Visitas Inesperadas escrita por Janus


Capítulo 12
Capítulo 12




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- Aqui estamos – disse sailor Terra aterrizando em cima da cobertura onde moravam Haruka e Michiro – hum... eu devia ter visitado você antes. Aquela piscina me parece ótima!

- Amanhã vão estar todas na escola – disse Titã – podemos fazer uma festinha particular.

- Amanhã a gente vê. Quer que eu te deixe no térreo?

- Não precisa. Eu posso....

Anne olhou subitamente para o céu. Seus olhos estavam estreitos, e sua testa estava franzida. Ela tinha sentido alguma coisa.

- O que foi? – perguntou olhando na mesma direção que ela – outro inimigo?

- Acho que sim – disse Titã com a voz preocupada – só que... não é como ontem. Não é um aviso do planeta. É uma presença maligna. Muito maligna.

Na entrada do templo Hikawa, Ray agarrou os seus ombros em um auto abraço e caiu de joelhos. Estava sentindo uma força maligna muito forte. Tão forte que a deixava apavorada.

Dirigindo seu carro esporte, Haruka freou bruscamente, enquanto olhava para o céu. Michiro, no banco do passageiro, fazia a mesma coisa.

- Está sentindo? – perguntava ela.

- Sim – respondeu – mas... o que é isso?

- Talvez... – disse Michiro a encarando – talvez seja a presença do Enviado do Mal.

- Se for... o que significa? Será que encontraram os talismãs?

- Eu não sei – respondeu preocupada.

- Está próximo? – perguntou sailor Terra.

- Não. Está se afastando – disse ela tentando se concentrar - Sumiu.

- Bom, seja o que for... espero que não nos envolva.

- Eu também – ela suspirou – bem, boa noite. A gente se vê amanhã.

Titã agarrou-se na beirada do terraço, e, em um movimento digno de fazer inveja a qualquer ginasta olímpica, entrou por uma janela aberta, voltando ao normal assim que pousou lá dentro. Sailor Terra fez surgir as suas asas e seguiu para a casa de sua mãe. Quer dizer, de Lita. Ela gostaria de saber como Serena conseguia tratar a sua mãe nesta época como outra pessoa. Ela quase não conseguia.

Quando Michiro foi até a sala de jantar a caminho da cozinha, levou um susto. O café da manhã já estava ali, na mesa, prontinho. Com praticamente  tudo aquilo que ela e Haruka costumavam comer nesse horário. Ainda de camisola e um pouco sonolenta de ter acordado cedo, viu Anne sair da cozinha com uma garrafa de suco – talvez laranja – e por a mesma na mesa.

- Bom dia – disse ela – e, antes que me pergunte, estou muito acostumada a fazer isso de manhã cedo. Quer que eu jogue água na Haruka ou você joga? – ela sorriu logo depois da pergunta.

- No... – ela estava fazendo uma careta com os lábios – no futuro... nós ainda teremos os mesmos hábitos?

- Bem – disse Anne se sentando e pegando a sua parte – tirando a parte de acordar Haruka com um balde d’água, sim.

- E como eu a acordo quando ela está muito preguiçosa?

- Hum... – disse sorrindo – começa com Maremoto....

Michiro olhou para ela e ficou pensativa.

- Está brincando!

- Talvez... – respondeu ela – mas já teve duas vezes em que você me acordou assim.

- Nossa Michiro – disse Haruka assim que desceu as escadas – hoje você deve ter acordado muito mais cedo.

- Fique feliz – Michiro olhou para Anne – de você não estar em um daqueles raros dias de preguiça – depois não se segurou mais e sorriu, sendo acompanhada de Anne.

- Estou perdendo alguma coisa? – perguntou Haruka se sentando sem cerimônia e se servindo.

- Felizmente, sim – disse Michiro também se sentando ao seu lado.

- Michiro – disse Haruka – está muito bom o café da manhã hoje.

- Não fui eu quem fez – disse Michiro levemente encabulada – mas sua “sobrinha” ai.

Haruka olhou para Anne com uma expressão indecifrável.

- Se você me chamar de “Tia”, seja no futuro ou agora, eu... eu... eu... – ela não sabia como terminar - te ponho no colo e dou um monte de palmadas!

- Não adiantou – disse Anne quase rindo – “titia”.

