ela ronronando – vocês sabem como tratar a gente. Onde aprenderam?

- Bem... – disse Rini um pouco divertida – eu tenho.. uma gatinha de estimação. Somos muito amigas. Seu nome é Diana.

- Aposto que ela não tem uma meia lua na testa e nem pode falar.

Rini e Joynah trocaram olhares confidentes, e ambas sorriram. Se você soubesse – pensou Rini.

- Pronto! – exclamou Anne – acionem os seus visores quando estiverem prontas para estudar.

- Estudar?!? – disse Luna despertando do seu estado de semi inconsciência. Vocês?

- Nós também temos provas, lembra? – disse Joynah enquanto retirava o dorminhoco Artemis com cuidado de cima de sua barriga e o colocava em um facho de Sol que entrava pela porta semi aberta – e como Anne nos lembrou, não vamos poder dar a desculpa de que estávamos perdidas no passado para não ter estudado.

- Pois é – disse Rini – algumas coisas continuam iguais mesmo no futuro.

Rini pressionou o seu brinco esquerdo e uma tela quadrada semi translúcida da cor alaranjada surgiu diante de seu olho direito.

- Qual a faixa? – perguntou ela.

- Quarenta megahertz – respondeu Anne. Luna percebeu que também havia um visor no olho direito dela - é o arquivo A-27. Tem todas as matérias que vão cair na prova.

- Aquela coisa chata de aplicação das fórmulas de pressão e densidade – disse Joynah se aproximando delas.

Joynah pos a mão direita no laço de fita que prendia seus cabelos e retirou uma fita comprida que parecia fazer parte do laço. Pos a fita em sua testa, de forma que parecia uma tiara e pressionou o centro desta. Um visor surgiu e cobriu ambos os seus olhos – parecia-se muito com o visor de Sailor Mercúrio.

- Vamos lá – disse Joynah.

As três faziam movimentos com as mãos no ar, como se estivessem tocando em algo, mas Luna – que ainda estava no colo de Rini - não conseguia ver nada. No entanto, olhando para os visores, ela podia ver imagens surgindo nestes.

- Impressionante – murmurou ela.

Luna olhou para o bracelete de Anne que ela tinha deixado a sua frente. Ele emitia um brilho que pulsava um pouco e, havia mais um visor avulso – idêntico ao que Anne usava - que se projetava de uma das laterais deste. Devia ser um reserva.

- O que vocês estão fazendo? – perguntou Amy se levantando.

- Elas estão estudando – disse Luna se aconchegando melhor no ninho que lhe tinham oferecido – que bom que todas tem um pouco de sua personalidade.

Luna, com a barriga cheia de comida boa e naquele colinho aquecido, logo cochilou.  Devia ter dormido por uma ou duas horas quando ouviu Serena reclamando.

- Não consigo!!!! Eu não consigo fazer isso! EU NUNCA VOU CONSEGUIR FAZER ISSO!!!!

- Dá para fazer silêncio ai? – reclamou Joynah – estamos tentando estudar.

- Argh! – bufou Serena – Já não basta as minhas dificuldades e agora nem posso mais desabafar?

- Tudo bem – disse Anne – deixe eu te dar uma ajuda.

Anne pegou o outro visor que estava no seu bracelete e foi até Serena. Ela o encaixou do lado do nariz desta e este ficou firmemente preso, como se fizesse parte do seu corpo.

- Isso não machuca? – perguntou ela.

- Não – respondeu Anne – Agora, deixe-me ver este seu problema.  Pegou o caderno de Amy e deu uma olhada – Nossa! Isso eu aprendi há dois anos – comentou.

- O que? – comentaram as outras.

- Deixe-me ver – disse Anne enquanto seus dedos digitavam em um teclado invisível a sua frente.

Luna observou Serena olhar de forma abismada para algo invisível a sua frente. De vez em quando, ela levava sua mão a sua frente e, aparentemente com medo, parecia que tocava em alguma coisa.

- Aqui está – disse Anne – deixe-me trocar os números para ficar igual a questão. Pronto!

Em seguida, Anne tocou em algo também invisível e Serena exclamou.

- Ei! Isto aqui está se mexendo sozinho!

- Eu fiz uma interface com o seu terminal – disse Anne – para programar o seu acesso a questão. Pronto. Pode trabalhar no problema agora. O computador vai te ajudar a acertar os erros.

- E como eu faço?

- Bem, apenas use seus dedos para escrever nesta tela que você está vendo com o olho direito, igualzinho a um caderno.

- Hum.. – disse Serena enquanto os seus dedos começavam a fazer desenhos no ar – ei! Dá para fazer um coelhinho!

- Serena! – disse Ray dando um soquinho em sua cabeça  - Anne está tentando te ajudar e você fica brincando?

- Ai, ai... desculpa. Tudo bem, eu vou tentar.