- Eu fiz isso no futuro?

- Haruka, desista. Não dá para saber quando ela está brincando ou não.

- É... agora, que vocês não me conhecem, não vai dar mesmo.

- Então vamos fazer um acordo. Nada de me chamar de tia, e muito menos de mãe de criação, ok?

- Tudo bem... – ela sorriu – sogrinha...

Haruka abriu a boca, Michiro, em um dos seus raros momentos de perda total de controle, soltou uma gargalhada.

- Você quem cavou isto, Haruka.

- Me chame apenas de Haruka – disse ela encabulada.

- Sim senhora! – disse Anne, voltando a pegar o café da manhã.

Não falaram quase nada durante a refeição. Cada uma delas pensava, silenciosamente na sensação que tiveram na véspera. Assim que acabaram de comer, Michiro e Haruka foram tomar banho e se trocar enquanto Anne se prontificou a lavar a louça.

Meia hora depois, as duas já arrumadas e com os materiais escolares embaixo do braço, se preparavam para sair.

- Não faça nenhuma arte – disse Haruka para ela – mas, se sentir que precisa agir... a freqüência dos nossos comunicadores é 86.3 megahertz.

Michiro olhou de forma confidente para Anne, indicando que Haruka não faria objeção se ela se transformasse em sailor Titã e trabalhasse com elas.

- Vou pensar – disse Anne evitando olhar Haruka nos olhos – falando em sentir, sentiram a forte presença de ontem a noite?

Ambas olharam para Anne um pouco surpresas.

- Sim – respondeu Michiro – você sentiu também?

- Acho que só Joynah não deve ter sentido absolutamente nada. As outras devem ter sentido algo, mas talvez não soubessem o que era. Eu senti sim, era maligno, e... não sei como descrever o resto.

- Ameaçador? – arriscou Haruka.

- Sim. Muito. Mas havia mais alguma coisa. Não sei o que seria, ou se há palavras para descrever isso.

- Sei do que está falando – disse Michiro – não tenho como explicar, mas sei o que você sentiu.

- Michiro – chamou Haruka – temos de ir. Anne, se sentir mais alguma coisa, por favor nos avise.

- Eu aviso – disse ela enquanto elas saiam – há sim! Tudo bem se eu trouxer minhas amigas para cá hoje durante o dia?

- Se não percebermos nada fora do lugar, sim – disse Michiro sorrindo.

- Obrigada!

- Serena!!! – gritou Rini ao pé das escadas, você está...

- Estou atrasada!!!! – gritou Serena passando por Rini como um foguete e indo direto para a porta.

Quando Rini parou de girar, olhou para a suas mãos e viu que o lanche que sua “tia” tinha pedido para entregar a Serena não estava mais lá. Olhou ao redor e não viu nada, portanto, Serena devia tê-lo pego quando passou. Que mão leve!

Sua versão mais nova também já tinha saído. Resolveu dar uma mão para sua “tia” e – logo arrependida, pois realmente ela detestava ajudar a arrumar a casa – quando acabou, foi se encontrar com Joynah, que devia estar esperando por ela na casa de Lita.

Foi andando – quase correndo – em direção ao apartamento. Sohar deveria voltar naquele dia ou no seguinte – isso porque só havia um portal aberto que permitia a jornada até a Lua, e ele ficava em alinhamento com esta a cada dois dias – e não queria desperdiçar a chance de usar roupas próprias. Serena já estava brigando muito por ela pegar suas roupas.

Encontrou Joynah na entrada do prédio, já a esperando.

- Anne pediu para a encontrarmos no parque – disse ela antes mesmo que ela chegasse mais perto – vamos.

Sem perder tempo, foram até o parque e se sentaram em um banco. Anne as encontraria. Fato este que ocorreu alguns minutos depois. Seguiram para o shoping mais próximo e, pelas próximas duas horas, infernizaram as vendedoras de sete lojas.

Não conseguiram nada estonteante, apenas roupas bem comuns. No entanto, eram delas. A única mais abusada era Anne, que gostava de usar roupas muito justas no dia a dia. Não fosse suas “exigências”, ela teria uma fila de namorados, e sempre deixaria Joynah e Serena para escanteio em festas. Como Lita previra, não puderam comprar nenhum tipo de calçado, mas já estavam bem satisfeitas. Seguiram depois para a casa de Michiro – finalmente descobriram que ônibus precisavam tomar – e passaram a tarde inteira praticamente vendo televisão e nadando na piscina.

Estavam deitadas a beira desta – com suas roupas normais, pois já tinham se fartado do tomar banho e brincar na água – quando um brilho surgiu próximo a elas. Imediatamente Serena e Anne pegaram seus apetrechos para se transformar. Joynah tinha ficado de prontidão, quando percebeu que não era mais a Sailor Terra em período integral. Foi correndo pegar o seu broche de transformação na sua bolsa.

Ela não chegou a tempo. Logo o brilho desapareceu e em seu lugar surgiu uma figura humana. Uma cansada figura humana. Era Sohar.

- Pai!!! – disse Joynah correndo para abraça-lo.

A meio metro de distância, porém, ela parou e viu o estado em que ele se encontrava. Suas roupas estavam sujas de fuligem, poeira e – talvez – até graxa. Seu cabelo avermelhado agora estava escuro como carvão. Tinha marcas de pequenos arranhões no rosto e nas mãos.

- P-pai! O que aconteceu?

- Não pergunte – disse ele suspirando – estes dias foram um inferno.

Ele olhou para a piscina e sorriu.

- Segure isso – disse ele lhe entregando o cetro solar.

As três viram ele tirar os sapatos e pular na piscina, impregnando a água com toda a fuligem e poeira que carregava. Ele girou sobre o próprio corpo com grande velocidade, chegando a formar um redemoinho na piscina. Em cinco minutos, ele pulou para fora, com as roupas totalmente limpas – embora encharcadas – e a piscina com a água um pouco mais turva.

- Mamãe vai me matar! – comentou Anne.

- Ligue o filtro – disse Sohar quase não lhe dando importância – já lavou o banheiro?

- Bem... eu ia fazer isso no começo da tarde.

- Que bom – disse ele indo para o banheiro, deixando um rastro molhado atrás de si.

Assim que ele entrou, fechou a porta, e elas ouviram um som como o de um ventilador. A porta trepidava, e, por baixo dela, um pouco de água era empurrada para fora. Também, cinco minutos depois, a porta se abriu, e as três curiosas foram vê-lo.

Ele estava agora penteando os cabelos – com uma escova surripiada do espelho – suas roupas estavam totalmente secas e o banheiro estava extremamente limpo – e úmido.

- Não sabia que você podia girar tão rápido – comentou Joynah, impressionada com o que seu pai podia fazer.

- Como eu já disse a vocês, na minha adolescência, me chamavam de cometa.

- Err... Treinador...

- Sim, princesa?

- Estou curiosa. Você ficou na Lua por três dias sem banho e sem banheiro... como fez...?

- Com muita higiene – respondeu ele sem nem ao menos olha-la.

- Bom, é só passar um pano nos sapatos e tudo pronto – disse ele depois que terminou de se pentear – agora, temos três coisas a fazer antes de partirmos.

- Sim?

- Primeira, me digam o que andou acontecendo enquanto estive fora.

Elas se entreolharam por alguns momentos.

- Recebemos mensagem do nosso tempo – disse Serena.

- Que mensagem?

- Esta aqui – disse Joynah pegando a carta que tinha recebido de Serena e entregando-a a ele.

Ele pegou a carta mas não a abriu.

- Segunda, vocês vão pegar as roupas que estavam usando quando chegamos e devolver estas as donas.

- Estas aqui são nossas! – disseram elas.

- São... suas?

- Trabalhamos para compra-las.

- Hum... certo. E terceiro... Joynah, minha filha...

- Sim?

- Tem alguma coisa para comer? – disse ele com o rosto implorando.

- Me dá meia hora que já teremos algo – disse ela correndo para a cozinha.

- Finalmente... – disse ele indo para o trampolim e sentando-se nele. As outras duas o acompanharam.

- Bem crianças – disse ele pondo a perna esquerda por cima da direta – agora, enquanto a líder do grupo 1 está fazendo algo para comer, quero que  você, líder das Asteroid Senshi e você, líder do grupo 2 me digam o que andaram aprontando.