Luna observou Anne voltar para onde estava antes e a continuar com a digitação invisível. Era interessante observar Serena fazer desenhos com os dedos no ar e exclamar alguns “hums” e “hãs” esporádicos.

- Huaaaa – bocejou Luna para despertar um pouco mais – meninas, o que são estas coisas que estão usando?

- Boa tarde, dorminhoca – disse Joynah que estava ao lado de Rini – estas coisas, como você chama, são monitores visuais. É muito comum no futuro e substituem quase tudo, de televisão a telefones e video-games.

- E cadernos – completou Anne.

- É, e cadernos – continuou Joynah – eles captam os impusos motores dos músculos do corpo para saber onde estão nossos membros para nos permitir interagir com o mundo virtual que mostra aos nossos olhos. Também servem como óculos ou telescópios.

- Mas estas aqui são versões especiais – disse Rini  - apenas para as sailors guerreiras. Os apetrechos comuns da população são um tipo de fone de ouvido com uma tela para por na frente dos olhos. E precisam de luvas para interagir com o ambiente virtual gerado.

- Todas as escolas tem – completou Anne – DROGA!!! Não é esta a resposta certa.

- CONSEGUI!!!! – berrou Serena assustando a todas e acordando Artemis, que agora Luna tinha reparado que estava no colo de Joynah, assim como ela estava no colo de Rini.

- "timo – disse Anne olhando para ela - agora faça a outra questão sem usa-lo. Mesmo porque, só programei uma em seu terminal.

Serena a olhou com a cara amarrada. Retirou o pequeno monitor do olho e o pos na mesa, ao lado de seu caderno. Pegou o livro de Amy e viu a próxima questão. Arreganhou os dentes de medo quando a viu.

- Eu terminei este agora – disse Amy - cuidado com os sinais de potência, é fácil acabar se confundindo.

- Vou tentar – disse ela sem ânimo.

Rini começou a soltar uma risadinha que apenas Luna, Artemis e as outras duas podiam ouvir, pois estavam perto dela. Anne também sorria, assim como Joynah. O que será que estavam achando tão engraçado?

Passaram-se vários minutos – cerca de quarenta – quando o silêncio foi novamente preenchido pela voz de Serena.

- Terminei!!! Nossa, como foi fácil agora!

O que? Como... só pode ser brincadeira... eram os comentários das outras.

- Deixe-me ver – pediu Amy pegando o caderno dela – não Serena, essa não foi a resposta que eu consegui. O resultado para mim foram seis, dezessete e noventa. Dê uma olhada.

- Hum? – comentou Serena enquanto olhava para o exercício que Amy tinha resolvido.

- Claro que o seu está errado – disse Ray – afinal, por melhor que seja a tecnologia, ela não poderia consertar essa sua cabecinha oca mesmo...

- Amy – disse Serena com o olhar intrigado – este número aqui de cima está errado, é sete e não dois. Você errou na conta.

- Tem razão! – exclamou Amy.

- O QUEEEE????? – as outras três disseram em uníssono, e rapidamente pularam para o lado da Amy para ver aquilo.

- Deixa eu ver – disse Amy, se aqui é sete, então, aqui vai ser quarenta, aqui será doze e aqui será nove – Amy olhou para Serena e disse sorrindo – Serena, você acertou o exercício, parabéns.

- Ai que maravilha! – disse Serena enquanto pegava o visor que estava a sua frente e o beijava – adorei, a-do-rei!

As outras se entreolharam por alguns instantes e, logo em seguida, pularam em cima de Serena.

Minha vez!! Me empresta... não... só um pouquinho... deixa eu ver como é... essa não, deixa isso comigo... tira a mão daí... eu estou avisando... me dá... você já usou, agora é a minha vez...

Apenas Amy não estava naquela briga para pegar o pequeno monitor.  As outras três estavam mal contendo as risadas da cena. Agora Luna entendia porque estavam rindo, momentos antes. De alguma forma, aqueles monitores podiam ajudar a aprender.

- Foi mesmo este aparelho que ajudou a Serena? – questionou Amy olhando para elas.

- Provavelmente – respondeu Anne – mas o mérito é, basicamente, da própria Serena. O aparelho apenas emite freqüências agradáveis quando estamos fazendo uma questão corretamente, e freqüências desagradáveis quando não. Isso ajuda a reforçar as conexões nervosas do cérebro, fixando na memória a forma de se resolver uma equação ou problema. Mas não é útil para questões opinativas ou interpretativas.

- Entendi – disse Amy voltando a ver a briga das quatro.

- Ainda bem que alguém entendeu – disse Joynah olhando para Rini. Ambas estavam boiando naquele assunto.

- Quer um também? – perguntou Joynah – Serena ainda tem o outro brinco vago...

Rini retirou o seu brinco direito e o entregou a Amy.

- O que tenho de fazer? – perguntou ela.

- Apenas ponha na orelha e aperte o anel do centro com força.