As duas ficaram empertigadas. Ele só as chamava assim quando queria uma posição de responsabilidade e sincera. Ou seja, era bom contar toda a verdade ou teriam um daqueles sermões intermináveis, que, por sua vez, seriam repetidos pelos seus pais, mais tarde.

- Bem...

- Sabe...

Ele fechou os olhos, apertou os lábios e já foi direto a questão.

- Quantas vezes se transformaram?

- Uma!

- Uma.. quer dizer, duas. Ontem foi quando a Sailor Terra me deu uma carona, foi idéia da Lita. Assim, para entrar em ação foi uma vez só.

Ele moveu seus olhos de uma para outra, ambas pareciam encabuladas.

- Quem derrotou o oponente?

- A Sailor moon – disse a princesa Serena.

- QUAL... – enfatizou a palavra  - delas?

- Err.. bem... eu!

- Fico três dias fora e vocês já arrumam encrenca.

- Bem treinador, longe de mim querer me justificar, mas...

- Esqueça isso – disse ele contrariado – já está feito. Devo crer que Joynah também andou participando, não?

- A contragosto – disse Serena.

- A... contragosto? Desde quando você a protege? – perguntou ele um pouco desconfiado.

- É que... bom....

- Tem uma coisinha que elas fizeram que – Anne hesitou ao ver o rosto de súplica de Serena – bem... acho que você não vai gostar de não ter sido consultado...

Na cozinha, Joynah estava terminando de cortar o peixe – seu pai adorava sashimi,  mais que Michiro – quando ouviu ele gritar:

- LIGARAM JOYNAH AO BROCHE DA SAILOR TERRA SEM EU ESTAR PRESENTE?! E NEM TIRARAM UMA FOTO?!?!?!?

Ops! – pensou ela ao ouvir aquilo. Não é que tinham mesmo se esquecido daquele detalhe?

- Professor, O senhor me chamou?

- Sim Eudial. A... pessoa de quem lhe falei chegou ontem a noite. Já tem um novo candidato?

- Devo ter em mais algumas horas – respondeu ela curiosa.

- "timo - ele gargalhou – ótimo. Ele irá acompanha-la. Se aquela criança que tem asas aparecer – ele gargalhou – ele se encarregará dela.

- Bom, pelo menos você continua cozinhando muito bem – disse Sohar enquanto comia a refeição que Joynah tinha preparado.

- Pai, Ficou chateado pelo que fizemos?

- Um pouco. Eu queria estar junto. Você sabe que eu e sua mãe acompanhamos os seus momentos mais marcantes e os de suas irmãs. Isso que vocês fizeram, para nós, seria quase como que... bem, tivesse se formado na faculdade.

- Desculpe por sermos apressadas – disse Serena, que estava sentada na cabeceira da mesa roubando umas migalhas.

- Não se desculpem por decisões já feitas – o treinador estava em ação de novo – apenas, aprendam com as conseqüências destas. Pelo menos, tecnicamente, a mãe dela estava lá, embora não seja exatamente a minha esposa.

- O primeiro mandamento de uma sailor – disse Anne em tom de discurso – “enfrentar as conseqüências”.

- Falando em conseqüências – tornou ele olhando para Joynah – como se sente?

- Bem... acho que o termo correto seria... "normal". Agora fico cansada ao invés de simplesmente sentir fome. Me sinto mais leve, meus reflexos diminuíram, e, apesar de ainda poder fazer comida boa, sinto mais dificuldade nisto. Antes, eu mal precisava provar o que preparava, só de sentir o cheiro já sabia se estava bom ou se precisava de mais tempero. Agora, não consigo mais fazer isso. Só que...

- Sim?

- Não sei dizer. Sinto falta de algo, mas não são dos poderes em si. Quando me transformei ontem e voei para levar Anne até aqui, senti que o ar... não sei, tivesse me envolvido, como em um abraço.

Sohar nada demonstrou, mas isso que ela disse o incomodou muito.

- E a água?

- Como? Não entendi.

- Quando você tomou banho já sem os seus poderes, sentiu algo diferente na água?

- Bem, sim. Ela apenas corria pelo meu corpo. Não parecia mais que eu estava em um colo aconchegante. A mesma coisa quando entrei na piscina hoje. Não senti mais a água me carregando no colo. Na verdade, tive que fazer um esforço para conseguir flutuar, e olha que estou bem mais leve.

- Tem também o fogo que não canta mais para você – disse Anne sorrindo.

- É – concordou ela – isso também.

- Fogo cantando?

- Bem, sempre parecia que o fogo cantava algo para mim, mas quando estive ao lado do fogo do templo Hikawa ontem, ele só estava crepitando.

Ar, água, fogo... Os elementares terrestres. Os fundamentos dos poderes das sailors... Seria possível que Joynah...

- Você sentia algo quando deitava na grama? – perguntou Sohar, tentando evitar de mencionar a palavra "terra".

- Bem, sim. Sentia como se alguém estivesse me embalando para dormir. Porque pergunta?

- Para ter certeza. Você não foi escolhida apenas pelo broche da antiga sailor Terra para ser sua sucessora.  A própria Terra a escolheu.

- A... própria Terra? – perguntaram todas ao mesmo tempo.

- Terra, fogo, água e ar. São os elementares básicos deste planeta. Eles estão com você, por isso que sente a água a carregar no colo, o vento a abraçar, o fogo cantando, e a terra a ninando. Você a sailor Terra. Para estes elementares, você é como uma filha.

- Então... porque não posso sentir o mesmo agora, sem meus poderes?

- Talvez porque seja preciso um nível de percepção muito superior a humana para isso – disse Anne – coisa que você só tem com os seus poderes. Além disso... OPA!

- O que foi? – perguntou Serena.

- As mães dela – respondeu Sohar – estão vindo para cá.

Anne olhou para a piscina e ficou aliviada de ver que já estava bem limpa. O filtro realmente funcionava. O problema era que o fundo da piscina tinha um pouco de poeira lunar...

- Será que ela vai dar bronca? – perguntou Joynah – a cozinha precisa ser limpa, e estes pratos...

Ela parou de falar quando seu pai pegou eles – os pratos - e os levou para a cozinha, começando a lava-los imediatamente. As três acabaram ajudando e, em dez minutos, tudo estava limpo, seco e no lugar. Foram para a sala de estar e continuaram a conversar de lá. Joynah aproveitou e colocou os sapatos dele na entrada – sabia que Michiro teria um ataque se os visse do lado de dentro da casa.

Serena andava radiante pela rua, seguida por Lita e Mina. Tinha sido a primeira vez em que a sua professora a tinha elogiado por uma “melhoria” em seu aproveitamento – culpa daquele dispositivo que Anne tinha lhe emprestado dois dias antes. Difícil foi convence-la de que tinha sido ela mesma a fazer o exercício...

- O que será que aquelas três andaram aprontando? – perguntou Lita, enquanto caminhavam.

- Lita! Elas são bem grandinhas. Na verdade, acho até que Joynah é mais velha que você. Não precisa ficar agindo como mãe antes da hora.

Ela ficou corada com o comentário da Mina. Mas não podia evitar de pensar a respeito.

- Eu sei... mas é que a presença delas... quer dizer, de Joynah, me fez sentir... um pouco diferente.

- Sei o que quer dizer – comentou Serena – as vezes eu sinto o mesmo com a pequena Rini.

- Sério?

- Só as vezes – corrigiu ela ficando vermelha – ainda tenho muita juventude para aproveitar, e não vou desperdiça-la agindo como mãe antes da hora. Especialmente para uma menina que estragou o melhor momento de minha vida quando apareceu.

- Isso ainda te incomoda? – perguntou Mina.

- Como você se sentiria se alguém caísse na sua cabeça no dia em que fosse dar o melhor beijo de sua vida?

- Dolorida – respondeu ela – talvez até com torcicolo...

Serena ficou olhando para ela com os olhos amendoados, não acreditando.

- Mina... acho que você não é muito normal não...

- Não? Eu achei que era tão normal quanto você...

- Isso é verdade – concordou Lita.

- O que? – perguntou Serena.

- Err.. vamos deixar isso para lá, tá bom? – pediu Lita – Eu tenho que chegar cedo em casa para arrumar tudo. Ontem deixei uma bagunça por lá. Tchau!

Lita saiu correndo, deixando as duas loiras a observando curiosas.

- Vovô! Cheguei!