Amy o fez e um monitor surgiu diante de seu olho esquerdo.

- É parecido com os meus óculos de Sailor Mercúrio.

- Tem de ser – disse Anne – eles foram a base para desenvolver isso.

Logo, Amy começou a mexer nos controles invisíveis e intangíveis a sua frente, passeando por um monte de informações e matérias escolares. Haviam até alguns jogos interativos nas opções.

- Que problema vocês estão tentando resolver?

- Coisa simples – disse Rini – veja o arquivo A-27, a última questão.

- Deixe eu ver... aqui está. Sabendo que o magma está a dois mil graus, e com uma densidade de água na proporção de 0,23%, calcule o tempo estimado para a erupção de um vulcão com seis quilômetros de altura e com densidade de rocha variando de cinco a três vezes a densidade do granito...

As quatro que estavam brigando para pegar o monitor que Anne tinha emprestado, pararam ao ouvir Amy falar aquilo. Essa era uma questão “comum” do futuro?

- Hum.. parece uma simples questão de calcular a pressão do magma contra a pressão das rochas que o confinam – disse Amy.

- E é – disse Rini – mas não temos todos os dados, então temos de teorizar.

- E ainda não acertamos na teoria – completou Anne.

- Deixe eu ver.

Por vários minutos, Amy ficou digitando no teclado invisível incessantemente, até que encontrou algo.

- Aqui está. Acho que vocês se esqueceram de considerar o próprio peso da montanha sobre suas paredes. Tentem considerar a equação com isso.

- Hum.. vale a pena – disse Rini – vamos ver.

Cinco minutos depois, as três resolveram o problema.

- Consegui!

- Eu também!

- Então é unânime!

- O vulcão não corre risco de entrar em erupção, não é? – perguntou Amy.

- Exatamente – disse Joynah – parabéns!

- Essa é a minha mamãe! – disse Anne abraçando Amy que ficou vermelha e encabulada.

Depois disso, as quatro que tinham dado um intervalo na briga, voltaram a disputar a posse daquele desejado equipamento que ainda estava nas mãos de Serena. Luna e Artemis voltaram a dormir, aproveitando os colinhos aquecidos que as meninas lhes ofereciam.

Súbito, a porta se abriu. Rini, Joynah e Anne foram rápidas em retirar os visores, assim como Amy.

- Olá meninas – disse o avô de Ray – como não vi nada diferente na cozinha, achei que vocês tinham saído para almoçar.

- Comemos aqui mesmo – disse Ray saindo do nó em que as outras ainda estavam – obrigada por se preocupar.

- Ora, ora... vocês tem colegas novas – disse ele com olhos não muito educados olhando para as formas bem delineadas das crianças que estavam afastadas em um canto, especialmente as de Anne, naquela roupa ousada – vocês gostariam de trabalhar no templo?

Joynah e Rini já tinham se levantado, acabando com o sossego dos felinos, e olhavam aquele velho baixinho tarado se aproximando delas com os olhos abertos e babando.

- Trabalhar no templo? – perguntou Anne olhando desconfiada.

Joynah olhou para Ray e esta balançou a cabeça de um lado para o outro, indicando que era melhor não dar muito papo para aquele velho tarado.

- Não sei – disse ela – o que oferece?

- Há – disse ele já a abraçando – quarto, comida, e todo doce que conseguir comer.

Joynah o pegou pelo colarinho e o ergueu sem nenhuma dificuldade até a altura de seus olhos. Seus pés balançavam no ar.

- Há alguma segunda intenção nesta oferta? – perguntou furiosa enquanto o encarava nos olhos.

- N-não! – ele respondeu assustado – claro que não.

- Vou pensar no caso – respondeu ela o soltando como se fosse um saco de arroz.

Ele caiu no chão de joelhos e se levantou. Desculpou-se por te-las interrompido e rapidinho saiu de lá.

- Você é bem forte! – disse Ray olhando com surpresa para ela.

- Joynah pode levantar duas ou até três toneladas – disse Rini – é a humana mais forte do mundo. Mesmo no futuro.

- Incrível – disseram as outras.

- Nem tanto... mais incrível que isso é que, apesar  de não parecer, ela pesa cento e trinta quilos – disse Anne olhando com safadeza para ela.

- O que????

- Anne! – disse Joynah com raiva – eu podia passar sem essa.

- Não resisti – disse ela rindo.

- Lita nos disse as circunstâncias de seu nascimento – disse Amy – você deve ter uma estrutura celular muito densa. Isso explica sua força, bem como o seu peso.

- E o seu apetite – disse Rini – ela come duas vezes mais que Mina e Serena juntas.

- Argh! – disse Joynah ficando vermelha de raiva – vamos parar com isso?

Todas começaram a rir um pouco. Ficaram mais algum tempo depois daquilo e então foram se preparar para a festa a que tinham sido convidadas. A tarde já estava no fim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!