Ray jogou o seu material escolar dentro do seu quarto e seguiu para a cozinha, para preparar o jantar para seu avô. Era vez do Nicholas cozinhar, mas como ele não estava, ela achou melhor executar aquela tarefa. Qual não foi sua surpresa ao chegar perto da cozinha e sentir o cheiro de comida. Será que seu avô tinha decidido cozinhar daquela vez?

Quando entrou pela porta, seu coração literalmente parou de susto. Nicholas estava lá, com aquele avental branco – que o deixava ridículo – preparando a seu costumeiro “prato do dia”: Tofu frito e macarrão com blocos de queijo. De vez em quando, ele bem que poderia simplesmente fazer uma das muitas comidas congeladas que tinha na geladeira...

- Olá Ray – disse ele com um certo desânimo – como foi seu dia na escola hoje?

- Eu... quer dizer... – ela riu sem jeito – foi normal!

- Que bom que não teve nenhuma dificuldade. Quer comer? A comida já está pronta.

- Mais tarde – disse ela, praticamente não ouvindo o que ele perguntou – você... decidiu ficar?

- Ficar?

- Err.. vovô me contou que você saiu para pensar um pouco...

- Há... isso – ele a olhou direto nos olhos – bem, como eu não tenho realmente um lugar para ir, vou ficar por aqui mesmo. Ao menos, por enquanto. Eu sei que sou uma pessoa que age feito um idiota as vezes. Mas é que...

- Sim?

- Eu... – ele estava encabulado – não. Deixe para lá. Eu já me declarei a você. Preciso aceitar que não posso lhe forçar a dar uma resposta. Só espero...

- Nicholas...

- ...que você seja feliz.

Ele sorriu e pegou o prato que já tinha preparado para o avô dela e o levou. Ray ficou ali parada, meio aliviada dele estar de volta, e meio preocupada de não saber realmente o que sentia por ele.

Ela se sentou na beira da mesa e, olhando para a panela de tofus fritos, pegou um com a mão e o colocou na boca. Até que estava gostoso. Se ao menos ela não fosse uma sailor, não fosse uma sacerdotisa, e não houvesse este novo inimigo os incomodando, talvez, pudesse se dedicar um pouco mais a cuidar de sua vida amorosa. Pelo menos em um caráter mais definitivo.

O telefone começou a tocar. Saiu da cozinha e o atendeu.

“- Ray, a Rini está ai?”

- Serena?! – disse ela assustada – não. Não esta. Nenhuma das duas.

“- Puxa vida! Onde será que esta pestinha está?”

- Serena...

“- Tudo bem Ray, obrigada. Eu ligo depois.” – e desligou.

Ray recolocou o telefone no gancho e observou a janela. Já estava escuro. Rini não iria sair sozinha sem avisar alguém. Voltou para a cozinha e pegou mais um tofu frito. Voltou a pensar um pouco em si mesma, embora sua preocupação com Rini estivesse aumentando. Pouco a pouco...

- Quanto tempo vamos ficar aqui em cima? – perguntou Anne.

- Até todas aparecerem e derrotarem o demônio – respondeu Sohar – precisamos que todas estejam juntas para fazermos o que Setsuna aconselhou.

Depois de conversarem cinco minutos com Haruka e Michiro, Sohar e as meninas foram diretamente para o topo daquele prédio. Como já podiam partir a qualquer hora, só precisavam “apagar” das mentes de Dariem e das meninas que eles estiveram por ali e no que andaram interferindo – sugestão feita pela própria Setsuna, naquela carta do futuro que foi enviada até eles. Como era melhor fazer isso com elas todas juntas, estavam apenas esperando o próximo demônio aparecer, que, sem dúvida, iria atraia-las até lá.

- Mas será que é aqui mesmo que elas vão aparecer? – perguntou Joynah, sentada na beirada do prédio.

- Filha – chamou ele – caso tenha esquecido, você não está com seus poderes. Não vai poder voar se cair daí.

- É mesmo! – exclamou ela assustada. E rapidinho se afastou da beirada.

- Respondendo a sua pergunta, sim. É aqui que elas irão enfrentar o próximo, naquela esquina – apontou com o braço esquerdo – mas não sei a hora exata.

- E o que fazemos até lá?

- Bem princesa, eu trouxe um baralho...

- Acho que não vai dar tempo – disse Anne olhando impressionada para baixo – olhem só QUEM está saindo daquele prédio.


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